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2 A MARCHA DAS VADIAS E A CONSTRUÇÃO DO COLETIVO ROSAS

2.3 Coletivo Rosas Libertárias e o ciberativismo

Os meios de comunicação alternativos, portanto, são instrumentos utilizados por coletivos e movimentos sociais, já tão acostumados à cobertura tendenciosa e criminalizante que a grande mídia costumeiramente faz de seus atos. Os meios alternativos buscam dar às ações e atividades dos movimentos sociais uma cobertura jornalística que realmente leve em consideração o que têm a dizer e como querem dizer.64

Esta epígrafe foi retirada do artigo do geógrafo Cícero de Aquino Costa Simões. Entende-se, a partir desta citação, a importância de outros meios de informação, como as

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CRUZ, Camila Rodrigues da. Entrevistada por Samyres da Silva Vieira 03/05/2018 In: Acervo do Grupo de Estudos e de Pesquisa em História, Sociedade e Cultura –GEPHISC.

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CRUZ, Camila Rodrigues da. Entrevistada por Samyres da Silva Vieira 03/05/2018 In: Acervo do Grupo de Estudos e de Pesquisa em História, Sociedade e Cultura –GEPHISC.

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SANTOS, Sergiana Vieira dos. Entrevistada por Samyres da Silva Vieira 17/04/2018 In: Acervo do Grupo de Estudos e de Pesquisa em História, Sociedade e Cultura –GEPHISC.

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CRUZ, Camila Rodrigues da. Entrevistada por Samyres da Silva Vieira 03/05/2018 In: Acervo do Grupo de Estudos e de Pesquisa em História, Sociedade e Cultura –GEPHISC.

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SIMÕES, Cícero de Aquino Costa. Mídia alternativa e grande imprensa: as manifestações de junho na ótica do Brasil de fato e da folha de S.Paulo. Democratizar. v. VII, n. 2, ago./dez, 2013. p.5.

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redes sociais, para validar as lutas traçadas por coletivos e movimentos contemporâneos, já que essas ações podem ser mostradas de maneiras deturpadas nas mídias mais tradicionais, as mídias televisivas, programas de rádio, revistas e jornais que, segundo Cícero Simões, ―consiste em um tipo de empresa jornalística que pauta o ato de informar, comunicar e entreter pelo retorno financeiro. A comunicação é vista como mais uma atividade comercial e tem no lucro seu principal objetivo.‖65

Para as ações coletivas e os movimentos sociais, ter o uso de uma mídia alternativa, ou seja, a internet e as redes sociais, são uma forma de escape contra a mídia tradicional que, muitas vezes, faz uso da manipulação. Além disso, a internet contribuiu na construção de muitas ações, já que tem essa capacidade de atingir muitas pessoas de maneira mais rápida.66 A partir disso, percebe-se como a mídia alternativa faz parte das ações e movimentos contemporâneos, fazendo emergir um processo de virtualização.

Na obra de Pierre Lévy, ―O que é o virtual?‖ ele aborda de forma conceitual sobre o virtual e a virtualização:

Um movimento geral de virtualização afeta hoje não apenas a informação e a comunicação, mas também os corpos, o funcionamento econômico, os quadros coletivos da sensibilidade ou o exercício da inteligência. A virtualização atinge mesmo as modalidades do estar junto, a construção ‗nós‘: comunidades virtuais, empresas virtuais, democracia virtual... Embora a digitação das mensagens e a extensão do ciberespaço desempenhem um papel capital na mutação em curso, trata- se de uma onda de fundo que ultrapassa amplamente a informação.67

De acordo com o que foi abordado, é possível entender que a virtualização atingiu muitos espaços, no qual o virtual se tornou a fonte de informação imediata. Há uma diferença entre a virtualização e as mídias alternativas, ambas possuem definições distintas, é o que aborda Pierre Lévy:

Mas o que é a virtualização? Não mais o virtual como maneira de sés, mas a virtualização como dinâmica. A virtualização pode ser definida como o movimento inverso da atualização. Consiste em uma passagem do atual ao virtual, em uma ‗elevação à potência‘ da entidade considerada.68

Desse modo, a virtualização se trata do mundo real de uma maneira mais acessível, contendo os mesmos problemas, pois ela não está livre das informações falsas, porém não

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SIMÕES, Cícero de Aquino Costa. Mídia alternativa e grande imprensa: as manifestações de junho na ótica do Brasil de fato e da folha de S.Paulo. Democratizar. v. VII, n. 2, ago./dez. 2013. p.3.

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Ibid., 2013. 67

LÉVY, Pierre. “O que é virtualização?” O que é virtual? Tradução: Paulo Neves do original ―Qu‘est-ce Le virtuel?‖ Editora 34, 1996. p. 2.

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deixa de ter seu lado positivo. Com a virtualização, o acesso às notícias, arte e inúmeros interesses passaram a ter mais acessibilidade.

A internet possibilita aos movimentos sociais contemporâneos uma continuidade de suas ações, é nas mídias digitas que os assuntos menos discutidos nas mídias tradicionais ganham espaço e força. Como relata a comunicadora social Júlia Lewgoy Martini, no artigo ―Marcha das Vadias: Um movimento social na era da comunicação digital em rede‖:

As mídias digitais servem, ainda, como repositório das memórias atuais de movimentos ainda jovens, como a Marcha das Vadias, e de causas ainda não tão presentes nas mídias tradicionais, como jornal, televisão e rádio. Muitas vezes ainda mal traduzido para a sociedade, o feminismo não encontra eco nas páginas dos jornais, mas sim na participação e na mobilização promovida por essa ―nova‖ sociedade em rede. 69

Então, a virtualização é vista como uma ferramenta capaz de expandir a visualização de qualquer notícia, as quais, muitas vezes, nas mídias tradicionais seriam tratadas de maneira desvalorizada. A virtualização, para os movimentos sociais, é um meio de comunicação essencial. Para a doutora em Linguística e Língua Portuguesa Juliane de Araujo Gonzaga,

Desta feita, um fator que incide sobre o retorno do feminismo no presente é o uso das tecnologias digitais. Elas modificam a relação que o sujeito estabelece não só com as mídias, mas também com movimentos sociais como o feminismo. Assim, é possível que essa novidade seja efeito do modo como o feminismo é construído pelos discursos midiáticos. Esse ―novo‖ lugar de enunciação tem condições que refletem as particularidades da época atual como, por exemplo, as interações rápidas e instantâneas que interligam sujeitos a nível global.70

Conforme o debate acima, nota-se que a tecnologia marca esse período vivido pelos movimentos sociais contemporâneos. Essa tecnologia vai inserir-se no novo feminismo. Assim como a virtualização, o ciberativismo está presente nos movimentos sociais contemporâneos e ações coletivas. O ciberativismo é a prática de entrelaçar e articular o virtual com o real, teve seu surgimento a partir dos anos 90, passando por um processo de renovação até está presente no novo feminismo ou feminismo do século XXI71. A respeito disso, Gonzaga ainda ressalta:

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MARTINI, Júlia Lewgoy. Marcha das Vadias: Um movimento social na era da comunicação digital em rede. Júlia Lewgoy Martini, Paula Regina Puhl. Porto Alegre, 2015. p.9.

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GONZAGA, Juliane de Araujo. “O retorno do feminismo no presente” Novo feminismo: acontecimento e insurreição de saberes nas mídias digitais. Tese (Doutorado em Linguística e Língua Portuguesa) – Universidade Estadual Paulista ―Júlio de Mesquita Filho‖, Faculdade de Ciências e Letras (Campus de Araraquara), 2018. p.119.

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É possível compreender que a novidade do ciberativismo está na relação entre o feminismo e as tecnologias digitais, porque propõe diferentes formas de os sujeitos se posicionarem em um espaço de enunciação tecnológico para falar de questões feministas.72

Entende-se que, com o ciberativismo, a possibilidade de interação e divulgação de atos e ações dos movimentos aumentou, abrindo portas e ajudando a dar voz para aquelas ações que, até então, não tinham tanto espaço, como é o caso do novo feminismo. A virtualização no CRL ocorreu a partir da criação da sua página na rede social Facebook. Antes de se tornar um coletivo com encontros no bar ―Grutas‖, as componentes do CRL decidiram fazer uma página no Facebook e nessa página eram divulgadas suas atividades, assim como os seus eventos. A figura a seguir, além de ser a foto do perfil da página do coletivo, é também o símbolo do CRL.

Imagem 8: Imagem da página do facebook do coletivo Rosas Libertárias

Fonte: Página do facebook do Coletivo Rosas Libertárias.73

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GONZAGA, Juliane de Araujo. “O retorno do feminismo no presente” Novo feminismo: acontecimento e insurreição de saberes nas mídias digitais. Tese (Doutorado em Linguística e Língua Portuguesa) – Universidade Estadual Paulista ―Júlio de Mesquita Filho‖, Faculdade de Ciências e Letras (Campus de Araraquara), 2018, p.164.

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Disponível em:

https://www.facebook.com/1447137935581045/photos/a.1447139755580863.1073741825.1447137935581045/1 555464504748387/?type=1&theater. Acesso em: 06 de fev. 2018.

37 A imagem acima foi uma arte também criada por Fernanda Telles Meimes. Essa página do Facebook, além de servir como um meio de divulgação das ações do coletivo, também serviu como uma mídia alternativa, pois nele as componentes se expressavam de uma maneira mais aberta.

Portanto, as ações coletivas e os movimentos sociais veem a mídia mais tradicional como uma via de mão dupla, daí a mídia alternativa surgiu como um suporte. A diferença entre as mídias tradicionais e as mídias alternativas está na liberdade de expressão, enquanto as tradicionais estreitam as notícias tornando-as seletivas, as mídias alternativas trazem essa abertura. No caso do CRL, as redes sociais ajudaram tanto na criação do coletivo, como já foi citado, quanto na divulgação dos atos realizados depois da formação do coletivo através da sua página no Facebook.