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Índices de concentração absoluta (CR 4 )

a) Cana-de-açúcar

Como observado na Figura n° 13, os elementos do sistema de agribusiness da

cana-de-açúcar, considerados para analisar o poder de intervenção, foram a produção

agrícola e industrial (usinas). Na relação produção agrícola – indústria, tem-se que a

totalidade da produção de cana-de-açúcar (100%) é transacionada com o segmento

indústria que, por sua vez, toma a decisão de produzir açúcar ou etanol (álcool anidro ou

álcool hidratado). Não existem exportações de cana-de-açúcar.

No que se refere ao componente produção agrícola, o cálculo dos índices de

concentração foi feito considerando a produção por Estado e no Brasil. O índice CR4 apresentou um valor de 81,92%, o que significa alta concentração da produção agrícola

Os índices CR4 e HH correspondem a concentração espacial

Figura n° 13: O poder de intervenção no SAG da cana-de-açúcar.

Elaborado com informações do MAPA (2007) e da UNICA (2007).

Assim, o poder de intervenção do segmento industrial do Agribusiness da cana-

de-açúcar é extraordinário, principalmente por que, além de fortemente concentrada

regionalmente, 60,75% da produção agrícola foi realizada diretamente pela indústria

(usinas), contra apenas 39,25% obtida através de fornecedores. O cálculo destas

porcentagens foi feito a partir do volume da produção direta e indireta verificada em

2006.

No que se refere ao componente indústria e, especificamente, a produção de

etanol, os índices foram calculados utilizando a produção de álcool anidro e álcool

hidratado. O CR4 de 89,63% indica, também, uma alta concentração geográfica nos

estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Goiás. Este resultado concorda com o

discutido neste capítulo considerando a especificidade locacional dos ativos (usina), e

que a produção de cana-de-açúcar a 50 km de distância da usina inviabiliza a produção Produção Agrícola (cana-de-açúcar) Indústria Produção própria (60,75%) Fornecedores (39,25%) 100% CR4 = 81,92% HH = 0,4013 Açúcar Etanol CR4 = 89,63% HH = 0,4856

devido aos custos de transporte. Esta alta concentração geográfica determina a área de

expansão da produção agrícola nestes Estados.

Desta forma, pode se concluir que o sistema de agribusiness da cana-de-açúcar

apresenta um elevado poder de intervenção para trás, uma vez que a maioria da

produção agrícola (60,75%) está integrada verticalmente à usina. No que se refere à

concentração, os índices calculados demonstram que a produção de cana-de-açúcar está

concentrada no Estado de São Paulo e que a participação dos outros Estados é

relativamente pequena.

b) Soja

A análise do poder de intervenção no sistema de agribusiness da soja considerou

os mesmos elementos tomados para o SAG da cana-de-açúcar apresentados no item

anterior. Assim, como se observa na Figura n° 14 montada com dados de 2006, na

relação entre os segmentos produção agrícola e indústria (esmagamento), 50,50% da

produção de soja em grão foi destinada para o processamento nacional, e as exportações

de soja em grãos foram de 24,8 milhões de toneladas em 2006.

Segundo a Abiove, a produção de soja na safra de 2006-2007 foi estimada em

56,9 milhões de toneladas, sendo 28,8 milhões de toneladas destinadas à produção de

farelo (22,0 milhões de toneladas) e de óleo bruto (5,5 milhões de toneladas), das quais

Os índices CR4 e HH correspondem a concentração espacial

Figura n° 14: O poder de intervenção no SAG da soja.

Elaborado com informações do MAPA (2007), ABIOVE (2007), CONAB (2007).

Para a produção de biodiesel foi considerado que o volume arrematado nos

leilões executados até fevereiro de 2007 foi de 234,13 milhões de galões de biodiesel, e

que, segundo o Instituto de Economia Agrícola (2007) 55% 4da produção de biodiesel é feita a partir de soja, pode-se inferir que 128,77 milhões de galões foram produzidos

mediante o uso da soja como matéria-prima.

No que se refere à concentração no componente produção agrícola, o índice CR4

de 73,06%, indica alta concentração geográfica, com destaque para os Estados de Mato

Grosso (26,65%); Paraná (21,26%); Rio Grande do Sul (14,16%); e Goiás (11,0%), o

que explica que a expansão da produção de soja se dará nesses Estados, pelo menos no

curto prazo. No caso do componente indústria, considerando que foi processada no

Brasil 50,50% da produção de soja, o índice CR4, construído a partir da capacidade

4Outros estudos indicam que esta porcentagem alcança 90%. FGV (2007). Produção Agrícola (soja) Indústria esmagadora. Exportação grão (49,50%) 50,50% CR4 = 73,06% HH = 0,1608 Farelo Óleo Bruto Refino Biodiesel CR4 = 100% HH = 0,4588 CR4 = 67,42% HH = 0,1414 Exportação óleo (41%)

instalada, foi 67,42%. Esta informação significa existir alta concentração na capacidade

instalada nos Estados de Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Goiás.

Na construção dos índices de concentração para a produção de biodiesel foram

considerados os volumes arrematados por empresas, nos leilões realizados pela ANP até

fevereiro de 2007. O CR4 de 100% mostra que o volume arrematado (inferido como produção de biodiesel) encontra-se concentrado em quatro empresas (Brasil Biodiesel,

Granol, Bsbios e Biocapital Charqueada) e em quatro estados: Rio Grande do Sul, São

Paulo, Bahia e Goiás.

No que se refere à organização da produção agrícola, Borges (2008) entende que

a porcentagem de produção própria das indústrias é desprezível, e que os suprimentos

da produção via produtores, organizados ou não em cooperativas, conformam a

totalidade dos fornecimentos destinados ao processamento industrial. Neste contexto,

praticamente inexiste produção agrícola de soja integrada verticalmente. Mesmo a

compra pela indústria da chamada soja verde não caracterizaria uma produção agrícola

sob contrato porque não influi diretamente nas decisões de plantar.