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3 O PROTAGONISMO DO COLETIVO ROSAS LIBERTÁRIAS NAS

3.3 As ações do Coletivo Rosas Libertárias contra a violência doméstica em Delmiro

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RIBEIRO, Djamila. ―Uma mulher negra no poder incomoda muita gente‖ Quem tem medo do feminismo

negro? 1ª ed. – São Paulo: Companhia das Letras, 2018.

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Ibid., p.58.

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RAMOS, Camila Faustina Santos Pereira. Entrevistada por Samyres da Silva Vieira 06/09/2018 In: Acervo do Grupo de Estudos e de Pesquisa em História, Sociedade e Cultura –GEPHISC.

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RAMOS, Camila Faustina Santos Pereira. Entrevistada por Samyres da Silva Vieira 06/09/2018 In: Acervo do Grupo de Estudos e de Pesquisa em História, Sociedade e Cultura –GEPHISC.

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Assim, o entendimento popular da violência apoia-se num conceito, durante muito tempo, e ainda hoje, aceito como verdadeiro e o único. Trata-se da violência como ruptura de qualquer forma de integridade da vítima: integridade física, integridade psíquica, integridade sexual, integridade moral.137

O trecho apresentado foi retirado dos escritos da socióloga Heleieth Saffioti, que em seu livro ―Gênero, patriarcado e violência‖, traz o conceito popular de violência, ou seja, a violência para a sociedade trata-se da violação da integridade de uma pessoa, seja ela física ou mental. Esse conceito trata da violência cometida contra homens e mulheres e em diversos espaços. A violência, em alguns casos, pode se perpetuar fazendo com que a vítima se torne algum dia um agressor.138 A violência está enraíza da sociedade, porém, para as mulheres, ela vai para além dos espaços urbanos.139

A violência pode possuir vários aspectos que, muitas vezes, podem ser confundidas, como é o caso da violência doméstica. Muitas vezes, a violência doméstica é confundida com a violência contra a mulher, porém ambas possuem definições distintas uma da outra.140 A violência doméstica vai estar presente no ambiente familiar e é válida quando praticada em ambos os gêneros, já a violência contra a mulher vai ser direcionada somente às mulheres, onde engloba qualquer ação praticada contra a mulher, pelo simples fato de ser mulher, como é o caso do feminicídio.141 Para o CRL, tratar da violência, principalmente da violência contra a mulher, era um assunto muito importante, é o que relata Fernanda Meimes:

A gente queria atingir a todo mundo, só que não é possível e a gente tem que pensar em estratégias. Ultimamente a gente tem pensado muito em atingir as periferias, porque são mulheres que precisam, que são as que mais sofrem com essa questão de desigualdade de gênero, violência e tals. E a gente gostaria de atingir, mas é bem difícil. É... claro que a gente quer atingir os homens também, porque eles também precisam saber, precisam entender o jeito que eles aprenderam eles estão sendo é... eles estão punindo as mulheres, muitos nem percebem.142

Percebe-se então, a partir dessa narrativa, como era frequente no CRL a abordagem de assuntos como desigualdade de gênero e a violência contra a mulher, uma vez que este coletivo aparentemente procurava atingir os bairros mais carentes da cidade de Delmiro

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SAFFIOTI, Heleieth Iara Bongiovani. ―A realidade nua e crua‖ Gênero, patriarcado, violências. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2004. p.17.

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SAFFIOTI, Heleieth Iara Bongiovani. ―A realidade nua e crua‖ Gênero, patriarcado, violências. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2004.

139 Ibid., 2004. 140 Ibid., 2004. 141 Ibid., 2004. 142

MEIMES, Fernanda Telles. Entrevistada por Samyres da Silva Vieira 22/03/2018 In: Acervo do Grupo de Estudos e de Pesquisa em História, Sociedade e Cultura –GEPHISC.

52 Gouveia/Alagoas, devido ao grande número de casos de violência doméstica143 contra as mulheres desses bairros.144 Além de estarem presentes como assuntos nas discussões do coletivo, as mulheres desses bairros carentes, a exemplo o bairro povoado Caraibeirinhas, também participavam das rodas de diálogos, como mostra o registro fotográfico.

Imagem 9: Cine mulher Caraibeirinhas 14/05/2016

Fonte: Página do Facebook do Coletivo Rosas Libertárias145.

É possível observar, neste registro, Fernanda Telles Meimes, de vestido azul, e ao seu lado esquerdo, Layane Morais Queiroz, participando de uma roda de conversa junto às mulheres do bairro povoado Caraibeirinhas, da cidade de Delmiro Gouveia/Alagoas. Essa roda de diálogo ocorreu após o ―Cine Mulher‖, na Escola Municipal de Educação Professor Raimyson Silva Nascimento, no bairro povoado Caraibeirinhas.

O CRL promoveu este Cine mulher no dia 14 de maio de 2016, com o intuito de abrir um debate sobre a violência contra a mulher. Esta imagem mostra o coletivo fazendo uma

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Violência doméstica: é a violência que engloba tanto para as mulheres quanto para os homens. É a violência praticada de um homem contra uma mulher e de uma mulher contra um homem. Ela é definida como uma violência praticada no espaço familiar. SAFFIOTI, Heleieth Iara Bongiovani. Gênero, patriarcado, violências. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2004.

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MEIMES, Fernanda Telles. Entrevistada por Samyres da Silva Vieira 22/03/2018 In: Acervo do Grupo de Estudos e de Pesquisa em História, Sociedade e Cultura –GEPHISC.

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Disponível em:

https://www.facebook.com/1447137935581045/photos/a.1555440968084074/1555441264750711/?type=3&thea ter. Acesso em: 17 de ago. 2018.

53 interação com as mulheres do bairro povoado Caraibeirinhas, um dos bairros mais carentes da cidade de Delmiro Gouveia, com o intuito de conscientizá-las sobre a violência contra a mulher. Nesse bairro, segundo a pesquisa monográfica do geógrafo Janilton da Silva Costa, ―residem em torno de 300 famílias de baixa renda, com níveis diferentes de escolaridade, ressaltando que essas foram informações passadas pelos próprios moradores.‖146

Ao que tudo indica, o CRL buscava, à sua maneira, conscientizar as mulheres delmirenses sobre a questão da violência contra a mulher. Esta atitude do coletivo não é uma novidade dentro dos movimentos feministas, pois, como ressaltou Janilton Jesus:

A violência contra as mulheres é um dos fenômenos sociais mais denunciados e que mais ganharam visibilidade nas últimas décadas em todo o mundo. Devido ao seu caráter devastador sobre a saúde e a cidadania das mulheres, políticas públicas passaram a ser buscadas pelos mais diversos setores da sociedade, particularmente pelo movimento feminista.147

Percebe-se que, com o passar dos anos, as mulheres passaram a denunciar a violência sofrida, dando assim maior visibilidade ao assunto da violência contra a mulher. A maior visibilidade sobre essa violência fez com que vários organismos sociais passassem a observar com mais atenção esse assunto. A respeito disso, Céli Pinto traz em seus escritos que:

No início da década de 1980 surgiram pelo Brasil inúmeras organizações de apoio à mulher vítima de violência; a primeira delas foi o SOS Mulher, inaugurado no Rio de Janeiro em 1981. A trajetória desse tipo de ação feminista é particularmente interessante na medida em que aponta para uma tendência que será predominante no movimento na década de 1980.148

Como ressaltou Céli Pinto, os movimentos feministas foram formados também por uma crescente visibilidade sobre denúncias envolvendo a violência contra a mulher149, porém ainda não é o suficiente. Esse tipo de violência aumentou, como observou a historiadora Célia Nonata da Silva, ao abordar a vasta violência contra a mulher ou feminicídio no estado de Alagoas. Assim,

Percebemos a recorrência das ameaças sofridas pelas mulheres por seus companheiros e ex-companheiros, a violência doméstica contida como ritual do poder masculino, as agressões e humilhações em público, bem como as suas mortes

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COSTA, Janilton da Silva. Impactos socioambientais causados pelos resíduos sólidos lançados no Riacho

Caraibeirinhas, localizado em Delmiro Gouveia – Alagoas. Monografia (Licenciatura em Geografia) –

Universidade Federal de Alagoas. Curso de Geografia. Delmiro Gouveia, 2018. p.27. 147

JESUS, Janilton da Silva ―A violência contra a mulher na América Latina: aspectos qualitativos e quantitativos‖ Violência contra a mulher: aspectos criminais da Lei n. 11.340/2006. São Paulo: Saraiva, 2010. p.8.

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PINTO, Céli Regina Jardim. ―O feminismo na redemocratização‖ Uma história do feminismo no Brasil. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2003. p.80.

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cruéis causadas em nome da honra masculina. Entendemos que os crimes passionais podem assumir tanto o caráter impulsivo quanto o premeditado, dependendo do contexto da situação. Porém, em sua maioria, os documentos constatam que os crimes foram sempre seguidos de ameaças e da violência doméstica contra a vítima, antes de sua concretização. Também, os dados evidenciaram uma sociedade acostumada à prática da violência cotidiana em Alagoas, que se produz e se mantém por condutas morais aceitáveis. 150

É possível analisar como é crescente a violência contra a mulher no estado de Alagoas, essa violência ocorre, na maioria das vezes, com mulheres que se encontram em um relacionamento abusivo151, no qual o homem faz uso de sua força física ou poder econômico para se tornar dono da mulher, sejam eles maridos, irmãos, padrastos, tios e até mesmo seus pais. O patriarcado, para Heleieth Saffioti, ―refere-se a milênios da história mais próxima, nos quais se implantou uma hierarquia entre homens e mulheres, com primazia masculina.‖152 Esses fatores parecem ter sido imprescindíveis nas discussões sobre a violência contra a mulher na roda de diálogo do CRL realizada na Escola Ramilson.

Além da roda de diálogo realizada nessa escola, o coletivo proporcionou outros eventos, que foram realizados em locais públicos, como no coreto, localizado no centro da cidade de Delmiro Gouveia e na praça multieventos dessa cidade. Uma sessão do ―Cine Mulher‖ foi realizada no coreto da praça multieventos, fazendo com que o mesmo ganhasse mais visibilidade pela comunidade delmirense. A imagem abaixo se refere ao folheto de divulgação do ―Cine Mulher‖ ocorrido no coreto, centro da cidade Delmiro Gouveia.

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SILVA, Célia Nonata da. Entre lobos: feminicídio e violência de gênero em Alagoas. (2008-2013) Célia Nonata da Silva, Eduardo Apolo Duarte de Lucena, Denilsson da Silva Santos. Maceió, AL : Edufal, 2015. p.17. 151

Relacionamento abusivo: trata-se de um relacionamento no qual o(a) parceiro(a) comete abuso e violência contra seu(sua) parceiro(a), sejam eles psicológicos ou físicos. SAFFIOTI, Heleieth Iara Bongiovani. Gênero, patriarcado, violências. São Paulo : Editora Fundação Perseu Abramo, 2004.

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SAFFIOTI, Heleieth Iara Bongiovani. ―A realidade nua e crua‖ Gênero, patriarcado, violências. São Paulo : Editora Fundação Perseu Abramo, 2004. p.136.

55 Imagem 10: Folheto do lançamento do Cine Mulher pelo Coletivo Rosas Libertárias

Fonte: Página do Facebook do Coletivo Rosas Libertárias.153

O folheto de divulgação do ―Cine Mulher‖ foi retirado da página do Facebook do Coletivo Rosas Libertárias. Essa foi uma das atividades realizadas para voltar os olhares dos moradores de Delmiro Gouveia/Alagoas para o debate sobre gênero. Além de passar o filme ―Acorda Raimundo, acorda!‖154

, foi aberto um espaço para que o público interagisse junto com o coletivo, sugerindo um diálogo entre todos. Nesse folheto, além de conter as informações do horário, data e local, também contém a imagem de Maria da Penha155. Esse

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Disponível em:

https://www.facebook.com/1447137935581045/photos/a.1447752178852954/1503476466613858/?type=3&thea ter. Acesso em 17 de ago. 2018.

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Sinopse: Em um sonho, Raimundo se vê em papel trocado com Marta, sua mulher, onde é obrigado a lavar, passar, organizar a casa e ainda ser maltratado pela esposa que assume o papel de homem. Sinopse retirada do

site: http://www.cinebrasil.tv/index.php/info-programa/?url=3669. Acesso em: 08 de ago. 2019. 155

Maria da Penha: Maria da Penha Maia Fernandes nasceu em Fortaleza-Ce em 1945. Tem formação em Farmácia e Bioquímica pela Universidade do Ceará em 1966, e possui mestrado em Parasitologia em Análises Clínicas na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo em 1977. Por muitos anos, Maria da Penha sofreu agressões físicas e psicológicas do seu ex marido Marco Antonio Heredia Viveros. Marcos, que é colombiano, tentou de várias formas matar Maria da Penha, porém felizmente não conseguiu. Em busca de Justiça por muitos anos, nunca conseguiu que seu ex marido fosse preso, mesmo condenado pelos seus crimes. Porém, a partir da repercussão do seu caso e da sua história, o Projeto de Lei n. 4.559/2004, que visa a luta contra as violações dos direitos humanos das mulheres, foi criado e aprovado no ano de 2006 pelo então presidente Luís Inácio Lula da Silva. A Lei foi batizada como Lei Maria da Penha. Retirado do site: http://www.institutomariadapenha.org.br/quem-e-maria-da-penha.html.Acesso em: 18 de ago. 2019.

56 foi o primeiro evento no centro de Delmiro Gouveia, realizado pelo coletivo após seu lançamento. A fotografia abaixo mostra o público que prestigiou esse evento.

Imagem 11: Lançamento do Cine Mulher pelo Coletivo Rosas Libertárias 30/11/2015

Fonte: Página do Facebook do Coletivo Rosas Libertárias156.

Mesmo se tratando de um curta metragem com quase 30 anos de lançamento, ―Acorda Raimundo, acorda‖157

abordou um tema que continua sendo importante e bastante atual. Além de organizar esses eventos, o CRL também foi convidado para participar de uma mesa do evento realizado pelo Centro Acadêmico de História Nise da Silveira, da UFAL/Campus do

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Disponível em:

https://www.facebook.com/1447137935581045/photos/a.1508656299429208.1073741832.1447137935581045/1 508657329429105/?type=3&theater. Acesso em: 06 de fev. 2018.

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Curta metragem ―Acorda Raimundo, acorda!‖: dirigido e roteirizado por Alfredo Alves em 1990, o curta abordou a inversão de papéis de gênero na sociedade, onde a mulher passa a ser a provedora do sustento da casa e o homem fica responsável pelo cuidado do lar. O curta teve como personagens principais Raimundo e sua esposa Marta, ambos interpretados por Paulo Betti e Eliane Giardini.

57 Sertão que, em 2016, tinha a chapa ―Poder popular‖ à frente do CAHIS, como é possível observar na imagem abaixo.

Imagem 12: O Coletivo Rosas Libertárias na I Semana de História: Crises e Conflitos

Contemporâneos, na UFAL/Campus Sertão 06/06/2016

Fonte: Página do Facebook do Coletivo Rosas Libertárias158.

Na imagem acima, é possível observar Fernanda Telles Meimes e Layanne Morais Queiroz representando o CRL. Esse registro foi retirado da página do Facebook do CRL e mostra elas compondo a mesa ―Emancipação da Mulher e Violência Contra a Mulher‖ no evento ―I Semana de História: Crises e Conflitos Contemporâneos‖ da UFAL/Campus do Sertão. Na mesa, também estão as representantes do movimento ―Mulheres em Luta‖ e as representantes do ―Coletivo Classista Ana Montenegro‖.

Percebe-se que a trajetória de atuação do CRL foi marcada por muitos eventos voltados para a temática da violência contra a mulher. O coletivo, a partir dessas ações, mostrou ter conseguido levantar debates sobre gênero, patriarcado e violência contra a mulher em diferentes espaços, no ambiente universitário e fora dele.

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Disponível em:

https://www.facebook.com/1447137935581045/photos/a.1570509423243895/1570509943243843/?type=3&thea ter. Acesso em: 17 de ago. 2018.

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