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Indicadores de biodiversidade em âmbito global e nacional

Capítulo 2 – Monitoramento e Indicadores de Biodiversidade

2.3 Indicadores de Biodiversidade

2.3.4 Indicadores de biodiversidade em âmbito global e nacional

Em 2002, no âmbito dos “Objetivos de Desenvolvimento do Milênio”, das Nações Unidas, foram definidas metas ambiciosas de redução nas taxas de perda da biodiversidade no período 2002- 2010. Três das publicações descritas nesta subseção são ilustrativas dos indicadores que foram propostos e aplicados na avaliação dos resultados alcançados.

Butchart et al. (2010) descrevem um estudo de avaliação da evolução e do estado da biodiversidade em nível global, em um trabalho no qual o objetivo era analisar as perspectivas de cumprimento das metas acima mencionadas. Os autores partiram de uma relação de 31 indicadores, sendo que 24 foram empregados na avaliação de índices agregados. Foram avaliados tendência, períodos e a direção de inflexões significativas. Dados desde 1970 foram compilados. No mesmo contexto, a CBD (2010) apresenta uma avaliação do estado da biodiversidade mundial em 2010, quando o cumprimento das metas definidas em 2002 foi verificado. Na avaliação foram definidos 15 indicadores, que na publicação são citados como cientificamente rigorosos, para avaliar pressões impostas e resultados de medidas de mitigação adotadas. Dos 15 indicadores avaliados, os resultados de 10 mostraram tendências desfavoráveis. Por outro lado, embora não tenha havido declínio significativo nas taxas da perda de biodiversidade, a CBD (2010) considera que algumas intervenções tiveram impacto positivo e mensurável, tornando o declínio menos severo do que poderia ter sido.

Para a CBD (2010), grande parte dos indicadores do estado da biodiversidade aponta redução insignificante nas taxas de declínio. Os resultados dos indicadores da pegada ecológica, deposição de nitrogênio, introdução de espécies exóticas, superexploração da biodiversidade marinha e impacto das mudanças climáticas sobre a biodiversidade foram particularmente negativos. No entanto, os indicadores de respostas para enfrentamento da perda da biodiversidade apontam resultados positivos, com mais áreas protegidas, mais políticas e leis introduzidas para evitar danos advindos de espécies exóticas invasoras, e mais recursos financeiros para apoiar a Convenção sobre Diversidade Biológica e seus objetivos.

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Já Mace e Baillie (2007) apresentam indicadores que poderiam ser usados na avaliação do estado da biodiversidade mundial em 2010. Os autores comentam sobre a necessidade de se ter indicadores que pudessem atingir simultaneamente as condições abaixo:

 Distinguir entre medidas de pressão, estado e resposta;  Assegurar a efetiva comunicação com distintas audiências;  Minimizar os custos da avaliação.

Os autores comentam que indicadores que permitiriam a avaliação direta do cumprimento das metas em 2010 seriam os ideais, mas que a definição de tais indicadores seria impossível em função dos diferentes aspectos e por demandar muitos dados. À época, as recomendações tanto da Convenção de Diversidade Biológica quanto do SEBI 2010 (Streamlining European

Biodiversity Indicators) eram para que a biodiversidade fosse avaliada em locais específicos

(considerando diferentes biomas, ecossistemas e habitats) e que fossem monitoradas alterações de espécies ameaçadas, populações, diversidade genética, etc.

Em um relatório feito para o Winrock International, com o objetivo de avaliar os potenciais impactos da produção de biocombustíveis sobre a biodiversidade, Dennison (2011) apresenta indicadores globais que poderiam ser utilizados com regularidade no monitoramento dos resultados de políticas voltadas à produção sustentável. No relatório, o autor avalia quais indicadores são mais ou menos adequados para a avaliação dos impactos da produção de biocombustíveis. Os dois indicadores muito adequados, segundo o autor, são a pegada ecológica e a deposição de nitrogênio. Foram considerados adequados os indicadores associados à efetividade do manejo, ao controle de espécies exóticas, ao controle da fragmentação de florestas, à proteção de espécies ameaçadas, e aos manejos agrícola e florestal.

Na Tabela 2.2 são apresentados de forma sintética os indicadores mencionados por Butchart et al. (2010) e CBD (2010) para a avaliação das metas de redução de perda da biodiversidade, e por Dennison (2011) para a avaliação dos impactos da produção de biocombustíveis sobre a biodiversidade.

Apenas Butchart et al. (2010) originalmente classificam os indicadores nas categorias estado, pressão, e resposta; nos demais casos a classificação foi feita pela autora desta dissertação. Indicadores de estado refletem o estado da biodiversidade ou de aspectos da biodiversidade em um dado contexto, enquanto indicadores de pressão sinalizam pressões exercidas sobre a biodiversidade. Indicadores de resposta correspondem às ações dos agentes sociais face à compreensão dos impactos reais ou potenciais sobre a biodiversidade. A CDB inclui um indicador relacionado a aspectos culturais, que foi classificado como “Outra”.

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Tabela 2.2: Indicadores propostos para a avaliação das metas de redução de perda da biodiversidade no período 2002-2010 (Butchart

et al., 2010 – B; CBD, 2010 – C) e para avaliação de impactos dos biocombustíveis sobre a biodiversidade (Dennison, 2011 - D)

Designação dos indicadores Classificação Referência Comentário

Living Planet Index (LPI) Estado B, D Tendência média da população de vertebrados (WWF); não adequado (Dennison, 2011)

Wild Bird Index Estado B, D Tendência média da população em habitats nos EUA e Europa; não adequado

Waterbird Population Status Index Estado B Indica tendências da população de pássaros

Red List Index (RLI) Estado B Tendência de extinção de mamíferos, pássaros e corais (IUCN)

Espécies ameaçadas; proteção de espécies ameaçadas. Estado C, D Avalia tendência; não necessariamente por índice; adequado (Dennison, 2011)

Abundância e distribuição de espécies específicas Estado C Avalia tendência; não necessariamente por índice

Status de biomas, ecossistemas e habitats específicos Estado C Tendência de crescimento ou declínio

Diversidade genética de animais domesticados Estado C, D Avalia tendência também para plantas cultivadas e peixes; não adequado (Dennison, 2011)

Marine Trophic Index Estado B, C, D Mudança na pesca de predadores de topo da cadeia a níveis tróficos inferiores; Não

adequado.

Water Quality Index Estado B, C, D Indica qualidade física e química de água doce, moderadamente adequado (Dennison, 2011).

Extensão de florestas Estado B, D Expresso em áreas físicas; moderadamente adequado, segundo Dennison (2011)

Extensão de manguezais Estado B, D Expresso em áreas físicas; moderadamente adequado, segundo Dennison (2011)

Extensão de superfícies com algas Estado B Expresso em áreas físicas

Extensão de bancos de corais Estado B Expresso em áreas físicas

Conectividade e fragmentação de ecossistemas Estado C Integridade de ecossistemas e bens e serviços ecossistêmicos

Fragmentação de florestas Estado D Adequado para a avaliação da produção de biocombustíveis, segundo Dennison (2011)

Fragmentação de rios e regulação de fluxos Estado D Inadequado p/ a avaliação da produção de biocombustíveis, segundo Dennison (2011)

Bem estar de comunidades que dependem de serviços ecossistêmicos

Estado D Moderadamente adequado na avaliação da produção de biocombustíveis (Dennison, 2011)

Pegada ecológica Pressão B, C, D Consumo humano agregado; muito adequado, segundo Dennison (2011)

Deposição de nitrogênio Pressão B, C, D Deposição de N reativo; muito adequado, segundo Dennison (2011)

Número de espécies exóticas Pressão B Avaliação feita usualmente na Europa

Exploração de reservas de peixes Pressão B, D Estágio de exploração; não adequado (Dennison, 2011)

Indicador de impacto climático Pressão B Alteração do comportamento de pássaros

Tendências em espécies invasoras Pressão C, D Adequado para a avaliação da produção de biocombustíveis, segundo Dennison (2011)

Extensão de áreas protegidas (AP) Resposta B Inadequado p/ a avaliação da produção de biocombustíveis, segundo Dennison (2011)

Cobertura de AP em áreas prioritárias Resposta B, C, D Adequado para a avaliação da produção de biocombustíveis, segundo Dennison (2011)

Áreas sob manejo florestal Resposta B, D Verificação via certificação FSC; adequado, segundo Dennison (2011)

Áreas sob gestão sustentável; manejo agrícola sustentável. Resposta C, D De florestas, agricultura e aquocultura; adequado, segundo Dennison (2011)

Adoção políticas internacionais relativas às espécies exóticas invasoras

Resposta B

Adoção de políticas nacionais de IAS Resposta B Número de signatários de convenções

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LPI (Living Plant Index) Resposta B Aplicável à população de vertebrados

RLI (Red List Index) Resposta B Espécies usadas como alimento e em medicina

RLI para espécies de pássaros em comércio internacional Resposta B, D Espécies de pássaros comercializados; muito inadequado, segundo Dennison (2011)

Diversidade linguística/número de falantes de línguas indígenas

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