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5. ADOÇÃO INTERNACIONAL NO DIREITO BRASILEIRO

5.2 Breve Evolução Legislativa da adoção de menores no direito brasileiro

5.3.2 O ECA e a Conferência de Haia

Conforme mencionado anteriormente, o texto convencional foi aprovado pelo Congresso Nacional, que promulgou em forma de Decreto Legislativo nº 65/95, cujo

cumprimento equivale à lei ordinária e, por isso, tem força coercitiva e extensiva a todos. Atenta-se para o fato de que o texto convencional não admite reservas, ou seja, o Estado membro concorda ou não com o texto integral da Convenção, relacionado com à adoção de crianças e adolescentes. Entretanto, esse mandamento convencional não se sobrepõe ao ECA, conforme fixado no art. 28 :

"a Convenção não derroga nenhuma lei de um Estado de origem, o qual

requeira que a adoção de uma criança residente habitualmente nesse Estado tenha lugar nesse Estado, ou que proíba a colocação da criança no Estado de acolhida ou seu deslocamento ao Estado de acolhida antes da adoção".

Desta forma, a Convenção respeitará as leis internas dos Estados.

Uma das afirmações do texto convencional é o reconhecimento da responsabilidade paterna dos pais adotivos em relação à criança ou adolescente adotado, ou seja, pela adoção o menor adquire vínculo de filiação legítima e a aquisição de todos os direitos inerentes à filiação, equiparando-se ao previsto na Constituição de 88, em se art. 227, par. 6.º, mantendo intacto os principais fundamentos de nosso ordenamento da relação paterno-filial. A

94 MARQUES, Claudia Lima. Op. Cit. p.10. CHAMPENOIS-Marmier, “Lês donnés sociologiques générales”.

L´’adoption d’emfants étrangers, Econômica, Paris, 1986, p. 5

princípio, O fundamento da aprovação do texto convencional pelo Congresso Nacional correspondeu aos propósitos do Estatuto da Criança e do Adolescente, o qual foi redigido a partir dos princípios norteadores da proteção dos direitos infanto-juvenis, promulgados pela Organização das Nações Unidas. O art 23, I da Convenção não colide com o ECA pois assegura o reconhecimento recíproco por parte dos Estados Contratantes da sentença de adoção prolatada pela autoridade judicial competente. Assim, uma sentença transitada em julgado no país de acolhida deverá ser reconhecida pelo magistrado do país de acolhida, produzindo imediatamente seus efeitos.

Como garantia de proteção aos superiores interesses e direitos da criança, a Convenção estabeleceu a obrigatoriedade de cada Estado para designar a figura da autoridade central sistema de controle centralizado, a fim de evitar o abuso, o tráfico e a venda de crianças. A autoridade central do país é responsável pela seleção do candidato a adotante e tem o monopólio do contato com a autoridade central do outro país, garantindo a adotabilidade, da criança e decidindo se a adoção internacional se adéqua aos interesses da criança, fazendo os contatos com outros países e organismos credenciados. As autoridades centrais acompanharão todo o processo de adoção e competirá à elas decidir o que fazer caso ela não seja bem- sucedida. Nesse sentido, a escolha da autoridade central de um Estado contratante deve ser criteriosa, pois, nesse sistema, ela funciona como alicerce de todo o processo da adoção.

No Brasil, os CEJAs são os órgãos mais próximos do que o texto convencional entende por autoridade central. No entanto, conforme disposto no art. 52, a criação da Comissão Estadual Judiciária de Adoção é uma faculdade e não uma obrigatoriedade, conforme expresso no texto da Convenção de Haia.

Os CEJAs funcionam em todos os Estados da Federação e realizam fiscalização dos candidatos a adotantes estrangeiros à adoção e às crianças consideradas prontas para a adoção a fim de proteger os superiores interesses das crianças, sem interferir na esfera jurisdicional, por não estar na esfera de sua competência. Ao atender os objetivos da convenção, as comissões ficariam encarregadas de:

a) fornecer informações sobre a legislação de seus Estados em matéria de adoção e outras informações gerais, tais como estatísticas e formulários padronizados;

b) informar-se mutuamente sobre o funcionamento da Convenção e, na medida do possível, remover os obstáculos para sua aplicação (Art. 7º).

Além das medidas prioritárias acima reveladas, dispõe o art 8º que:

as autoridades centrais tomarão, diretamente ou com a cooperação de autoridades públicas, todas as medidas apropriadas para prevenir benefícios materiais induzidos por ocasião de uma adoção e para impedir qualquer prática contrária aos objetivos da Convenção (Art. 8º).

Por fim, as autoridades centrais tomarão ainda outras medidas a fim de que possam:

a) reunir, conservar e permutar informações relativas à situação da criança e dos futuros pais adotivos, na medida necessária à realização da adoção; b) facilitar, acompanhar e acelerar o procedimento de adoção; c) promover o desenvolvimento de serviços de orientação em matéria de adoção e de acompanhamento das adoções em seus respectivos Estados; d) permutar relatórios gerais de avaliação sobre as experiências em matéria de adoção internacional; e e) responder, nos limites da lei do seu Estado, às solicitações justificadas de informações a respeito de uma situação particular de adoção formuladas por outras autoridades centrais ou por autoridades públicas (Art.9º).

a autorização, juntamente com toda a documentação referente ao caso, deverá ser enviada à Autoridade Central Administrativa Federal- ACAF,

Além da figura da autoridade central, a Convenção de Haia também oficializou e internacionalizou as agências de adoção internacional e orientou as medidas para credenciamento e regularização.

Porém, conforme entendimento do juiz Wilson Donizetti, nem todos os posicionamentos se adequaram ao ECA. Um exemplo é o art. 21 da Convenção, que sugere que a adoção pode ser feita no Estado de acolhida, ou seja, após o trâmite inicial, a criança seria enviada para o país do adotante, onde efetivamente o processo de adoção teria início.O ECA prevê no art. 51, par. 4º, que a criança só saia do país após proferida a sentença judicial concedendo a adoção. Com a Convenção respeitará as leis internas de cada Estado, ainda que país do adotante seja signatário de Haia ou tenha determinação diversa, prevalecerá o determinado no ECA.

A Convenção ainda admite manutenção do vínculo de filiação entre a criança e seus pais biológicos, enquanto conforme o art. 47 do ordenamento interno o registro original do

adotado é cancelado. O texto convencional prevê que o consentimento da criança deve ser considerado, devendo-se observar a idade e grau de maturidade da criança, diferentemente do previsto no ECA, em que o art. 45, par. 2º só é necessário em se tratando de crianças maiores de 12 anos de idade. A Convenção ainda não prevê a obrigatoriedade do estágio de convivência, enquanto o art 46 do ECA dispõe a obrigatoriedade do estágio de convivência