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As críticas mais fortes à produção norte-americana

2. Medindo influência: o lobby e o financiamento de campanha

2.5 As críticas mais fortes à produção norte-americana

Pelo menos quatro problemas são apontados por Baumgartner e Leech (1998) em relação aos estudos sobre influência nos Estados Unidos. O primeiro diz respeito à prevalência dos estudos de caso. Essa abordagem limita generalizações mais amplas e acumulação de resultados porque deixam muitas variáveis importantes de fora. Claro, quando se faz estudos de caso, as muitas variáveis se tornam constantes quando analisadas sob um único caso.

Um segundo ponto relevante da crítica é que a causalidade geralmente esperada entre as atividades dos grupos de interesse e os resultados das votações nominais são tomadas como um resultado mais amplo do que realmente parece. Tomar essa relação como sinônimo de influência pode ser perigoso porque boa parte das atividades do grupo é realizada nos momentos antes da votação. No trabalho das comissões, por exemplo, ou até mesmo antes do envio da matéria para o legislativo. Nesse sentido, perguntam os autores, “se boa parte das atividades se dá antes, porque apenas ficar o Plenário?” Smith (1995) também chama a atenção para o mesmo ponto quando afirma que “as ambigüidades dizem que os grupos contribuintes em geral têm pouca influência nos Plenários (tanto da house quanto do Senado) porque exercem sua influência em momentos menos visíveis do processo legislativo, em especial aqueles que antecedem as decisões mais gerais, tais como nos comitês e subcomitês.”

Uma terceira e não menos importante crítica é que “se a influência do financiamento de campanha varia de acordo com a saliência e a presença/ausência de atividades diretas de lobby, porque então essas variáveis são raramente incluídas?” A resposta de Baumgartner e Leech (1998) para tal paradoxo é que “votações nominais e financiamento de campanha são dados fáceis de conseguir, enquanto o lobby direto é difícil de operacionalizar e medir.” E a sentença dos autores sobre o problema é ainda mais contundente “Unfortunately the easy route has led us to few conclusive findings about the political behavior of interest groups.”

Por fim, segue talvez a mais importante crítica aos estudos sobre lobby e financiamento de campanha. Segundo os autores, o uso de proxies pode ser adequada para alguns casos, sobretudo porque limita os fatores envolvidos na explicação e essa parcimônia muitas vezes pode ser adequada. Entretanto, quando modelos

assumidamente simplificados produzem resultados muito contraditórios, isso pode ser conseqüência do fato de que algo realmente relevante pode estar ficando de fora dos modelos. “We believe this to be the case with the contradictory findings present in studies of lobbying and PAC influence.” (Baumgartner e Leech, 1998).

A crítica de Smith, entretanto, é mais eslarecedora no que diz respeito aos aspectos estatísticos. O autor afirma que “todos os estudos estatísticos apresentam, em alguma medida, erros de medidas e de estimação. Esses erros põem sérias dúvidas sobre as conclusões do impacto do financiamento de campanha e do lobby no Congresso americano. A depender do erro, o impacto dos grupos de pressão pode ser superestimado ou subestimado (Smith, 1995).” O primeiro problema estatístico é a estimação e medição da ideologia. É dizer, a depender da forma como medimos ideologia podemos estar atribuindo uma posição do congressista que está menos ou mais alinhado a uma issue e isso pode estar superestimando (ou subestimando) o papel do lobby e do financiamento no resultado da votação. A segunda é a omissão ou a subestimação de variáveis que podem ser fortemente correlacionadas com contribuição de campanhas ou atividades de lobby dos grupos de interesse. Por exemplo, como o número de membros, o financiamento de campanha e a presença no Congresso podem estar dizendo a mesma coisa (multicolineariedade).

Por fim, uma crítica de natureza teórica. O argumento é que “quando financia um congressista, o grupo está comprando acesso e não especificamente um voto naquela questão exatamente.” Entretanto, como é muito difícil medir a quantidade e a qualidade do “acesso” que pode oferecer um congressista, esse argumento raramente vem acompanhado de evidências empíricas. Langbein (1986) procurou mostrar isso verificando o tempo que cada grupo contribuinte dispunha do congressista, em termos de minutos dados em atenção a ele, numa semana típica de trabalho de gabinete de um congressista e confirmou a correlação entre dinheiro e acesso. Muito embora ele mesmo diga que o resultado sugere, mas não prova, que dinheiro compra acesso. A crítica de Salisbury (1990) levanta sérias dúvidas sobre essas conclusões. A frase simples e ao mesmo tempo contundente é “os grupos podem ter total acesso aos congressistas e ao mesmo tempo serem muito pouco influentes”

2.6 Definindo estratégias: limites e possibilidades

Todo esse quadro de incongruência e desacerto segue hoje no debate sobre influência, e é sobre esse mar de incertezas que qualquer estudo sobre influência tem

que navegar. A estratégia aqui utilizada para lidar com todas essas limitações está montada sobre dois pilares. O primeiro diz respeito a levar a sério as dificuldades de operacionalização das variáveis no sentido de tentar superar, ou pelo menos controlar, as limitações acima relacionadas. Assim, lançar mão de estratégias analíticas e estatísticas alternativas é mais uma necessidade pra tentar superar essas barreiras do que somente um impulso inovador.

Por outro lado, do ponto de vista teórico, a estratégia aqui utilizada consiste também em combinar diferentes referenciais teórico-analíticos para tentar superar a fraqueza da literatura e suas limitadas conclusões. Ou seja, ao mesmo tempo em que se aproveita o que há de disponível nos estudos pluralistas na área, procura-se aportar novos referenciais na esperança de lançar luz sobre o problema. Essa é, na verdade, ao mesmo tempo uma estratégia analítica e uma imposição feita pelo do caso em estudo. Essa imposição diz respeito ao fato de que o período estudado no Brasil combina elementos tanto de pluralismo quanto de corporativismo, caracterizando o caso como um modelo híbrido. Esse modelo, pelo seu hibridismo, praticamente impõe a consideração de referências para além daqueles desenvolvidos no contexto do Congresso norte-americano. E aqui a referência é direta ao referencial teórico do neo- corporativsmo.

Diante desse quadro, aparece a imposição de retardar um pouco mais a análise empírica do caso, para que antes se possa entender o centexto híbrido que caracteriza o sistema político brasileiro no pós 88. Período exato que se pretende investigar aqui.

Capítulo 3