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ESTUDO DE CAMPO E ANÁLISE DE RESULTADOS

5.1 METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO

5.1.1 Investigação-Acção

"Investigação-acção é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma acção ou com a resolução de um problema colectivo e no qual os investigadores e os participantes representativos da situação ou problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo." Michel Thiollent

A Investigação-Acção (I-A) está voltada para a resolução de problemas da vida real e em que os investigadores geralmente participam directamente nos problemas investigados. Este pro- cesso exige uma relação de confiança e de entrosamento entre os investigadores e as pessoas intervenientes na acção investigada.

A I-A é uma metodologia de pesquisa activa que impõe "que as pessoas implicadas tenham algo a dizer e a fazer. Não se trata de um simples levantamento de dados ou de relatórios a serem arquivados. Com a I-A os investigadores pretendem desempenhar um papel activo na própria realidade dos factos observados" (THIOLLENT, 2002) e muitas vezes contribuir para a própria alteração dessa mesma realidade. A I-A consiste na recolha de informações sistemáticas com o objectivo de promover mudanças sociais e em que o investigar se envolve activamente na causa da investigação (BOGDAN & BIKLEN, 1994).

A atitude dos investigadores deve ser de "escuta" e de elucidação dos vários aspectos da situação, sem que deva existir, no entanto, qualquer imposição das suas concepções próprias (THIOLLENT, 2002).

Não sendo muito habitual, ou até impossível, como pensam alguns autores, a formulação de hipóteses neste tipo de investigação, THIOLLENT (2002) refere que em sua substituição devem existir instruções ou directrizes (quase-hipóteses) relativas ao modo de encarar os proble- mas identificados na situação investigada. "A formulação de hipóteses (ou quase-hipóteses) per-

mite ao investigador organizar o raciocínio estabelecendo «pontes» entre as ideias gerais e as comprovações por meio da observação directa".

Um problema que geralmente se aplica a este tipo de investigação é que nem sempre é possível generalizar os resultados da investigação, na medida em que no processo é dado um grande espaço aos raciocínios informais, aproximativos e argumentativos, o que não se presta facilmente à formalização e ao controle lógico. Em muitas situações, como a da presente investi- gação, a generalização dificilmente pode ser superior à da situação efectivamente investigada. No entanto, como nos refere THIOLLENT (2002), "uma generalização pode ser progressivamente elaborada a partir da discussão dos resultados de várias pesquisas organizadas em locais ou situa- ções diferentes."

Muitas vezes se questiona se a I-A realmente contribui para a produção de conhecimento. O que podemos dizer é que qualquer que seja a investigação, nem sempre se conseguem produzir conhecimentos novos, quantas vezes estudos de carácter quantitativo não nos fornecem dados e nos dão respostas que toda a gente já conhecia?

Para os investigadores da I-A a objectividade cientifica significa ser honesto, recolher os dados na fonte e obter as perspectivas de todas as partes envolvidas nas questões (BOGDAN & BIKLEN, 1994).

Entre os objectivos de conhecimento potencialmente alcançáveis em I-A temos segundo THIOLLENT (2002) os seguintes:

• A recolha de informação original acerca de situações ou de actores em movimento; • A concretização de conhecimentos teóricos, obtida de modo dialogado na relação

entre pesquisadores e membros representativos das situações ou problemas inves- tigados;

• A produção de guias ou regras práticas para resolver os problemas e planear as cor- respondentes acções;

• Possíveis generalizações estabelecidas a partir de várias pesquisas semelhantes e com o aprimoramento da experiência dos investigadores.

BOGDAN & BIKLEN (1994) levantam algumas questões que normalmente se colocam à investigação qualitativa e que vêm de encontro a algumas das coisas que temos dito até aqui. No âmbito deste estudo e não querendo ser muito exaustivos acerca desta matéria, vamos apenas sintetizar aquelas que nos parecem mais pertinentes para o nosso estudo.

• Será que a abordagem qualitativa é verdadeiramente cientifica? Existem autores que apenas consideram científica a investigação dedutiva e de teste de hipóteses, no entanto,

aquilo que se considera investigação científica implica um escrutínio empírico e sis- temático que se baseia em dados — A investigação qualitativa preenche esses requi- sitos.

• Será que os resultados qualitativos são generalizáveis? Considera-se que uma investigação é

generalizável quando os resultados obtidos são susceptíveis de ser aplicados a outras situações ou pessoas, obtendo-se resultados semelhantes. Existem dois tipos de investigadores qualitativos, aqueles que se preocupam com a generalização e os que não se preocupam. Os que se preocupam fazem questão de explicitá-lo, baseando-se no seu e em outros estudos semelhantes que dêem representatividade ao que encontraram. Os que não se preocupam podem não estar interessados em que o seu estudo, por exemplo realizado com uma determinada turma, seja genera- lizado a outras turmas, tudo depende dos objectivos da investigação.

• E os efeitos nos dados das opiniões, preconceitos e outros enviesamentos do investigador? A difi-

culdade que muitos autores têm em aceitar que os investigadores qualitativos não influenciam o assunto ou as pessoas investigadas, reside no facto de existirem grandes riscos de subjectividade em todo o processo. No entanto essa subjectivi- dade é desmentida pelo facto de a investigação utilizar metodologias que minimi- zam esse risco. A investigação qualitativa não é feita de um momento para o outro, bem pelo contrário exige muitas horas de observação directa e análise de múltiplos dados. Estes dados contêm em si o peso de uma determinada interpretação e natu- ralmente o investigador terá que confrontar as suas opiniões próprias, e eventual- mente preconceitos, com os dados recolhidos. O detalhe dos dados recolhidos proporciona uma descrição muito mais detalhada dos acontecimentos do que aque- la que uma mente preconceituosa poderia criar, antes de o estudo ser efectuado.

• Será que a presença do investigador não vai modificar o comportamento das pessoas que pretende

estudar? Sim, isso é quase inevitável em qualquer investigação. O que o investigador

qualitativo pode fazer é procurar formas de minimizar aquilo que é designado de "efeito do observador". Para isso tenta interagir com os sujeitos de forma natural, não intrusiva e não ameaçadora, em suma, tenta anular o peso da sua presença criando uma boa relação interpessoal com os sujeitos da investigação.