A. Commodities para o etanol.
4.1.8. Principais características do mercado de etanol e biodiesel
As informações apresentadas são o resultado da sistematização e organização de
documentos, relatórios, artigos, etc., que procuram fornecer instrumentos para a tomada
de decisões sobre a produção de biocombustíveis.
Desta forma, da análise do mercado de biocombustíveis podemos concluir que é
um mercado ainda em construção e que são os mercados institucionais, ou seja, as
Entretanto, não existe uma estratégia de substituição completa de etanol por
gasolina ou de diesel por biodiesel, por duas razões: (i) a limitação da participação dos
biocombustíveis no mercado de combustíveis, quando em 2006 o volume em etanol
disponibilizado nos Estados Unidos representou apenas uma substituição de 3,5% e, em
2016 representará apenas 7,5% no mercado da gasolina; e (ii) os limites da produção de
matérias-primas originárias da agricultura, como em 2006 no caso do milho que
representou 14% da oferta total e que deve chegar a 31% da oferta total em 2016.
4.1.8.1. Demanda
Para o etanol, os Estados Unidos projetam uma quantidade de demanda de 12,4
bilhões de galões em 2010, mantendo o ritmo de crescimento e chegando a 16,3 bilhões
de galões em 2016. Vale destacar que as projeções mostram que o mercado americano
durante o período da projeção será deficitário, criando uma expectativa de importação.
No caso do Brasil, a demanda projetada para 2010 é de 5,6 bilhões de galões,
com um crescimento contínuo até 2016, quando alcançará 7,5 bilhões de galões. Por
outro lado, as projeções mostram um mercado superavitário, com uma possibilidade de
exportação de 856 milhões de galões em 2010 e de 1,2 bilhões de galões em 2016.
Para o biodiesel, as projeções dos Estados Unidos são mais conservadoras,
chegando em 2016, a uma oferta de 1,1 milhões de galões. Para o Brasil, a legislação
determina a mistura de B2 a partir de 2008 e de B5 em 2013, o que representa 211,64 e
4.1.8.2. Preços.
Considerando o preço do petróleo como variável determinante da viabilidade da
produção de biocombustíveis, verificou-se que as cotações nestes últimos anos superam
as projeções feitas pelos organismos internacionais, o que pode ser entendido como
favorável para a produção de etanol e biodiesel. Entretanto, os preços do petróleo e de
seus derivados ainda se mostram competitivos em relação ao uso dos biocombustíveis,
razão por que as decisões de produção dependem em sua totalidade do mercado
institucional.
Outra consideração em relação aos preços dos biocombustíveis foi feita em
função das cotações de commodities como soja, milho, óleo de soja e açúcar, no
pressuposto de que estes preços influenciariam na decisão dos agentes econômicos
sobre o que e quanto produzir. Especificamente os dados mostram que a produção de
etanol tem influenciado na elevação dos preços do milho nos Estados Unidos, o que
trouxe repercussões nos mercados de outras commodities como a soja, cujo preço
aumentou com base na redução da área plantada de soja em favor do milho.
No caso brasileiro, a crescente demanda por biocombustíveis teve um impacto
positivo nas exportações brasileiras do agronegócio. Como pode ser observado na
Tabela n° 13 existe um comportamento diferente nas exportações do complexo da soja
comparado ao complexo sucroalcooleiro. No primeiro caso, as quantidades exportadas
diminuem em 2,9%, enquanto a quantidade exportada do complexo sucroalcooleiro
aumenta em 2,7%. Quando a comparação é feita em temos de preços, observa-se um
comportamento contrário, ou seja, enquanto os preços dos produtos do complexo da
Tabela n° 13: Evolução dos preços das commodities. Em US$/t métrica.
Na mesma Tabela n° 13, pode ser observado o comportamento das exportações
do milho, sendo entre os anos 2006 e 2007, tanto a quantidade exportada como o preço,
indicam aumentos de 178,1% e de 47,1% respectivamente.
Os dados apresentados indicam claramente que as conseqüências da utilização
do milho nos Estados Unidos para a produção de etanol traz conseqüências para os
mercados das commodities analisadas. Assim, por uma parte, a maior demanda por
milho gera uma elevação dos preços internacionais desta commodity, fazendo
competitivas as exportações por parte de países como Brasil. Por outro lado, a expansão
do cultivo do milho nos Estados Unidos sobre as áreas de produção de soja, provocando
uma produção menor levam a um incremento na demanda de soja e a uma conseqüente
elevação dos preços.
Neste contexto, o papel dos agentes públicos e privados nas decisões de
produção e comércio de biocombustíveis, tende a se tornar cada vez mais importante na
2006 2007 2006 2007 2006 2007 Complexo Soja 39.703 38.541 -2,9% 234 295 26,0% 9.308 11.381 22,30% Soja 24.950 23.721 -4,9% 227 283 24,6% 5.660 6.703 18,40% Farelo de Soja 12.334 12.477 1,2% 196 237 20,9% 2.420 2.959 22,30% Óleo de Soja 2.419 2.343 -3,2% 508 734 44,6% 1.229 1.720 40,00% Complexo Sucroalcooleiro 21.603 22.183 2,7% 360 297 -17,6% 7.772 6.578 -15,40% Açúcar 18.870 19.359 2,6% 327 263 -19,4% 6.167 5.100 -17,30% Álcool 2.733 2.824 3,3% 587 523 -10,9% 1.605 1.478 -7,90% Milho 3.925 10.915 178,1% 117 172 47,1% 460 1.882 309,10% Fonte: MAPA
Valor (milhões U$)
Variação Variação
Quantidade (mil t) Preço médio (U$/t) Exportações Variação
4.2. O Sistema de Agribusiness
A construção desta parte do trabalho é feita sobre a base do conceito de sistema
de agribusiness definido por Davis & Goldberg (1957), e da análise que Farina e
Zylbersztajn (1994) desenvolveram, e que foram introduzidos no marco teórico
referencial. Este capítulo trata especificamente de uma análise comparativa entre os
SAG’s da cana-de-açúcar e da soja, sob a ótica da eficiência comparada, a capacidade
de organização e de adaptação de cada SAG frente aos efeitos exógenos e suas
repercussões para trás do componente industrial. Do ponto de vista geográfico, o campo
do estudo está circunscrito ao caso do Brasil.
Neste contexto, considera-se como verdadeira a hipótese de que os Sistemas de Agribusiness podem ser vistos como “clusters” de transações, onde coexistem diferentes formas de governança. Neste sentido, sistemas competitivos serão aqueles que
conseguirem unir estruturas tecnológicas eficientes (no sentido de custos mínimos de
produção e escalas ótimas), com estruturas de governança economizadoras de custos de
transação.
Para este efeito, um SAG é composto por cinco componentes: Insumos,
Agricultura, Indústria, Atacado e Varejo, onde se inserem as seguintes transações:
insumosagricultura (T1); agriculturaindústria (T2); indústria atacado (T3); e atacadovarejo (T4), como ilustrado a seguir na Figura n° 10.
Assim, a idéia central é comparar a capacidade de resposta dos sistemas de agribusiness da cana-de-açúcar e da soja na sua adaptação aos choques de demanda de biocombustíveis, enquanto principais matérias-primas para a produção de etanol e de
biodiesel, para o que foram utilizados os estudos feitos por Farina e Zylbersztajn (1998)
Figura n° 10: Transações de um SAG genérico.
(T1) (T2) (T3) (T4)
Fonte: Adaptado de FARINA e ZYLBERSZTAJN (1994).
Entretanto, considerando que as adaptações dos SAG´s se originam da ação da
indústria em busca da satisfação dos mercados (atacado e varejo), neste trabalho a
análise das mudanças quantitativas e qualitativas se refere apenas às transações
concernentes aos três componentes iniciais de cada sistema de agribusiness (insumos,
produção agrícola e indústria), protagonizadas pelo setor industrial.