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Comparação dos esquemas de certificação com recomendações e práticas

Capítulo 3– Biodiversidade no Brasil e a Cana de Açúcar

Capítulo 4 – Esquemas de Certificação dos Biocombustíveis

4.5 Comparação dos esquemas de certificação com recomendações e práticas

Nesta seção são feitas duas análises. Primeiro, os aspectos de biodiversidade tratados nos seis esquemas anteriormente comparados são contrapostos em relação ao que simultaneamente é recomendado por Dennison (2011), para bioenergia, e pelo EBI, para empresas de energia (ver Tabela 2.3, no Capítulo 2). Os resultados da comparação são apresentados na Tabela 4.5.

Pode-se ver na tabela que, dos cinco indicadores simultaneamente recomendados por Dennison (2011) e pelo EBI, apenas o indicador relativo à operação em áreas protegidas não é tratado

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explicitamente nos esquemas de certificação. Entretanto, segundo os esquemas de certificação a produção de biomassa deve ser evitada em tais áreas, e essa abordagem é mais restritiva nos esquemas de certificação de biocombustíveis líquidos. Portanto, a questão é tratada de forma ainda mais restritiva.

Os esquemas de certificação RSB e Bonsucro tratam especificamente de serviços ecossistêmicos e têm, portanto, maior alinhamento com o que é recomendado por Dennison (2011) e pelo EBI. Portanto, o RSB e o Bonsucro estão bastante alinhados com o que foi identificado como recomendável no Capítulo 2.

A segunda análise é uma comparação de três esquemas de certificação que podem ser aplicados à produção de etanol a partir da cana (RSB, ISCC e Bonsucro) com práticas, a legislação e o conhecimento existente no Brasil a respeito da biodiversidade (ver Seção 3.4). Os resultados são apresentados na Tabela 4.6.

Em princípio, a certificação pelo esquema RSB, mais rigoroso, não poderia ser obtida com facilidade por todas as unidades produtoras de etanol no Brasil. Por exemplo, alguns de seus critérios só podem ser cumpridos se a produção não ocorrer em Áreas Prioritárias de Conservação (APCs), e desde que sejam adotadas práticas conservacionistas. Da mesma forma, a consideração de zonas de amortecimento, requerida pelo RSB, só é prevista no Zoneamento do estado de São Paulo.

Por outro lado, é de se imaginar que uma fração maior de unidades produtoras de etanol poderiam ser certificadas pelo ISCC e pelo Bonsucro. De maneira geral, a observância do Zoneamento da cana já restringe parte dos potenciais problemas, e facilita o cumprimento dos critérios e indicadores dos três esquemas.

O cumprimento da lei que corresponde ao Novo Código Florestal minimiza bem mais os potenciais impactos da produção de cana sobre a biodiversidade. E, adicionalmente, o aprimoramento das informações e das recomendações que correspondem à definição das APCs pode minimizar os impactos sobre biomas sensíveis e espécies ameaçadas.

Portanto, as conclusões desta seção são de que, quanto à biodiversidade, (1) os esquemas de certificação de biocombustíveis estão bem alinhados com o que é recomendado na literatura e com o é que aceito como adequado para grandes empresas; e (2) o cumprimento da legislação e a observância dos instrumentos regulatórios no Brasil permitem a minimização dos impactos sobre a biodiversidade e facilitam a certificação da produção.

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Tabela 4.5: Comparação dos indicadores de biodiversidade considerados adequados para biocombustíveis (baseado em DENNISON,

2011) e para empresas de energia (baseado em EBI) com os aspectos considerados nos esquemas de certificação de biocombustíveis Designação dos indicadores Comentário relativo ao indicador (ver Tabela 2.3) Aspecto considerado nos esquemas de certificação? Espécies ameaçadas; proteção de espécies

ameaçadas.

Adequado para biocombustíveis (Dennison, 2011); aplicável em âmbito local e por empresas (EBI); também mencionado em CBD (2010).

Sim, em todos os esquemas de biocombustíveis apresentados na Tabela 4.3, e também no FSC.

Serviços ecossistêmicos/bem-estar / espécies importantes para a população local

Moderadamente adequado para biocombustíveis (Dennison, 2011); aplicável em âmbito local e por empresas (EBI).

Serviços ecossistêmicos é aspecto especificamente tratado pelo RSB e Bonsucro. Também é tratado no FSC.

Tendências em espécies invasoras/existência de espécies invasoras

Adequado para biocombustíveis (Dennison, 2011); aplicável em âmbito local e por empresas (EBI); também mencionado em CBD (2010).

Sim, em todos os esquemas de biocombustíveis apresentados na Tabela 4.3, e também no FSC.

Cobertura (área) de AP em áreas prioritárias/operação em AP

Adequado para biocombustíveis (Dennison, 2011); aplicável em âmbito local e por empresas (EBI); também mencionado por Buchart et al. (2010) e CBD (2010).

Operação em Áreas Protegidas não é aspecto especificamente tratado (na realidade, a produção de biomassa deve ser evitada em APs). Áreas HCVs são consideradas em todos os esquemas apresentados na Tabela 4.3, e neles a produção não deve ocorrer.

Áreas sob gestão sustentável; manejo agrícola sustentável.

Adequado para biocombustíveis (Dennison, 2011); aplicável em âmbito local e por empresas (EBI); também mencionado em CBD (2010).

Tratado de alguma forma em todos os esquemas de biocombustíveis apresentados na Tabela 4.3 (há menção à gestão, manejo e/ou boas práticas), e também no FSC.

Fontes: Elaboração própria a partir de Butchart et al.(2010); CBD (2010); Dennison (2011); EBI; RSB (2011); ISCC (2011); Bonsucro (2011); RSPO (2013); FSC (2012); Global G.A.P. (2012).

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Tabela 4.6: Comparação de três esquemas de certificação de biocombustíveis com práticas, legislação e o conhecimento existente no

Brasil

Esquema de Certificação RSB ISCC Bonsucro

Comentários relativos à produção de etanol de cana no Brasil

Principio relativo à biodiversidade

Operações de biocombustíveis devem evitar impactos negativos sobre a biodiversidade,

ecossistemas e valores de conservação.

Não se deve produzir biomassa em terras com alto índice de

biodiversidade ou elevada reserva de carbono. Áreas de AVC (Alto Valor de Conservação) devem ser protegidas.

Gerenciar ativamente a biodiversidade e serviços do ecossistema.

Fração significativa da produção no Brasil pode cumprir os princípios do ISCC e do Bonsucro. O princípio do RSB pode ser cumprido mais facilmente em áreas tradicionais.

Assuntos tratados pelos critérios - Valores de conservação - Serviços Ecossistêmicos; - Zonas de amortecimento; - Corredores ecológicos; - Espécies invasoras. - HCV; - Pradarias ricas em biodiversidade; - Elevada reserva de carbono; - Turfeiras. - Avaliação de impactos na biodiversidade e em serviços ecossistêmicos; - Medidas de mitigação de impactos.

Os critérios do Bonsucro podem ser atendidos sem grande dificuldade. Os critérios do ISCC também, desde que a produção não ocorra em APCs; alguns critérios não se aplicam. Alguns critérios do RSB só podem ser cumpridos se não houver produção em APCs e com adoção adequada de práticas conservacionistas.

No-go areas

Tratadas – certas especificidades aplicadas

Indiretamente tratadas Não O ZAE especifica áreas nas quais a

produção não deve ocorrer. O Código Florestal impede o plantio em outras áreas (e.g., APPs).

HCV

Sim Sim Sim APCs e UCs são áreas que podem

ser entendidas como HCVs. Assim, a legislação facilita o cumprimento do critério.

Zonas de amortecimento

Sim Não Não São consideradas no ZAE no

estado de São Paulo, mas não no ZAE nacional.

Áreas degradadas Uso a ser promovido Não Sim Não há necessidade de priorizar a

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da disponibilidade de terras no Brasil. O cultivo em pastagens degradadas já é comum.

Espécies invasoras Sim Menção sobre pradarias Sim – a ser tratado no Plano de

Gestão Ambiental (PGA)

Não se aplica ao cultivo da cana, mesmo em áreas de expansão.

Espécies ameaçadas, em extinção e protegidas por lei

Sim Sim Sim Os impactos podem ser maiores

em áreas de expansão,

principalmente no Centro Oeste.

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