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3 O PROTAGONISMO DO COLETIVO ROSAS LIBERTÁRIAS NAS

3.2 A questão de raça dentro do coletivo Rosas Libertárias

A ação coletiva na contemporaneidade está presente nas principais lutas de uma sociedade, se tornando um dos principais meios de combate a determinadas situações em que um grupo se sinta prejudicado. E, a atuação das mulheres nesses movimentos contemporâneos também é um fator importante. Conforme Maria Gohn:

Quais são as principais ações coletivas em que encontramos o protagonismo das mulheres? As respostas iniciais são: as mulheres estão nas redes associativas e de mobilização estruturadas em organizações não governamentais, nas associações de bairro e associações comunitárias, em entidades assistenciais, nas organizações criadas por empresas a partir de políticas de responsabilidade social, em organizações populares que atuam junto a mediadores, como as entidades articuladoras e os fóruns, nos movimentos sociais propriamente ditos e nos diversos conselhos de gestão pública compartilhada existentes.124

No Brasil, a história das mulheres também é marcada por muita luta, mesmo que os primeiros movimentos sociais organizados por elas tenham surgido mais tarde, em comparação com outros países.125 Para Maria Gohn:

Sabemos que as lutas das mulheres para se constituir como sujeitos históricos datam de vários séculos. Pesquisas têm destacado o papel das mulheres desde sociedades antigas e primitivas. Mas foi com o feminismo que elas geraram uma visibilidade pública, de um coletivo.126

A figura feminina, entretanto, aparentemente foi representada como coadjuvante dentro dos movimentos sociais, sendo submissa à figura masculina. Para Joan Scott, a primeira definição de gênero é a de que ―é um elemento constitutivo de relações sociais baseadas nas diferenças percebidas entre os sexos‖,127

ou seja, a sociedade impôs uma relação de poder apenas pela diferença dos sexos.

A consolidação do direito ao voto feminino, em 1932, é um dos casos mais conhecidos envolvendo a ação coletiva das mulheres brasileiras, que surge na história como ponto de

124

GOHN, Maria da Glória. ―Mulheres em movimento. Movimento de mulheres‖ In: Novas teorias dos

movimentos sociais. 5.ed. São Paulo: Edições Loyola, 2014. p.133.

125

Ibid., 2014. 126

Ibid., p.135. 127

SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Publicado em Educação & Realidade, v. lS, n.2, jul./dez. 1990. p.86.

49 partida para uma mudança necessária.128 Para Céli Pinto, ―no século XIX apareceram mulheres que lutaram pelo direito ao voto, porém de forma individual, solicitando seu alistamento como eleitoras e candidatas.‖129 Então, essa luta a princípio, iniciou-se de maneira solo, partindo de mulheres interessadas em participar da vida política.

Essa luta foi apenas uma de muitas traçadas pelas mulheres brasileiras. E no Brasil, segundo Céli Pinto, ―a mulher assumiu-se como militante nos movimentos, partidos e sindicatos.‖130 Maria Gohn ressalta que:

As mulheres são maioria nos movimentos feministas, nos movimentos populares de luta por melhores condições de vida e trabalho, nas redes e nos fóruns transversais que ultrapassam as fronteiras nacionais. Nos movimentos organizados segundo a temática do gênero, as mulheres se destacam por ser as que têm tido os maiores índices de participação e de organização de suas demandas em entidades associativas. (certamente estamos considerando nos movimentos de gênero, a presença feminina e masculina).131

A partir dessa análise de Maria Gohn, nota-se que as mulheres estiveram presentes em vários movimentos sociais, sobretudo, nos movimentos voltados para as questões de gênero deflagradas nas últimas décadas. Essa presença ocorre devido às diferenças de tratamento entre homens e mulheres em vários setores sociais. Os movimentos sociais organizados por mulheres ocorreram em vários locais no Brasil, como é o caso do CRL. Sergiana Santos afirma:

A gente se considera um coletivo misto, mas um misto diante dos posicionamentos assim mais políticos mesmo. A gente tem anarquista, a gente tem meninas que são filiadas a partidos políticos, outras que não são filiadas a nenhum partido político, mas é um coletivo que é realmente assim composto por mulheres e para mulheres.132

Percebe-se, através dessa narrativa, que as integrantes do coletivo estavam vinculadas a várias correntes políticas e em outros meios. Não era um coletivo com pessoas com os mesmos pensamentos e ideais, e esse misto de pensamentos fazia com que houvesse uma variação nas discussões. Tanto o termo gênero quanto a questão da discriminação racial estão presentes em muitas ações e movimentos contemporâneos feministas espalhados pelo mundo, estando presente também no CRL.

128

PINTO, Céli Regina Jardim. ―Em busca da cidadania‖ Uma história do feminismo no Brasil. Editora Fundação Perseu Abramo, São Paulo. 2003.

129

Ibid., p.15. 130

PINTO, Céli Regina Jardim. ―Em busca da cidadania‖ Uma história do feminismo no Brasil. Editora Fundação Perseu Abramo, São Paulo. 2003. p.141.

131

GOHN, Maria da Glória. ―Mulheres em movimento. Movimento de mulheres‖ In: Novas teorias dos

movimentos sociais. 5.ed. São Paulo: Edições Loyola, 2014. p.133.

132

SANTOS, Sergiana Vieira dos. Entrevistada por Samyres da Silva Vieira 17/04/2018 In: Acervo do Grupo de Estudos e de Pesquisa em História, Sociedade e Cultura –GEPHISC.

50 O CRL, além de abordar sobre a opressão feminina, trazia também em suas pautas de discussão ou reivindicações a opressão da mulher negra. A sociedade é um espaço bastante opressor para as mulheres e a objetificação e desvalorização da mulher está presente em muitos meios, sejam eles em músicas, nos programas de TV, na internet. Para as mulheres negras e, principalmente, pobres esses fatores ocorrem de maneira mais densa.133 Djamila Ribeiro aborda sobre essas questões em seu livro ―Quem tem medo do feminismo negro?‖

Eu já havia percebido que uma mulher negra empoderada incomoda muita gente, basta perceber os olhares e os comentários de algumas pessoas quando veem uma que não se curva às exigências de uma sociedade racista e misógina. É muito comum ouvir xingamentos do tipo ‗Que negra metida‘, ‗essa negra se acha‘ ou ‗Quem essa negra pensa que é?‘ quando saímos do lugar que a sociedade acha que é nosso.134

Nota-se, a partir disso, que o desenvolvimento da mulher negra pode causar desconforto na sociedade, e isso parte dessa discriminação. No CRL, as pautas sobre o feminismo negro eram abordadas pela integrante Camila Ramos, que já possuía uma bagagem sobre esses assuntos, pois já havia participado de movimentos negros.135

As pautas trazidas pelo CRL também envolviam a discussão sobre a discriminação da mulher negra, que também se encaixa como uma forma de violência, pois o coletivo buscava discutir a inclusão da mulher, principalmente da mulher negra, a qual, além de sofrer com a exclusão de gênero na sociedade, sofre também com a discriminação racial.136 Desse modo, o Coletivo Rosas Libertárias, assim como outros movimentos sociais organizados por mulheres, também discutia sobre esses temas.

Assim, é possível entender que o CRL foi um coletivo composto por mulheres com diferentes ideologias e posicionamentos, com o propósito de abordar temas variados envolvendo as questões das mulheres.

3.3 As ações do Coletivo Rosas Libertárias contra a violência doméstica em Delmiro