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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.2 MODELOS EDUCACIONAIS EMERGENTES

3.2.6 A Abordagem Construcionista

"Aprendemos melhor fazendo..." ".. .mas aprendemos ainda melhor, se além de fazermos falarmos e pensarmos sobre o que fizemos." Seymour Papert

Oriundo das visões construdvistas de Piaget e da matriz de enfoque social na construção do conhecimento de Vigotsky, o Construcionismo corresponde a um passo em frente, na medida em que para além do suporte destas visões, ou seja a construção activa do conhecimento pelos estudantes e da construção do conhecimento a partir do processo de interacção entre os indiví- duos e o seu contexto sócio-cultural-histórico, o Construcionismo propõe uma rela- ção/interacção dos estudantes com as ferramentas de aprendizagem, que tanto podem ser uma máquina, um software, um poema como uma canção ou uma história. Na perspectiva Constru- cionista a aprendizagem ocorre quando os estudantes se ocupam da construção de qualquer coisa (objectos, artefactos) cheia de significado para si próprios, surgindo o conhecimento da relação com essas mesmas coisas (FINO, 2004). Um bom exemplo que reflecte o interesse desta aborda- gem no processo de aprendizagem é a facilidade com que os jovens dominam variados jogos de computador, que contêm, a maior parte das vezes, estruturas extremamente complexas e exigen- tes.

Os princípios da Teoria Construcionista vêm sendo elaborados por Seymour Papert desde 0 final da década de 60 e correspondem a um novo processo de abordagem à construção do conhecimento através do computador. Basicamente podemos dizer que o Construcionismo se preocupa com dois aspectos importantes da aprendizagem, respectivamente o desenvolvimen- to/construção de matérias (artefactos, objectos) que permitam uma actividade reflexiva do estu-

10 Vide http://www.coe.missouri.edu/^isjs/

1 ' Center for Technology Innovations in Education na Universidade de Missouri 12 Vide http://srl.marc.gatech.edu

13 Vide http://www.covis.nwu.edu

dante e a criação dos ambientes em cujos contextos a aprendizagem acontece. A construção de materiais constitui um processo de aprendizagem activa em que o estudante é motivado a colocar as "mãos na massa", ou seja, permitindo ao estudante a possibilidade de experimentar, fazendo, o que por um lado favorece o interesse e a motivação do aluno e por outro lado facilita o necessá- rio processo reflexivo acerca daquilo que fez, construindo assim o seu próprio conhecimento.

No decorrer dos anos 70/80 Papert desenvolveu a linguagem de programação LOGO, de fácil compreensão e manipulação por crianças ou por pessoas leigas em computação, tendo, no entanto, o poder das linguagens de programação profissionais. Utilizando esta metodologia de ensino-aprendizagem baseada no computador, Papert pretendia gerar a interacção entre o estu- dante e a máquina, já não no sentido instrucionista, em que o computador servia para ensinar o estudante, mas agora dando a possibilidade ao estudante de "ensinar" a máquina. Ou seja, permi- tindo que o estudante construísse com o computador ambientes, eventos, objectos, percursos, etc.

Neste processo o estudante tem a oportunidade de desenvolver o ciclo que ficou conheci- do por descrição-execução-reflexão-depuração. Para que este ciclo aconteça é necessário o papel moderador/mediador do professor, que para além de conhecer a linguagem LOGO do ponto de vista computacional e pedagógico, deve proporcionar um ambiente capaz de fornecer conexões individuais e colectivas. Deve igualmente permitir ao aluno como ser social (pais, amigos, comu- nidade em geral), a possibilidade de utilizar todos esses recursos como fonte de ideias e de conhecimento, integrando-o no processo de resolução de problemas através do computador (VALENTE, 1993). O modelo que melhor descreve a forma como o mediador/professor deve actuar é-nos fornecido por Vigotsky, particularmente o seu conceito de Zona De Desenvolvimento

Proximal DZP), já estudado na secção 3.1.3.2 desta dissertação. Ou seja, o mediador/professor

deve observar o aluno para determinar o seu nível de desenvolvimento actual e o seu nível poten- cial de desenvolvimento e assim adequar a sua actuação às qualidades/capacidades do aluno.

Para além da linguagem de programação LOGO, têm sido desenvolvidos ao logo dos últimos anos numerosas experiências/estudos recorrendo a diferenciados ambientes de aprendi- zagem, nomeadamente sistemas de autoria e ferramentas colaborativas (CSILE e CoVIS) que têm permitido observar as potencialidades desta abordagem e a sua capacidade para desencadear a aprendizagem.

O Construcionismo Distribuído é proposto por Mitchel Resnick (1996) e deriva das propostas inicialmente apresentadas por Papert, acrescentando a estas propostas os conceitos ligados à já estudada Teoria da Cognição Distribuída (em 3.2.5) que defende que o conhecimento

e o saber dos indivíduos não é um acto isolado, mas construído a partir da relação entre todos os componentes do meio envolvente. O sentido da investigação de Resnick e dos seus colaborado- res coloca o ênfase na realização de actividades baseadas nas potencialidades das redes de compu- tadores não no sentido tradicional, de procurar ou facultar informação na rede, mas antes em actividades que permitam a construção de conhecimento (artefactos digitais, projectos, etc.) (RESNICK, 1996).

Resnick afirma ainda que diferentes estudos têm provado que as redes de computador faci- litam o desenvolvimento de Comunidades de Construção de Conhecimento {knowledge-building

communities) enquanto o Construcionismo distribuído reivindica a ideia de que estas comunidades

se formam e crescem através de actividades colaborativas que não só partilhem informação mas que se dediquem também à construção de artefactos significativos. Neste sentido o investigador categoriza três tipos de construção distribuída:

• Construções Discutidas. A maneira mais simples de utilizar as redes de compu- tador, numa perspectiva construcionista pode ser, por exemplo, criando fóruns de discussão sobre a construção de determinadas actividades. Ou então utilizar chats , correio electrónico, newsgroups, etc. Estas estratégias são úteis na medida em que sempre se pode trocar ideias, aperfeiçoar as suas ou contribuir para o aperfeiçoa- mento das dos outros; É uma estratégia já bastante vulgar na Web;

• Construções Partilhadas. A ideia base destas construções é poder partilhar deter- minadas construções com outras pessoas. Eventualmente reutilizar, a parte ou o todo, e expandir essa mesma construção. Um bom exemplo é a possibilidade de construir um sítio na Web que possibilite a actualização, alteração ou adaptação dos dados por outros elementos da comunidade, o que necessariamente acarreta uma melhoria significativa dos projectos, quanto mais não seja pelo incentivo decorren- te do facto de o projecto poder ser elogiado ou criticado;

• Construções Colaborativas. Os sistemas em rede podem considerar-se como os mais avançados em termos de Aprendizagem Colaborativa/Construcionismo Dis- tribuído quando é possível colaborar directamente e em tempo real na construção de projectos. Dificilmente se poderá conseguir um ambiente de construção do saber que corresponda a tantos domínios e com tanta eficácia. Um dos exemplos mais conhecidos é o desenvolvimento colaborativo de software e hardware. O sen- tido de interacção social e a noção de comunidade de construção atinge aqui o seu máximo esplendor.

O Construcionismo Social embora não esteja directamente relacionado com os contex­ tos educativos, que no âmbito desta dissertação mais nos interessam abordar, não poderia, no entanto, deixar de ser aqui referido, ainda que brevemente, já que as suas implicações teóricas estão directamente relacionadas, não só com uma concepção alargada da ciência contemporânea, como também com o processo de construção de conhecimento, este sim directamente ligado à educação.

O Construcionismo Social corresponde a um movimento no âmbito da psicologia, que tem como um dos principais impulsionadores Kenneth Gergen. Em dois artigos, hoje célebres {Social

Psychology as History, de 1973 e The Social Constructionist Movement in Modem Psychology, de 1985), Ger­

gen traçou os fundamentos que constituem o referencial teórico desta abordagem da psicologia social. Para o investigador o Construcionismo é uma forma de investigação social que "(••■) se preocupa principalmente em explicar os processos pelos quais as pessoas descrevem, explicam ou dão conta do mundo (incluindo elas mesmas) no qual elas vivem" (GERGEN, 1985, p.266). O Construcionismo Social corresponde à ideia de que ao invés de descobrir uma realidade objectiva e independente, o ser humano constrói o conhecimento através das suas interacções sociais, ou seja, que não existe realidade objectiva a ser estudada. Os seres humanos constroem activamente teorias a respeito do funcionamento do mundo, sempre através da interacção social (CASTA­ N O N , 2004).