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6. ADOÇÃO NO DIREITO COMPARADO

6.4. Procedimento e legislação em Portugal

A Constituição da República Portuguesa, promulgada em 1976, sua revisão em 1982, o Código Civil de 1966 e sua reforma de 1977 e os Decretos-Lei nº 185/93 e 120/98 são o marco de evolução em Portugal, contrastando com o antigo Código de SEABRA de 1867. 145

Os nº 4 do art. 36 da Constituição da República Portuguesa dispõe que:

145 GARCIA, Jamila Samantha Jakubowsky. Adoção Internacional: análise crítica da legislação e jurisprudência

brasileira e portuguesa. Universidade de Coimbra, Faculdade de Direito, Mestrado em Ciências Políticas. Coibra, 2005.p.24

Os filhos nascidos fora do casamento não podem,por esse motivo, ser objeto de qualquer discriminação e a lei ou as repartições oficiais não podem usar designações discriminatórias relativas à adoção.

Segundo o art. 1977, do Código Civil Português, existem duas espécies de adoção: 1.Adoção é plena ou restrita, consoante a extensão dos seus efeitos.

2..A adoção restrita pode a todo o tempo, a requerimento dos adotantes, ser convertida em adoção plena, desde que se verifiquem os requisitos para este ser exigido

Nos ateremos ao estudo da adoção plena, mais semelhante à espécie de adoção regulada pelo nosso ordenamento jurídico.

6.4.1. Requisitos do adotante

São exigidos certos requisitos para se tornar candidato à esta espécie de adoção. Conforme art 1979, nº1 do CC e art 7º/2001, os adotantes devem ser pessoas casadas há mais de 4 anos e não separadas judicialmente de pessoas e bens ou de fato ou pessoas que vivam em união estável há mais de 4 anos, se ambas tiverem mais de 25 anos.

Pode ainda, adotar quem tiver mais de 30 anos ou, se o adotante for filho do cônjuge d adotante, mais de 25 anos (art. 1979 nº 2 do CC). Só pode adotar quem não tiver mais de 60 anos à data em que o menor lhe tenha sido confiado, sendo que a partir dos 50 anos a diferença de idades será superior a 50 anos quando forem invocados motivos que o justifiquem (art. 1979, nº 3 e 4 do CC).

O art 7º da lei nº 7/2001 prevê que duas pessoas de sexo diferente que vivam em união de fato há mais de dois anos, desde que tenham ambas mais de 30 anos de idade. Se o adotando for filho do companheiro ou companheira do adotante, pode este adotar se tiver mais de 25 anos.

O tutor ou administrador dos bens do adotando também pode se candidatar à adoção plena, desde que já tenham sido aprovadas as contas ou liquidada a administração dos bens, saldada a responsabilidade respectiva (art. 1976 do CC).

6.4.2 Requisitos do adotado

Podem ser adotados os menores filhos do cônjuge de se quem quer adotar (art 1980º, nº1 do CC), são adotáveis também aqueles que tenham sido confiados judicial ou administrativamente a quem quer adotar (art.1980, nº1 do CC). O menor a adotar deve ter menos de 15 anos à data da entrada do processo do tribunal. Pode, no entanto, ser adotado quem nessa data tenha menos que 18 anos, não for emancipado, quando desde idade não superior a 15 anos tenha sido confiado a quem o quer adotar ou quando o filho do cônjuge de quem o quer adotar (art. 1980º, nº 2 do CC).

6.4.3. Processo

A adoção é constituída mediante sentença judicial, sendo o processo instituído por inquérito, onde são avaliadas as condições pessoais do adotante e do adotado e verificadas as reais condições de o adotado criar e educar o menor. Assim como a maioria dos sistemas jurídicos a adoção somente será decretada quando apresentar vantagem para o adotando e não envolver sacrifícios para os outros filhos do adotante (se houverem), fundando-se em motivos legítimos (1.974,I).146

Portugal, assim como o Brasil, ratificou a Convenção de Haia de 1993 e portanto, esta Convenção entrou em vigor em Portugal em julho de 2004. Assim, em Portugal, semelhante ao CEJAs brasileiros, existe uma Autoridade Central para realizar a verificação de aptidão dos interessados em adotar. Portanto, tal autoridade restou designada à Direção Geral da Segurança Social e à ela são atribuídas as obrigações decorrentes da mencionada Convenção, bem como proceder a certificação de que a adoção foi feita de acordo com as noras vigentes na mesma.

Além do trâmite da verificação de aptidão dos interessados, nos termos do Decreto-lei nº185/93, art. 8, nº1, o candidato a adotante “só pode tomar menor a seu cargo, com vista a futura adoção, mediante confiança judicial ou administrativa”.

Desta forma, após aprovada a candidatura do adotante, a Direção Geral de Segurança Social pode confiar ao menor candidato a adoção ou pode confirmar a permanência do menor a seu cargo, através de processo de confiança administrativa. Esta confiança também poderá ser decidida pelo Tribunal, conforme os casos previstos no artigo 1978, alínea1 do Código Civil Português.

Art. 1978 Confiança com vista a futura adoção, o tribunal pode confiar o menor a casal, pessoa singular ou a instituição quando não existam ou se encontrem seriamente comprometidos os vínculos afetivos próprios da filiação, para verificação objetiva de qualquer das seguintes situações.

se o menor for filho de pais incógnitos ou falecidos; a).se tiver havido consentimento prévio para adoção; b).se os pais tiverem abandonado o menor;

c).se os pás, por ação ou omissão, mesmo que por manifesta incapacidade devida a razões de doença mental, puserem em perigo grave a segurança, a saúde, a formação, a educação ou o desenvolvimento do menor;

d.)se os pais do menor acolhido por um particular ou por uma instituição tiverem revelado manifesto desinteresse pelo filho, em termos de comprometer seriamente a qualidade e a continuidade daqueles vínculos, durante, pelo menos, os três meses que precederam o pedido de confiança.

Além disso, nos casos de Adoção Internacional, o art. 14 do Decreto Lei nº185/93 ressalta:

Art. 14 Necessidade prévia de decisão judicial.

1.Colocação no estrangeiro de menores residentes em Portugal com vista à adoção, depende de prévia decisão de confiança judicial do menor.

2.À confiança judicial prevista no número anterior aplica-se com as necessárias adaptações, o disposto no artigo 1978, do Código Civil e nos artigos 164, 165, 166 e 167, do Decreto-Lei nº 314/78, com as alterações introduzidas pelo presente diploma.

Assim, nesses casos, cabe ao juiz decidir a confiança do adotado.

Com relação aos efeitos da adoção plena em relação à extinção da filiação natural, são consagrados os arts. 1986 do Código Civil:147

Art. 1986. Pela adoção plena o adotado adquire a situação de filho do adotante e integra-se com os seus descendentes na família deste, extinguindo-se as relações familiares entre adotado e seus descendentes e colaterais naturais, sem prejuízo do disposto quanto a impedimentos matrimoniais nos arts 1602 a 1604. A adoção plena tem caráter irrevogável, conforme previsto no art. 1989 do Código Civil e o adotado perde seus apelidos de origem, sendo o novo nome constituído com as adaptações necessárias, nos termos do art. 1875. Caso o adotante requeira, o Tribunal poderá modificar o primeiro nome do menor se a modificação favorecer a integração familiar sem prejudicar a sua identidade pessoal. 148

Ao adquirir a situação de filho sem haver distinção em relação aos filhos naturais, o art 1877 do Código Civil português dispõe que : 149

Os filhos estão sujeitos ao poder paternal até a maioridade ou emancipação.

A representação do poder familiar, segundo o art 1881:

Compreende o exercício de todos os direitos e o cumprimento de todas as obrigações do filho, excetuados os atos puramente pessoais, aqueles que o menor tem o direito de praticar pessoal e livremente os atos repeitando a bens cuja administração não pertença aos pais.

Ao tratar da sucessão legítima, o art. 2.131 do Código Civil português, consigna que:

“Se o falecido não tiver disposto válida e eficazmente, no todo ou em parte dos bens de que podia dispor para depois da morte, são chamados à sucessão desses bens os seus herdeiros legítimos.

A classe de sucessíveis está alinhada no art. 2.133, nº 1:

A ordem por que são chamados os herdeiros, se prejuízo do disposto no título da adoção é a seguinte:

a) cônjuge e descendentes; b) cônjuge e ascendentes; c) irmãos e seus descendentes(...)

147 LIBERATI, Wilson Donizeti. Op. Cit. p. 187 148 COSTA, Tarcísio José Martins. Op. Cit p. 370 149 Loc. cit.