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5.3 CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO DE TRABALHO

5.3.3 Ações em conjunto

Nesta categoria evidenciaram-se nas falas dos participantes elementos importantes de ações conjuntas que mostram características do processo de trabalho em equipe, tais como: à inclusão de novos membros garantindo fronteiras nítidas e flexíveis à equipe; comunicação aberta entre os membros, que possibilita à administração dos conflitos inerentes as relações humanas; senso de equipe, que evidencia o desejo do trabalho em conjunto, a maturidade pessoal e o equilíbrio profissional no desempenho das atividades; complementaridade na atuação profissional.

Em relação à inclusão de novos membros a ECP se mostra receptiva, principalmente na rotatividade bi-anual dos residentes e outros membros, que eventualmente venham a se inserir temporariamente (visitantes externos). Ao receber um novo membro a equipe mostra que está em constante movimento na sua composição e funcionamento, e que seus membros conseguem reviver com fequência processos de adaptação, evidenciando a dinamicidade de uma equipe de trabalho.

No começo estão acostumados (a ECP) com outro que acabou de sair, querendo ou não o jeito é diferente. Ninguém é do mesmo jeito, mas são bem flexíveis, te ajudam bastante, não tive nenhuma queixa deles. X Isso mostra que para o bom acolhimento e inclusão de profissionais médicos

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e não médicos a equipe se faz necessário um período de adaptação de ambas as partes para que este novo membro se adeque às regras do sistema, o que reforça a maleabilidade da equipe que se deixa modificar, evitando desta forma que não ocorra atrofias das relações e estagnação no funcionamento das tarefas. Aqui pode- se recorrer também ao conceito de fronteira, descrito por Minuchin (1982, p.59), já que a ECP estudada demonstra que no seu funcionamento apresenta fronteiras nítidas que são facilmente identificadas através das linhas de responsabilidade e autoridade de seus membros.

Porque no começo era um vínculo profissional, tu vai te adaptando a equipe, tu és o estranho na equipe, que já vem trabalhando junto há bastante tempo. No começo tu te achas um pouco estranho, um pouco perdido, mas a partir do momento que tu tais no dia a dia eu considero como um vínculo de amizade, um vínculo que até o trabalho melhora. X Um segundo aspecto da categoria de ações conjuntas é a comunicação

entre os membros da ECP que ocorre de forma respeitosa e com humildade,

mantendo o canal sempre aberto mesmo diante de divergências. Isso fica bem marcado nas falas dos participantes que reforçam que a comunicação é uma constante entre os membros da equipe, sendo essencial para a resolução de questões práticas do cotidiano profissional e pessoal.

...mas o mais importante que eu acho, é que a comunicação ela não é a única nesse momento de reunião, isso é o que faz a diferença, é o dia a dia, é a convivência dessa equipe, é o respeito, não aqui dentro mas lá fora, nas situações de enfrentamento que se tem. B

A gente é muito humilde pra poder chegar um pro outro e pedir uma opinião, pedi uma ajuda. D

São dez anos em que praticamente não teve conflito, não teve briga. Não que não tivesse havido... divergências, mas nunca teve nada sério. R

Percebe-se desta maneira que ocorre uma interação entre os membros da ECP através de práticas comunicativas, possibilitando uma ação conjunta em relação ao trabalho cotidianamente executado dentro de um projeto comum. Esta interação permite a intervenção ativa de cada profissional especializado na busca do entendimento e do reconhecimento recíproco de saberes e autonomias técnicas.

Na ECP estudada observa-se que a administração e resolução dos

autêntica é condição básica, o que facilita a superação dos mesmos. Isso porque, nesta equipe especificamente, os conflitos que emergem não são conotados negativamente relacionando-os apenas a briga, a violência ou a destruição, como se atribui na atualidade, mas ao contrário, são conotados como algo que faz parte da dinâmica interpessoal por maior que seja o entendimento entre seus membros.

É [...] as vezes é claro tem um ou outro que não tá no melhor dia e dá assim conflitos, eu acho que é normal em qualquer lugar, mas no geral no modo geral é bom. H

A gente discute muito em grupo. E assim é uma coisa muito boa. Toda vez que nós temos um problema, toda vez que nós vamos encarar o problema, nós nos sentamos e discutimos e resolvemos aquilo ali. K

A gente tem convivido com muito pouco conflito, que eu saiba há onze, dez anos pelo menos desde que a equipe está completa. São 10 anos em que praticamente não teve conflito, não teve briga. Não que não tivesse havido divergências, mas nunca teve nada sério, entendeu? O pessoal não percebe que a gente briga, é que a gente não briga mas nós temos divergências. R

A existência do senso de equipe por parte de seus membros aparece nos

depoimentos que evidenciam uma convivência diária intensa que permite a união, o compartilhamento de um mesmo ideal, o desenvolvimento de vínculos de amizade e o estabelecimento de laços profissionais sólidos.

Nós todos somos muito amigos, isso inclui todos. O pessoal que trabalha, a gente pode abordar o outro sobre outro ponto de vista. Sendo amigo de uma pessoa você pode fazer exigências, você pode dizer coisas que você não poderia dizer. Então acho que é isso aí ao mesmo tempo que cria, uma união que é bastante favorável. R

Aqui tu te sentes útil, embora tu tenhas as tuas tarefas, tu tenhas as tuas coisas, mas tu podes contribuir para um outro lado. As tuas decisões, as tuas sugestões elas são ouvidas, são discutidas e isso faz muita diferença para o profissional. S

É tudo é uma questão de ideal. Porque nós partilhamos um ideal. É tentar dar a esse paciente a melhor qualidade de vida possível, durante maior tempo possível, mesmo com as circunstâncias adversas. R

Segundo Scherer (2006, p.92) uma equipe que compartilha valores, escolhas comuns e procura no desenvolvimento do seu trabalho contribuir com eficácia na sua especialidade e assim atender as necessidades dos pacientes, garante segurança e confiança ao grupo como um todo. Na realidade se constrói uma co- responsabilização entre os profissionais, instituição e pacientes no processo de

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trabalho.

Um outro aspecto desta categoria de ações conjuntas é a forma de atuação

profissional na equipe, que para a maioria dos participantes, ocorre de forma

complementar, ou seja, seu trabalho se desenvolve com a ajuda das informações dos demais profissionais, e que dependendo da categoria profissional tem possibilidade de estar mais próximo e por mais tempo em contato com o paciente.

Eu acho que na verdade ela é complementar, cada um tem a sua tarefa. Mas todos tentam se ajudar, pq é muito difícil você cuidar do paciente paliativo isoladamente. O cuidado médico é técnico restrito. O cuidado da enfermagem é diário. O

Acho que é complementar, ... acho que sempre sou ouvida, que sou necessária, sou consultada, sou chamada. C

Ah eu acho que de subalternidade não, eu acho que complementa. P

Consequentemente a função de cada membro da equipe é percebida como um enriquecimento mútuo, com trocas reais nas quais todos dão e recebem ao mesmo tempo. Observa-se assim um duplo movimento por parte da equipe em que os profissionais reconhecem a complementaridade e procedem ativamente na articulação das ações. Isso gera ao mesmo tempo uma coesão da equipe bem como a individuação de cada um de seus membros.

Olha, de uma maneira bem conjunta, a gente sempre procura respeitar uns aos outros, isso que é o fundamento do próprio tratamento e do próprio atendimento que a gente faz. N

Apenas três integrantes entrevistados afirmam que sua atuação enquanto profissional em relação a equipe ocorre na alternância entre complementaridade e subalternidade.

Eu acho que é um pouco de cada.Tem horas que o médico toma a decisão, tem horas que tu complementa a equipe, tem hora que tu se sobrecarrega em atividades, acho que é um pouco de cada. H

Eu acho que as duas coisas às vezes. Às vezes nós complementamos aquilo que eles querem, mas a gente também, existe uma coisa de aceitar, de concordar. Q

De acordo com sequências acima podemos considerar a ECP como um sistema de relações que comporta necessidades individuais e exigências sociais de

seus membros. Desta forma a equipe é um sistema em constante transformação, uma unidade complexa que lida com diferentes processos interativos.