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A exterioridade do trabalho para o trabalhador transparece no fato de que ele não é o seu trabalho, mas o de outro, no fato de que não lhe pertence, de que no trabalho ele não pertence a si mesmo, mas a outro. [Nesses termos] o trabalho alienado 1) aliena a natureza do homem, 2) aliena o homem de si mesmo, a sua função ativa, a sua atividade vital, aliena igualmente o homem a respeito da espécie; transforma a vida genérica em meio de vida individual.[Do mesmo modo] a afirmação de que o homem se encontra alienado da sua vida genérica significa que um homem está alienado dos outros, e que cada um dos outros se encontra igualmente alienado da vida humana. [Sendo assim]para o homem socialista, a totalidade do que se chama história mundial é apenas a criação do homem através do trabalho humano, a emergência da natureza para o homem, ele possui já a prova evidente e irrefutável da sua autocriação, das suas próprias origens. (Manuscritos Econômico-Filosóficos - Marx)

Introdução

Como se sabe, a discussão em torno da centralidade/atividade do trabalho como elemento orgânico/multidimensional na formação humana e uma concepção de cultura estratégica que frisa sua dimensão emancipadora, estão sendo questionadas já há algum tempo e também, sendo substituídas por concepções neoliberais/pós-moderna que, entre outras coisas, contestam as análises que buscam explicar e/ou reduzir a identidade das pessoas em função do lugar que ocupam no processo de produção e, neste sentido, afirmam que valores, ideias, crenças, etc., são fluídos e só têm sentido na medida em que atendem as diferenças individuais.

Por outro lado, embora ainda se creia que Kant tenha assassinado a metafísica, o fato é que ela persiste em sobreviver, pois nos projetos (de) formação oficial, neo- funcionalistas e na prática do senso-comum pedagógico, se trabalha com uma visão reducionista de sujeito, isto é, o mesmo é compreendido metafisicamente como um indivíduo performático, sem levar em consideração aspectos relativos às condições de classe em que estão inseridos, além de fatores de ordem da organização social e outras relativas ás necessidades propriamente humanas.

Em outras palavras, na tradição liberal, os indivíduos são concebidos como átomos sociais auto-suficientes e seu sucesso e/ou fracasso está na razão direta de suas capacidades de performance (produtiva, linguajar, adaptativa, etc.), independente das condições sociais em que estão imersos, de modo que, se pode falar de uma metafísica pedagógica do indivíduo centrado em si e por si, quando se busca realizar objetivos no processo ensino-aprendizagem, que não se sustentam em termos estruturais histórico- sociais.

Nesses termos, essa concepção de ser humano, que está presente nas políticas educacionais oficiais e nas diretrizes curriculares dos governos tributários da ordem do capital, possuem a clareza de que, ao mesmo tempo, que busca impor uma concepção de educação/ensino, tanto para os estudantes como para os educadores, também, busca destruir as concepções anti-sistêmicas, que possam significar um despertar de uma consciência de classe, que poderia se contrapor à ordem dominante, de modo que, na escola/educação/formação, não vigora um pensamento único e se o educador proletário em seu trabalho pedagógico, tem por objetivo, em última instância, a emancipação humana, então precisa negar tanto a fragmentação/alienação humana promovida pelo capital, quanto formar o trabalhador/educador para que o mesmo se torne o inventor do

seu próprio futuro.

Assim, antes de passar adiante é preciso levantar algumas questões, que se impõem naturalmente, pois além de se tratar de tema polêmico, complexo e recorrente é preciso justificar a urgência de tal debate:

1º) o problema da formação humana é apenas uma questão filosófica abstrata, ou

envolvem elementos de natureza histórico-social e aspectos relacionados a contextos empíricos concretos?

2º) quais são os limites de ordem antroposociais das propostas funcionais de formação

humana?

3º) o trabalho humano é uma atividade crucial para se pensar uma política de formação

humana, ou esta deve ser aglutinada com outras dimensões tão importantes quanto aquele?

4º) existe alguma razão histórica para quê o trabalho humano seja considerado objeto de

reflexão especial pelas mais variadas e antagônicas concepções filosóficas/sociológicas, ou se trata de pura coincidência?

5º) a centralidade da categoria trabalho é algo ultrapassado, como querem alguns dos

mais influentes filósofos/sociólogos contemporâneos, ou é algo que ainda não esgotou todo seu vigor emancipatório?

6º) as consequências sociais/trabalhistas, geradas pelas crises do capitalismo global é

algo que pode ser resolvido e/ou superado, por meio de “diálogos consensuais com uma maior participação da sociedade civil” e/ou por “intervenções mais consistentes no processo ensino-aprendizagem”, ou é vital apostar em saídas anti-sistêmicas no interior de uma lógica transitória?

7º) diante de uma realidade que se mostra heterogênea, altamente mutante e bastante

complexa é prudente se valer de categorias filosóficas consideradas obsoletas por uma certa intelectualidade?

8º) por quais razões epistemológica-políticas, as propostas crítico-dialéticas, apesar de

reafirmarem a centralidade do trabalho como essencial em seus aspectos multifuncionais/multidimensionais, ainda assim, não se tornaram alternativas formativas efetivas? Quais seriam as causas para tal raquitismo?

9º) existe algum elemento negativo, em termos estratégicos, no trabalho político-

pedagógico do educador, que poderia ser considerado como um eixo nuclear de uma formação emancipada?

10º) por fim, por quais razões filosófico-políticas, a Filosofia da Educação instituída

continua fazendo propostas funcionais de formação com base numa lógica pragmática de querer “melhorar a educação do educador”?

Capítulo 01

Balanço negativo das concepções sobre o papel/tarefas da Filosofia da

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