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Sobre a leitura dos registros e as devolutivas

No documento Educação em Rede - Vol.5 / Sesc (páginas 164-169)

Ao falarmos sobre a leitura dos registros, é importante ressaltar que essa estra- tégia formativa está ligada ao acompanhamento dos planejamentos e a observa- ção da prática pedagógica. Esses três elementos formativos, apesar de acontecerem em momentos diferentes, se completam, e, quando realizados com frequência na rotina, o coordenador possibilita a identificação de necessidades formativas e a or- ganização de outras importantes estratégias.

O diagrama apresentado a seguir apresenta o ciclo de acompanhamento da coordenação organizado a partir do planejamento elaborado pelo professor:

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Registro como instância formativa

Quadro síntese do trabalho de acompanhamento individual do coordenador pedagógico do Sesc Centro Educacional de Floriano.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Ao ler a escrita do professor, cabe ao coordenador uma postura atenta, reflexiva e sensível, que tem como intuito contribuir com o processo de formação, tendo como foco conhecer o que já sabe o professor, apoiá-lo na reconstrução de conhe- cimento, valorizando seus saberes, experiências, dúvidas e reflexões.

A interação entre o coordenador e o professor permite ao professor espelhar-se, perceber suas conquistas e suas falhas na situação refletida. O coordenador ao ler um registro, pre- cisa ter uma atuação vivamente reflexiva. É necessário que se coloque no lugar do outro e busque estratégias para mobilizá-lo a ponto de enxergar aquilo que não viu, escutar aquilo que não ouviu, se perguntar sobre aquilo que não pensou e explicar aquilo que realizou. (BRASIL, 2007, p. 71)

A seguir, o trecho de uma devolutiva enviada a uma professora a partir da lei- tura do registro diário.

[...] o registro que mais me fez pensar e quero te convidar a continuar pensando até que as fumacinhas do cérebro se acalmem foi a sua escrita sobre a ação de tirar as folhas porque eles (crianças) só queriam fazer desenhos ao chegar a escola. Minha primeira reflexão: “Quando você tira a folha porque gostam de desenhar, não acho que seja o melhor caminho; afinal a nossa luta diária é escutar o interesse das crianças. Podemos pensar em outros recursos para o desenho. Claro que conversar sobre o meio ambiente é importante. Pensei no papel em outra expectativa, a de conhecimento: estudar sobre o

Elaboração da devolutiva pelo coordenador Reunião individual (Professor + coordenador para reflexão da aula observada e entrega da

devolutiva Leitura dos registros

Planejamento Leitura e análise

dos planejamentos com dicas e observações escritas feitas pelo

coordenador Observação

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Registro como instância formativa

papel, de onde ele vem? Existem brinquedos de papel? Reciclagem de papel, reutilização do papel, diversidade de textura do papel, quais são os artistas da cidade e do mundo que usam o papel como matéria-prima? O primeiro país a produzir o papel? Na cidade há fabrica para reciclagem do papel: e qual o nosso papel diante de tantos papéis? Existem múltiplos caminhos para repensarem o assunto”. (ANA MARA)

A reflexão em dupla (professor-coordenador) após essa devolutiva fez surgir na turma um novo projeto didático denominado De onde vem o papel?

Juntamente com a leitura dos registros e a identificação das necessidades e potencialidades do professor surgem novas estratégias de formação.

O professor, em parceria com o coordenador, acompanha a produção de re- gistro do estagiário durante essa estratégia, além de apoiá-los na sua formação. O professor tem a oportunidade de refletir sobre a qualidade de um texto que apre- senta dados importantes para análise do processo de ensino e de aprendizagem. A roda de leitura dos registros e textos de diferentes gêneros, como uma ativi- dade permanente, é outra estratégia que favorece a construção de um ambiente reflexivo e transforma a escola em um espaço de aprendizagem.

À medida que acompanha os registros, o coordenador tem a possibilidade de reconhecer as competências de cada professor e usá-las na formação de todos os integrantes do grupo ou traçar caminhos para a formação individual de cada pro- fessor, e foi com esse intuito que nasceu o espaço “Dica do professor”. Atividade que acontece nos encontros coletivos de formação onde o professor responsável pelo espaço realiza pesquisas de referências teóricas e apresenta uma relação entre a teoria e sua própria prática.

Considerações finais

São inúmeros os desafios na produção da escrita reflexiva, ela exige do seu escritor dedicação, disciplina e tempo para a elaboração de hipóteses sobre os registros. Confiança e disposição para compartilhar com diferentes parceiros, que com seu novo olhar fortalece, a necessidade de pensar sobre o escrito. Cabe en- tão ao coordenador pedagógico, enquanto mediador da construção dessa escri- ta, oferecer ao professor ferramentas para a coleta de dados e a reflexibilidade dos acontecimentos dos processos de ensino e de aprendizagem, a construção de conhecimento e a tomada de consciência sobre a prática pedagógica.

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Registro como instância formativa

Referências

BRASIL. Ministério da Educação. Guia de orientações metodológicas gerais. Brasília, 2001.

BRASIL. Secretaria de Educação a Distância. Coleção proinfantil: textos de apoio à formação inicial para professores em exercício na educação infantil. Brasília, 2007.

CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO (Brasil). Resolução n. 5, de 17 de dezembro de 2009. Fixa as diretrizes curriculares para a educação infantil. Diário Oficial da União, Brasília, 18 dez. 2009.

FREIRE, M. A paixão de conhecer o mundo: relato de uma professora. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.

FREIRE, M. Observações, registro, reflexão: instrumentos metodológicos I. São Paulo: Espaço Pedagógico, 1992.

GUIMARÃES, A. A. O coordenador pedagógico e a educação continuada. São Paulo: Loyola, 1998. PERRENOUD, P. 10 novas competências para ensinar. São Paulo: Artes Médicas, 2000.

SALVADOR (BA). Secretaria Municipal de Educação, Cultura, Esporte e Lazer. Coordenador pedagógico: caminhos, desafios e aprendizagens para a prática educativa. Salvador, 2012. SCARPA, R. Era assim, agora não...: uma proposta de formação de professores leigos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1998.

SCHÖN, D. A. Educando o profissional reflexivo. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.

ZABALZA, M. A. Diários de aula: um instrumento de pesquisa e desenvolvimento profissional. Porto Alegre: Artmed, 2004.

Registro da prática

No documento Educação em Rede - Vol.5 / Sesc (páginas 164-169)