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Evolução da Certificação de Produtos e Processos

Capítulo 3– Biodiversidade no Brasil e a Cana de Açúcar

Capítulo 4 – Esquemas de Certificação dos Biocombustíveis

4.2 Evolução da Certificação de Produtos e Processos

Em geral, normas/padrões públicos (“public standards”) dão direcionamento para que os principais “stakeholders” (produtores, exportadores, grandes consumidores, etc.) definam normas privadas (“private standards”) adequadas. Normas públicas são determinadas pelos governos ou órgãos intergovernamentais, e definem requisitos de segurança do produto, segurança alimentar, proteção ambiental, entre outros. Já as normas privadas são desenvolvidas por entidades privadas e estão cada vez mais alinhadas as normas públicas. Por outro lado, os requisitos das normas públicas vêm sendo influenciados por normas privadas (ITC, 2011).

A certificação deve ser um selo independente que comprova que um produto, esquema ou serviço satisfaz um determinado padrão. Ela se tornou uma ferramenta importante para empresas mostrarem sua performance de sustentabilidade, facilitando acesso a mercados e recursos financeiros, e possibilitando a identificação de diferenças entre produtores. A Tabela 4.1 mostra os interesses e motivações de diferentes grupos de “stakeholders” em relação à certificação (em geral, não especificamente relacionado a biocombustíveis).

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Tabela 4.1: Motivação de diferentes “stakeholders” para a certificação

Stakeholder Por que certificações?

Governos Nacionais e Organizações transnacionais

(1) Instrumentos para promover manejo sustentável e padrão de consumo sustentável

(2) Fornecer informação para formadores de política

Organizações intergovernamentais

(1) Referência para negociação entre diferentes stakeholders

Produtores, comerciantes e usuários

(1) Instrumentos para marketing ambiental, gestão de risco e acesso ao mercado

(2) Instrumentos para controle da origem e qualidade da matéria-prima (3) Instrumentos para diferenciação de produtos e para alcançarpreços mais

altos

ONGs (1) Fornecer informação sobre o impacto dos produtos

(2) Fornecer informação sobre o cumprimento de normas técnicas e de qualidade

(3) Instrumentos que promovam gestão/manejo sustentável

(4) Instrumentos para disseminar informação e educar o mercado consumidor

Organismos internacionais (1) Instrumentos que promovam gestão/manejo sustentável (2) Informação para consultores de políticas

Certificadores e auditores (1) Oportunidades de negócios

Fonte: Baseado em van Dam et al. (2008), Lewandowski e Faaij (2005)

Atualmente, existem esquemas de certificação de sustentabilidade para uma vasta gama de produtos e serviços. De acordo com o Ecolabel Index, em Fevereiro de 2013 existiam 435 selos que podiam ser aplicados em 25 setores econômicos e usados em quase 200 países (GOLDEN et

al., 2010). A Rotulagem Ambiental -“Ecolabeling” – é uma metodologia voluntária de

certificação e rotulagem de desempenho ambiental de produtos ou serviços que vem sendo praticada ao redor do mundo (ABNT, 2013). Um Rótulo Ecológico (Selo Verde) identifica um produto que atinge determinados critérios de performance ambiental e é desenvolvido por fabricantes, governos e organizações de terceira parte (organizações independentes) (GOLDEN et

al., 2010).

Essa lista da Ecolabel Index está incompleta, já que alguns dos esquemas de certificação de biocombustíveis não constam dela.Mesmo que incompleta, a lista mostra o crescente número desses selos e de normas. Um estudo do World Resources Institute, de 2010, mostrou que apenas 21% dos selos existem por mais de 15 anos, e 30% existem por menos de 5anos. Foi estimado que esses selos não tinham quase nenhuma penetração no mercado até 2004 (GOLDEN et al., 2010).

As normas são o cerne dos esquemas de certificação e são definidas por um conjunto de princípios sociais, econômicos, ambientais e ecológicos. Esquemas de certificação incluem princípios, critérios e indicadores cujo cumprimento deve ser verificado (GOOVAERTS et al., 2013).

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Os esquemas de certificação de alimentos e produtos florestais estão entre os mais antigos sendo, portanto, importantes referencias para esquemas de certificação de sustentabilidade aplicáveis a biocombustíveis. A demanda por selos verdes em produtos agrícolas cresceu devido a preocupações devido ao uso de pesticidas e potenciais efeitos nocivos do seu consumo. Ao longo dos anos o escopo dessas certificações aumentou, deixando de ser focado somente em questões de saúde para abranger crescentes preocupações do consumidor com desmatamento, biodiversidade e trabalho justo (GOLDEN et al., 2010).

Alguns desses esquemas foram originalmente desenvolvidos para informar aos consumidores sobre como o alimento é produzido. Ressaltam a adoção de boas práticas para minimizar impactos negativos, o uso de insumos químicos e asseguram uma abordagem mais responsável a respeito da saúde e da segurança do trabalhador (GOOVAERTS et al., 2013).

Dois importantes esquemas com esse foco são o SAN (Sustainable Agriculture Network ou, em Português: Rede de Agricultura Sustentável), da Rainforest Alliance, e o Global G.A.P. (Good

Agricultural Practices ou, em Português: Boas Práticas Agrícolas). O SAN é uma coalizão de

grupos independentes de conservação que promovem a sustentabilidade social e ambiental da produção. O Global G.A.P. certifica o uso de boas práticas agrícolas em todo o ciclo de produção, ou seja, desde antes do plantio da semente até o produto sair da fazenda (VAN DAM et al., 2008).

Outros esquemas de certificação têm foco em cultivos que podem ser usados como alimento ou ração, e alguns foram recentemente adaptados para produção de biocombustíveis. Os exemplos mais importantes são o RTRS (Round Table on Sustainable Soy), o RSPO (Roundtable on

Responsible Palm Oil) e o Bonsucro (antigo BSI – Better Sugarcane Initiative – que cobre

produtos da cana de açúcar).

No caso de produtos florestais, a sensibilização pública em relação ao desmatamento e ao comércio de madeira motivou as primeiras iniciativas de certificação de manejo florestal na década de 1980. O primeiro esquema de certificação criado foi o FSC – Forest Stewardship

Council – em 1993, que é um esquema global, e que se consolidou quando a indústria percebeu o

maior valor da madeira e de produtos do papel provenientes de florestas que tinham manejo ambiental e social aceitável (NUSSBAUM, SIMULA, 2005). Através do FSC é possível certificar manejo florestal e cadeia de custódia (que é o caminho percorrido pela matéria-prima, desde a floresta até o consumidor). Outro esquema de certificação florestal importante é o PEFC (Programme for the Endorsement of Forest Certification ou, em Português: Programa para Endosso de Esquemas de Certificação de Florestas), que tem o objetivo de endossar esquemas nacionais já existentes (VAN DAM et al., 2008). Ambos os esquemas certificam produtos florestais que não são concebidos para bioenergia.

Apesar de esquemas de certificação terem sido adaptados para biocombustíveis, existem outros criados especificamente para esses produtos, tais como: ISCC (International Sustainability &

88 cobrem vários tipos de matéria-prima.

Também existem esquemas específicos para bioenergia e biomassa sólida,que foram desenvolvidos principalmente para cumprir a legislação e a demanda de consumidores, principalmente de grandes usuários de pellets de madeira. Os dois pioneiros são o GGL (Green Gold Label) e o Laborlec. São esquemas de certificação de cadeia de custódia – no qual se certifica a cadeia de suprimentos inteira –, devido à natureza da cadeia de fornecimento de pellets, e que reconhecem outros esquemas, como FSC e PEFC, de agentes já certificados da cadeia (GOOVAERTS et al., 2013).