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SAHEL: MAPA GEOGRAFIA E POPULAÇÃO

SECTOR DE CONSUMO FRAÇÃO DO SALÁRIO GASTO

N. B : O total não faz 100 % por haver uso de outras fontes (eletricidade ).

7.1. ÁREAS DE INTERVENÇÃO E RESPETIVAS PROPOSTAS DE MELHORIA 1 O ESTADO

O papel do Estado é central aqui já que se trata de um país novo (com menos de sessenta anos de independência) em que o setor privado é financeiramente débil e sem vista de longo prazo quando se trata de investir e onde a sociedade civil é incipiente e com falta de experiência técnica e meios financeiros. Assim, cabe ao Estado colmatar essa insuficiência e carregar com tarefas variadíssimas para as quais não tem nem a expertise suficiente nem os recursos necessários. Para cumprir os seus programas e políticas – energia incluída -, o Estado tem recorrido aos meios ao seu alcance, nomeadamente usando a política fiscal (encorajar ou desencorajar uma oferta ou uma procura) e a política de subsídios assim como a diplomacia económica para angariar financiamentos externos ou atrair investimento estrangeiro para colmatar a escassez de capitais internos.

Algumas intervenções do Estado para assegurar uma transição energética sustentável seriam:

Uma reabilitação das energias tradicionais (lenha e carvão vegetal) como combustíveis imprescindíveis (ainda) para a maior parte da população, principalmente os mais pobres. Não se justifica o ostracismo ao qual são vetados essas energias que são assim empurradas

160 para o setor informal, sem controle nem contribuição fiscal na proporção do que tiram dos parcos recursos vegetais que são de todos. Essas energias são renováveis, embora na condição de haver uma reposição da madeira retirada e, sem controle, não se pode ter ideia desse balanço que é preciso fazer para evitar um défice ecológico-florestal.

Uma organização que introduz a disciplina que falta com vista a assegurar a sustentabilidade ao longo da cadeia para produzir uma energia (carvão neste caso) a mais limpa possível, que não prejudica a saúde nem poluí o ambiente. As organizações internacionais como a FAO, a OMS e o Banco Mundial já reconhecem o papel fundamental das energias tradicionais na luta contra a pobreza (ODS 1) e mesmo contra as mudanças climáticas (ODS 13) e aconselham a sua “reabilitação” através de um processo de “greening” da cadeia do carvão vegetal (corte da madeira, carbonização, transporte e consumo final) que as tornam mais sustentáveis e contribuintes para garantir o alcance de vários ODS – direta ou indiretamente.

Nível institucional

Pensamos que poderia ser mais vantajoso, a nível institucional, criar uma agência central para se ocupar dessa transição energética, com alguma autonomia de decisão para obviar à pesada burocracia dos Ministérios.

As energias tradicionais estão sob tutela do Ministério do Ambiente. Pode se perceber o porquê mas a problemática da energia não se limita à extração da madeira das florestas mas é toda uma cadeia com vários stakeholders (camponeses, carvoeiros, industriais, transportadores, comerciantes, consumidores..), pelo que essa tutela do Ministério do Ambiente pode ser contraprodutiva e haver um conflito de interesses (nesse caso o Ministério é regulador / “prohibidor”, ao mesmo tempo, tem que atuar como vendedor de licenças para o acesso aos mesmos recursos que está encarregue de proteger).

161 Uma descentralização seria mais indicada – a nível das autarquias e até de associações de base da população rural – com competências específicas nos assuntos que dizem respeito às energias tradicionais e, em particular, nos assuntos de gestão das florestas. Essa descentralização deverá ser claramente balizada para evitar uma sobreposição – ou mesmo conflito – com as competências da tal agência central acima proposta.

Nunca é demais lembrar que a energia e a pobreza são áreas multifacetadas e transversais pelo que qualquer estudo ou análise de um projeto potencial deverá ter a participação de especialistas nacionais de diversas áreas e não só da energia. Isso é sobejamente referido como um handicap que não foi acautelado por vários projetos da pobreza energética que tiveram insucesso.

É preciso fazer aplicar a numerosa legislação existente e colmatar as brechas que continuam a existir através de Legislação adequada.

A (falta de) Informação estatística e outras:

Há uma tremenda falta de dados estatísticos no domínio dos recursos lenhosos nos países em desenvolvimento e em particular na África ao Sul do Sahara (ASS), tanto no que diz respeito ao stock dos recursos como da sua exploração e consumo para fins energéticos e outros. Os poucos dados que existem são projeções ou estimativas e carecem de fiabilidade. Aqui temos uma das razões que explicam a dificuldade em traçar uma política para este subsetor assim como dos insucessos havidos por não possuir informação fiável sobre a qual basear as políticas a seguir.

É imprescindível proceder a um levantamento dos recursos florestais do país para ter a informação necessária para uma política de gestão sustentável das mesmas e poder atuar eficazmente a nível da procura. Esse tipo de levantamentos nunca foi feito, apenas existe um levantamento circunscrito (e parcial) aos recursos da região do Guidimakha feito em

162 1981 pela Universidade de Dayton e com financiamento da cooperação americana (USAID), estudo sobre o qual se baseiam todas as projeções feitas desde então (incluindo as da FAO). Por isso, não é de estranhar a incoerência dos dados acerca de todo que diz respeito aos recursos lenhosos na Mauritânia (área de cobertura vegetal e espécies, madeira-energia, consumos totais e per capita do carvão e lenha, etc..). O caso dos outros países da região não é diferente e também as estatísticas fiáveis acerca da cobertura vegetal e da madeira- energia, não abundam.

É talvez a tarefa mais importante e urgente: seguir uma gestão sustentável da cobertura vegetal, florestas em particular (ODS 15), com participação das comunidades locais e com benefício para elas. Os camponeses trabalham – por mera necessidade - para os grandes negociantes do carvão vegetal (no corte das árvores, na carbonização, na recolha e ensacamento, no carregamento dos camiões e outras tarefas) com vista a sustentar as suas famílias e qualquer proposta de colaboração, para além da sua sensibilização para a degradação do seu meio-ambiente pela atividade carvoeira, terá que lhes trazer um benefício financeiro compensador.

Estudar de forma aprofundada toda a cadeia de valo do carvão vegetal para saber os níveis da intervenção de cada segmento assim como o respetivo ganho e poder relativo (capitalistas, transportadores, camponeses, carvoeiros, grossistas, retalho, autoridades locais e nacionais). Nota-se uma grande opacidade dessa atividade (que faz trabalhar alguma mão-de-obra importante e movimenta grandes volumes de dinheiro) e o Estado tem pouca informação acerca disso e quase nada escrito.

7.1.2. Intervenções a nível técnico com vista à eficiência energética:

163 Estabelecimento de regras muito estritas e claras com vista a assegurar que só proceda ao corte quem está habilitado, nas zonas alocadas no “permis de coupe” (licença de corte), e apenas nas quantidades autorizadas das espécies indicadas. Isso obriga a uma vigilância apertada das zonas florestais, uma sensibilização prévia dos operadores (acerca das novas regras – e do respeito das já existentes – assim como as consequências que decorrem do não-cumprimento das mesmas).

Encorajar, sempre que possível, a coleta de madeira que se encontra fora das florestas em primeiro lugar. Há sempre alguma madeira / lenha em áreas espalhadas (bosques, “out-of-

forests-trees..) e privilegiar a apanha a partir dessas áreas para poupar os recursos florestais

– embora os operadores preferem tirar a madeira logo da floresta.

Definir uma política realista de plantio de árvores para – pelo menos – compensar a quantidade de recursos lenhosos tirados para fins energéticos ou outros e definir o nível de contribuição dos madeireiros produtores de carvão vegetal (acordando isso com eles previamente) no financiamento. O Estado deve dedicar uma parte fixa das receitas cobradas aos operadores e transportadores de carvão a esta política de plantio.

Carbonização / Produção de carvão

Uma reconversão técnica dos fornos de carbonização para a produção do carvão que aumenta a sua eficiência energética e diminui as suas emissões poluidoras, licenciamento dos produtores de carvão condicionado a investimento na nova técnica e com obrigação de cumprimento de normas a estabelecer pelas autoridades competentes e monitorização apertada – sobretudo nos primeiros anos. A médio prazo, os próprios carvoeiros irão sentir o benefício do investimento feito e a vários níveis, incluindo o financeiro. Resumimos aqui 3 principais métodos de carbonização do carvão e fizemos sugestão de opção técnica:

164 A. Produção tradicional de carvão vegetal

Até princípio do século XX, praticamente todo o carvão era produzido segundo os métodos tradicionais. A madeira era depositada em fossas cavadas diretamente no chão. A combustão de uma parte da madeira produzia calor suficiente para carbonizar o resto. Noutros casos, as pilhas de madeira eram tapadas com terras e torrões de relva e acendia- se o lume através de pequenos buracos na cobertura de terra (mó). Estes buracos (respiradouros) podem estar abertos ou fechados conforme a necessidade e podem se abrir novos para melhor controlar a circulação do ar. Esse método permitia exercer melhor controlo sobre a carbonização e a combustão do que o método das fossas. Essas duas técnicas continuam a existir até hoje em muitos países em desenvolvimento devido ao seu baixo custo. No entanto, o seu rendimento é bastante fraco (normalmente 1 kg de carvão vegetal precisa de 8 a 12 kg ou mais de madeira para a sua produção), a sua qualidade é desigual (é difícil manter uma carbonização uniforme), e são grandes poluidores da atmosfera pelos alcatrões e gazes tóxicos que libertam