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BALANÇOS HÍDRICOS ATUAIS E FUTUROS (ESTIMATIVA)

Os resultados dos balanços hídricos nas diversas regiões da Bacia Hidrográfica do São Francisco revelam situações de sobreexplotação dos recursos hídricos disponíveis e de conflitos de utilização do recurso água já na situação atual.

Os usos mais comprometidos e associados a um maior risco de não atendimento resultam da política de distribuição de água assumida para a gestão da bacia

hidrográfica3 quando o volume de água disponível em armazenamento se reduz, a vazão turbinada também se reduz, para salvaguardar situações futuras e assegurar vazões mínimas adequadas durante os períodos de escassez de água.

Assumiu-se assim que os objetivos de geração de energia são relativamente estáveis no tempo e função da água disponível nos reservatórios, apresentando uma variação sazonal para os aproximar de um regime adequado de vazão ambiental.

No entanto, a inserção do sistema eletroprodutor do São Francisco no Sistema Interligado Nacional acarreta um maior dinamismo que pode conduzir a dificuldades de articulação da geração de energia com a salvaguarda de um regime de vazão ambiental na foz.

Os resultados da modelagem matemática, considerando a política de prioridades de gestão de água e de explotação dos reservatórios proposta, mostram que os recursos superficiais disponíveis são adequados para satisfazer os usos de abastecimento urbano e rural projetados, com exceção das sub-bacias dos rios Curaçá e Pontal, Rio Ipanema, Baixo Ipanema e Baixo SF e rio Verde Grande, que estão classificadas como críticas e muito críticas em todos os cenários.

Os principais problemas de escassez de água na bacia do rio São Francisco deverão ocorrer em sub-bacias onde os recursos hídricos próprios não são suficientes para atender os usos existentes.

Os usos atendidos a partir da calha principal do rio São Francisco, onde estão instaladas as principais usinas hidroelétricas, apresentam, por regra, valores de garantia de abastecimento próximos ou iguais a 100%.

Existem também testemunhos (resultados do processo de participação social e comunicações orais em reunião do GAT, abril de 2016) de situações de conflito – e da necessidade de impor restrições de uso – nos rios Itaguari, Carinhanha, Salitre e Alto Pará (sub-bacias dos rios Carinhanha, Pará e Salitre), que não foram evidenciadas pelos resultados das simulações efetuadas.

3 Nas simulações realizadas considerou-se que: os usos urbanos e rurais têm precedência sobre os usos industriais, e estes sobre a agropecuária; a geração de energia dá também precedência aos usos consuntivos

Relativamente ao balanço de águas subterrâneas por sub-bacia, as situações mais desfavoráveis ocorrem nas sub-bacias do Rio Pará, Alto Rio Preto e Rio das Velhas. A análise por sistema aquífero confirma estas conclusões.

A bibliografia refere situações de sobreexplotação no aquífero Salitre (região de Irecê / sub-bacias Verde e Jacaré, Salitre e Curaçá) e no aquífero Bambuí cárstico (sub-bacias Verde Grande e Pacuí), as quais não foram identificadas no balanço.

Contudo, algumas dessas situações poderão ser expressão de uma falta de conhecimento, dado que os aspectos quantitativos e de funcionamento dos sistemas aquíferos da bacia do São Francisco são, em grande parte dos casos, desconhecidos com detalhe.

Refira-se que o conhecimento hidrogeológico sobre os pequenos aquíferos da Formação Brejo Santo, Formação Curituba, Formação Gandarela, Formação Mauriti, Formação Missão Velha, Formação Santa Brígida, Formação Sergi, Grupo Brotas e Grupo Paranoá, unidade terrígena é reduzido, e que as situações de sobreexplotação reportadas na bibliografia para a região de Irecê/sub-bacias Verde e Jacaré, Salitre e Curaçá e para o aquífero Bambuí cárstico (sub-bacias dos rios Verde Grande e Pacuí) poderão não ser extensíveis à globalidade dos sistemas aquíferos Salitre e Bambuí.

É um fato que, nos últimos anos, têm sido feitos significativos esforços na promoção de estudos, mas estes têm-se concentrado, sobretudo, em grandes sistemas aquíferos como o Urucuia e o Bambuí (em Minas Gerais).

Na bacia têm sido realizados vários estudos hidrogeológicos locais, mas que dificilmente permitem conhecer com rigor os sistemas aquíferos na sua globalidade, quanto mais todos aqueles que estão individualizados na bacia.

E. CONFLITOS

Os principais conflitos resultam da dificuldade em compatibilizar a satisfação da demanda de água para usos consuntivos com as exigências de geração de energia elétrica, assim como da competição pela água dos diversos usos consuntivos, sendo de destacar a irrigação, devido aos elevados volumes de água requeridos.

Além de os outros usos no curso de água principal serem condicionados pela operação das usinas hidroelétricas, dado o volume de água afeto à produção de energia ser várias ordens de grandeza superior ao dos usos consuntivos, a subordinação da geração de energia à dinâmica da satisfação da procura na rede elétrica nacional conduz a acentuadas variações da vazão turbinada, acarretando problemas para a navegação, ecossistemas aquáticos e uso do território nas margens do curso principal pelas comunidades ribeirinhas.

A própria existência dos barramentos tem efeitos nocivos para a navegação e ecossistemas.

Nas sub-bacias dos afluentes do rio São Francisco, a produção de energia elétrica não é tão preponderante, e sobressaem os conflitos entre os usos consuntivos (e também entre usuários de um mesmo setor), com destaque para a agricultura irrigada, que é a atividade de maior demanda hídrica na bacia, e que terá futuramente ainda maiores necessidades de água.

A expansão rápida e não planejada do agronegócio, com o desmatamento de áreas importantes para o equilíbrio do rio, tem contribuído para a degradação dos recursos hídricos da bacia.

Outras causas apontadas para os problemas de quantidade de água foram a expansão de atividades com ocupação de áreas de recarga de aquíferos, o uso excessivo ou privilegiado de água por parte das mineradoras e a explotação irregular (e em grande quantidade) de água subterrânea através de poços tubulares irregulares (sem outorga).

A percepção social é de que existem problemas de escassez de água “na sua área de residência ou de atividade”.

Nos eventos de consulta pública é frequentemente afirmado que essa escassez é devida a um gerenciamento ineficiente dos recursos hídricos na bacia hidrográfica (usos prioritários não são assegurados; grupos socioeconômicos de maior poder são beneficiados; falhas no planejamento temporal a médio prazo, levando a escassez em determinadas alturas e excesso em outras). Contudo foi também frequente a menção à escassez de precipitação (“agora chove menos”).

No que se refere a conflitos de uso, uma maioria clara de participantes nas sessões realizadas em fase de diagnóstico entende que a agricultura irrigada é o setor que consome mais água, o que reflete a rápida expansão desse setor.

Registrou-se ainda a resistência manifestada por parte da população consultada relativamente aos projetos de transposição de água.

F. INVESTIMENTOS, PLANOS E PROGRAMAS COM POTENCIAL IMPACTO NA