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Áreas Prioritárias de Conservação (APC)

Capítulo 3– Biodiversidade no Brasil e a Cana de Açúcar

3.4 Políticas e Regulação

3.4.2 Áreas Prioritárias de Conservação (APC)

O PROBIO – Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira, do Ministério do Meio Ambiente (MMA) – realizou consultas entre 1998 e 2000 para a definição de Áreas Prioritárias para Conservação (APCs), uso sustentável e repartição de benefícios da biodiversidade nos diferentes biomas do país (MMA, 2007). Como resultado, em 2004 foram definidas 900 áreas prioritárias. As APCs devem ser consideradas no licenciamento de empreendimentos, no direcionamento de pesquisas e estudos sobre a biodiversidade, e na orientação de políticas públicas (GANEM et al., 2008). Para efeitos da discussão sobre certificação dos biocombustíveis, as APCs podem ser consideradas complementares, auxiliares na identificação e em alguns casos substituir às HCVs (ver Capítulo 4).

Reconhecendo o contínuo avanço do conhecimento, também em 2004 foi decidida a atualização da lista de APCs em prazo não superior a 10 anos. Os resultados aqui apresentados são aqueles publicados em 2007; essa atualização foi definida pela Portaria MMA09, de 23 de Janeiro de 2007. Nova revisão foi feita recentemente, mas seus resultados ainda não estão disponíveis.

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De acordo com o MMA (2007), a definição das APCs é feita com incorporação dos princípios de planejamento sistemático e de seus critérios básicos. O procedimento metodológico empregado pelo MMA é o mesmo apresentado como ideal pelo WWF (2013), que é identificado como Planejamento Sistemático da Conservação da biodiversidade (PSC). O PSC permite definir os objetos de conservação que são relevantes (ou seja, espécies, ecossistemas, processos ecológicos, etc.) e quais as metas, ou áreas mínimas necessárias, para que os resultados não sejam transitórios. Na identificação das APCs também devem ser considerados objetivos tais como a proteção de uma amostra representativa da biodiversidade regional, a consideração de possíveis conflitos de uso da terra, e a identificação de uma solução que apresente a melhor relação custo e benefício (WWF, 2013).

Ainda segundo o MMA (2007), o processo é participativo e busca-se o consenso. Os insumos, metodologia de discussão e critérios de definição de áreas variam ligeiramente entre cada bioma. De maneira geral, a definição das áreas mais importantes está baseada nas informações disponíveis sobre biodiversidade e pressão antrópica, e na experiência dos pesquisadores participantes dos seminários de cada bioma.

O grau de prioridade de cada área é definido por sua riqueza biológica, importância para as comunidades tradicionais e povos indígenas, e sua vulnerabilidade. As áreas identificadas são classificadas de acordo com seu grau de importância para a biodiversidade (importância biológica alta, muito alta e extremamente alta) e com a urgência de implementação das ações sugeridas. Na avaliação feita em 2007, todas as novas áreas indicadas que sobrepunham áreas já protegidas foram parcial ou totalmente eliminadas. Entre as áreas já protegidas, terras indígenas foram sempre consideradas soberanas e mantidas intactas. Quando de sobreposições com Unidades de Conservação já estabelecidas, foram mantidas prioritariamente aquelas de Proteção Integral (MMA, 2007).

Em 2007 foram indicadas 431 áreas prioritárias no Cerrado, sendo 181 áreas já protegidas e 250 áreas novas, o que representou um incremento substancial em relação às 68 áreas propostas em 2000 (de 686,7 para 939,8 km2) (MMA, 2007). Segundo Ganem et al. (2008), 47,5% do bioma foi classificado como APC. Como áreas de importância extremamente alta do ponto de vista biológico foram classificadas 237 áreas (quase 490 mil km2; houve aumento de 14% em relação ao levantamento anterior) (MMA, 2007). A recomendação do estudo de 2007 é que 710 mil km2 sejam protegidos de algumas forma (como Unidades de Conservação – integral, de uso sustentável ou sem definição à época – ou como corredores ecológicos) (169 mil km2 já eram áreas protegidas naquele ano), totalizando 35% do bioma. Se fossem seguidas as recomendações, 9% do bioma seriam protegidos como UCs de proteção integral, quando apenas 2,2% assim estavam classificados em 2007 (MMA, 2007).

No caso da Mata Atlântica, o resultado final da atualização das áreas prioritárias em 2007 indicou 880 áreas distribuídas em 428,4 km2 (117 áreas na avaliação anterior, totalizando 380,5 km2). Como áreas de importância extremamente alta do ponto de vista biológico foram classificadas

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423 áreas (quase 236 mil km2, mas com redução de 8% em relação ao levantamento anterior) (MMA, 2007).

Como ilustração, na Figura 3.5 são apresentadas as áreas definidas como de importância biológica para a conservação no estado de Goiás em 1998-2000. Esse mapa deve ser comparado com o que é apresentado na Figura 3.6, que ilustra os resultados do estudo publicado em 2007. Aparentemente, a definição de áreas em 2007 foi mais cuidadosa e há diferenças significativas em relação ao estudo anterior. Parte desse resultado pode ser atribuído ao maior conhecimento existente quando da revisão e parte, possivelmente, à maior ambição do ponto de vista da conservação. Para que se tenha clara noção de como tem evoluído o conhecimento e quais são as tendências políticas, é preciso comparar o resultado de 2007 com a atualização que está em andamento e, mais a frente, verificar quanto das UCs de proteção integral têm sido implementadas.

Fonte: MMA (2003)

Figura 3.5: Áreas Prioritárias de Conservação de acordo com a importância biológica no estado

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Fonte: Duft (2013)

Figura 3.6: Áreas Prioritárias de Conservação indicadas em 2007, de acordo com a importância

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Fonte: Duft (2013)

Figura 3.7: Combinação das APCs indicadas em 2007 e áreas consideradas adequadas ao plantio

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Na Figura 3.7, ainda para o estado de Goiás, a localização das APCs indicadas em 2007 é comparada com as áreas consideradas adequadas para o plantio de cana, de acordo com o ZAE (marcadas em verde).

Na Figura 3.7, chama atenção a superposição de áreas anteriormente consideradas como APCs, por sua importância biológica, e os resultados de adequação do ZAE. É evidente que no Zoneamento não foram consideradas as APCs que à época não eram Unidades de Conservação oficialmente instituídas. Mesmo que o resultado das APCs de 2007 tenha sido muito ambicioso, do ponto de vista da conservação da biodiversidade a expansão da cana em áreas de importância biológica é um problema potencial, que ainda precisa ser adequadamente avaliado.

Nas Figuras 3.8 e 3.9 são apresentas figuras similares para o estado de São Paulo. Primeiro, nota- se que a extensão das APCs em São Paulo é proporcionalmente menor, em função do estágio antrópico mais avançado. Segundo, nota-se a mesma tendência de superposição, sobretudo na região oeste do estado, na qual a expansão do cultivo de cana já tem ocorrido e é mais provável. Por outro lado, pela inadequação ao cultivo da cana, não há risco eminente de sua expansão nas APCs ao sul e no litoral do estado.

Fonte: Duft (2013)

Figura 3.8: Áreas Prioritárias de Conservação indicadas em 2007, de acordo com a importância

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Fonte: Duft (2013)

Figura 3.9: Combinação das APCs indicadas em 2007 e áreas consideradas adequadas ao plantio

de cana, segundo o ZAE, no estado de São Paulo