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Ação e estratégia do lobby da indústria na Câmara dos Deputados

3. A trajetória do sistema de representação de interesses no Brasil

3.5 Ação e estratégia do lobby da indústria na Câmara dos Deputados

Por fim, segue a descrição das atividades da CNI que dizem respeito ao lobby junto ao Poder Legislativo, que são coordenadas pela Unidade de Assuntos Legislativos. A partir de 1980 a CNI veio a atuar mais fortemente com o início da abertura política, momento inclusive que deslocou sua sede para Brasília. Mas o ponto de inflexão para entender a ação de representação de interesses junto ao legislativo está em 1988, quando a atividade de lobby durante a Assembléia Nacional Constituinte apontava para uma ação atomizada e pouco profissional dos empresários na defesa de seus interesses. Naquele momento foi criada a Unidade de Assuntos Legislativos, que fica, desde lá responsável pela articulação de todas as atividades nesse campo.

A deliberação em torno da construção da Agenda Legislativa da Indústria surge do Encontro Nacional da Indústria. Em permanente aperfeiçoamento, a CNI monitora as proposições legislativas de interesse da indústria que tramitam no Congresso Nacional, avalia e elabora propostas e emendas para garantir os interesses do setor industrial. Esse

trabalho tem início na identificação dos projetos de lei apresentados na Câmara e no Senado Federal que possam causar impacto no desempenho do setor produtivo. As proposições são apresentadas às federações e associações de indústrias, que emitem suas opiniões. Paralelamente, as áreas técnicas e os Conselhos Temáticos da CNI oferecem pareceres jurídicos e de mérito, que orientam o posicionamento do setor e as estratégias para ação legislativa. “Os interesses da CNI no Congresso Nacional são defendidos de modo transparente e formal, de modo que os argumentos sejam percebidos como uma contribuição ao aprimoramento das legislações e à criação de um ambiente favorável ao crescimento do País” (CNI, 2009).

Aqui se tem efetivamente a natureza da atividade e de onde derivam todas as ações. O lobby é visto pela CNI como o uso estratégico da informação, com a finalidade de defender os interesses da indústria. E essas atividades se dividem em: monitorar, informar e influenciar. Essas atividades incluem acompanhar o processo legislativo levantando toda a informação necessária, inclui informar os parlamentares e os industriais sobre o seu andamento e, o mais importante, incluí a tentativa de influenciar as ações dos parlamentares. De posse dessas informações, articuladores externos28 vão periodicamente ao Congresso Nacional sabendo: o que fazer, como fazer e com quem falar.

Junto aos parlamentares os articuladores apresentam relatórios, participam de reuniões e audiências públicas, procuram indicar relatores mais favoráveis aos seus interesses, informam os parlamentares com notas técnicas e relatórios, todos contendo a posição da CNI e os fundamentos dos seus argumentos. Outra atividade de lobby é oferecer idéias para a atividade de emendamento por parte dos deputados. Procuram também interferir nas pautas de discussão das comissões, visando retardar o que não interessa e acelerar o tramite daquilo que interessa.

Com relação à escolha dos interlocutores na Câmara dos Deputados, entrevistas mostraram que a atividade de um modo geral na Câmara é feita através de deputados com algum tipo de ligação com a indústria. É dizer, os interlocutores da CNI são, em geral, aqueles deputados que têm sua trajetória ligada ao setor produtivo, ou são eles mesmos da base. Uma importante proxy para identificar esses deputados é o seu background e a participação de bancadas suprapartidárias. Isso confirma a tese de que no Brasil o lobby na Câmara dos Deputados é um mix entre atividade profissional

28 Articuladores externos são pessoas da equipe da Unidade de Assuntos Legislativos que têm a função de

corporativa (de interlocutores profissionalizados), e também de representantes cuja relação de representação está fundada em termos mais duradouros, relacionados especialmente à trajetória deste mesmo representante.

O lobby da indústria, portanto, não se resume à atuação via CNI, é feito também diretamente pelas federações e associações, assim como autonomamente por deputados que têm trajetória ligada à indústria. Contudo, mesmo essa atividade, por assim dizer “mais direta” está fortemente orientada pelas diretrizes e posições construídas no contexto da CNI. É através delas, como já dito, que se faz uma coleta permanente de informação e de inúmeras outras atividades de disseminação dessa mesma informação entre a base e os parlamentares.

3.6 Padrão dual, racionalidade e força do empresariado

O que se apreende da análise das organizações corporativas extra-corporativas do setor industrial nesse período é um movimento em dois sentidos: o da continuidade e o da mudança. A continuidade institucional está na manutenção no padrão da expansão do associativismo, já que permanece o padrão dual, no qual se expandem tanto as entidades de natureza plural (como as associações), como seguem também incrementando o associativismo do setor a expansão das entidades de natureza corporativa (sindicatos), exatamente como previram Diniz e Boschi (2000)

No que diz respeito às transformações, essas são profundas. Tanto na estratégia quanto no desenho institucional das instituições do setor corporativo. Orientadas para ações em múltiplas arenas (inclusive o legislativo) ao contrário do período anterior o novo desafio político para o setor levou a CNI a investir recursos e tempo no sentido de se converter em um verdadeiro empreendedor político. Essas estratégias mudaram significativamente quando incorporaram novas tecnologias da informação e quando orientaram o setor para uma ação estratégica e articulada no sentido da construção de uma institucionalidade e de uma agenda política que de fato pudesse, legitimamente, representar coletivamente a maioria.

Esse novo quadro é exatamente o quadro que anima as investigações no sentido de verificar se “valeu a pena”, ou seja, se os resultados políticos auferidos nesse novo contexto do País e nessa nova forma de interação dos empresários como atores políticos foram efetivamente positivos.

Capítulo 4