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A ação do perito na regulação

Regulação central e regulação local

5. Modos de regulação em uso no programa TEIP

5.2. A ação do perito na regulação

No decorrer do programa TEIP2, o perito externo na sua ação vai assumindo várias “formas” nos processos de regulação – “ator regulado”, “ator de regulação” e “recurso de regulação” (cf. Figura 1).

Figura 1 - As “formas” do perito externo nos processos de regulação

8 Por exemplo, no caso das disciplinas Territórios Educativos de Intervenção Prioritária” - para as E/AE - e a “Consultores TEIP” - para os peritos – a administração central monitorizou quem participou (ou não participou), quantas vezes participou e que informação disponibilizou.

O perito como “ator regulado”. Ele é regulado por atores dos

domínios de ação técnico-científico, administrativo e profissional. Na relação entre o perito externo e a administração da educação (CCP/ Equipa TEIP2 e DRE), é evidente que a ação do perito externo é re- gulada pela mesma (através das reuniões), uma vez que ela emana um conjunto de orientações para a sua intervenção, tal como é evidenciado por Joana e Bernardo:

Este trabalho vai sendo concertado entre todos, à medida que vai sendo regulado pela Direção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular, e depois a Direção Geral de Educação. Quando eu digo regulado, é que à medida que vamos tendo reuniões com as pessoas responsáveis pelo programa (…) cada um “prestava contas”, falava sobre o seu trabalho (...) (Joana, entrevista)

Através de instrumentos e de orientações. Entre aspas, são prescrições. Indiretamente sim, acabamos por ficar condicionados (…) Nos anteriores eu achei a perspetiva sempre interessante, de abertura, enfim, tirando alguns momentos que eu percebi alguma tendência mais de regulamentação ou mais prescritiva. (…) a intrometer-se mais no papel do consultor, enfim, inicialmente não através de prescrições escritas, mas reuniões que pareciam já ter esse carácter. Houve um momento em que (…) havia já uma certa orientação para o controlo em relação ao trabalho do consultor (…). (Bernardo, entrevista)

Esta intervenção reguladora pode passar também pela criação de momentos de reflexão sobre os resultados das E/AE e o perfil de intervenção do perito externo:

Veio uma equipa de Lisboa [refere-se à equipa da DGIDC], com alguns elementos aqui do XXXX e efetivamente na altura não traziam uma check

list, mas traziam alguns referenciais e que nos pediam individualmente

a nossa inscrição dentro daquelas linhas que ali estavam. E cada um de nós, de acordo (…) com o trabalho que vem desenvolvendo assumia uma visão mais holística ou uma visão mais restrita no sentido de um apoio mais neste eixo ou naquele. (Sónia, entrevista)

A indução da prestação de contas nestas reuniões é evidenciada por alguns dos entrevistados9:

Era um Big Brother porque sabia tudo de nós, e do nosso trabalho, e dos resultados do nosso TEIP e discutíamos, não era eu como consultora, era eu como consultora naquele TEIP, com aquelas características, com aqueles resultados. Discutíamos sim e depois nós, obviamente, dávamos conta daquilo que era o nosso trabalho, os constrangimentos. Digamos reuniões de heteroavaliação, autoavaliação e de regulação a nível da administração central. (Joana, entrevista)

Um outro propósito que as reuniões assumem é a promoção da partilha de práticas entre peritos externos10. Muitas vezes, são

estas reuniões que “obrigam” a que os peritos partilhem as suas práticas, não só com peritos da sua IES, mas também com peritos de outras instituições:

E eu diria que essas reuniões eram uma mais-valia para nós nos conhecermos e sabermos o que cada um andava a fazer, portanto, eram muito produtivas desse ponto de vista, obviamente, também, pela força da regulação da administração. Temos aqui um efeito positivo desta regulação que nos ajudou a olharmo-nos internamente, enquanto grupo de consultores, não

9 A “prestação de contas” diretamente à administração central pode ocorrer apenas em reuniões (caso estas se realizem). Em nenhum momento é solicitado ao perito um relatório específico do seu trabalho. Apenas nos relatórios semestrais é que é solicitado às E/AE o preenchimento de um campo relacionado com o perito. Porém, este campo pode ser (ou não) preenchido pelo perito.

10 Em alguns casos, os peritos apenas se reúnem quando a DGIDC “provoca” estas reuniões. O facto de a maioria dos peritos ter sido convidada, individualmente, e não através da sua IES, pode ter alguma influência na maior ou menor implicação das instituições, mas as suas dinâmicas internas também têm um forte pendor na ação dos seus peritos. Por conseguinte, constatamos que a maioria das IES no programa TEIP2 não realizou uma regulação da ação dos seus peritos, apenas uma IES criou as suas próprias orientações internas para regular a ação dos seus peritos. Estas orientações estão muito focadas numa racionalidade técnica da ação do perito - elaboração de um diagnóstico do E/AE e a realização de um plano de intervenção.

havendo esse trabalho de regulação andávamos um bocadinho, cada um para seu lado. (Joana, entrevista)

Nestes processos de regulação, os atores das E/AE (os que têm uma relação com o perito externo) assumem, também, o papel de reguladores da ação deste ator (pe. através do relatório de avaliação). Isto porque, esses relatórios têm um campo onde é questionado o número de horas/reuniões que o perito

externo acompanha o trabalho nas E/AE, permitindo que a administração central

possa regular, à posteriori e/ou ao longo do processo a intervenção deste ator:

Porque quando se pede nos próprios relatórios de monitorização, que eles indiquem o que é que o perito externo esteve lá a fazer, quantas vezes reuniu com ele, etc. etc., dá-se essa noção de controle, dá-se essa noção. (…) Esse controle, penso eu, deveria ser feito pelo próprio agrupamento, que chegaria ao fim e diria se o perito deve ou não continuar, portanto com mais autonomia. E não num relatório que vem da administração e que tem uma área, cada vez tem sido mais, isso começou por ser um item e agora é uma parte do formulário, portanto isto deixa-nos numa posição, às vezes, pouco confortável. (Susana, entrevista)

O perito como “ator regulador”. A criação deste ator para intervir

no programa TEIP2 pode ser logo considerada como uma forma de re- gulação, uma vez que ele foi criado com o objetivo de apoiar a conceção, desenvolvimento e avaliação do Projeto Educativo TEIP2:

(…) está garantida a existência de apoio teórico, metodológico e técnico local ao processo de monitorização e avaliação, através de consultoria assegurada por peritos externos ligados às instituições de formação e investigação em Ciências da Educação (…)” (Comissão de Coordenação do Programa TEIP2, 2010, p. 30).

Neste papel de ator regulador, o perito exerce regulação sobre os atores dos domínios de ação profissional e técnico-científico. No que diz respeito ao domínio de ação profissional, a sua intervenção incidiu sobre o trabalho de conceção de documentos desenvolvido pela equipa multidisciplinar das E/AE:

Portanto acompanhei as alterações, porque depois houve sempre ajustamentos e até hoje, acompanhei esses ajustamentos do projeto educativo. Acompanho regularmente e acompanhei, até hoje, todos os

relatórios que são produzidos [itálico nosso]. (João, entrevista)

Porém, a sua intervenção também se alarga a outros técnicos:

Também acompanhei um bocadinho o trabalho desses técnicos, procurando compreender e com isso deixar, também, algumas pistas

de trabalho sobre a ligação com os diretores de turma [itálico nosso].

(Duarte, entrevista)

Nos testemunhos de alguns inquiridos também é evidenciado que existe regulação entre peritos. No caso de uma Instituição de Ensino Superior foram criadas orientações específicas para a ação dos seus peritos externos. Porém, são as reuniões entre peritos da mesma insti- tuição que são consideradas, por alguns inquiridos, como uma forma de regulação entre pares:

E nestas reuniões [entre peritos] fomos percebendo o que cada um estava a fazer e teve um efeito positivo. (Joana, entrevista)

O perito é recurso de regulação quando é mobilizado para legitimar

a ação de outros atores (das E/AE e administração). A DGIDC mobiliza este ator no sentido de legitimar a sua ação junto das E/AE:

Acho que, em parte, legitimei cientificamente algumas exigências da tutela e da direção junto dos professores, acho que foi um bocado isso. (Duarte, entrevista)

Nas E/AE, alguns diretores e as equipas multidisciplinares também utilizam o perito externo como um recurso de regulação no sentido de legitimar a sua intervenção -

Aliás é tão forte o comprometimento que, algumas vezes se servem de mim para voltar a entusiasmar algumas colegas mais desanimadas. Por

exemplo, quando querem fazer uma reunião com os diretores de turma que já estão desentusiasmados porque consideram que já não há nada a fazer, usam como argumento: “ foi a doutora Graça que sugeriu que nós reuníssemos e que víssemos as possibilidades …” (…) o facto de existir uma assessora externa que também é aceite institucionalmente, legitima (…)apoiam-se em mim, porque eu apenas amplio, apenas reforço

aquilo que elas fazem [itálico nosso] (…) (Graça, entrevista)

- e/ou para ajudar, através do seu conhecimento técnico, na to- mada de decisões:

O diretor, sempre que necessário, pede-me pareceres. Cá está o trabalho de assessoria, do especialista. Ele convoca-me para eu dar o meu parecer sobre determinados aspetos, sobre determinados aspetos! (…) Por exemplo, o Conselho Pedagógico tem uma problemática então vamos ver

o que é que o especialista [itálico nosso], o “perito” pensa sobre isto (…)

(Tomás, entrevista, itálico nosso)

O recurso ao perito externo serve, por um lado, para legitimar a intervenção de alguns atores perante outros atores. Porém, o facto de ser um ator detentor de conhecimento técnico - científico e interagir com os outros atores, influencia, de certa forma, as decisões tomadas por estes.