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Capítulo 2.  Enquadramento 6 

2.5  A Acessibilidade web 2.0 31 

Já passaram dez anos desde que as primeiras directivas para a acessibilidade do conteúdo web foram criadas pelo W3C, no decorrer destes dez anos notou-se que a acessibilidade, mesmo em marcha lenta, se foi infiltrando no modo como os “criadores web” desempenhavam os seus trabalhos (ex: criação de sítios web), proporcionando assim mais acessibilidade a todos os seus consumidores.

Entretanto apareceu no domínio da web um novo conceito denominado web 2.0, também designado por web Social. Segundo Sabino (Sabino, J., 2007), este novo conceito pode ser associado ao conceito de redes sociais19, onde predominam as Wikies20 e Folksonomies21, ou seja, a web 2.0 demarca uma nova era no que respeita ao modo como os utilizadores interagem com a internet, visto que esta passou a ser um meio para trocarem opiniões e depositarem o seu contributo informativo, de modo que em colaboração com outros utilizadores possam aumentar a enciclopédia de conhecimento que é a web.

A web 2.0 além de alterar o modo de interacção dos seus utilizadores para com ela, alterou também o modo como estes comunicam e interagem entre si. A web 2.0 é usada por estes como um meio de comunicação, uma plataforma de socialização, um fórum de discussão, uma plataforma de negócio e um repositório para enciclopédias e outras fontes de conhecimento (Vossen, G., & Hagemann, S., 2007). A web 2.0, ao reforçar o conceito de socialização entre os seus utilizadores, criou uma nova classe online de indivíduos que querem partilhar as suas opiniões através de blogs e/ou através de redes comunitárias online como por exemplo MySpace, YouTube, Facebook e LinkedIn (Nations, U., 2008). Estas redes comunitárias e estes blogs são considerados as ferramentas da web 2.0 (Carla, C., & João, J., 2007).

Por definição segundo O’Reilly (O'Reilly, T., 2005), responsável pela introdução do conceito web 2.0, a web 2.0 é a segunda geração de serviços online, caracterizada por potencializar as formas de publicação, partilha e organização de informações, além de ampliar os espaços para a interacção entre os participantes do processo. A web 2.0 é a mudança para uma Internet como plataforma, e um entendimento das regras para obter sucesso nesta nova plataforma. Entre outras, a regra mais

19 Trata-se, fundamentalmente, da partilha na Web de ideias entre pessoas que possuem valores, interesses e

objectivos em comum.

20 São espaços de escrita livre, ex: Wikipedia.

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importante é desenvolver aplicativos que aproveitem os efeitos da rede para se tornarem melhores quanto mais são usados pelas pessoas, aproveitando a inteligência colectiva (O'Reilly, T., 2005).

No entanto, não é fácil definir o conceito de web 2.0 pois não existe o consenso de toda a comunidade científica. Alguns consideram que o termo é apenas um efeito de marketing. O que é argumentado é que a web é uma só, e é apoiada a posição do criador da web Tim Berners-Lee: aquilo a que chamam web 2.0, nada mais é que o resultado do desenvolvimento tecnológico que facilitou as condições de acesso e a capacidade de produção de conteúdos por parte dos utilizadores da web (Anderson, P., 2007), ou seja, na opinião do criador da web, o conceito web 2.0 é em tudo semelhante ao da web 1.0, visto que o objectivo inicial desta também era a ligação pessoa a pessoa, o que vai ao encontro da referência a blogs e a wikis da web 2.0. Além deste facto, usar a web 2.0, é usar as normas que têm vindo a ser produzidas pelas pessoas que trabalham na web 1.0. (Anderson, N., 2006).

Segundo O'Reilly (O'Reilly, T., 2006), a web 1.0 de Tim Berners-Lee é um dos sistemas mais “web 2.0” que existem – ela mobiliza o poder da contribuição dos utilizadores, da inteligência colectiva e dos efeitos da interligação em redes.

O conceito acessibilidade 2.0 foi criado para impulsionar uma mudança necessária no modo como a acessibilidade estava a ser encarada e teve origem aquando do aparecimento da web 2.0. Todos os conceitos relacionados com a web 2.0 (por ex: “School 2.0”, “E-Learning 2.0”, “Library 2.0”, etc.) têm como objectivo comunicar uma mudança nos temas que abordam. Segundo Kelly (Kelly, B., Petrie, H., Sloan, D., Lauke, P., Brown, S., Ball, S., et al, 2007), é possível descrever a acessibilidade 2.0 como:

 Focalização no utilizador: Dar ênfase aos utilizadores, procurando satisfazer todas as suas necessidades sem seguir linearmente as directivas da acessibilidade;

 Óptimo conjunto de intervenientes: Ter como prioridade o relacionamento entre os diversos intervenientes no processo de criação do conteúdo, contrariando assim o modo de operar da acessibilidade 1.0, onde as abordagens estavam somente direccionadas para o criador do conteúdo;

 Sustentabilidade: Privilegiar a existência de serviços acessíveis sustentáveis;

 Sempre beta: Contrariar a ideia de que a solução perfeita não existe, tentando realizar processos contínuos de procura para atingir esse ideal de solução;

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 Flexibilidade: Preferir uma solução suficientemente boa em vez de uma que seja idealmente perfeita em termos técnicos;

 Diversidade: Ter consciência da necessidade de soluções diversificadas (muitas vezes fruto da junção de outras soluções) para permitir satisfazer as necessidades de todos utilizadores;  Acessibilidade como um bazar e não como uma catedral: Segundo Raymond (Raymond, E.,

1998), se igualarmos a 1ª versão da acessibilidade a uma catedral e a 2ª versão a um bazar conseguimos facilmente perceber quais as diferenças que entre elas existem. Para tal ser possível, é necessário ter em conta que uma catedral é uma estrutura rígida e complexa em termos de funcionamento, ao contrário do bazar, que é uma estrutura mais dinâmica, mais simples e de funcionamento mais flexível. Tendo em conta as definições anteriores, podemos descrever a 1ª versão da acessibilidade como complexa e de desenvolvimentos lentos, comparados com a velocidade com que as novas tecnologias emergem no mercado. No caso da 2ª versão da acessibilidade, podemos descrevê-la como possuidora de desenvolvimentos e soluções mais rápidas, dado que os seus processos de criação de conteúdo têm por base abordagens colaborativas, o que se torna numa vantagem para os utilizadores dos sistemas que dela usufruam.

O aparecimento da web 2.0 e da acessibilidade 2.0 permitiu encontrar as falhas que existiam nas directivas da acessibilidade. Após o reconhecimento das mesmas, o consórcio W3C levou a cabo uma investigação contínua de onde surgiu a versão 2.0 das directivas, cujo ponto fulcral é a independência em relação às tecnologias (Kelly, B., Petrie, H., Sloan, D., Lauke, P., Brown, S., Ball, S., et al, 2007). A web 2.0 é o novo paradigma da web que engloba várias ferramentas que permitem que o utilizador crie o seu próprio espaço na web, facilita a publicação, partilha e organização de informações, e cria espaços para a interacção entre vários participantes.