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Capítulo I – Prática Pedagógica em Contexto Pré-Escolar

1.4. Intervenção com a Comunidade Educativa

1.4.2. Ação de sensibilização: “Querida mãe, querido pai então que tal?!”

Antes de se dissecar acerca da ação de sensibilização direcionada aos pais/encarregados de educação, importa referir que considero de extrema importância um trabalho mais do que paralelo, conjunto, entre os pais e os educadores. A criança deve ser vista como um todo e esse todo contempla os mais variados mundos, desde o familiar até ao social. Assim, crê-se fundamental que se estabeleçam períodos de comunicação, trocas de informação e até momentos de formação de forma a que se dissipem mitos e que se esclareçam dúvidas acerca da criança.

Deste modo e fundamentando as ideias supracitadas, as OCEPE defendem que é fundamental que haja uma relação entre as famílias e as instituições escolares, na medida em que ambos contribuem para a educação das crianças (ME, 1997). A Lei Quadro da Educação Pré-Escolar (Lei nº5/97, de 10 de fevereiro) corrobora com esta visão, defendendo também que se devem estabelecer relações entre a família e as instituições de Educação Pré-Escolar possibilitando o desenvolvimento integral da criança e a sua integração na sociedade.

Durante o estágio procurei estabelecer desde início uma relação positiva com os pais/encarregados de educação, para tal, na primeira semana estabeleci pequenos diálogos com os mesmos, de modo a contextualizar a minha intervenção pedagógica e de maneira a solicitar autorização para fotografar os seus educandos. Estes diálogos fizeram-se essencialmente no momento do acolhimento e foram privilegiados pela troca de informações sobre as crianças, como também para os pedidos de colaboração para determinadas atividades, sendo algumas delas, a decoração dos frutos do Pão por Deus e a realização das construções com castanhas para serem expostas no dia de S.Martinho, possibilitando desta forma o seu envolvimento nas aprendizagens das crianças.

Ao longo do estágio, através da observação de algumas birras por parte das crianças aquando da separação dos pais e pelo facto dos mesmos evidenciarem alguma preocupação em lidar com certos comportamentos, procurou-se organizar uma ação de sensibilização integrada no dia da reunião de pais/encarregados de educação, que abordasse aspetos relacionados com as suas inquietações. A reunião realizada no dia 28 de novembro de 2013 dividiu-se em três momentos, sendo que a ação de sensibilização constituiu o início da reunião, seguindo-se a apresentação de algumas informações referentes ao grupo, bem como a comunicação das linhas orientadoras do PCG, por parte da educadora cooperante, finalizando-se com a apresentação de um vídeo (Apêndice K), feito por mim, com a compilação das atividades realizadas ao longo da intervenção pedagógica.

Esclarecida assim a pertinência e o propósito da ação de sensibilização, interessa também refletir sobre o tema da mesma.

Os momentos formais de comunicação devem ser momentos previamente organizados e com um objetivo bastante claro. Depois de verificadas as necessidades do grupo, e aferidas as questões mais prementes dos pais, foi decidido, pela equipa pedagógica, o tema a ser trabalhado. Assim, convocaram-se os pais da sala da Pré 1 (Apêndice L e M) a comparecerem numa sessão de formação ministrada por uma psicóloga, Cheila Martins, que pretendia abordar temáticas comportamentais. As necessidades eram conhecidas, é um tema sobejamente popular, os pais possuem sempre uma opinião pessoal sobre o assunto e é um tema com que se debatem quase diariamente, quer seja com a prole, quer seja com as inúmeras crianças com que se cruzam diariamente.

A sessão, intitulada “Querida mãe, querido pai… então que tal?!” teve uma duração aproximada de uma hora e foi pautada por uma abordagem bastante próxima e promotora da partilha e troca de informação pelos pais. O grupo, inicialmente pequeno, foi ganhando forma e, a pouco e pouco, partilhando as suas inquietações, os seus métodos e as suas questões. A escolha do título promoveu inicialmente descontração por parte dos pais, que foram intervindo no discurso e enriquecendo a formação com os contributos individuais. A oradora em alguns momentos assumiu um

papel de moderadora, avaliando a necessidade de comunicar e de partilhar por parte dos pais (Figura 44). Os temas abordados referiam-se essencialmente às regras e limites e todos os subtemas subjacentes a este sistema (Anexo A). A oradora primou por ter um discurso bastante claro e acessível, fazendo recurso a exemplos e a metáforas ilustrativas da realidade

que os pais conhecem diariamente. Desconstruíram-se grandes temas como: a gestão da frustração, as regras e limites, as birras e a importância intrínseca à palavra “não”. De um modo geral pareceu-me um percurso bem trilhado, onde os pais viram-se e reviram-se muitas vezes. No entanto, como em qualquer circunstância, interessa olhar de fora e analisar situações a manter e a melhorar.

É de assinalar a fraca adesão dos pais, ainda que se tivesse feito um trabalho prévio de sensibilização para o tema e para o contexto, e que nestes momentos os pais se mostrassem bastante interessados, muitos não marcaram presença. A baixa implicação dos pais nestes contextos parece ser uma constante, que merece uma reflexão em virtude de situações futuras.

Outro dos aspetos a melhorar prende-se com o facto dos conteúdos da ação de sensibilização se poderem perder no tempo, isto significa que ainda que tenha sido um momento deveras enriquecedor, as dúvidas e inquietações dos pais, que surgem a posteriori, ainda que sejam no âmbito da conferência, não se veem resolvidas. Assim, é de ponderar de alguma forma a continuidade destes momentos, que nos parecem bastante redutores quando vistas numa só oportunidade.

A melhorar também serão as questões prévias à conferência. Colocando-nos no lugar do outro, entendemos facilmente que, ainda que tenham numerosas questões, há pais que têm imensa dificuldade em expô-las (e expor-se) junto de um grupo de pais. Crê-se que também estes pais merecem o seu espaço, tempo e dedicação. Torna-se então necessário contornar este facto e criar alternativas mais confortáveis e facilitadoras da comunicação pais-oradora.

Não menos importantes, há aspetos positivos a guardar e manter. Um desses aspetos foi o facto de se ter privilegiado uma abordagem não exaustiva, científica mas de fácil acesso a todos os intervenientes que, de alguma forma, tinha objetivado proporcionar uma maior aproximação com os pais. Desde o escolher do título da apresentação, ao discurso propriamente dito, algumas estratégias foram tidas em conta, como o recurso a exemplos, a linguagem coloquial, uma aproximação no espaço físico e ainda o proporcionar de aprendizagens significativas, uma vez que a oradora recorreu várias vezes aos exemplos dos pais no seu discurso.

De assinalar também foi a envolvência de toda a comunidade escolar, quer nos preparativos do evento, quer no decorrer do momento da ação de sensibilização. Se os pais são importantes na educação das crianças, não podemos esquecer também todo o trabalho da comunidade educativa, agentes basilares no desenvolvimento cognitivo, social e educacional da criança.

Refletidos acerca de todos os aspetos, e ainda que se tenham assinalados momentos menos positivos, considera-se que também esses, são importantes para uma continuidade mais positiva e mais pensada. Porque todos estes momentos provocam uma aprendizagem aos mais variados níveis, é de grande valor dar seguimento a iniciativas que visem esclarecer dúvidas, aproximar todos os núcleos onde a criança está inserida, e ainda criar momentos de

comunicação, troca e partilha. Para que cada vez mais, haja momentos e espaços para se poder fazer uso da pergunta: “querida mãe, querido pai… então que tal?!”