• Nenhum resultado encontrado

Na psicologia sistêmica encontramos muitos autores que discorrem sobre os papéis que diferentes grupos sociais desempenham na vida do homem moderno, e criam possibilidades de se fazer analogias entre eles. Dentre estes estão os grupos: familiares, religiosos, políticos, de trabalho, de estudo, etc.

Neste estudo, se enfatiza a equipe de trabalho, já que é considerado um grupo social no qual o homem moderno se insere para sua sobrevivência.

Uma equipe de trabalho pode ser considerada como um sistema que opera dentro de um contexto social específico e que geralmente apresenta três componentes fundamentais para o seu funcionamento: (1) a equipe é um grupo sócio-cultural aberto em transformação, (2) a equipe passa por um desenvolvimento e (3) a equipe se adapta a circunstâncias modificadas, de forma a manter a continuidade e a intensificar o crescimento psicossocial de cada membro. Desta forma para Minuchin (1982, p. 53) qualquer mudança que venha a ocorrer com os membros de uma equipe, se desloca dela para o indivíduo, ou seja, da unidade maior para uma unidade menor. E quanto maior flexibilidade e adaptabilidade for requerida dos membros da equipe, mais significativa se tornará esta equipe, como pilar constitutivo do desenvolvimento psicossocial de cada membro.

Podemos considerar que a equipe organiza as maneiras como os membros interagem, baseada num conjunto de exigências funcionais, visíveis ou não, e que opera através de padrões repetidos estabelecendo como, quando e com quem se relacionar. Estes padrões reforçam o funcionamento do sistema (equipe) e de certa maneira regulam o comportamento dos seus membros.

Minucchin (1982, p. 57) na descrição de funcionamento familiar descreve dois sistemas de repressão que mantêm os padrões transacionais num grupo social, que neste estudo pode ser transposto a uma equipe de trabalho: (1) um que envolve regras universais que governam a organização da equipe, por exemplo: a existência de uma hierarquia de poder e a complementaridade de funções; e (2) um segundo que envolve as expectativas mútuas de membros específicos da equipe inseridos nos anos de negociação, explícitas e implícitas no desempenho das tarefas cotidianas realizadas e cumpridas.

Assim a equipe se mantém ao longo do tempo, oferecendo resistência a alguma mudança que ultrapasse o limite dos padrões estabelecidos, ou que extrapolem o limiar de tolerância dos seus membros.

Sendo um sistema, a equipe se diferencia e leva a cabo suas funções através de outros subsistemas com os quais interage: Unidade Hospitalar – Complexo Oncológico – Direção Geral – Fahece – SES, bem como os subsistemas mais imediatos que são os pacientes e familiares, outros profissionais da Instituição, etc.

95

Isso mostra que cada membro da equipe pertence a diferentes subsistemas tendo diferentes níveis de poder o que possibilita o aprendizado de habilidades diferenciadas. Em cada subsistema que os membros da equipe ingressam, estabelecem diferentes relações complementares. E é nessa organização e interação com outros subsistemas que a equipe consegue trabalhar o processo de manutenção, se diferenciando enquanto grupo na Instituição e criando possibilidades aos seus membros de desenvolverem habilidades interpessoais em diferentes níveis.

É no estabelecimento de fronteiras específicas entre os demais serviços institucionais e principalmente entre os seus membros que a ECP nos seus quase 20 anos de existência interage com outros subsistemas. Segundo Minuchin (1982, p. 59) as fronteiras de um sistema são regras que definem quem participa e como isso acontece. Desta forma a equipe opera como um sistema tendo funções específicas fazendo assim, exigências específicas a seus membros.

O conceito de fronteira pode ser aqui transposto já que o trabalho em equipe possibilita o desenvolvimento de aspectos como compartilhamento, cooperação, comunicação, competitividade, articulação, etc. É importante que no funcionamento de uma equipe de trabalho as fronteiras se apresentem da forma mais nítida possível, para permitir linhas de responsabilidade e autoridade bem delineadas. Assim pode-se observar o tipo de interação estabelecida entre seus membros e constatar alguns aspectos como: sentimentos de lealdade, de pertencimento, capacidade de interdependência, de solicitação de apoio, de desenvolver padrões de complementaridade, de acomodação mútua.

De acordo com Andolfi (1984, p. 17) uma equipe de trabalho pode ser considerada um sistema relacional ativo assim como um grupo familiar, já que integra diversas modalidades interpretativas do comportamento humano. Além disso comporta necessidades individuais e exigências sociais de seus membros, sendo um sistema em constante transformação, uma unidade complexa que lida com diferentes processos interativos.

Andolfi (1984, p. 18) ao descrever o indivíduo e a família como dois sistemas em evolução, afirma que vários autores têm constatado uma progressão gradual no desenvolvimento psicológico do indivíduo de um estado de fusão/indiferenciação para um estado de separação e individuação cada vez maior, sendo determinado

pelos processos interativos que acontecem no interior de cada sistema. Desta forma uma equipe de trabalho funcionaria como um sistema/um espaço onde seus membros exercitariam os diferentes estados psicológicos de desenvolvimento que estão expostos para sua sobrevivência pessoal e profissional.

Segundo Andolfi (1984, p. 19) para atingir a diferenciação – para encontrar o espaço pessoal, a própria identidade – cada pessoa crescerá e se definirá através de trocas com outras pessoas. Ainda de acordo com o mesmo autor,

[...] na evolução de uma pessoa através de uma troca contínua de comportamento e informação, cada indivíduo, diferenciando-se, adquire uma identidade específica e funções únicas que evoluem com o passar do tempo. Essas funções, que os membros de um sistema implicitamente negociaram, permitem que o sistema se adapte a mudanças e deixe as relações se desenvolverem.

Desta forma a função de cada membro da equipe é percebida como um enriquecimento mútuo, como trocas reais nas quais todos dão e recebem ao mesmo tempo. Observa-se um processo duplo de estímulo a coesão da equipe bem como a individuação de cada membro.

A coesão grupal e a diferenciação na equipe é possível, graças aos mecanismos de diversificação e de estabilização descritos por Andolfi (1984, p. 22). Os primeiros são dirigidos ao aumento da variabilidade da interação, enquanto os últimos são dirigidos à consolidação e afirmação de soluções conhecidas.

A diferenciação na equipe se dá em decorrência dos papéis que cada membro exerce no grupo e está relacionada a hierarquia e as relações de poder existentes.