4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1. O Mercado de Biocombustíveis
4.1.7. A questão dos preços
Ao abordar o futuro potencial dos biocombustíveis, Ugarte (2007) manifesta que
o potencial econômico destes depende de dois fatores: os preços da energia fóssil; e as
políticas sobre a tecnologia limpa e renovável.
Por outro lado, os incrementos dos custos da energia derivada do petróleo
constituem um incentivo para que os governos encorajem a produção de substitutos de
petróleo por meio do uso de cultivos agrícolas renováveis, o que, por sua vez, conduzirá
a um choque de demanda que deve pressionar para cima os preços das matérias-primas
de origem agrícola. Neste caso, as variações dos preços do petróleo e das commodities
também se revelam como elementos decisivos para o estudo do mercado de
biocombustíveis, como discutido a seguir.
4.1.7.1. Os preços do petróleo
Como pode ser observado a partir da Figura n° 4, o preço do petróleo tem
apresentado uma tendência crescente. Enquanto na década dos anos 90 era cotado a US$
20,00 por barril, em 2003 foi cotado em US$ 32,51 por barril, chegando até US$ 125,4
em maio de 2008, portanto superiores as projeções de preços realizadas pela USDA
(2007), feitas considerando o incremento da demanda por parte de um mundo em
permanente crescimento econômico, do elevado crescimento da China e da Índia, e dos
40 50 60 70 80 ar re l
Figura n° 4: Preço internacional (spot) do petróleo. Em US$ por barril.
2008 (maio)
Fonte: U.S. Energy Information Administration.
Esta tendência de crescimento econômico global deve continuar elevando a
demanda por petróleo, principalmente nas economias da Ásia que são altamente
dependentes deste tipo de energia. (WESCOT, 2007).
Os cálculos feitos pela USDA (2007) e apresentados na Figura n° 5, foram
realizados no pressuposto de que, ao longo de 2007 e 2010, o preço do petróleo tivesse
uma modesta queda, para depois novamente crescerem a uma taxa menor que as taxas
de inflação, condição estabelecida em razão das expectativas de que as novas fontes de
energia compensassem a demanda da Ásia.
Figura N° 5: Projeções do preço do petróleo em dólares correntes e constantes a preços do ano 2000. 125,4 72,34 60,85 61,06 43,36 32,51 31,21 19,96 26,72 25,76 12,14 17,65 25,9 19,54 0 20 40 60 80 100 120 140 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Depois de 2011, os preços foram projetados como crescentes a taxas maiores
que as taxas de inflação geral, refletindo a elevação da demanda mundial de petróleo
baseado no crescimento econômico, particularmente nas economias dependentes desta
energia da Ásia, em oposição a certa rigidez da oferta.
Este cenário, na medida em que projeta preços de US$ 60 por barril em 2010 e
de US$ 70 por barril em 2016, portanto inferiores aos preços observados em 2005,
2006, 2007 e 2008 apontados na Figura n° 5, permite observar que a demanda por
biocombustíveis não se dará em função de uma competição entre os preços do petróleo
e os preços dos biocombustíveis, mas sim pelas variáveis exógenas determinadas no
mercado institucional.
4.1.7.2. Os preços de equilíbrio
As reduções do preço do petróleo no futuro poderão afetar a viabilidade comercial
de seus substitutos, no caso os biocombustíveis. Assim, sob o enfoque das empresas, o
conceito econômico de ponto de equilíbrio, aplicado também às cotações de ações e
outros ativos, serve como um referencial para as estratégias do setor privado em investir
na produção de biocombustíveis, ou seja, quando as cotações do petróleo forem
superiores ao ”ponto de equilíbrio”, os investidores em biocombustíveis devem obter
lucros, devendo acumular perdas quando a variação dos preços se der na direção
inversa. Neste caso, considerados os atuais níveis de tecnologia, o ponto de equilíbrio
será dado pelo preço do petróleo a partir do qual produzir biocombustíveis como bem
substituto da gasolina ou do diesel convencional passa a ser vantajoso. (BUARQUE,
Neste contexto, a revisão dos aspectos ambientais, econômicos e políticos dos
biocombustíveis feita pelo Banco Mundial (UGARTE 2006/FAO 2006, citado por
RAGOPAL 2007), apontam os seguintes preços de equilíbrio:
Etanol: quando produzido a partir da cana-de-açúcar (caso do Brasil), torna-se viável economicamente quando o preço do petróleo no mercado internacional for igual ou
maior a US$ 35.00 por barril; e igual ou superior a US$ 50.00 por barril, quanto
produzido com base na cultura do milho (caso dos Estados Unidos).
Biodiesel: no caso do Brasil, considerando a soja, a mamona ou a palma como fontes de matéria-prima, a viabilidade econômica da produção destinada a substituição do diesel
convencional, será estabelecida quando o preço do petróleo for igual ou superior a US$
60.00 por barril (Plano Nacional de Agroenergia – MAPA 2006).
Figura n° 6: Preços de Equilíbrio do petróleo para o etanol e para o biodiesel.
Fonte: Nybot, Mapa.
0 10 20 30 40 50 60 70 80 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 U S $ /B a rr el
Preço do Óleo Cru Preço Equibrio Biodiesel BRA 0 10 20 30 40 50 60 70 80 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 U S $ /B a rr el
partir de 2006, enquanto a viabilidade econômica do biodiesel, também considerando os
níveis de tecnologia atual, somente será viável a partir de 2010, segundo as projeções.
Neste ponto, é importante considerar, que atualmente, os preços médios do
diesel convencional nos Estados Unidos custam US$ 2,00 por galão, contra US$ 3,00
por galão para o biodiesel puro (B100), confirmando que a oferta de biocombustíveis é
inelástica em relação aos preços dos derivados do petróleo. (ABIOVE, 2006).
4.1.7.3. Os preços das commodities
O preço das commodities constitui outra variável importante para o estudo da
demanda por biocombustíveis, na medida em que as tendências destes preços
influenciam ou são influenciadas pelo comportamento dos custos da produção agrícola e
industrial dos biocombustíveis a partir do milho, do açúcar e da soja.