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5. ADOÇÃO INTERNACIONAL NO DIREITO BRASILEIRO

5.2 Breve Evolução Legislativa da adoção de menores no direito brasileiro

5.2.1 A adoção internacional no Código de Menores de 1979

O Código Civil Brasileiro não continha qualquer norma sobre adoção internacional. Estrangeiros podiam vir ao Brasil, ou fazer-se representar por procuradores, para assinar a escritura pela qual se operacionalizava a adoção, que era concretizada por meio de averbação no registro do nascimento do adotado. Após esta simples operação os adotantes podiam levar seus filhos ao exterior. 78 Este era o entendimento da doutrina:

“Não existe proibição legal quanto à adoção de brasileiro por estrangeiro ainda que residente ou domiciliado fora do país. Em se tratando de adotando que possui pais, isto é, que está sob pátrio poder, as normas a serem obedecidas são as estabelecidas no Código Civil, ficando dispensada, mesmo, a supervisão da autoridade judiciária brasileira, sendo que tanto a adotante como o adotado podem

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PEREIRA, Tânia da Silva. Adoção no Brasil após a Constituição Federal de 1988 e as novas perspectivas par

adoção internacional. Revista da Faculdade de Direito da UERJ, Rio de Janeiro, nº 2, p. 417 - 431, edição comemorativa dos 60 anos. 1994.p. 419

77 Loc. Cit.

ser representados por procuradores devidamente habilitados no ato da lavratura pública da adoção.”79

Ratificando esta postura, o acórdão proferido no julgamento do Recurso de Instrumento nº 7.783, em 3 de dezembro de 1987 - relator o Desembargador Evaristo dos Santos - concluiu que inexistia preferência em favor de adotantes brasileiros, que o estrangeiro poderia adotar menor em situação irregular, bem como aquele sob pátrio poder, sendo que, na primeira hipótese, necessária autorização judicial: 80

Adoção – Menor sob pátrio poder e em situação de abandono – pedido formulado por casal estrangeiro residente no Exterior – Admissibilidade ainda que com preterição de casais nacionais interessados.

O Código de Menores previa limitações à adoção por estrangeiro, o qual, de acordo com o art 20, só poderia pleitear adoção da modalidade simples e caso o adotado se encontrasse em situação irregular não eventual, ou seja privado de condições essenciais à sua subsistência, saúde e instrução obrigatória, ainda que eventualmente, em razão de falta ou omissão dos pais ou responsável, conforme especificado no art 2, I, a. Desta forma a facilidade que os estrangeiros podiam adotar no regime do Código Civil foi parcialmente cerceado pelo Código de Menores. 81Contrariando esta posição, Maria Cláudia Brauner entende que a acessiva permissibilidade da lei civil não foi revogada pelo Código de Menores, em cujo regime continuou uma prática desordenada desse tipo de adoção, que resultou e abusos de toda sorte.82

Para Maria Cláudia Brauner83, foi possível constatar que, com a entrada em vigor do Código de Menores, houve uma coexistência entre adoção prevista pelo Código Civil e a adoção plena e a adoção simples, prevista pelo Código de Menores. Desta forma, os candidatos estrangeiros interessados em adotar uma criança brasileira podiam escolher entre a adoção pelo Código Civil, mais fácil e rápida, sem intervenção do Poder Judiciário, e a adoção simples de menor em situação irregular, permitida aos estrangeiros pelo Código de Menores,

79 SANTOS, Evaristo, Revista dos Tribunais, vol.626, p.38

80MACHADO, Antônio Luiz Ribeiro. O Instituto da Adoção segundo o Código Civil e o Código de Menores. Justitia. São Paulo, v.46, p. 109-124,1989.

81 DOLINER, Jacob Op. Cit.p. 495

82 BRAUNER, Maria Cláudia Crespo. Problemas e perspectivas da adoção internacional em face do Estatuto da

Criança e do Adolescente. Revista de Informação Legislativa, Brasília, ano 31, nº 122, p. 169-181, abr/jun.1994 p. 175

mediante intervenção do Poder Judiciário. A adoção do menor em situação irregular exigia um processo mais longo pois além das condições requeridas pelo candidato, era necessário um estágio de convivência com a criança, com duração determinada pela autoridade judiciária.

Nos casos em que o adotado ainda não tivesse um ano, o estágio poderia ser dispensado ou poderia ser cumprido no exterior, desde que houvesse um acompanhamento por uma instituição especializada, de idoneidade reconhecida por organismo internacional (art.28, par. 1ºe 2º e art. 108, par. único)

Pelo Código de Menores, a adoção internacional foi organizada de forma expressa pelo legislador, visando estabelecer um controle pelas autoridades judiciárias desde a etapa de seleção dos candidatos à adoção, até depois d consumada a adoção. Os vínculos entre a criança e a sua família biológica não eram completamente rompidos a fim de possibilitar o retorno da criança, em caso de insucesso da adoção. A criança mantinha seu registro de nascimento de origem.84

Apesar da maior formalização da adoção internacional, a maior parte delas era realizada através de simples lavratura em cartório. Dessa forma, em motivado pela a excessiva permissibilidade da lei civil, que não foi revogada pelo Código de Menores, houve vários casos de abusos, resultando em muitos casos de ilegalidade.85

A lei nº 6.697/79, intitulada como Código de Menores, inovou ao criar duas espécies de adoção: a simples e a plena. A simples, prevista no Código Civil, se aplicava ao menor em situação irregular e dependia de autorização judicial, mas era realizada através de alvará e escritura, que serviria de averbação no registro de nascimento do menor. Já a adoção plena atribuía a situação de filho ao adotado, desligando-o de qualquer vínculo com os parentes, salvo os impedimentos matrimoniais. Sua aplicação era restrita aos menores era restrita aos menores de até 7 anos de idade, que também se encontrassem em situação irregular. Somente em casos excepcionais cabia em favor de menor com mais de sete anos se, à época em que completou esta idade, já estivesse sob guarda dos adotantes. Estavam aptos para requerer adoção plena os casais com mais de cinco anos de casados e desde que os conjugues tivessm mais de 30 anos. A sentença constitutiva da adoção plena tinha efeito constitutivo e era

84 BRAUNER, Maria Cláudia Crespo. Op. Cit. p. 175 85 MACHADO, Antônio Luiz Ribeiro. Op. Cit. p.37

inscrita no Registro civil mediante mandato, do qual se fornecia certidão, cancelando-se o registro original do menor. A adoção plena tinha caráter irrevogável.