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Entre a “marcha das vadias” e a construção do “coletivo rosas libertárias”: movimentos de mulheres em Delmiro Gouveia, Alagoas (2012-2018

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA. SAMYRES DA SILVA VIEIRA. ENTRE A ―MARCHA DAS VADIAS‖ E A CONSTRUÇÃO DO ―COLETIVO ROSAS LIBERTÁRIAS‖: MOVIMENTOS DE MULHERES EM DELMIRO GOUVEIA/ALAGOAS (2012-2018). Delmiro Gouveia – AL 2019.

(2) SAMYRES DA SILVA VIEIRA. ENTRE A ―MARCHA DAS VADIAS‖ E A CONSTRUÇÃO DO ―COLETIVO ROSAS LIBERTÁRIAS‖: MOVIMENTOS DE MULHERES EM DELMIRO GOUVEIA/ALAGOAS (2012-2018). Trabalho de Conclusão de Curso de Licenciatura em História, como requisito obrigatório para obtenção de título de Licenciada em História pela Universidade Federal de Alagoas, Campus do Sertão. Orientador(a): Prof.ª Bezerra Gomes. Delmiro Gouveia – AL 2019. M.ª. Sara. Angélica.

(3) Catalogação na fonte Universidade Federal de Alagoas Biblioteca do Campus Sertão Sede Delmiro Gouveia Bibliotecária responsável: Renata Oliveira de Souza CRB-4/2209 V657e. Vieira, Samyres da Silva Entre a “marcha das vadias” e a construção do “coletivo rosas libertárias”: movimentos de mulheres em Delmiro Gouveia – Alagoas (2012-2018) / Samyres da Silva Vieira. - 2019. 147 f. : il. Orientação: Profa. Ma. Sara Angélica Bezerra Gomes. Monografia (Licenciatura em História) – Universidade Federal de Alagoas. Curso de História. Delmiro Gouveia, 2019. 1. História - Brasil. 2. História - Alagoas. 3. Delmiro Gouveia Alagoas. 4. Marcha das vadias. 5. Coletivo rosas libertárias. 6. Gênero. 7. Feminismo. 8. Movimentos sociais. I. Título. CDU: 981(813.5).

(4)

(5) A minha mãe, Maria Assunção da Silva e às minhas avós, Maria Lima da Silva e Vandete Rosa Vieira dos Santos (in memoriam)..

(6) AGRADECIMENTOS. Inicio agradecendo a minha mãe, dona Maria Assunção da Silva, uma pessoa que foi de extrema importância para a realização dos meus estudos, desde o maternal até os últimos dias da minha estadia na Universidade Federal de Alagoas/Campus do Sertão. Meu eterno agradecimento por tudo que fizeste por mim. Sem sua força, apoio, carinho e amor eu não teria conseguido. Agradeço ao meu pai, Audirne Vieira, por todo o esforço para me proporcionar uma boa educação, abrindo mão do seu convívio comigo para trabalhar em outros estados em busca do melhor para mim. Serei sempre grata! Agradeço a minha avó materna, Maria Lima da Silva, que sempre me manteve em suas orações diariamente, acreditando nos meus sonhos e desejando o melhor para mim. Obrigada por tudo! Agradeço a minha avó paterna, Vandete Rosa Vieira dos Santos, que desejou o melhor para mim, e mesmo não estando mais presente fisicamente, estará presente em memória em todos os momentos da minha vida. Agradeço a minha tia, Sônia Lima, essa que passou a vida esperando o melhor de mim e se tornou uma das minhas primeiras inspirações na profissão docente. Seu esforço e dedicação com os estudos foram exemplos para mim. Agradeço a minha amiga da infância, Thayná Jéssica Gomes de Oliveira. Sua amizade esteve presente em momentos importantes da minha vida, me dando apoio nos estudos, me ajudando nos momentos ruins e bons. Sou grata por sua amizade! Agradeço a minha amiga da adolescência, Emília Carolina Gomes Oliveira. Nossa amizade começou ainda no Ensino Médio e se fortaleceu ao longo dos anos. É uma amizade para todos os momentos, para confortar e aconselhar. Sou grata por sua amizade! Agradeço ao meu namorado, Emerson Lopes dos Santos, por se fazer presente em minha vida, com seu abraço apertado e suas palavras de apoio que não me deixaram esmorecer nessa jornada acadêmica. Obrigada por ser meu parceiro na vida e no amor, e por acreditar nos meus sonhos e sonhar junto comigo. Seu apoio e dedicação são muito importantes para mim. Agradeço as amizades que ganhei na universidade, em especial as manas: Érica Gabriela Fonseca de Meneses, Tamires Vieira da Silva, Maerla Moreira Silva Batista, Brígida de Souza Oliveira, Lívia Maria Ribeiro de Sousa, Marina do Nascimento Silva e Maria Eduarda dos Santos. Obrigada pela amizade e carinho, assim como as ajudas nas dúvidas.

(7) frequentes nas aulas e até mesmo com a construção do TCC. A amizade de vocês foi um presente dado a mim pela UFAL/Campus do Sertão. Agradeço a Maria Josemeire do Vale por sua amizade, carinho e conselhos. Uma amizade que surgiu no início do curso e quero que perdure por muitos anos. Sempre acolhedora e amiga, me acolheu em seu lar e, principalmente, em sua vida, fazendo-me sentir parte da sua família. Agradeço a João Lucas Correa Barros, uma amizade da infância que se fortaleceu na graduação depois de vários anos, compartilhando comigo muitos momentos ao longo da jornada acadêmica. Agradeço também a Lázaro da Conceição, um amigo bastante presente no curso. Ele, com suas piadinhas prontas, me garantiram muitas risadas e momentos de descontração. Agradeço aos professores que contribuíram no meu caminhar pelas etapas iniciais da educação, incluindo minha passagem pelo ensino fundamental e ensino médio. Seus ensinamentos me nortearam até a minha chegada ao nível superior. Agradeço aos professores: Prof. Me. Gustavo Manoel da Silva Gomes, Prof. Dr. Aruã Silva de Lima, Prof.ª. Ma. Sara Angélica Bezerra Gomes, Prof. Me. Eltern Campina Vale, Prof. Me. Vagner Gomes Bijagó, entre outros. Ao longo da minha graduação, eles foram de extrema importância para minha formação acadêmica, contribuindo para o meu crescimento como profissional. Agradeço, em especial, a minha orientadora Prof.ª Ma. Sara Angélica Bezerra Gomes. Ao longo do processo de desenvolvimento desse Trabalho de Conclusão de Curso, me orientou, com sua paciência e sabedoria, puxando minha orelha quando necessário e me ajudando nesse período tão desafiador. Sou grata por tudo! Agradeço a todos os colegas de turma que estiveram comigo no curso de Licenciatura em História. Aqueles que estiveram desde o início do curso e aqueles que surgiram ao longo do caminho compartilharam, junto a mim, das aulas, trabalhos, viagens e da luta diária em busca do tão sonhado diploma. Saibam que sempre estarão presentes em minha memória e farão parte da minha passagem e história pela UFAL- Campus do Sertão. Deixo meu agradecimento, em especial, às mulheres do Coletivo Rosas Libertárias. Ao longo desta pesquisa, foram muito atenciosas e se dispuseram a me ajudar, concedendo as entrevistas para a realização deste trabalho. Assim, sou grata às entrevistadas Brígida de Souza Oliveira, Camila Rodrigues da Cruz, Camila Faustina Santos Pereira Ramos, Fernanda Telles Meimes, Layanne Morais Queiroz, Sergiana Vieira dos Santos e Wanubya Maria Menezes. da Silva..

(8) “Escrever a história das mulheres é sair do silêncio em que elas estavam confinadas.” (Perrot, 2006).

(9) RESUMO. O presente trabalho tem como objetivo analisar como se deu a formação do Coletivo Rosas Libertárias (CRL), um tipo de movimento feminista recente, surgido no Alto Sertão do estado de Alagoas, na cidade de Delmiro Gouveia em 2015. Para o desenvolvimento desta pesquisa, buscamos compreender como o movimento ―Marcha das Vadias‖ influenciou a formação do CRL. Por se tratar de um coletivo feminista, cujos temas abordados por ele podem afetar diretamente a situação geral de vários âmbitos que constituem a sociedade como um todo, a pesquisa sobre o CRL se encaixa na chamada História Política Renovada, pois aborda questões que implicam diretamente nas recentes definições da identidade das relações de poder entre Estado e sociedade. Assim, fizemos uso da História Oral para coletar informações sobre a construção deste coletivo. Como suporte teórico para a pesquisa utilizamos trabalhos que discutem acerca dos movimentos feministas no presente recente, entre outras questões relacionadas à movimentos sociais, protagonizados por mulheres no Brasil e em outros países. Palavras-chave: Movimentos Sociais; Ação Coletiva; Coletivo Rosas Libertárias..

(10) ABSTRACT. This work aims to analyze how the Coletivo Rosas Libertarias (CRL) was formed, a type of recent feminist movement that emerged in the Alto Sertão of state of Alagoas, in the city of Delmiro Gouveia in 2015. For the development of this research, we aimed to understand how the movement "SlutWalk" influenced the formation of the CRL. Since it is a feminist collective whose themes it addresses can directly affect the general situation of the various spheres that constitute society as a whole, the research about the CRL fits into the so-called Renewed Political History, as it addresses issues that directly imply recent definitions of the identity of power relations between State and society.Therefore, we made use of Oral History to collect information about the construction of this collective. As theoretical support for the research we use papers that discuss about feminist movements in the recent present, among other issues related to social movements, carried out by women in Brazil and other countries. Keywords: Social movements; Collective action; Coletivo Rosas Libertárias..

(11) LISTA DE ILUSTRAÇÕES. Imagem 1: Marcha das Vadias ............................................................................................. 18 Imagem 2: Ensaio do Tambores de Safo ............................................................................... 21 Imagem 3: Evento de lançamento do coletivo Rosas Libertárias em Delmiro Gouveia, no Grutas Rock bar ............................................................................................................ 26 Imagem 4: Algumas das integrantes do Coletivo Rosas Libertárias junto com a banda C.I.A em Delmiro Gouveia, no Grutas Rock bar ..................................................................... 27 Imagem 5: Imagem da página do Facebook do coletivo Rosas Libertárias ............................ 28 Imagem 6: Marcha das Vadias ............................................................................................. 29 Imagem 7: Reunião do Coletivo na casa da integrante Fernanda Telles, no qual estava sendo discutido o livro sobre ―Mulher, Estado e Resolução‖, de Wendy Goldman, ―capítulo 7: Controlando a reprodução: mulheres versus Estado‖. 21/08/2016.................................. 31 Imagem 8:Imagem da página do facebook do coletivo Rosas Libertárias.............................. 36 Imagem 9: Cine mulher Caraibeirinhas 14/05/2016 .............................................................. 52 Imagem 10: Folheto do lançamento do Cine Mulher pelo Coletivo Rosas Libertárias ........... 55 Imagem 11: Lançamento do Cine Mulher pelo Coletivo Rosas Libertárias 30/11/2015......... 56 Imagem 12: O Coletivo Rosas Libertárias na I Semana de História: Crises e Conflitos Contemporâneos, na UFAL/Campus Sertão 06/06/2016 ................................................ 57.

(12) LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS. AMB. Articulação de Mulheres Brasileiras. CRL. Coletivo Rosas Libertárias. HTP. História do Tempo Presente. LGBTQ+. Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais ou Transgêneros.. MDV. Marcha da Vadias. MMC. Movimento de Mulheres Camponesas. MMM. Marcha Mundial das Mulheres. UFAL. Universidade Federal de Alagoas.

(13) SUMÁRIO. 1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 14 2 A MARCHA DAS VADIAS E A CONSTRUÇÃO DO COLETIVO ROSAS LIBERTÁRIAS....................................................................................................................... 17 2.1 A Marcha das Vadias e o Coletivo Rosas Libertárias .................................................. 20 2.2 As regras do Coletivo Rosas Libertárias ...................................................................... 31 2.3 Coletivo Rosas Libertárias e o ciberativismo............................................................... 33 2.4 Protagonismo feminismo e Coletivo Rosas Libertárias ................................................ 37 3 O PROTAGONISMO DO COLETIVO ROSAS LIBERTÁRIAS NAS EXPERIÊNCIAS DE LUTA FEMINISTA........................................................................................................................... 44 3.1 A questão de gênero dentro do Coletivo Rosas Libertárias, da cidade de Delmiro Gouveia/Alagoas .............................................................................................................. 44 3.2 A questão de raça dentro do coletivo Rosas Libertárias ............................................... 48 3.3 As ações do Coletivo Rosas Libertárias contra a violência doméstica em Delmiro Gouveia/Alagoas .............................................................................................................. 50 3.4 Coletivo Rosas Libertárias em 2018 ............................................................................ 58 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................. 61 REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 63 FONTES ORAIS..................................................................................................................... 66 SITES CONSULTADOS........................................................................................................67 ANEXO....................................................................................................................................68.

(14) 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho é o resultado de uma pesquisa realizada sobre a construção do Coletivo Rosas Libertárias (CRL), um coletivo feminista consolidado no ano de 2015, na cidade de Delmiro Gouveia, localizada no Alto Sertão do Estado de Alagoas. A justificativa para a pesquisa partiu do interesse surgido no início do curso de Licenciatura em História. Fiz a reflexão da necessidade de discutir sobre algumas temáticas relacionadas à história da minha cidade, Delmiro Gouveia/AL, especificamente sobre gênero e relações de poder. Partindo disso, o Coletivo Rosas Libertárias foi escolhido como objeto de estudo para refletir sobre o envolvimento das mulheres nas ações coletivas e nos movimentos sociais contemporâneos, realizando uma análise sobre quais questões têm pautado a agenda de luta dos movimentos sociais organizados por mulheres no Alto Sertão do Estado de Alagoas. O objetivo desta pesquisa foi analisar a formação do Coletivo Rosas Libertárias e sua atuação na cidade de Delmiro Gouveia/Alagoas. Desse modo, fizemos uma observação sobre as características do coletivo e do Movimento Marcha das Vadias, buscando entender como esses dois movimentos se relacionaram. Procuramos entender também as questões que eram discutidas pelo CRL. O Coletivo Rosas Libertárias é um movimento recente, consolidado no ano de 2015 por mulheres do Alto Sertão alagoano. Assim como o CRL, o Movimento Marcha das Vadias também é um movimento do presente recente, e teve seu surgimento em Toronto, em 2011, tornando-se um movimento mundialmente conhecido1. Por se tratar de um coletivo recente, com poucos anos de existência e cujos temas abordados por ele podem afetar diretamente a situação o geral de vários âmbitos que constituem a sociedade como um todo, esta pesquisa sobre o CRL se encaixa na chamada História Política Renovada, pois aborda questões que implicam diretamente nas recentes definições da identidade das relações de poder entre Estado e sociedade 2. Sua história se torna parte da História do Tempo Presente (HTP). Assim, ao longo deste trabalho, será analisada a formação deste coletivo no ano de 2015. Foram realizadas entrevistas com algumas mulheres integrantes do CRL, o critério para a escolha destas baseou-se no envolvimento delas com a consolidação do CRL. As 1. VIANA, Fábio Caim. A Marcha das Vadias: o corpo-signo da autonomia feminina na mídia. Sandra Febbes. JUNIOR, Aryovaldo Azevedo. Revista Communicare – Dossiê Feminismo. v. 14, n 1, 1º Semestre de 2014. 2 RÉMOND, René. Por uma história política. [Direção de] Renê Rémond, tradução Dora Rocha. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003.. 14.

(15) entrevistadas escolhidas foram: Brígida de Souza Oliveira, Camila Rodrigues da Cruz, Camila Faustina Santos Pereira Ramos, Fernanda Telles Meimes, Layanne Morais Queiroz, Sergiana Vieira dos Santos e Wanubya Maria Menezes da Silva. Por se tratar de um coletivo feminista, os temas de debates atingem questões relacionadas a situações vividas por mulheres no presente recente, a saber: a questão da desigualdade de gênero, da violência doméstica, entre outros. A História Oral, torna-se de grande importância para compreender como pensam e agem estas mulheres. Para Enzo Traverso, ―também chamada de ‗história do tempo presente‘, a história do século XX analisa o testemunho dos actores do passado e integra o relato oral nas suas fontes, a par dos arquivos e de outros documentos materiais ou escritos.‖3 A História Oral, enquanto metodologia, segundo a historiadora Marieta de Morais Ferreira, é tido como ―um instrumento privilegiado para recuperar memórias e resgatar experiências de histórias vividas.‖4Portanto, ao usar a memória, a história oral está situada na história do tempo presente. Ao abordar sobre história e memória o historiador francês, Pierre Nora, aponta que ―a história é a reconstrução sempre problemática e incompleta do que não existe mais. A memória é um fenômeno sempre atual, um elo vivido no eterno presente; a história, uma representação do passado.‖5 Segundo o historiador e sociólogo francês François Dosse ―pelo fato de ainda existirem testemunhas vivas dos fatos relatados, a transmissão de testemunhos tem um valor matricial6‖7. Para Julio Arostégue, a esta metodologia possibilitou pesquisas ―por campos como a história das relações de gênero e a história local, terreno este em que veio a coincidir com a micro-história.‖8 Para a realização das entrevistas com as mulheres citadas acima, foram utilizados questionários semiestruturados, com questões abertas e seguindo a sequência de cada questão como forma de roteiro. O objetivo foi o de entender como se deu a formação do Coletivo Rosas Libertárias, quais fatores pautaram a sua criação, os temas abordados e sua trajetória de atuação na cidade de Delmiro Gouveia/AL. 3. TRAVERSO, Enzo. ―História e memória: uma dupla antinómica?‖ O passado, modos de usar: história, memória e política. 2 ed. Lisboa, Edições Unipop, 2012. p.22. 4 FERREIRA, Marieta de Moraes. História, tempo presente e história oral. Topoi, Rio de Janeiro, dez. 2002, p. 314-332. p.326. 5 NORA, Pierre. Entre memória e história: uma problemática dos lugares. PROJETO HISTÓRIA: Revista do programa de Estudos Pós-Graduados em História e do Departamento de História da PUC-SP. São Paulo, Brasil, 1981. p. 9. 6 Matricial: significado de matricial no dicionário português Aurélio. Relativo às matrizes. Disponível em: https://dicionariodoaurelio.com/matricial. 7 DOSSE, François. História do tempo presente e historiografia. Revista Tempo e Argumento, vol. 4, n. 1, enero-junio, 2012, pp. 5-23 Universidade do Estado de Santa Catarina Florianópolis, Brasil. p.15. 8 ARÓSTÉGUI, Julio. ―Métodos e técnicas na pesquisa histórica.‖ A pesquisa histórica: teorias e métodos. Bauru, SP: Edusc, 2006. p.533.. 15.

(16) O tipo de entrevista escolhido consistiu na ―entrevista temática‖. Segundo a historiadora Verena Alberti, ―a escolha de entrevistas temáticas é adequada para o caso de temas que têm estatuto relativamente definido na trajetória de vida dos depoentes, como um período determinado cronologicamente.‖9 As entrevistas procuraram recolher a maior quantidade de informações possível sobre o coletivo, focando nas principais questões: Quando e onde surgiu o Coletivo Rosas Libertárias? Quais foram os fatores que influenciaram estas mulheres a participarem deste coletivo? Qual o alvo principal do Coletivo Rosas Libertárias? Quais são as questões e idéias centrais discutidas por este coletivo? Para a realização desta pesquisa foi necessário um diálogo historiográfico sobre a história das mulheres. Nesse sentido, utilizamos pesquisas realizadas por autores que trataram da ―Marcha das Vadias‖, do novo feminismo, da questão de gênero, dos movimentos sociais do tempo presente, entre outros. Para uma melhor reflexão e abordagem do tema, esta monografia foi distribuída em dois capítulos. No segundo, realizamos uma breve análise sobre o movimento ―Marcha das Vadias‖, a formação do ―Coletivo Rosas Libertárias‖, o envolvimento da UFAL- Campus do Sertão na construção deste coletivo e o papel das mídias nos movimentos sociais feministas recentes. Percebemos que MDV e o CRL possuem características em comum, bem como realizamos um recorte sobre a formação do CRL, o qual abordou sua construção a partir da análise das narrativas de suas componentes. No terceiro capítulo, discutimos a produção historiográfica sobre a ação coletiva, os movimentos sociais recentes e a questão de gênero e raça nos movimentos feministas. Analisamos, igualmente, como as ações do CRL estiveram relacionadas com a questão da violência contra a mulher na cidade de Delmiro Gouveia/AL. Nesse capítulo, utilizamos entrevistas que abordaram sobre a temática de gênero e feminismo dentro do CRL, e a sua atuação na luta contra a violência doméstica.. 9. ALBERTI, Verena. ―Histórias dentro da história‖ Fontes históricas. Carla Bassanezi Pinsky, (org.). 2.ed., I a reimpressão. São Paulo: Contexto, 2008. p.175.. 16.

(17) 2 A MARCHA DAS VADIAS E A CONSTRUÇÃO DO COLETIVO ROSAS LIBERTÁRIAS. Quando se trata de movimento social de mulheres, ganham destaque os Movimentos de Mulheres Camponesas (MMC), Marcha Mundial de Mulheres (MMM) e Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), no cenário político brasileiro. 10 Para a assistente social Mirla Cisne, eles são considerados ―movimentos de caráter nacional, os mais representativos das lutas das mulheres brasileiras na atualidade.‖11 Além destes, insere-se, o movimento ―Marcha das Vadias‖ como um movimento feminista no Brasil. A Marcha das Vadias é um movimento feminista formado por mulheres, segundo a antropóloga Aline Ribeiro Quintanilha de Souza, ―o evento que deu origem a essa marcha também no Brasil foi um protesto realizado na cidade de Toronto, Canadá em 24 de janeiro de 2011.‖12 Em seu artigo ―Identidade e corpo na Marcha das Vadias‖, Aline destacou ainda que ―o motivo que desencadeou a manifestação foi uma declaração de um policial na escola de direito Osgode Hall acerca do aumento do número de estupros naquele local.‖13 A declaração consistiu em que ―o agente afirmou que as mulheres deveriam evitar se vestirem como vadias, para não se tornarem vítimas de ataques sexuais.‖14 A partir disso, entende-se que essa declaração foi o estopim para o início desta marcha. Camila Carolina H. Galetti, em seu artigo ―Feminismo em movimento: A Marcha das Vadias e o movimento feminista contemporâneo‖, abordou que: [...] o movimento se disseminou no mundo inteiro, articulando jovens feministas em Marchas as quais são organizadas de formas descentralizadas utilizando a internet como ferramenta singular de organização e propagação do movimento, através de blogs, redes sociais como o Facebook.15. Pode-se perceber que a internet ajudou na propagação dessa marcha pelo mundo e, com isso, ela não se referia somente a um movimento de rua, mas também um movimento virtual. Segundo Fábio Caim Viana, em seu artigo ―A Marcha das Vadias: o corpo-signo da autonomia feminina na mídia‖, diz que ―a Marcha passou, além do Canadá, seu lugar de 10. CISNE, Mirla. Feminismo e consciência militante feminista no Brasil. In: Feminismo e consciência de classe no Brasil. Livro eletrônico. São Paulo: Cortez, 2015. 11 Ibid., p.121. 12 SOUZA, Aline Ribeiro Quintanilha de. Identidade e corpo na Marcha das Vadias. Periódico do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Gênero e Direito Centro de Ciências Jurídicas - Universidade Federal da Paraíba n. 3, 2015. p.141. 13 Ibid., p.141. 14 Ibid., p.141. 15 GALETTI, Camila Carolina Hildebrand. Feminismo em movimento: A Marcha das Vadias e o movimento feminista contemporâneo. 2014. p.2.. 17.

(18) origem, pela Inglaterra, Estados Unidos, Argentina, Colômbia, Bolívia, Uruguai, México, Venezuela, Peru, Chile, Coréia do Sul, Índia, África do Sul, entre outros países.‖ 16 Percebe-se, então, que a Marcha das Vadias se tornou mundialmente conhecida. No território brasileiro, a MDV alcançou algumas cidades, principalmente as maiores capitais do país: No Brasil, especificamente na cidade de São Paulo, a Marcha alcançou sua 4ª edição em 2014, com manifestações na avenida Paulista, principalmente na região próxima ao MASP – Museu de Arte de São Paulo. Para nos atermos apenas a 2014, a Marcha também foi realizada em outras cidades do estado de São Paulo, como Campinas, Guarulhos, São Carlos , São José dos Campos, e em outros estados e em cidades como Rio de Janeiro, Belém, Belo Horizonte, Uberlândia, Brasília, Natal, Goiânia, Curitiba, Manaus, Porto Alegre, Salvador e São Luís.17. A MDV teve uma grande repercussão pelo Brasil, tendo em vista a quantidade de cidades onde as manifestações ocorreram. Na imagem abaixo, é possível observar o movimento MDV, realizada na cidade de Ribeirão Preto/SP.. Imagem 1: Marcha das Vadias. Fonte: Folha UOL18. Por Mariana Martins/Folhapress 28/09/2013. 16. VIANA, Fábio Caim. A Marcha das Vadias: o corpo-signo da autonomia feminina na mídia. CASAREJOS, Sandra Febbes. JUNIOR, Aryovaldo Azevedo. Revista Communicare – Dossiê Feminismo. v. 14, n. 1, 1º Semestre de 2014. p.122. 17 Ibid., p. 122. 18 Disponível em: https://m.folha.uol.com.br/gallery/#galeria=19491-marcha-dasvadias,foto=283766,ref=undefined,fotografia_url=//fotografia.folha.uol.com.br/galerias/19491-marcha-dasvadias. Acesso em 18/06/2019.. 18.

(19) No registro acima, é possível visualizar várias mulheres, algumas usando shorts e tops, alguns homens, segurando cartazes com dizeres "Não devemos ensinar as mulheres a não serem estupradas, e sim aos homens a não estuprarem‖ e ―o comprimento do meu short não serve de medida de respeito‖. Além das frases nos cartazes, os corpos de algumas mulheres estavam pintados com palavras como ―Vadia‖ e ―Livre‖. Pode ser visto também um instrumento musical feito de lata de tinta, usado pelas mulheres que participavam do movimento. O uso da imagem para retratar este episódio da MDV em Ribeirão Preto contribui para uma análise mais detalhada deste evento. O historiador inglês, Peter Burke, abordou que ―imagens podem testemunhar o que não pode ser colocado em palavras,‖19 ou seja, as imagens ajudam na percepção de detalhes que não poderiam ser descritos. Ainda conforme Peter Burke, ―imagens, assim como textos e testemunhos orais, constituem-se numa forma importante de evidência histórica. Elas registram atos de testemunho ocular.‖20 A partir disso, é possível analisar a importância tanto dos testemunhos orais quanto dos testemunhos oculares para retratar a MDV, assim como outros movimentos e ações, como é o caso do Coletivo Rosas Libertárias. Ao fazer uma comparação entre o movimento da Marcha das Vadias, o Movimento de Mulheres Camponesas, a Marcha Mundial de Mulheres e a Articulação de Mulheres Brasileiras, é possível perceber alguns pontos que unem esses movimentos. Todos esses movimentos partem de ideias pautadas na busca por igualdade de gênero. Os movimentos MMC, MMM e AMB tiveram como meta dar voz às mulheres em seus diferentes aspectos,21 assim como o movimento MDV. Para Fábio Caim Viana, ―o objetivo da Marcha das Vadias não é tornar o masculino o inimigo, e, sim, assumir o corpo-signo feminino como protagonista de si mesmo, sem que precise da condução, ou do aval de um sistema patriarcal.‖22 É no contexto do movimento Marcha das Vadias no Brasil, que também vai ser criado o Coletivo Rosas Libertárias, movimento originado em Delmiro Gouveia/AL, no ano de 2015, cidade localizada no Alto Sertão e que também apresentou um tipo de consciência militante feminista, se configurando como um movimento de luta por igualdade de gênero. 19. BURKE, Peter. ―Fotografias e retratos‖ In: Testemunha ocular: história e imagens. Bauru: EDUSC, 2004. p.38. 20 Ibid., p.17. 21 CISNE, Mirla. ―Feminismo e consciência militante feminista no Brasil‖ In: Feminismo e consciência de classe no Brasil. Livro eletrônico. São Paulo: Cortez, 2015. 22 VIANA, Fábio Caim. A Marcha das Vadias: o corpo-signo da autonomia feminina na mídia. VIANA, Fábio Caim. CASAREJOS, Sandra Febbes. JUNIOR, Aryovaldo Azevedo. Revista Communicare – Dossiê Feminismo. v. 14, n 1, 1º Semestre de 2014. p.10.. 19.

(20) 2.1 A Marcha das Vadias e o Coletivo Rosas Libertárias. O coletivo começou acho que foi em 2015, em março, no mês das mulheres. É... nós éramos amigas que já tinham ideias parecidas, que tinham muita relação com o feminismo e a gente sempre estava junto, debatendo, conversando, puxando a orelha dos homens da cidade pras questões, tentando conscientizar outras mulheres, só que isso muito virtualmente assim. Era sempre facebook, conversas assim, não era nada... a gente nunca tinha se reunido pra fazer um, pra planejar estudos ou atividades.23. Em 2015, quando o Coletivo Rosas Libertárias foi formado, Fernanda Telles Meimes tinha 25 anos, era graduanda do curso de História pela Universidade Federal de Alagoas/ Campus do Sertão. Fernanda Meimes é de Curitiba, no Estado do Paraná, em 2012 passou a morar em Delmiro Gouveia por causa da graduação. Ela foi uma das mulheres que ajudaram a formar este coletivo.. Assim como Fernanda Meimes, Brígida de Souza Oliveira também não era do Estado de Alagoas, veio de Fortaleza, no estado do Ceará, para também estudar História na UFAL/ Campus do Sertão, em 2012. Em 2015, Brígida era graduanda em História e tinha sua renda a partir das vendas do seu artesanato. Ela relatou em entrevista para esta pesquisa que o Coletivo Rosas Libertárias foi criado no dia 22 de janeiro de 2015, mas seus primeiros passos foram em 2012, no qual ela e outras meninas passaram a fazer algumas discussões. Nada era organizado ou projetado, apenas um grupo de amigas, porém elas não tinham a noção de que dali surgiria um coletivo.24 Ainda no período em que residia em Fortaleza, Brígida Oliveira já possuía experiência militante, era percursionista no grupo ―Tambores de Safo‖. Esse grupo surgiu a partir do ―Fórum Cearense de Mulheres‖, de acordo com Brígida Oliveira, ―é um grupo ativista de mulheres negras, homo e bissexuais que se identificam com a bandeira LGBTQ+.‖ 25 Ela ainda ressalta que, Acima de tudo, antes de ser um grupo LGBT+, ele é um grupo de mulheres e esse grupo existe até hoje como um grupo de percussão formado apenas por mulheres que fazem participação em alguns movimentos políticos, como o movimento feminista e o movimento negro do Ceará e ele acontece até hoje. Ele tá vivo! 26. A partir desta fala de Brígida Oliveira, nota-se que além do envolvimento com a música, o grupo Tambores de Safo trouxe a ela vivências nos atos políticos, no movimento 23. MEIMES, Fernanda Telles. Entrevistada por Samyres da Silva Vieira 22/03/2018 In: Acervo do Grupo de Estudos e de Pesquisa em História, Sociedade e Cultura – GEPHISC. 24 OLIVEIRA, Brígida de Souza. Entrevistada por Samyres da Silva Vieira 18/08/2018 In: Acervo do Grupo de Estudos e de Pesquisa em História, Sociedade e Cultura – GEPHISC. 25 OLIVEIRA, Brígida de Souza. Entrevistada por Samyres da Silva Vieira 28/05/2019 In: Acervo do Grupo de Estudos e de Pesquisa em História, Sociedade e Cultura – GEPHISC. 26 OLIVEIRA, Brígida de Souza. Entrevistada por Samyres da Silva Vieira 28/05/2019 In: Acervo do Grupo de Estudos e de Pesquisa em História, Sociedade e Cultura – GEPHISC.. 20.

(21) feminista e no movimento negro do seu Estado. A imagem abaixo mostra Brígida em um dos ensaios do Tambores de Safo.. Imagem 2: Ensaio do Tambores de Safo. Fonte: Acervo pessoal de Brígida de Souza Oliveira.. Foi através do Tambores de Safo que, no ano de 2012, Brígida Oliveira foi para a cidade do Rio de Janeiro/RJ e participou da Marcha das Mulheres, protesto paralelo ao Rio +20.27 O Rio +20 foi uma conferência ocorrida em junho de 2012. É, como abordou em seu artigo intitulado ―Rio+20 – conferência das nações unidas sobre meio ambiente e desenvolvimento: contexto, principais temas e expectativas em relação ao novo ‗direito da sustentabilidade‘‖, o Doutor em Ciências Humanas Ricardo Stanziola Vieira: Em junho de 2012 acontecerá no Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, também conhecida como UNCSD, Rio 2012 ou Rio+20. Convocada por resolução da Assembleia Geral da ONU em dezembro de 2009, esta conferência tem como objetivo reforçar o compromisso político dos Estados em relação ao desenvolvimento sustentável, identificando os progressos e os hiatos nos compromissos já firmados sobre este assunto no âmbito da ONU, assim como desafios emergentes ainda não trabalhados.28. 27. OLIVEIRA, Brígida de Souza. Entrevistada por Samyres da Silva Vieira 28/05/2019 In: Acervo do Grupo de Estudos e de Pesquisa em História, Sociedade e Cultura – GEPHISC. 28 VIEIRA, Ricardo Stanziola. Rio+20 – conferência das nações unidas sobre meio ambiente e desenvolvimento: contexto, principais temas e expectativas em relação ao novo ―direito da sustentabilidade‖ Revista NEJ Eletrônica, v. 17, n. 1, p. 48-69 / jan-abr 2012. p.50.. 21.

(22) Entende-se que o Rio +20 foi um evento voltado para o comprometimento político sobre as questões ambientais. Sobre o protesto da Marcha das Mulheres, o site do ―G1‖29 escreveu ―integrantes de 31 entidades feministas tiraram a camisa durante a Marcha das Mulheres, no começo da tarde desta segunda-feira (18). Elas pediram justiça social e ambiental durante as atividades da Cúpula dos Povos, evento ocorrido paralelamente ao Rio+20.‖ 30 A participação do Tambores de Safo na Marcha das Mulheres foi abordada, em uma matéria sobre ―O novo feminismo‖, na revista eletrônica ―Istoé‖31 Em uma passeata com o slogan ‗Mulheres contra a mercantilização de nossos corpos, nossas vidas e a natureza!‘, militantes do grupo feminista Tambores de Safo, de Fortaleza, foram às ruas sem roupa da cintura para cima em um ato que contou com cinco mil participantes.32. A partir disto, é possível perceber os motivos que levaram estas mulheres a fazer esse protesto. O motivo de Brígida Oliveira está sem roupa da cintura para cima tratava de uma coreografia do Tambores de Safo.33 Tanto o site do G1 quanto o site da revista eletrônica Istoé, mostram imagens dela junto com o Tambores de Safo no ato da Marcha das mulheres. 34Sobre esta Marcha das Mulheres, Oliveira abordou que: Foi a Cúpula dos Povos, foi um evento que teve, na verdade, foi aquele Rio +20, né?! Que era os 20 países mais influentes do mundo, vieram pro Rio de Janeiro, acho que foi em 2012. Aí eles vieram discutir sobre a camada de ozônio, vieram discutir políticas sobre a poluição no planeta e tal. Aí teve um evento que foi um evento em contrapartida desse que se chamava Cúpula dos Povos. Aí tinha uma galera de todo canto, de todo o Brasil que era um vento de protesto da Cúpula dos povos, né?! E aí rolou a marcha das mulheres, porque todo dia que tinha reunião do Rio +20 a gente fazia uma passeata, aí tinha o dia dos indígenas, o dia do movimento negro, o dia da galera LGBT, o dia das mulheres.35. Observa-se, então, que esse movimento estava voltado tanto para as Marchas das Mulheres quanto para outros movimentos, como o movimento indígena, LGBT e o movimento negro. Assim como esse protesto teve uma variedade de lutas e discussões, o CRL também abordou sobre diversos assuntos. 29. G1: portal brasileiro de notícias. Site do G1: http://g1.globo.com/natureza/rio20/noticia/2012/06/mulheres-tiram-blusa-para-protestar-pelasruas-do-rio.html. Acesso em: 22 de ago. 2019. 31 Istoé: Revista eletrônica semanal brasileira. 32 Site Istoé: https://istoe.com.br/216256_O+NOVO+FEMINISMO. Acesso em: 22 de ago. 2019. 33 OLIVEIRA, Brígida de Souza. Entrevistada por Samyres da Silva Vieira 28/05/2019 In: Acervo do Grupo de Estudos e de Pesquisa em História, Sociedade e Cultura – GEPHISC. 34 Site do G1: http://g1.globo.com/natureza/rio20/noticia/2012/06/mulheres-tiram-blusa-para-protestar-pelasruas-do-rio.html. Acesso em: 22 de ago. 2019. Obs.: As imagens de Brígida de Souza Oliveira, no ato da Marcha das Mulheres no Rio de janeiro, não foram autorizadas pela mesma para serem usadas no corpo do texto deste trabalho. 35 OLIVEIRA, Brígida de Souza. Entrevistada por Samyres da Silva Vieira 28/05/2019 In: Acervo do Grupo de Estudos e de Pesquisa em História, Sociedade e Cultura – GEPHISC. 30. 22.

(23) A partir das narrativas, percebe-se que a criação do coletivo ocorreu de maneira não planejada. Algumas das integrantes estudavam na UFAL/Campus do Sertão, revelando a importância dessa universidade em relação à construção do coletivo. Foi através da Universidade que Fernanda Meimes e Brígida Oliveira conheceram as outras componentes do CRL, como é o caso de Sergiana Vieira dos Santos e Wanubya Maria Menezes da Silva, elas eram moradoras da cidade de Delmiro Gouveia e também estudavam no Campus. Wanubya Maria Menezes da Silva, no período de formação do CRL, era graduanda em Geografia na UFAL/Campus do Sertão. Sua passagem pelo coletivo foi breve, o motivo de sua saída não foi mencionado por ela quando entrevistada para essa pesquisa. Após a sua saída, Wanubya Silva começou a participar do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro.36 O movimento Feminista Classista Ana Montenegro, segundo Wanubya Silva, ―é um movimento que tem uma vertente marxista e classista.‖37 A partir do seu posicionamento sobre o movimento Ana Montenegro, ressaltou que ―antes de pensarmos apenas nas questões de gênero, nós fazemos esse recorte de classe, então compreendemos a opressão à mulher, o machismo a partir de um recorte de classe, a partir de uma opressão de classe.‖38 Segundo o site do coletivo Feminista Classista Ana Montenegro, o nome Ana Montenegro surgiu como ―uma homenagem à militante histórica Ana Montenegro, que dedicou sua vida à luta em defesa das mulheres e de toda classe trabalhadora.‖39 Wanubya Silva descreve que: Eu conheci algumas meninas, também veio a Fernanda, que é de Curitiba e veio morar aqui, e ela já vinha com um discurso mais né, afinado sobre feminismo. Juntamente com a Sergiana também, que é aqui de Delmiro, que já é... já compreendia bem o que era o feminismo, as relações de opressão à mulher dentro da sociedade. E a gente começou a fazer alguns atos.40. A análise da narrativa de Wanubya Silva mostra que Fernanda Meimes, assim como Sergiana Santos, tinha um leve entendimento sobre feminismo e sobre as relações de poder na sociedade. Então, o envolvimento dessas três mulheres em atos na cidade de Delmiro Gouveia começou a partir da amizade entre elas. O CRL é ação coletiva formada por mulheres e que 36. SILVA, Wanubya Maria Menezes da. Entrevistada por Samyres da Silva Vieira 21/04/2018 Grupo de Estudos e de Pesquisa em História, Sociedade e Cultura – GEPHISC. 37 SILVA, Wanubya Maria Menezes da. Entrevistada por Samyres da Silva Vieira 21/04/2018 Grupo de Estudos e de Pesquisa em História, Sociedade e Cultura – GEPHISC. 38 SILVA, Wanubya Maria Menezes da. Entrevistada por Samyres da Silva Vieira 21/04/2018 Grupo de Estudos e de Pesquisa em História, Sociedade e Cultura – GEPHISC. 39 Site do coletivo Feminista Classista Ana Montenegro: http://anamontenegro.org/cfcam/sobre/. de jun. 2019. 40 SILVA, Wanubya Maria Menezes da. Entrevistada por Samyres da Silva Vieira 21/04/2018 Grupo de Estudos e de Pesquisa em História, Sociedade e Cultura – GEPHISC.. In: Acervo do In: Acervo do In: Acervo do Acesso em: 25 In: Acervo do. 23.

(24) teve início nas redes sociais, principalmente no Facebook, meio no qual ocorriam muitas discussões.41 É possível perceber que essas mulheres usavam as redes sociais para mostrar seus posicionamentos relacionados ao feminismo, violência de gênero e outros assuntos que envolvessem as mulheres. A partir de um afrontamento no Facebook, que partiu de um homem que não teve seu nome revelado pelas entrevistadas, essas mulheres foram chamadas de ―feministas de Facebook‖,42 com o intuito de menosprezar os seus posts e debates nas redes sociais. Esse afrontamento acarretou em uma série de comentários que envolveram algumas das mulheres do CRL e outras pessoas. Entre esses comentários, surgiu um questionamento de um companheiro, conhecido de algumas dessas mulheres, o qual também não teve seu nome revelado nas entrevistas realizadas para esta pesquisa. Ele sugeriu que as mulheres que participaram da discussão se organizassem de maneira coletiva. 43 Assim, conforme Fernanda Meimes, A gente tinha contato com outros coletivos aqui, não feministas né, porque esse daqui foi o primeiro coletivo feminista mesmo daqui, mas a gente tinha contato com outros coleti... organizações, e tinha os anarquistas que eram, não lembro o nome que eles tinham na época, mas a gente tinha contato com outras organizações. Então a gente sabia que existia essa possibilidade de nos organizar, sabe.44. De acordo com a narrativa de Fernanda Meimes, observa-se que, foi a partir desse contato com essas organizações, como o movimento dos Anarquistas, elas se sentiram instigadas e passaram a levar em consideração a possibilidade de criar um grupo mais organizado. Além de possuírem amigos no movimento Anarquista, havia algumas integrantes do CRL que também eram adeptas desse movimento, como é o caso de Layanne Morais Queiroz e Camila Cruz. Além disso, a UFAL/Campus do Sertão teve seu papel na construção virtual do CRL, no primeiro momento. A vinda da Universidade para a cidade de Delmiro Gouveia possibilitou que pessoas de outros estados e com outras vivências viessem estudar no Sertão alagoano, como é o caso de Camila Ramos. Para Ramos, sua entrada no coletivo ocorreu a 41. MEIMES, Fernanda Telles. Entrevistada por Samyres da Silva Vieira Estudos e de Pesquisa em História, Sociedade e Cultura – GEPHISC. 42 MEIMES, Fernanda Telles. Entrevistada por Samyres da Silva Vieira Estudos e de Pesquisa em História, Sociedade e Cultura – GEPHISC. 43 MEIMES, Fernanda Telles. Entrevistada por Samyres da Silva Vieira Estudos e de Pesquisa em História, Sociedade e Cultura – GEPHISC. 44 MEIMES, Fernanda Telles. Entrevistada por Samyres da Silva Vieira Estudos e de Pesquisa em História, Sociedade e Cultura – GEPHISC.. 22/03/2018 In: Acervo do Grupo de 22/03/2018 In: Acervo do Grupo de 22/03/2018 In: Acervo do Grupo de 22/03/2018 In: Acervo do Grupo de. 24.

(25) partir de um convite de Fernanda Meimes para participar de uma reunião junto de outras amigas e colegas.45 Camila Ramos é de São Paulo/SP e veio para Delmiro Gouveia cursar Letras na UFAL. No período da formação do coletivo, ela tinha 31 anos e, antes da sua entrada no CRL, ela já tinha experiências em alguns movimentos, como é o caso do movimento ―hip hop‖, em São Paulo e do coletivo feminista ―Palavra de Mulher Lésbica‖, em Salvador, no estado da Bahia. Sua experiência no coletivo feminista de Salvador parece ter contribuído na formação do CRL, já que ela tinha certo conhecimento sobre o assunto. Essas mulheres citadas acima se encontravam em um bar na cidade de Delmiro Gouveia/Alagoas, que passou a ser também um lugar para seus momentos de diversão. Esse ponto de encontro era o bar ―A Gruta rock‖ ou ―Grutas‖. Fernanda Meimes relata que: Nosso lançamento do coletivo foi no ―Grutas‖, ele tem muito envolvimento, porque a gente se reunia muito ali né, assim, como amigas pra conversar, antes da formação do coletivo. A gente se reunia muito ali, e tava sempre ali conversando, e era sempre algo descontraído, mas a gente tava ali, todas nós estávamos ali sempre. Era o lugar da cidade que a gente tinha pra se reunir e que a gente podia se sentir mais livre.46. Com a narrativa de Meimes, percebe-se o grande envolvimento do bar ―Grutas‖ no CRL. O critério para a escolha do bar partiu do interesse em comum dessas mulheres, pois era um local onde elas frequentavam e tinham amizades em comum. O Grutas tinha um estilo mais alternativo, era nesse bar onde essas mulheres se sentiam à vontade para se divertirem e também se reunirem. O espaço de resistência político-cultural ―Grutas‖ também foi palco do lançamento do CRL fora do ambiente virtual. Na imagem abaixo é possível ver o folheto de divulgação do lançamento do Coletivo Rosas Libertárias no bar ―Grutas‖, junto com o ―II Grito Feminino‖. O ―II Grito Feminino‖ foi uma continuidade do ―I Grito Feminino‖. Sua primeira edição ocorreu no coreto, centro da cidade de Delmiro Gouveia, antes mesmo do Coletivo Rosas Libertárias existir, sendo organizado por Fernanda Telles Meimes, Brígida de Souza Oliveira e Layanne Morais Queiroz.47 Segundo Camila Ramos, o lançamento do CRL, assim como o ―II Grito Feminino‖, ―foi um evento que foi pensado para o 8 de março, onde teve música, recital de. 45. RAMOS, Camila Faustina Santos Pereira. Entrevistada por Samyres da Silva Vieira 06/09/2018 In: Acervo do Grupo de Estudos e de Pesquisa em História, Sociedade e Cultura – GEPHISC. 46 MEIMES, Fernanda Telles. Entrevistada por Samyres da Silva Vieira 22/03/2018 In: Acervo do Grupo de Estudos e de Pesquisa em História, Sociedade e Cultura – GEPHISC. 47 RAMOS, Camila Faustina Santos Pereira. Entrevistada por Samyres da Silva Vieira 06/09/2018 In: Acervo do Grupo de Estudos e de Pesquisa em História, Sociedade e Cultura – GEPHISC.. 25.

(26) poesia e a questão política também foi pautada‖,48 ou seja, foi um evento organizado por mulheres, feito para mulheres e em homenagem ao dia da mulher. O registro foi retirado da página do Facebook do CRL.. Imagem 3: Evento de lançamento do coletivo Rosas Libertárias em Delmiro Gouveia, no Grutas Rock bar.. Fonte: Página do Facebook do Coletivo Rosas Libertárias. 49. A imagem acima contém as informações sobre a data, local e horário da realização do evento, junto com a atração musical, exposição e um curta metragem. O corpo pintado com os enunciados é o de Layanne Morais Queiroz. Queiroz é integrante do CRL e esteve neste coletivo desde o início da formação. No período da formação do coletivo, ela tinha 20 anos, morava em Delmiro Gouveia, não trabalhava e não estudava no Campus do Sertão. No. 48. RAMOS, Camila Faustina Santos Pereira. Entrevistada por Samyres da Silva Vieira 06/09/2018 In: Acervo do Grupo de Estudos e de Pesquisa em História, Sociedade e Cultura – GEPHISC. 49 Disponível em: https://www.facebook.com/1447137935581045/photos/a.1448509758777196/1448511265443712/?type=3&thea ter. Acesso em: 17 de ago. 2018.. 26.

(27) registro abaixo, é possível observar algumas das integrantes do CRL, junto das integrantes da banda C.I.A.. Imagem 4: Algumas das integrantes do Coletivo Rosas Libertárias junto com a banda C.I.A em Delmiro Gouveia, no Grutas Rock bar.. Fonte: Acervo pessoal de Fernanda Telles Meimes.. Nesta imagem, é possível observar cinco integrantes do CRL acompanhadas das três integrantes da banda C.I.A., que é uma banda feminista da cidade de Maceió/AL. Esse evento foi promovido pelo CRL e, na imagem, estão Layanne, Camila, Larissa, Sergiana e Fernanda. Este registro é do acervo pessoal de Fernanda Telles Meimes e foi tirado no dia do lançamento destas mulheres como Coletivo Rosas Libertárias, no Grutas Rock bar, no ano de 2015. É possível observar como o CRL se tratava inicialmente de um grupo de amigas no Facebook e que, em seguida, se expandiu e saiu do ambiente virtual. Sua formação ocorreu de maneira rápida devido à amizade e aproximação entre essas mulheres, que fizeram apenas oficializar o grupo de amizade como coletivo.. 27.

(28) Outra integrante do CRL, Sergiana Vieira dos Santos, esteve desde o início da formação e, nesse período, ela tinha 35 anos e morava em Delmiro Gouveia/AL. Sobre a quantidade de mulheres no início do CRL, Santos relata que: Nós éramos em dez, que eu digo, desde quando eu entrei, e aí a gente tem o afastamento de Samara e de Sabrina, e hoje nós somos em oito. Porque tem a situação de uma colega, que eu não sei se permanece ou não, ainda não foi discutido, mas até o momento somos em oito. 50. Em 2015, o coletivo estava composto por 10 mulheres, algumas dessas eram vinculadas a algum dos cursos da UFAL/Campus do Sertão, como é o caso de Fernanda Meimes e Brígida Oliveira. Ainda sobre essa questão, Camila Cruz relata que: De início, éramos Larissa, Samara, Sabrina, Deusa, Sergiana, eu, Camila Ramos, Fernanda, Brígida, Bianca e creio eu que tiveram mais, só que eu não estou conseguindo é me lembrar, porque essas foram as que até certo momento tiveram de fato com a gente, ai se afastaram por causa de mestrado, de ter que estudar fora. Atualmente a gente passa por um processo de articulação né.51. Camila Cruz tem 24 anos e mora em Delmiro Gouveia/AL. Em 2015, ela tinha 21 anos e trabalhava de forma independente em um estúdio de tatuagem. Com esta narrativa, percebemos que, algumas dessas mulheres se afastaram, pois foram estudar ou trabalhar fora. Até o mês de maio de 2018, o CRL estava passando por mudanças em sua organização. O nome ―Coletivo Rosas Libertárias‖ surgiu a partir da sugestão de Queiroz e Cruz. Queiroz pensou em um nome de uma flor, então sugeriu ―Rosas‖, e Cruz sugeriu o nome ―Libertárias‖. A forma de escolha foi simples e dessas sugestões se formou o nome ―Rosas Libertárias‖, que foi apresentado para o restante das integrantes do coletivo e levado a votação. E, assim como o nome do coletivo, foram criados desenhos que representassem o CRL, como é o caso da imagem abaixo.. Imagem 5: Imagem da página do Facebook do coletivo Rosas Libertárias. 50. SANTOS, Sergiana Vieira dos. Entrevistada por Samyres da Silva Vieira 17/04/2018 In: Acervo do Grupo de Estudos e de Pesquisa em História, Sociedade e Cultura – GEPHISC. 51 CRUZ, Camila Rodrigues da. Entrevistada por Samyres da Silva Vieira 03/05/2018 In: Acervo do Grupo de Estudos e de Pesquisa em História, Sociedade e Cultura – GEPHISC.. 28.

(29) Fonte: Página do Facebook do Coletivo Rosas Libertárias. 52. Nesta imagem, é possível analisar uma arte feita por Fernanda Teles Meimes, que revela a figura de uma mulher com os seios à mostra, com uma das mãos erguidas e com uma bandana cobrindo o seu rosto. A partir dessa arte, é possível perceber certa semelhança com a característica das mulheres que participaram do movimento Marcha das Vadias, como é o caso da imagem abaixo. Essa Marcha das Vadias ocorreu em Ribeirão Preto, no estado de São Paulo, no ano de 2013.. Imagem 6: Marcha das Vadias. 52. Disponível em: https://www.facebook.com/1447137935581045/photos/a.1447139755580863/1447141078914064/?type=3&thea ter. Acesso em: 06 de jun. 2019.. 29.

(30) Fonte: Folha UOL.53 Por Mariana Martins/Folhapress 28/09/2013. A fotografia acima foi registrada na manifestação feita pelo movimento MDV. Assim como na arte feita por Meimes, esta imagem também mostra uma mulher com os seios à mostra e com o rosto coberto por uma bandana. Com isso, é possível notar semelhanças entres esses dois movimentos. As características tanto da MDV quanto do CRL estão ligadas ao novo feminismo. Tanto a MDV e a Marcha das Mulheres no evento Rio +20, quanto o CRL encaixamse no que é chamado de ―O novo feminismo.‖ Esse novo feminismo trata-se, dente outras coisas, principalmente da liberdade do corpo das mulheres, onde a maneira de se expressar vai além dos cartazes, fazendo assim o seu próprio corpo um meio de levar mensagem sobre suas reivindicações.54 O uso das mídias digitais também está presente nessa nova fase do feminismo. Como pôde ser visto nas imagens anteriores, o uso do corpo com mensagens na MDV e na Marcha das Mulheres, assim como no CRL, tanto nas imagens ilustrativas e na imagem do anúncio do coletivo mostra que a liberdade do corpo está presente nesses três movimentos. Outra característica presente são as mídias digitais, que é um mecanismo muito importante 53. Disponível em https://m.folha.uol.com.br/gallery/#galeria=19491-marcha-dasvadias,foto=322017,ref=undefined,fotografia_url=//fotografia.folha.uol.com.br/galerias/19491-marcha-dasvadias. Acesso em 06 de jun. 2019. 54 GONZAGA, Juliane de Araújo. Novo feminismo: acontecimento e insurreição de saberes nas mídias digitais. Tese (Doutorado em Linguística e Língua Portuguesa) – Universidade Estadual Paulista ―Júlio de Mesquita Filho‖, Faculdade de Ciências e Letras (Campus de Araraquara), 2018.. 30.

(31) para a realização e desenvolvimento desses movimentos e também está presente na MDV e no CRL.. 2.2 As regras do Coletivo Rosas Libertárias. Logo após a criação do CRL, foram estabelecidas formas de organização entre as componentes. Foi criada uma base de acordo, apresentando as regras do CRL, algumas destas formas consistiam em que o coletivo possuísse reuniões quinzenais, comprometimento e participação.55 A fotografia exposta abaixo é referente a uma reunião do CRL, realizada na casa de Fernanda Telles Meimes.. Imagem 7: Reunião do Coletivo na casa da integrante Fernanda Telles, no qual estava sendo discutido o livro sobre ―Mulher, Estado e Resolução‖, de Wendy Goldman, ―capítulo 7: Controlando a reprodução: mulheres versus Estado‖. 21/08/2016. 55. CRUZ, Camila Rodrigues da. Entrevistada por Samyres da Silva Vieira 03/05/2018 In: Acervo do Grupo de Estudos e de Pesquisa em História, Sociedade e Cultura – GEPHISC.. 31.

(32) Fonte: Página do Facebook do Coletivo Rosas Libertárias. 56. A imagem acima foi retirada da página do Facebook do CRL e mostra as componentes Brígida Oliveira e Layanne Queiroz em um momento de reunião em que estava sendo realizado estudo e discussão de texto. No início do coletivo, as reuniões ocorriam na casa de Fernanda Meimes, pois era o único lugar acessível para as reuniões. Naquele período, ela morava sozinha e sua casa localizava-se no centro da cidade, facilitando para todas as meninas. Assim, as reuniões poderiam ocorrer sem interrupções, é o que ela relata: As primeiras reuniões aconteciam em minha casa, que era aqui perto, no...na rua da independência, porque era o local que tinha mais tranquilo pra a gente fazer e tals, central. Era mais fácil pra todo mundo, e continua sendo, agora a gente divide um pouco assim, porque agora tem mais pessoas, mais casas das meninas que a gente pode fazer, sabe?! Mas antes só tinha a minha casa.57. Conforme Fernanda Meimes, nas reuniões, as mulheres do coletivo realizavam estudos, leituras e debates de textos, e era escolhida uma integrante para mediar o debate. Essas leituras serviam, conforme Camila Cruz, para que o coletivo se aprofundasse mais sobre o feminismo, gênero e outras questões.58 Ainda de acordo com ela, As reuniões pra texto a gente coloca mais no... quando a gente tira no calendário de formação. Como são vários, várias, várias companheiras, cada uma com sua, com seu processo de formação. Por exemplo, eu e a Layanne, que faz parte da organização anarquista, já vai com assim... é aberto, a gente sabe que é aberto, mas já vai com os textos que levem uma perspectiva mais anarquista de análise de sociedade e essa estrutura. Mas só que não é fechado, uma proposta única de texto.59. A partir dessa narrativa, nota-se, então, que cada integrante mediava uma reunião e nessa reunião, era utilizado um livro, artigo ou texto da preferência da mediadora, a qual seguia a linha com a qual mais se identificava. Para a escolha do livro ou texto, baseavam-se em assuntos que envolviam as temáticas sobre gênero e feminismo, mas ligados também a outras temáticas nas quais a mediadora tinha interesse. Algumas autoras de livros usados para. 56. Disponível em: https://www.facebook.com/1447137935581045/photos/a.1447752178852954.1073741828.1447137935581045/1 585161758445328/?type=3&theater. Acesso em: 06 de fev. 2018. 57 MEIMES, Fernanda Telles. Entrevistada por Samyres da Silva Vieira 22/03/2018 In: Acervo do Grupo de Estudos e de Pesquisa em História, Sociedade e Cultura – GEPHISC. 58 CRUZ, Camila Rodrigues da. Entrevistada por Samyres da Silva Vieira 03/05/2018 In: Acervo do Grupo de Estudos e de Pesquisa em História, Sociedade e Cultura – GEPHISC. 59 CRUZ, Camila Rodrigues da. Entrevistada por Samyres da Silva Vieira 03/05/2018 In: Acervo do Grupo de Estudos e de Pesquisa em História, Sociedade e Cultura – GEPHISC.. 32.

(33) os debates das integrantes do CRL foram: Margarete Rago, Simone de Beauvoir, Emma Goldman e Maria Lacerda de Moura.60 Ainda segundo Camila Cruz, as reuniões não tinham uma única linha de discussão. Cada integrante possuía sua ideologia e, a partir disso, buscavam apresentar textos sobre a questão do feminismo ou a questão de gênero, com as ideias que elas acreditavam. 61 Isso ocorria com um intuito de gerar debate, para cada uma deixar o seu posicionamento. Portanto, o CRL não possuía uma ideia homogênea, pois se tratava de um coletivo mesclado. As reuniões do CRL eram divididas entre as discussões sobre a organização do coletivo, porém, havia os dias em que essas reuniões eram voltadas para os debates sobre textos. Quando havia essas discussões, os textos variavam de componente para componente. Havia textos que, segundo Sergiana Santos, tratavam sobre ―antropologia e feminismo, colorísimo, as mulheres na arte, militância e ativismo.‖ 62 Em uma dessas reuniões, foi utilizado o texto da autora Margareth Rago, que abordou sobre a história da revolução espanhola e a participação de mulheres nesta revolução. Foi utilizada também Simone de Beauvoir, com o livro ―Segundo sexo‖. Textos sobre mulher e história, mulher na arte, assim como as mulheres anarquistas da história também faziam parte dessa grade de leitura. 63. 2.3 Coletivo Rosas Libertárias e o ciberativismo. Os meios de comunicação alternativos, portanto, são instrumentos utilizados por coletivos e movimentos sociais, já tão acostumados à cobertura tendenciosa e criminalizante que a grande mídia costumeiramente faz de seus atos. Os meios alternativos buscam dar às ações e atividades dos movimentos sociais uma cobertura jornalística que realmente leve em consideração o que têm a dizer e como querem dizer.64. Esta epígrafe foi retirada do artigo do geógrafo Cícero de Aquino Costa Simões. Entende-se, a partir desta citação, a importância de outros meios de informação, como as. 60. CRUZ, Camila Rodrigues da. Entrevistada por Samyres da Silva Vieira 03/05/2018 In: Acervo do Grupo de Estudos e de Pesquisa em História, Sociedade e Cultura – GEPHISC. 61 CRUZ, Camila Rodrigues da. Entrevistada por Samyres da Silva Vieira 03/05/2018 In: Acervo do Grupo de Estudos e de Pesquisa em História, Sociedade e Cultura – GEPHISC. 62 SANTOS, Sergiana Vieira dos. Entrevistada por Samyres da Silva Vieira 17/04/2018 In: Acervo do Grupo de Estudos e de Pesquisa em História, Sociedade e Cultura – GEPHISC. 63 CRUZ, Camila Rodrigues da. Entrevistada por Samyres da Silva Vieira 03/05/2018 In: Acervo do Grupo de Estudos e de Pesquisa em História, Sociedade e Cultura – GEPHISC. 64 SIMÕES, Cícero de Aquino Costa. Mídia alternativa e grande imprensa: as manifestações de junho na ótica do Brasil de fato e da folha de S.Paulo. Democratizar. v. VII, n. 2, ago./dez, 2013. p.5.. 33.

(34) redes sociais, para validar as lutas traçadas por coletivos e movimentos contemporâneos, já que essas ações podem ser mostradas de maneiras deturpadas nas mídias mais tradicionais, as mídias televisivas, programas de rádio, revistas e jornais que, segundo Cícero Simões, ―consiste em um tipo de empresa jornalística que pauta o ato de informar, comunicar e entreter pelo retorno financeiro. A comunicação é vista como mais uma atividade comercial e tem no lucro seu principal objetivo.‖65 Para as ações coletivas e os movimentos sociais, ter o uso de uma mídia alternativa, ou seja, a internet e as redes sociais, são uma forma de escape contra a mídia tradicional que, muitas vezes, faz uso da manipulação. Além disso, a internet contribuiu na construção de muitas ações, já que tem essa capacidade de atingir muitas pessoas de maneira mais rápida. 66 A partir disso, percebe-se como a mídia alternativa faz parte das ações e movimentos contemporâneos, fazendo emergir um processo de virtualização. Na obra de Pierre Lévy, ―O que é o virtual?‖ ele aborda de forma conceitual sobre o virtual e a virtualização: Um movimento geral de virtualização afeta hoje não apenas a informação e a comunicação, mas também os corpos, o funcionamento econômico, os quadros coletivos da sensibilidade ou o exercício da inteligência. A virtualização atinge mesmo as modalidades do estar junto, a construção ‗nós‘: comunidades virtuais, empresas virtuais, democracia virtual... Embora a digitação das mensagens e a extensão do ciberespaço desempenhem um papel capital na mutação em curso, tratase de uma onda de fundo que ultrapassa amplamente a informação.67. De acordo com o que foi abordado, é possível entender que a virtualização atingiu muitos espaços, no qual o virtual se tornou a fonte de informação imediata. Há uma diferença entre a virtualização e as mídias alternativas, ambas possuem definições distintas, é o que aborda Pierre Lévy: Mas o que é a virtualização? Não mais o virtual como maneira de sés, mas a virtualização como dinâmica. A virtualização pode ser definida como o movimento inverso da atualização. Consiste em uma passagem do atual ao virtual, em uma ‗elevação à potência‘ da entidade considerada.68. Desse modo, a virtualização se trata do mundo real de uma maneira mais acessível, contendo os mesmos problemas, pois ela não está livre das informações falsas, porém não. 65. SIMÕES, Cícero de Aquino Costa. Mídia alternativa e grande imprensa: as manifestações de junho na ótica do Brasil de fato e da folha de S.Paulo. Democratizar. v. VII, n. 2, ago./dez. 2013. p.3. 66 Ibid., 2013. 67 LÉVY, Pierre. “O que é virtualização?” O que é virtual? Tradução: Paulo Neves do original ―Qu‘est-ce Le virtuel?‖ Editora 34, 1996. p. 2. 68 Ibid., 1996, p.7.. 34.

(35) deixa de ter seu lado positivo. Com a virtualização, o acesso às notícias, arte e inúmeros interesses passaram a ter mais acessibilidade. A internet possibilita aos movimentos sociais contemporâneos uma continuidade de suas ações, é nas mídias digitas que os assuntos menos discutidos nas mídias tradicionais ganham espaço e força. Como relata a comunicadora social Júlia Lewgoy Martini, no artigo ―Marcha das Vadias: Um movimento social na era da comunicação digital em rede‖: As mídias digitais servem, ainda, como repositório das memórias atuais de movimentos ainda jovens, como a Marcha das Vadias, e de causas ainda não tão presentes nas mídias tradicionais, como jornal, televisão e rádio. Muitas vezes ainda mal traduzido para a sociedade, o feminismo não encontra eco nas páginas dos jornais, mas sim na participação e na mobilização promovida por essa ―nova‖ sociedade em rede. 69. Então, a virtualização é vista como uma ferramenta capaz de expandir a visualização de qualquer notícia, as quais, muitas vezes, nas mídias tradicionais seriam tratadas de maneira desvalorizada. A virtualização, para os movimentos sociais, é um meio de comunicação essencial. Para a doutora em Linguística e Língua Portuguesa Juliane de Araujo Gonzaga, Desta feita, um fator que incide sobre o retorno do feminismo no presente é o uso das tecnologias digitais. Elas modificam a relação que o sujeito estabelece não só com as mídias, mas também com movimentos sociais como o feminismo. Assim, é possível que essa novidade seja efeito do modo como o feminismo é construído pelos discursos midiáticos. Esse ―novo‖ lugar de enunciação tem condições que refletem as particularidades da época atual como, por exemplo, as interações rápidas e instantâneas que interligam sujeitos a nível global.70. Conforme o debate acima, nota-se que a tecnologia marca esse período vivido pelos movimentos sociais contemporâneos. Essa tecnologia vai inserir-se no novo feminismo. Assim como a virtualização, o ciberativismo está presente nos movimentos sociais contemporâneos e ações coletivas. O ciberativismo é a prática de entrelaçar e articular o virtual com o real, teve seu surgimento a partir dos anos 90, passando por um processo de renovação até está presente no novo feminismo ou feminismo do século XXI71. A respeito disso, Gonzaga ainda ressalta:. 69. MARTINI, Júlia Lewgoy. Marcha das Vadias: Um movimento social na era da comunicação digital em rede. Júlia Lewgoy Martini, Paula Regina Puhl. Porto Alegre, 2015. p.9. 70 GONZAGA, Juliane de Araujo. “O retorno do feminismo no presente” Novo feminismo: acontecimento e insurreição de saberes nas mídias digitais. Tese (Doutorado em Linguística e Língua Portuguesa) – Universidade Estadual Paulista ―Júlio de Mesquita Filho‖, Faculdade de Ciências e Letras (Campus de Araraquara), 2018. p.119. 71 Ibid., 2018.. 35.

(36) É possível compreender que a novidade do ciberativismo está na relação entre o feminismo e as tecnologias digitais, porque propõe diferentes formas de os sujeitos se posicionarem em um espaço de enunciação tecnológico para falar de questões feministas.72. Entende-se que, com o ciberativismo, a possibilidade de interação e divulgação de atos e ações dos movimentos aumentou, abrindo portas e ajudando a dar voz para aquelas ações que, até então, não tinham tanto espaço, como é o caso do novo feminismo. A virtualização no CRL ocorreu a partir da criação da sua página na rede social Facebook. Antes de se tornar um coletivo com encontros no bar ―Grutas‖, as componentes do CRL decidiram fazer uma página no Facebook e nessa página eram divulgadas suas atividades, assim como os seus eventos. A figura a seguir, além de ser a foto do perfil da página do coletivo, é também o símbolo do CRL.. Imagem 8: Imagem da página do facebook do coletivo Rosas Libertárias. Fonte: Página do facebook do Coletivo Rosas Libertárias. 73. 72. GONZAGA, Juliane de Araujo. “O retorno do feminismo no presente” Novo feminismo: acontecimento e insurreição de saberes nas mídias digitais. Tese (Doutorado em Linguística e Língua Portuguesa) – Universidade Estadual Paulista ―Júlio de Mesquita Filho‖, Faculdade de Ciências e Letras (Campus de Araraquara), 2018, p.164. 73 Disponível em: https://www.facebook.com/1447137935581045/photos/a.1447139755580863.1073741825.1447137935581045/1 555464504748387/?type=1&theater. Acesso em: 06 de fev. 2018.. 36.

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