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Ações da gestão escolar e trabalho coletivo

No documento Educação em Rede - Vol.5 / Sesc (páginas 95-98)

Gerir processos em educação perpassa pela gestão de pessoas e relações hu- manas, logo, mexe com respeito, confiança e autonomia. O processo de formação de um gestor deve valorizar, primordialmente, as relações e os princípios institucio- nais, pois não estamos em uma ilha. Com base nos princípios norteamos todas as ações, inclusive as ações da gestão escolar.

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Em 2013, assim que assumi o trabalho na Coedi, passei pelo processo de forma-

ção nas cinco escolas2 do Distrito Federal. Nossa primeira ação foi realizar reuniões e

visitas sistemáticas com a equipe diretiva das escolas (coordenadores, orientadores e diretores pedagógicos). Essas reuniões tinham como objetivo entender os proces- sos internos de cada escola e fazer um diagnóstico das principais dificuldades pon- tuais encontradas. Os elementos a serem analisados vieram das necessidades que foram surgindo ao longo do ano letivo, tais como reuniões de pais, atendimentos às famílias, planejamento dos professores, relatórios de aprendizagem, processo de avaliação, entrada e saída de alunos, procedimentos de segurança para os alunos, lista de material, projetos literários, escolha de material pedagógico e retomada de estudo da proposta pedagógica e currículo.

A partir desse processo de reuniões com as escolas, podemos perceber que pre- cisávamos, enquanto equipe (diretores pedagógicos, coordenadores, orientadores e professores), afinar os discursos e alguns procedimentos entre as escolas da rede Sesc no Distrito Federal. Esse trabalho já havia sido iniciado na gestão anterior da Coedi, porém não havia sido concluído em termos de organização. Tínhamos claro que a Coordenação Regional tinha como papel propiciar esse tipo de momento quando o diálogo pudesse fluir positivamente de modo a contribuir para o coletivo, pois segundo Lück (2011, p. 83), “a abordagem da gestão participativa pode trazer benefícios significativos para as escolas em que a gestão das pessoas se dê de tal modo que encoraje tanto a criatividade como o trabalho em equipe, a resolução de desafios cotidianos”. Então, junto com as equipes diretivas das unidades, pen- samos em como seria retomar o trabalho de organização do trabalho pedagógico em termos gerais. Nesses encontros sempre tínhamos a preocupação de fazer os registros de modo a não perder o ponto de onde paramos no momento anterior. Do mesmo modo, sempre aproveitávamos para fazer leituras pertinentes ao tema para subsidiar nossa fala. No fim de 2013 percebemos que a equipe diretiva tinha crescido muito e amadurecido no sentido de entender questões pertinentes aos procedimentos de gestão.

Foi também ao longo de 2013 que percebemos a necessidade de ampliar as discussões e nos aprofundar mais nas questões pedagógicas do que nas pessoais. O trabalho com as relações é importante, porém, quando estamos seguros do en- caminhamento pedagógico e de seus princípios, consequentemente temos menos problemas de relações interpessoais, pois nos balizamos pelos princípios e pelos

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documentos que norteiam nossas ações, e assim muitas coisas vão se ajustando. Discutir processos pedagógicos sem a presença dos professores começou a nos pa- recer infrutífero. Os professores conhecem profundamente a prática e a rotina esco- lar, sendo assim, organizamos encontros onde atuariam como autores e participan- tes diretos nas discussões e nos debates acerca dos temas tratados. A dificuldade inicial seria pensar em viabilizar esses encontros de modo a atender a demanda de carga horária, sem ferir as diretrizes institucionais e a legislação.

No primeiro semestre de 2014, após a avaliação das atividades de 2013, perce- bemos que esses momentos com a participação dos professores deveriam aconte- cer de maneira mais sistemática. Elaboramos uma agenda com encontros por seg- mento de ensino para pensarmos juntos em assuntos que, para a equipe diretiva, eram considerados dificuldades a serem superadas, como: na Educação Infantil, os relatórios de aprendizagem; no Ensino Fundamental, o processo de transição da primeira para a segunda etapa; e no Ensino Médio, a avaliação com foco no proces- so e não apenas nas seleções e nos vestibulares. Nos grupos, com base nos docu- mentos Proposta Pedagógica da Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF), Propostas Pedagógicas do Sesc Departamento Nacional e do Regimento Escolar conseguimos afinar nossos procedimentos e discursos a respeito dos temas abor- dados. Segundo Imbernón (2009), esses grupos configuram como uma “comunida- de de prática”, quando professores trocam experiências, refletem e aprendem entre si sobre sua prática.

Ao final de cada processo de encontro e debate com os professores de todas as unidades, elaborava-se um documento, um registro bem detalhado das ações e dos passos para a construção dos documentos pedagógicos. No segundo semestre foi aberto espaço para que os professores pudessem compartilhar suas experiências com os colegas de trabalho de outras escolas. Esse momento nunca havia aconteci- do no Sesc no Distrito Federal e foi muito importante para o trabalho e o reconhe- cimento da equipe.

A troca de experiências entre os professores é muito interessante, pois é a cons- trução de um momento formal de escuta e fala, mas que também pode nos apro- ximar sob o ponto de vista pessoal, pois de acordo com Pacheco (2013, p. 145-146) “o indivíduo que se questiona necessita confirmação do outro para ser reconhecido e existir, mas sem que o outro o prive da possibilidade última de recusar a própria experiência”. Percebemos, nitidamente, a necessidade dos professores de exporem ideias e conceitos. As discussões serviram para que pudessem validar e repensar

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sua prática. Podemos dizer que foram momentos de aprendizagem e ensino, pois quando falo da minha prática também repenso sobre ela. E isso vale também para a equipe diretiva e a coordenação regional.

Com o envolvimento dos professores nesse processo percebemos mudanças no comprometimento da equipe de coordenadores, diretores e coordenação regio- nal no que diz respeito ao trabalho realizado no coletivo. Rios (2011, p. 79) afirma que “é a partir do educador que temos que vamos caminhar para o educador que queremos ter”. Nossas mediações durante as discussões passaram a estar sempre buscando retomar as reflexões a partir dos documentos pedagógicos, como estra- tégias para melhorar a comunicação entre escola e família, aulas mais dinâmicas, uso dos espaços escolares de modo a melhorar os processos de ensino e de apren- dizagem, utilização de materiais diversificados nas aulas, envolvimento dos alunos nos projetos pedagógicos.

Outro aspecto que sofreu modificações muito significativas foi a rotina nas es- colas. Vale lembrar que as visitas periódicas a cada unidade eram, e são, momentos fundamentais de aproximação entre a coordenação regional, a local e os professores.

Aproveitamos essas visitas para conversar com professores, apoiar as direções em questões relativas às suas especificidades tanto de ordem pedagógica quanto administrativa, vivenciar a escola, inclusive estar mais próximo dos alunos e das fa- mílias e conhecer, junto com as direções e coordenações, o perfil da comunidade e as dificuldades inerentes à região e ao público. Nesses momentos conseguimos identificar temas que vão subsidiar nossos encontros pedagógicos e projetos futu- ros para a educação do Sesc no Distrito Federal.

No documento Educação em Rede - Vol.5 / Sesc (páginas 95-98)