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EDUCAÇÃO, CAPACITAÇÃO E PARTICIPAÇÃO SOCIAL

O diagnóstico efetuado no presente plano revelou que populações e organismos reconhecem a existência de um défice de consciência ambiental muito relevante, em toda a bacia hidrográfica.

Esse défice é maior no escalão etário intermédio (adultos em idade ativa); os moradores e usuários que se inserem nos escalões etários mais elevados recordam um «rio São Francisco vivo» com saudade, e criticam o modelo de desenvolvimento que vem sendo seguido em toda a bacia hidrográfica, com desrespeito pelos recursos e pelos seus ciclos e equilíbrios naturais.

Por outro lado, as camadas mais jovens são o alvo preferencial da maior parte das campanhas de sensibilização e consciencialização e vão tendo, no contexto escolar, educação sobre boas-práticas e comportamentos ecologicamente corretos, que respeitem o rio e seu entorno.

Há ainda que se considerar a falta de conhecimento – uma questão mais abrangente e complexa porque motiva comportamentos, ações e procedimentos errados ou inadequados ao contexto da bacia hidrográfica, não por falta de consciência ambiental, mas por falta de “saber fazer melhor”.

Foi reconhecida a existência desta falta de conhecimento ou deste défice de

capacitação dos atores em diversos setores atuantes na bacia hidrográfica do São

Francisco: desde os grandes usuários (agricultura irrigada, indústria e mineração), aos profissionais das atividades tradicionais (pescadores, pequenos agricultores, entre outras), passando pelos técnicos dos organismos e entidades gerenciadoras e fiscalizadoras.

A “falta de conhecimento” (ou conhecimento insuficiente) dos organismos gestores dos recursos hídricos na bacia foi também mencionada, não na perspectiva de um défice de capacitação dos seus técnicos, mas na perspectiva de haver um défice de conhecimento da realidade da bacia hidrográfica, devido ao desconhecimento de várias questões essenciais que embasam as decisões.

Alguns exemplos: o desconhecimento das quantidades de água captadas, devido à existência de grande número de captações ilegais não monitoradas, ou o

desconhecimento da composição química dos efluentes de pequenas unidades fabris e industriais, de aglomerados urbanos, de explorações agrícolas, de estações de tratamento de esgotos (ETE), entre outras, devido à falta de fiscalização de recursos hídricos.

Este défice de conhecimento se relaciona diretamente com questões de governança (coordenação interinstitucional, definição de critérios para outorga de direitos de uso e o seu gerenciamento, a fiscalização, a gestão de informação, entre outros).

Finalmente, pode ainda ser apontada a existência de uma descrença, por parte das populações em geral, nos instrumentos de ordenamento e gerenciamento dos recursos e do território.

Esta questão se relaciona com a percepção de que não há ações de proteção e revitalização suficientes no território. Sendo certo que vão sendo implementadas várias ações deste tipo, o problema poderá relacionar-se com uma comunicação ineficiente das ações em curso e planejadas e do seu grau de eficácia.

D. FISCALIZAÇÃO

A fiscalização de recursos hídricos, embora não seja um instrumento da Lei n.º 9433/97, é essencial para verificar a implementação da legislação em vigor e para controlar a utilização de recursos hídricos.

O planejamento integrado de ações de fiscalização por parte da União e das Unidades de Federação é fundamental para o cumprimento das outorgas e para a ampliação do número de usuários regularizados.

Nos eventos de participação pública realizados em 2015 e 2016, o processo de fiscalização de recursos hídricos foi apontado como tendo muitas falhas, reconhecendo-se a necessidade de reforçar as intervenções realizadas.

Uma componente da fiscalização de recursos hídricos que tem vindo a ser apoiada pelo CBHSF é fiscalização preventiva integrada. Em 2014 e 2015 o CBHSF apoiou ações de fiscalização preventiva integrada nos estados da Bahia e de Alagoas.

As principais áreas e setores de atuação da fiscalização preventiva integrada na bacia hidrográfica do São Francisco podem ser agrupados como:

Fiscalização do uso, armazenamento, transporte e comercialização de agrotóxicos;

Fiscalização de uso e ocupação do solo, incluindo fiscalização de processos de desmatamento (seja para utilização dos recursos naturais extraídos ou para conferir a esse solo outro tipo de utilização: agrícola, construção urbana, construção de unidades industriais), de barramento ou vedação de acessos, de afetação de áreas de preservação permanente ou de outras áreas protegidas, de forma direta ou indireta, de expansão de perímetros construídos, de retirada de areia das margens, entre outros;

Fiscalização da utilização de água, incluindo fiscalização das quantidades que estão sendo captadas e da conformidade com a outorga concedida;

Fiscalização do esgotamento sanitário (da drenagem, das descargas de água e seu tratamento), concretamente dos setores agrícola, industrial e mineiro, mas também de todas as atividades em geral, incluindo da eficiência e eficácia de funcionamento das ETE;

Fiscalização das emissões poluentes e do descarte de resíduos líquidos e sólidos, concretamente dos setores agrícola (utilização de agrotóxicos), industrial e mineiro, mas também de todas as atividades em geral (por exemplo: pesca realizada com produtos químicos);

Fiscalização da caça, criação e tráfego de animais, pesca e aquicultura

4.3.2. Eixo I – Governança e mobilização social; Objetivos a atingir

Constituem assim objetivos gerais ao nível da governança e mobilização social, no sentido de atingir o cenário possível:

Aprimorar e/ou implementar os instrumentos de gestão dos recursos hídricos (planos de bacia, outorga, cobrança, enquadramento, sistema de informações);

Reforçar a capacitação e o papel do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco e da entidade delegatária com funções de (ou entidade equiparada à) Agência de Águas enquanto entidades chave para a governança da bacia;

Elevar a consciência ambiental das populações e usuários da Bacia Hidrográfica do São Francisco e promover a sua participação ativa nas decisões sobre o gerenciamento dos recursos hídricos;

Promover os conhecimentos e a capacitação dos atores da Bacia Hidrográfica do São Francisco, de modo que tomem as melhores decisões de atuação sobre todas as situações que possam ter impacto sobre os recursos hídricos da bacia;

Promover a confiança das populações e usuários nos instrumentos de ordenamento e gerenciamento dos recursos e do território;

Divulgar regularmente informações sistematizadas e fiáveis sobre a Bacia do São Francisco, em particular informações sobre:

- A qualidade das águas;

- A quantidade das águas;

- O ordenamento do território;

- As alterações climáticas;

- As boas práticas na aquicultura (com particular ênfase na agricultura familiar);

- Boas práticas nas pescas e na aquicultura (com ênfase nas regiões do semiárido e Baixo S. Francisco);

- Boas práticas nas pequenas e médias unidades industriais e comerciais.

Criar canais de comunicação ativa, ligando o Comité de Bacia, as Prefeituras, as associações de desenvolvimento local, as associações de defesa do ambiente e as associações de consumidores.

4.4. Eixo II – Qualidade da água e saneamento

4.4.1. Situação atual e tendencial

Em seguida apresenta-se, de forma individualizada, a situação atual e tendencial das águas superficiais, das águas subterrâneas e do saneamento na bacia.