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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.2 MODELOS EDUCACIONAIS EMERGENTES

3.2.4 Aprendizagem Baseada em Problemas

Todos os dias somos confrontados com problemas diversos que teremos necessariamente de resolver. Utilizamos para a sua resolução diversas estratégias umas vezes bem-sucedidas outras nem tanto. Todo este vasto campo de interacção com as coisas do mundo constitui um patrimó- nio a que chamamos conhecimento, que não é estável, mas antes está em contínua reconstrução e que vamos aplicando nas diferentes situações com que somos confrontados na vida quotidiana. A escola como centro fundamental de aprendizagens deveria preparar-nos para este confronto com os problemas do mundo, no entanto, não é isto que a maior parte das vezes a escola proporciona aos seus alunos. Em grande medida os currículos para além de fazerem um grande apelo à memorização, preconizam modelos de aprendizagem baseados em conceitos que não são devi- damente enquadrados no seu contexto. Ou seja, os alunos são forçados a memorizar muitos con- ceitos abstractos para os quais não vêem mais nenhuma utilidade que não seja obter uma boa classificação numa qualquer prova. Ora a Aprendizagem Baseada em Problemas, conhecida internacionalmente por Problem-Based Learning (PBL) não sendo uma teoria educacional propria- mente dita, mas mais um conceito/estratégia educacional configurada num currículo baseado na resolução de problemas concretos, pretende acabar com o conhecido desfasamento metodológi- co existente entre a forma como se aprende na escola tradicional e a forma como se aprende na vida real. A PBL teve origem na década de 80, no ensino médico da Universidade de McMaster - Canadá, sob a direcção de Howard Barrows, tendo até hoje sido elaborados estudos em diversas áreas do conhecimento e envolvendo diferentes universidades do mundo inteiro. A PBL corres- ponde a "uma situação onde o problema é central e a aprendizagem é promovida e desenvolvida durante o processo de investigação e resolução desse problema" (TORP & SAGE, 1998). Neste modelo de aprendizagem o estudante deve assumir um papel activo sendo colocado perante situações muito próximas daquelas com que as pessoas se deparam na vida real. Segundo TORP & SAGE (1998) a Aprendizagem Baseada em Problemas inclui três características principais:

• Compromete activamente os estudantes colocando-os perante uma situação problemáti- ca;

• Organiza o currículo em torno de problemas holísticos que geram nos estudantes apren- dizagens significativas e integradas;

• Cria um ambiente de aprendizagem em que o professor motiva os estudantes a pensar por si próprios enquanto os guiam no seu processo de investigação, permitindo-lhes assim, alcançar níveis mais profundos de compreensão.

Uma das primeiras preocupações de quem quer implementar a PBL passa pela necessidade de formular situações-problema que favoreçam e motivem o envolvimento dos estudantes. Segundo os diversos investigadores da PBL a situação-problema deve ser não-estruturada (ill-

structured) e complexa para permitir que os alunos se envolvam, procurando a informação, selec-

cionando o que é ou não importante. Não existe uma fórmula específica na condução da investi- gação, cada problema é único e pode ser alterado à medida que diferente informação é encontra- da. Neste processo o estudante toma decisões e cria soluções que podem ou não corresponder a uma única e verdadeira resposta.

Segundo Barrows referido por DELISLE (2000), todo este processo que vai da situação, ao desenvolvimento e à resolução dos problemas passa pelas seguintes fases:

• Os docentes reúnem-se e discutem situações problemáticas que ofereçam possibilidades de aprendizagem, e, ao mesmo tempo, correspondam às características e às necessidades dos alunos e que possam também despertar o seu interesse;

• A situação-problema é apresentada ao aluno do mesmo modo como se apresentaria na realidade;

• O aluno trabalha com o problema de modo a permitir que a sua capacidade de raciocínio e de aplicação do conhecimento possam ser desafiados e avaliados, de acordo com o seu nível de aprendizagem;

• As áreas necessárias à aprendizagem são identificadas durante o processo de trabalho com o problema e utilizadas como guias no estudo individual;

• As competências e conhecimentos adquiridos através deste estudo são aplicados ao pro- blema, para avaliar a eficácia da aprendizagem e para a reforçar;

• A aprendizagem que ocorreu no trabalho com o problema e no estudo individualizado é resumida e integrada no saber e nas competências dominadas pelo aluno.

Tendo por base tudo o que se tem dito acerca da Aprendizagem Baseada em Problemas, talvez esta constitua o ambiente que mais claramente se enquadra no paradigma construtivista de aprendizagem, abordado na secção 3.1.3, e talvez seja uma das metodologias que potencialmente melhor pode preparar os alunos para os requisitos e os desafios do nosso tempo, nomeadamente a capacidade de raciocínio, de pesquisa e de resolução de problemas que um mundo em acelerada transformação exige.

São vários os benefícios ou as vantagens da utilização da Aprendizagem Baseada em Pro- blemas, sendo que todos de alguma forma partem de um mesmo princípio essencial quando se trata de transferir algum tipo de conhecimento - a motivação. "Os estudantes comprometem-se e investigam mais profundamente quando depositam um interesse pessoal no resultado da sua indagação" (TORP & SAGE, 1998), assim como se esforçam mais por compreender e recordar quando conseguem ver relações entre a matéria que estudam e as suas próprias vivências DELISLE (2000). Temos assim dois factores importantíssimos no uso da PBL, a motivação dos estudantes e a relação directa entre aquilo que se aprende e a vida real. Mas existem outros facto- res importantes na utilização da PBL, como o desenvolvimento do pensamento crítico e criativo e a participação activa e empenhada na resolução de problemas concretos - o estudante coloca-se no papel do especialista e o professor é o mediador essencial que estrutura e orienta a aprendiza- gem dos alunos.

Por fim, outras duas mais-valias da utilização da PBL em contexto educativo residem no facto desta favorecer o ensino cooperativo e interdisciplinar (focos principais que deram origem a este estudo). A PBL é naturalmente um processo que se desenvolve em grupo de trabalho, onde todos aprendem com todos e actuam em conjunto na resolução dos problemas que são coloca- dos, assim como a necessária transversalidade dos problemas propostos ultrapassa as fronteiras estabelecidas pelas disciplinas.