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Competitividade em função de fatores exógenos

a) O caso do SAG da cana-de-açúcar

Para efeito da determinação da competitividade no âmbito do SAG da cana-de-

açúcar, Farina e Zylbersztajn (1998) analisando as transações produtor rural–usina,

reconheceram existirem dois subsistemas sucroalcooleiros regionais, o norte/nordeste

responsável por um pouco mais de 20% da produção do açúcar e etanol, com

concentração nos estados de Alagoas e Pernambuco, e que, atualmente, produzem

governança e iguais modelos de transações, sendo duas as principais diferenças em

termos de competitividade: a maior produtividade e eficácia do subsistema centro/sul

(fator tecnologia); e o acesso privilegiado as cotas de exportações de açúcar do

subsistema norte/nordeste (fator institucional). O que confirma a análise feita no ítem

referente ao poder de intervenção deste trabalho.

Com características históricas, ecológicas e econômicas distintas, a região

Centro/Sul vem assumindo papel cada vez mais relevante nos valores de cana-de-açúcar

moída, produção e exportação. Em 1985, o Norte/Nordeste respondia por 27,0% do

total da cana-de-açúcar moída, passando para 20,0% em 1997, e atualmente (2006), a

participação é de apenas 12,54%.

Em termos de custos de produção, observa-se que em 1996, no Norte/Nordeste

os custos de uma tonelada de cana-de-açúcar chegavam a R$ 29,84, enquanto no

Centro/Sul o custo médio foi de R$ 18,87 por tonelada, ou seja, 37% menor que os

custos observados no Norte/Nordeste. (FARINA e ZYLBERSZTAJN, 1998).

No ano 2000, o sub-SAG da cana-de-açúcar Norte/Nordeste apresentou uma

ampla diferença com relação a competitividade do sub-SAG cana-de-açúcar da região

Centro/Sul. Esta diferença aumentou progressivamente na medida do aumento dos

ganhos de produtividade. Além disso, as empresas dessa região têm melhorado

substancialmente sua capacidade de acesso aos mercados internacionais e buscam

alternativas de diferenciação dos produtos e de diversificação. (FARINA e

ZYLBERSZTAJN, 1998).

A atividade agrícola no norte/nordeste enfrenta dificuldades de topografia

específica. Com a perda sistemática de competitividade em relação ao Centro/Sul, a

ampliação da produção de cana-de-açúcar no Norte/Nordeste assume valores totalmente

marginais.

b) O caso do SAG da soja

Segundo Castro (2000) a competitividade das firmas do sistema de agribusiness

da soja guarda estreita relação com a respectiva produção agrícola. A evolução da

capacidade instalada de processamento e a sua localização têm dependido do

crescimento da produção agrícola da soja e de seu deslocamento espacial. A soja em

grão é o principal custo de produção industrial e as empresas podem explorar economias

de escala em função do volume de processamento das plantas, fatores fundamentais

para a competitividade do SAG.

Em primeiro lugar, tomando Castro (2000) por base, um fator exógeno de

importância para o SAG da soja foi a política de ajustamento macroeconômico da

primeira metade da década de 80, que afetou a base principal da política agrícola de

modernização do setor: o crédito rural abundante e os juros subsidiados. A

conseqüência foi a elevação sistemática das taxas de juros, trazendo para a produção

agrícola de soja a deterioração das condições de financiamento e a elevação dos custos

de produção que, aliada ao aumento dos preços dos insumos agrícolas, afetou a

Em realidade, os picos de produção de soja na segunda metade dos anos 80,

ocorrem em momentos de alta das cotações no mercado internacional. A partir daí, o

mercado internacional começa a determinar os patamares de rentabilidade dos

produtores agrícolas, e a margem de rentabilidade dos produtores passa a depender cada

vez mais dos ganhos de produtividade obtidos, dados os preços internacionais.

Tabela n° 18: Produtividade (t/ha) e capacidade de processamento de soja 1980 – 2006. Em toneladas.

Fonte: Conab (2007), Abiove (2007) e Castro (2007).

Se no primeiro momento os produtores mais ineficientes permaneceram no

mercado à custa de uma progressiva descapitalização, a tendência foi a da sobrevivência

dos produtores que incorporaram ganhos de produtividade, até então estagnada no

patamar de 1.766 kg/ha (década de 80), passando para 1.580 kg/ha em 1990, atingindo o

patamar de 2.751 kg/ha em 2001, quando se estabilizou até a atualidade (2006) em

2.736 kg/ha, como observado na Tabela n° 18.

A redução dos custos unitários correspondentes permitiu o aumento da

produção, e o segmento industrial da soja pôde se tornar mais uma vez competitivo com

os incrementos de produtividade, cujo impacto do aumento da oferta nacional de soja

em grão sobre o setor industrial, pode ser avaliado pela expansão da capacidade de

processamento da indústria, que em 2006 situou-se em 143.504 toneladas/dia, como

mostra a Tabela n° 18.

1980 1990 2001 2006

Produtividade 1.766 1.580 2.751 2.736

Capacidade de

Entretanto, alguns autores como Castro (2000) e Lazzarini & Nunes (1998)

explicam que a forte expansão da capacidade de processamento não pode ser creditada a

existência de plantas indivisíveis ou em decorrência de planejamentos com base em

economias de escala, mas sim pelas políticas de incentivo do governo, em termos de

vantagens tributárias, impostos reduzidos, isenções e linhas de crédito privilegiando a

exportação de produtos processados. Sem estas linhas de política os resultados da

exploração de economias de escala poderiam ser neutralizados pelos altos custos

decorrentes da capacidade ociosa.

Desta forma, pode-se concluir que o aumento da capacidade ociosa, a redução

do financiamento governamental, e o cenário macroeconômico adverso resultaram na

queda da competitividade do SAG da soja, cujo ajuste somente se deu em 2001, a partir

dos ganhos de produtividade e de uma nova intervenção do governo.

Nesta direção, Castro (2000), discutindo a coordenação e as relações contratuais

no âmbito do SAG da soja, sugere que a desregulamentação do mercado de soja em

grão (em função da incidência tributaria) afetou os mecanismos de coordenação que

eram baseados nas relações contratuais vigentes, acentuando uma disputa entre os

segmentos agrícola e industrial e, em conseqüência, uma maior concorrência entre as

firmas da indústria na aquisição da soja em grão.

Neste contexto, espera-se a intensificação de um processo de reestruturação

industrial e de propriedade de capital na indústria de esmagamento e refino, com as