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Indicadores de biodiversidade em âmbito local e de empresas

Capítulo 2 – Monitoramento e Indicadores de Biodiversidade

2.3 Indicadores de Biodiversidade

2.3.5 Indicadores de biodiversidade em âmbito local e de empresas

O texto desta subseção é baseado em um relatório da Energy & Biodiversity Initiative (EBI), anteriormente mencionado, e que propõe programas de monitoramento – inclusive os indicadores necessários – em atividades de produção de petróleo e gás natural. É aqui usado como referência para a discussão de indicadores aplicáveis a unidades de produção de biocombustíveis.

No texto os indicadores analisados são classificados em quatro sub categorias: indicadores de espécie, de habitat, de gestão e de processos produtivos. Para se fazer um paralelo com o que foi analisado na sub seção anterior, os indicadores de espécie e de habitat seriam majoritariamente relacionados aos de estado e de pressão, enquanto os de gestão e de processos aos indicadores de resposta.

Na Tabela 2.3 são apresentados os indicadores propostos pela EBI e a comparação com indicadores similares propostos nas referências analisadas na subseção anterior. Em função da natureza da publicação da EBI (foco em petróleo e gás natural), os dois indicadores mais relevantes para a produção de biocombustíveis, segundo Dennison (2011) (pegada ecológica e deposição de nitrogênio), são sequer mencionados.

Há boa coincidência entre os indicadores de espécie e habitat, mencionados como adequados pela EBI, e os indicadores considerados adequados por Dennison (2011) para a avaliação dos impactos da produção de biocombustíveis, exceto o indicador relativo à extensão de áreas protegidas que, possivelmente, foi considerado como muito geral por Dennison (2011).

Já os indicadores de gestão e processo mencionados pela EBI não são considerados relevantes pelos demais autores consultados. Óbvio que para a avaliação real da sustentabilidade no âmbito de regiões maiores é irrelevante a prática gerencial de empresas específicas, embora possa haver razoável correlação. De qualquer forma, pode-se identificar paralelo entre os investimentos das empresas na conversação da biodiversidade e as doações oficiais para projetos da CBD, ou a preocupação entre consumo d’água, por parte de uma empresa, e a consideração de índices de qualidade de água.

Os indicadores de gestão e processo mencionados pela EBI se aproximam mais dos indicadores empregados em alguns esquemas de certificação no que diz respeito à biodiversidade, como será visto no Capítulo 4. Esses indicadores, que são mencionados pela EBI como sendo adequados para expressar ações no âmbito da empresa, podem refletir o engajamento da corporação e suas principais ações, mas não expressam o estado da biodiversidade em um dado local e momento, e muito menos a evolução ao longo do tempo. Já indicadores tais como taxas de fragmentação do habitat nativo, extensão de áreas recuperadas, ou espécies em extinção são muito mais adequados para o conhecimento do estado da biodiversidade, mas não necessariamente refletem, ou ao menos não podem ser diretamente atribuídos, à ação individual de empresas.

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Tabela 2.3: Comparação de indicadores de biodiversidade propostos para uso em âmbito nacional ou global (Butchart et al., 2010 – B;

CBD, 2010 – C; Dennison, 2011 – D) e indicadores para uso em âmbito local ou por empresa (EBI – E)

Designação dos indicadores Classificação Referência Comentário

Espécies ameaçadas; espécies de distribuição restrita (incluindo espécies raras ou endêmicas); proteção de espécies ameaçadas.

Estado/Espécie C, D, E Adequado para biocombustíveis (Dennison, 2011); aplicáveis em locais

e por empresas (EBI)

Serviços ecossistêmicos/bem-estar / espécies importantes para a população local

Estado/Espécie D, E Moderadamente adequado (Dennison, 2011); aplicáveis em locais e por

empresas (EBI)

Tendências em espécies invasoras/existência de espécies invasoras Pressão/Espécie C, D, E Adequado para biocombustíveis (Dennison, 2011); aplicáveis em locais e por empresas (EBI)

Extensão de áreas protegidas (AP) Resposta/Habitat B, D, E Inadequado p/ biocombustíveis (Dennison, 2011); aplicáveis em locais e por empresas (EBI)

Cobertura de AP em áreas prioritárias/operação em AP Resposta/Habitat B, C, D, E Adequado para biocombustíveis (Dennison, 2011); aplicáveis em locais e por empresas (EBI)

Áreas sob gestão sustentável; manejo agrícola sustentável. Resposta/Habitat C, D, E Adequado para biocombustíveis (Dennison, 2011); aplicáveis em locais e por empresas (EBI)

Gestão da biodiversidade, assumida pela corporação. Resposta/Gestão E Aplicáveis em locais e por empresas (EBI)

Importância da biodiversidade no orçamento Resposta/Gestão E Aplicáveis às empresas (EBI)

Exigência de programas de gestão da sustentabilidade de fornecedores

Resposta/Gestão E Aplicáveis às empresas (EBI)

Número de projetos de proteção da biodiversidade em execução Resposta/Gestão E Aplicáveis às empresas (EBI)

Monitoramento de emissões e/ou descargas Resposta/Processo E Aplicáveis em locais e por empresas (EBI)

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Na Tabela 2.4, a título ilustrativo, são apresentadas informações de como os indicadores mencionados pela EBI podem ser avaliados. Essas informações são úteis para a discussão da complexidade do processo de monitoramento e avaliação, e da complexidade dos dados necessários.

Tabela 2.4: Indicadores de biodiversidade propostos pela EBI – informação necessária e

comentários

Indicadores Natureza da informação Comentários

Espécies ameaçadas; proteção de espécies ameaçadas.

Inventários iniciais, posterior às ações da empresa com prioridade às espécies mais ameaçadas.

As ações da empresa devem minimizar impactos sobre espécies ameaçadas. Limitações estão associadas à dificuldade de avaliação, à avaliação de algumas poucas espécies, e ao fato de que impactos em curto prazo não são bem avaliados.

Proteção de espécies

endêmicas Inventários iniciais e posterior monitoramento.

Espécies endêmicas, mesmo que não ameaçadas, devem ser monitoradas. Mesmas limitações apresentadas acima.

Serviços ecossistêmicos / espécies importantes para a população local

Identificação de espécies. Inventários iniciais e posterior monitoramento.

Os impactos podem ser também culturais e econômicos. Avaliações são específicas de cada local. Aspectos associados ao comércio de espécies são mencionados.

Existência de espécies

invasoras Inventários iniciais e posterior monitoramento.

A introdução de espécies invasoras pode ser ou não de responsabilidade da empresa. A identificação de riscos permite a adoção de medidas à priori.

Contribuição com áreas protegidas

Área protegida pela empresa e/ou contribuições para tal finalidade

Áreas de propriedade da empresa ou não, no local de operação, ou não. O paralelo com a produção de cana no Brasil é o das áreas de reserva legal (RL) e de proteção permanente (APP)

Operação em, ou próximo à, áreas prioritárias de conservação

Área física ou percentual da área total de operação

Áreas prioritárias por existência de espécies ameaçadas ou endêmicas. Muitas vezes áreas prioritárias não são claramente definidas. Aspecto muito contencioso.

Áreas sob controle de planos de manejo

Área física ou percentual da área total de operação

A avaliação adequada inclui o monitoramento dos principais aspectos relativos à biodiversidade.

Gestão da biodiversidade, assumida pela corporação.

Indicadores binários relativos à existência de políticas

Informações mais detalhadas devem incluir relatórios de estudos de caso e a análise da evolução dos resultados.

Importância da biodiversidade no orçamento

Em valores absolutos ($) ou como fração dos investimentos.

A informação é importante do ponto de vista da imagem corporativa.

Exigência de programas de gestão da sustentabilidade de fornecedores

Número ou percentual dos fornecedores

Indica o reconhecimento dos impactos da atividade econômica e ações de controle sobre a cadeia de suprimento

Número de projetos de proteção da biodiversidade em execução

Número Indica compromisso da empresa. Entretanto, a informação

importante é sobre a natureza dos projetos, seus resultados, etc.

Monitoramento de emissões e/ou descargas

Expressos através de fatores de emissão, com acompanhamento regular.

Não são propriamente indicadores de biodiversidade, mas sim indicadores de potenciais impactos sobre a

biodiversidade.

Consumo de água Captação absoluta ou por unidade de produção.

Comentário igual ao anterior. O consumo de água, e o impacto da descarga dos efluentes sobre a qualidade dos recursos, pode ter impacto nos serviços ecossistêmicos.

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