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O panorama atual da qualidade das águas superficiais na bacia hidrográfica do rio São Francisco apresenta importantes diferenciações regionais, quer pela distribuição das fontes poluentes, quer pelas condições naturais e intervenções antrópicas que implicam alterações da vazão e, consequentemente, das condições de diluição das cargas poluentes.

Destacam-se, pela manutenção de uma qualidade da água insatisfatória, desde 2004, as bacias dos rios Paraopeba, das Velhas e Verde Grande, não obstante melhorias recentes no tratamento de esgotos domésticos. Influenciam esta situação a disposição inadequada de resíduos sólidos, os efluentes industriais e a mineração.

Por outro lado, no rio São Francisco, a montante do reservatório das Três Marias e entre a divisa Minas Gerais / Bahia e Bahia / Alagoas, as respectivas bacias afluentes e o rio Paracatu, verificam uma qualidade em geral boa, frequentemente com registro de evolução positiva desde 2004.

Na calha do rio São Francisco entre o reservatório das Três Marias e a divisa Minas Gerais / Bahia e nas bacias dos rios Pará, Jequitaí e Urucuia verifica-se uma situação de qualidade da água mediana, com tendência de evolução positiva desde 2004.

Assinala-se ainda a calha do rio São Francisco, a jusante da divisa Bahia / Alagoas, e as bacias afluentes, como região com informação muito insuficiente relativa à condição de qualidade das águas, associada a um monitoramento insuficiente dos rios de regime intermitente, mas com indícios de existir, em certos casos, uma deterioração da qualidade da água desde 2004.

Merece especial destaque, nesta região, a influência da contaminação doméstica e o enriquecimento orgânico devido a atividades agrícolas e pecuárias, que poderão estar a agravar-se.

A ausência de atualização do enquadramento e de implementação de um plano para a sua efetivação, tem contribuído para a manutenção de situações de incompatibilidade da condição de qualidade das águas com vários usos (consumo humano, unidades de conservação, terras indígenas, irrigação).

Estas situações são potenciadas por contaminação das águas por efluentes de origem doméstica e industrial / mineração, bem como por poluição difusa devida a atividade agrícola e pecuária.

A consciência da necessidade de melhoria da qualidade e do incremento do monitoramento das águas superficiais da bacia hidrográfica do rio São Francisco tem motivado a existência de diversos programas / investimentos previstos.

Realça-se os considerados no Plano Nacional de Recursos Hídricos (2006), em particular os Subprograma III. 2: Rede hidrológica quali-quantitativa nacional, Subprograma III.6: Planos de recursos hídricos e enquadramento de corpos de água em classes de uso, Subprograma VI.5: Ações integradas de conservação de solos e água – manejo de microbacias no meio rural, Subprograma VII.1: Programa de Despoluição de Bacias Hidrográficas (PRODES), Programa XII: Gestão Sustentável de Recursos Hídricos e Convivência com o Semiárido Brasileiro.

O Plano Decenal de 2004-2013 previa diversas atividades com influência na qualidade das águas superficiais, notadamente:

Implementação dos instrumentos de regulação de uso dos recursos hídricos na Bacia (Componente I – Implantação do SIGRH e do Plano de Bacia; subcomponente Instrumentos de Gestão de Recursos Hídricos);

Monitoramento e fiscalização (Componente I – Implantação do SIGRH e do Plano da Bacia; subcomponente Monitoramento Hidroambiental);

Atividades de recomposição da cobertura vegetal e de conservação do solo (Componente II b – Proteção e Recuperação hidroambiental);

Atividades de implementação de projetos e obras para melhoria do manejo de esgotos urbanos e de resíduos sólidos (Componente IV – Qualidade e Saneamento Ambiental; subcomponentes Saneamento Básico e Resíduos);

Implantação de projeto e obras para controle da poluição (Componente IV – Qualidade e Saneamento Ambiental; subcomponente Controle da Poluição).

Também nos Planos Estaduais de Minas Gerais, Bahia, Goiás, Distrito Federal, Pernambuco, Alagoas e Sergipe e Planos Diretores de Recursos Hídricos das Bacias Hidrográficas dos Rio Pará, Entorno das Três Marias, Jequitaí e Pacuí, Verde Grande, das Velhas, Paracatu, Pandeiros e Urucuia, a consciência da necessidade de melhoria da qualidade e do incremento do monitoramento das águas superficiais da bacia hidrográfica do rio São Francisco tem motivado a existência de diversos programas / investimentos previstos (Quadro 11).

O Quadro 11 sistematiza as principais medidas previstas nos Planos Estaduais e Diretores de Recursos Hídricos relativas à qualidade das águas (superficiais e subterrâneas) e ao saneamento.

Quadro 11 – Principais medidas previstas nos Planos Estaduais e Diretores de Recursos Hídricos relativas à qualidade das águas e ao saneamento.

Estado Principais medidas previstas

Alagoas

Programa de Tratamento de Efluentes (implantação de estações tratamento de esgoto nos municípios);

SES Revitalização do Rio São Francisco (projetos e obras para melhoria dos níveis de coleta e do tratamento de esgotos urbanos);

Tratamento de Resíduos Sólidos;

Programa de Gestão de Recursos Hídricos (enquadramento dos corpos de água perenes em classes de usos preponderantes);

Programa de Disciplinamento da Coleta e Tratamento de Efluentes Sanitários (monitoramento da eficiência das ETE’s, fomento ao reuso de esgoto tratado);

Programas de Coleta, Reciclagem e Disposição Final de Resíduos Sólidos;

Controle do Uso de Agrotóxicos;

Programa de Monitoramento Qualitativo das Águas Superficiais (rios afluentes de mananciais, mananciais, recursos hídricos nas áreas de irrigação intensiva, vinculado à carcinicultura)

Sergipe

Preservação, Conservação e Recuperação das Áreas Degradadas e em Processo de Desertificação, das Margens dos Rios, Açudes e Lagoas;

Uso Conservacionista da Água e do Solo; Estudos, Pesquisas e Estratégias de Difusão para Adequação das Práticas de Convivência com o Semiárido;

Elaboração dos Planos Municipais de Saneamento;

Coleta, Tratamento e Destinação Final de Resíduos Sólidos; Sistema Integrado de Saneamento (inclui implementação de Programa de Vigilância da Qualidade da Água);

Desenvolvimento da Agricultura Orgânica; Monitoramento da Qualidade da Água (incluindo criação de Rede Integrada de Monitoramento da Qualidade da Água, realização do diagnóstico hidroambiental dos corpos hídricos estratégicos, elaboração do diagnóstico da rede de qualidade das águas, implantação, operação e manutenção da rede hidrometeorológica e de qualidade das águas)

Pernambuco Conservação e Proteção dos Recursos Hídricos;

Estado Principais medidas previstas

Monitoramento e controle da qualidade da água (estudos de desenvolvimento da rede de monitoramento, capacitação de laboratórios),

Manejo Adequado de Solo e das Águas em Microbacias Hidrográficas, Recuperação de Áreas Degradadas, Recuperação de Nascentes e Matas Ciliares, Preservação de Mananciais (proteção e recuperação ambiental da área de influência dos mananciais, levantamento e retirada das fontes de poluição, implementação do manejo adequado da água e solo, estabelecimento de sistema de monitoramento, controle e fiscalização);

Melhoria no Sistema de Esgotamento Sanitário e Disposição de Lixo (implantação de sistemas de coleta e tratamento de esgotos, recuperação de áreas de vazadouros desativados)

Bahia

Programa de Disciplinamento do Uso das Águas (projeto de enquadramento do rio Salitre1 e afluentes, projeto de implantação de rede de monitoramento da qualidade de água superficial do rio Salitre);

Programa de Saneamento Básico e Saúde Pública (projeto executivo de sistemas de coleta, tratamento e destinação de esgotos domésticos para a bacia do rio Salitre, projeto executivo de construção de fossas sépticas, projeto de plano diretor de limpeza urbana);

Programa de Capacitação Sanitária e Ambiental (projeto de incentivo e capacitação para o manejo adequado do solo e agrotóxicos);

Programa de Revegetação e Recuperação das Nascentes e Trechos Críticos da Bacia;

Programa de Avaliação das Condições das Barragens Existentes na Bacia (projeto de avaliação dos usos e qualidade da água das barragens existentes) (Bacia Hidrográfica do Rio Salitre)

Estado Principais medidas previstas

Goiás

Definição de Diretrizes para o Enquadramento dos Corpos Hídricos;

Ampliação da Rede de Qualidade da Água Superficial, Articulação e Compatibilização de Ações com Municípios para Proteção de Mananciais de Abastecimento Público;

Ampliação da Coleta e Tratamento de Esgotos Urbanos;

Ampliação da Coleta e Disposição Final de Resíduos Sólidos Urbanos;

Estruturação e Ampliação da Drenagem Urbana; Melhoria do Saneamento Rural;

Avaliação de cargas poluidoras da pecuária, agricultura, indústria e mineração;

Identificação de áreas de risco de contaminação dos recursos hídricos;

Determinação de critérios de implementação do lançamento de cargas de efluentes no instrumento de outorga;

Identificação e Definição de Critérios para as Áreas de Expansão de Irrigação

Distrito Federal

Proposta de Enquadramento de Corpos d’Água Superficiais;

Programa de Manejo de Bacias Hidrográficas em Áreas Rurais (Controle da Poluição Difusa);

Intervenções em Áreas Urbanas: Saneamento Ambiental;

Programa de Monitoramento de Qualidade das Águas

Minas Gerais

Gestão de Recursos Hídricos em Áreas Urbano-Industriais (Implementação local de sistema de monitoramento da qualidade da água;

Projetos para a disposição final de resíduos sólidos;

Expansão das redes municipais de coleta de esgoto e drenagem pluvial;

Estações prioritárias de tratamento de esgotos, em bacias de mananciais, Aperfeiçoamento na coleta de resíduos sólidos;

Reurbanização de favelas e áreas desconformes);

Manejo e Conservação de Solos e Águas em Microbacias da Zona Rural (adoção de práticas de controle do escorrimento superficial de água, adoção de práticas de controle da poluição das águas de origem agrícola e pecuária);

PróÁguaEficiente (implantação e/ou modernização tecnológica da infraestrutura para coleta e tratamento de efluentes urbanos domésticos e industriais e para o manejo e disposição de resíduos sólidos, controle sobre fertilizantes, agroquímicos e dejetos de animais, dispostos na zona rural).

Estado Principais medidas previstas

Minas Gerais

Bacia Hidrográfica do Rio Pará

Saneamento Ambiental, Revitalização, Recuperação e Conservação Hidroambiental;

Enquadramento dos cursos d'água da Bacia Hidrográfica do Rio Pará nas classes estabelecidas no Plano Diretor;

Fiscalização e Monitoramento Integrado dos Usos e Usuários;

Saneamento Ambiental Emergencial;

Controle Emergencial do Uso dos Recursos Hídricos;

Conservação do Solo e Água.

Bacia Hidrográfica do Entorno das Três Marias

Adensamento de uma rede de monitoramento da qualidade de água;

Monitoramento e adequação dos processos de tratamento efluentes industriais às classes de Enquadramento;

Elaborar os Planos Municipais de Saneamento Básico alinhados com o Enquadramento;

Elaborar e adequar processos de tratamento do SES projetados e em operação com vistas à adequação à proposta de Enquadramento.

Bacias Hidrográficas dos Rios Jequitaí e Pacuí

Promoção da coleta e tratamento de esgotamento sanitário (urbano, agricultura e pecuária);

Destino adequado dos resíduos sólidos;

Promoção da drenagem urbana;

Mitigar os Problemas Ambientais;

Promover o enquadramento dos corpos de água;

Ampliar a rede de monitoramento (águas das sub-bacias).

Bacia Hidrográfica do Rio Verde Grande

Implementação dos Instrumentos de Gestão (enquadramento dos corpos hídricos),

Monitoramento hidrológico (monitoramento da qualidade das águas superficiais);

Saneamento (esgotamento sanitário, resíduos sólidos, controle de poluição industrial).

Estado Principais medidas previstas

Minas Gerais

Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas

Enquadramento dos corpos de água e Condição de Entrega;

Monitoramento;

Esgotamento Sanitário, Resíduos Sólidos, Drenagem Urbana, Mineração e Atividades Industriais (Controle de Carga Poluidora, Controle de Processos Erosivos, Recuperação de Áreas Degradadas);

Manejo de Recursos Hídricos em Área Rural (Controle de Carga Poluidora, Recuperação de Áreas Degradadas, Controle de Processos Erosivos);

Planos de Recuperação Hidroambiental.

Bacia Hidrográfica do Rio Paracatu

Ampliação de redes coletoras de esgotos, Serviços de implantação de ETE’s;

Melhoria da coleta e disposição adequada de resíduos sólidos;

Ampliação da rede de monitoramento da qualidade da água;

Controle da erosão e do assoreamento;

Plano de controle dos efluentes do setor mineral;

Plano de controle dos efluentes do setor agrícola.

Bacia Hidrográfica do Rio Pandeiros

Monitoramento de Qualidade de Água, Sedimentos e Vazões;

Enquadramento dos corpos hídricos;

Controle de erosões;

Controle da poluição de origem agrícola e animal;

Esgotos sanitários;

Resíduos sólidos.

Bacia Hidrográfica do Rio Urucuia

Monitoramento da Qualidade de Água, Sedimentos e Vazões;

Enquadramento dos Corpos Hídricos;

Controle de Erosões;

Controle de Poluição de Origem Agrícola e Animal;

Esgotos Sanitários, Resíduos Sólidos, Drenagem Urbana.

Uma das principais medidas que vem sendo considerada para a melhoria da qualidade das águas superficiais, por via da sua interferência no planejamento e gerenciamento dos corpos de água, é o monitoramento.

Para além das intervenções programadas a nível Estadual, destinadas a ampliar as redes existentes, assinala-se o Programa Nacional de Avaliação da Qualidade das Águas, lançado pela ANA em 2010, e mais especificamente a implementação da Rede

Nacional de Monitoramento da Qualidade das Águas Superficiais (RNQA), criada pela Resolução n. º 903, de 22 de julho de 2013.

Os objetivos principais desta iniciativa são:

Analisar a tendência de evolução da qualidade das águas;

Avaliar se a qualidade atual atende aos usos estabelecidos pelo enquadramento dos corpos de água;

Identificar áreas críticas com relação à poluição hídrica;

Aferir a efetividade da gestão sobre as ações de recuperação da qualidade da água;

Apoiar as ações de planejamento, outorga e fiscalização.

Esta iniciativa prevê a ampliação e padronização do monitoramento da qualidade das águas superficiais na União, de forma a atingir em 2020, em particular, um total de 640 pontos na Bacia Hidrográfica de São Francisco, dos quais 323 já se encontravam em 2013 contemplados em redes Estaduais, com um monitoramento mínimo de 22 parâmetros (físico-químicos, microbiológicos, biológicos e nutrientes) e da vazão e com amostragem trimestral (Quadro 12).

Quadro 12 – Pontos de monitoramento da RNQA, por Unidade da Federação (em 2013).

Unidade da Federação Número de pontos

Pontos coincidentes com rede Estadual (situação

em 2013) Bahia 287 144 Minas Gerais 238 135 Distrito Federal 3 3 Goiás 3 0 Sergipe 9 3 Alagoas 21 5

Pernambuco 79 33 (operação eventual)