• Nenhum resultado encontrado

5. ADOÇÃO INTERNACIONAL NO DIREITO BRASILEIRO

5.4 O PROCESSO DE ADOÇÃO

5.4.5 Efeitos gerados pela adoção

É importante fazer-se um breve estudo dos efeitos decorrentes da adoção na medida em que ela só será deferida se forem assegurados no país de acolhida, os direitos que seriam reservados à criança em seu país de origem.

Por este motivo, seria de todo recomendável que o magistrado processante busque conhecer a lei local do país de acolhida a fim de verificar de aquele sistema jurídico reconhece todos os direitos que uma criança brasileira teria se continuasse vivendo no Brasil. 125

Se a situação a que se submeterá o adotando no país de acolhida lhe for prejudicial, o juiz deverá impedir que se constitua a relação parental, negando provimento à pretensão adotiva por se tratar de imperativo à ordem pública e por estar negando vigência à norma do art. 43 do ECA que determina que as adoções internacionais só serão conhecidas se representarem reais vantagens para o adotando e, principalmente, fundarem-se em motivos legítimos.”126

Neste sentido seguem os efeitos decorrente da adoção conforme o sistema jurídico nacional:

124 COSTA, Tarcísio José Martins. Op. Cit. p.158

125 MONACO, Gustavo Ferraz de Campos. Op. Cit. p. 113 126 MONACO, Gustavo Ferraz de Campos. Op. Cit p. 113

5.4 .5.1. Efeitos relativos ao estado familiar do adotando

Rompem-se todos os vínculos com a família de origem, exceto aquele estabelecido pelo impedimento matrimonial127 em virtude do disposto no art.41, caput, do ECA. Desta forma, o adotado deixará de ser filho de seus pais biológicos, o que terá reflexo sobre seu nome. É também aplicável à questão a norma do art 26, I da convenção de Haia de 1993, que dispõe que o “reconhecimento da adoção pelo Estado de acolhida implicará reconhecimento da ruptura do vínculo de filiação preexistente entre a criança e sua mãe e seu pai, se a adoção produzir este efeito no Estado Contratante em que ocorreu.”

5.4.5.2. Nome

É compreensível que os pais adotantes queiram mudar o primeiro nome da criança adotada, ainda mais que a criança será levada para um país cujos nomes tradicionais são deferentes dos nacionais, o que poderia gerar desconforto ao adotado no Estado de acolhida. Desta forma, se achar conveniente o magistrado poderá fundamentar a autorização ou proibição da mudança do primeiro nome do adotado. Para Maria Josefina Becker, “não é recomendável tal alteração, a partir do momento que, em geral, ocorre já nos primeiros meses de vida. De um modo geral, nesses casos, manter o nome original é uma forma de respeitar a identidade da criança e de manifestar aceitação, sem reservas, de sua pessoa.”128

Será autorizado um novo registro de nascimento determinado por mandado judicial do qual não se fornecerá certidão, garantido-lhe o sigilo referente à origem da criança. O mandado será arquivado e será cancelado o registro original do adotado, produzindo-se um novo, no qual constarão os nomes dos novos pais e de seus descendentes, extraindo-se certidão de nascimento da qual não constará nenhuma ressalva referente à origem do parentesco, em

127 RODRIGUES, Sílvio, Direito Civil, Direito de Família, vol. 6, 23, Ed., São Paulo, Saraiva, 1998, p.37

128BECKER Maria Josefina. Estatuto da Criança e do Adolescente comentado-comentários jurídicos e sociais. 2ª ed. Coord.Munir Cury, Antônio Fernando do Amaral e Silva e Emílio Garcia Mendez. São Paulo: Malheiros, 1996).

atenção à norma constitucional orientadora do art.47 do ECA no sentido da igualização da condição de filho, seja qual for a origem.

No entanto, se autoridade judiciária julgar conveniente que seja extraída certidão de andado para garantir os direitos do adotado, poderá fazê-lo. Antônio Chaves afirma que, “embora a sentença de adoção tenha, no Brasil, nos termos desse art 47, natureza constitutiva, preocupa-se em regular os interesses jurídicos do adotado, no pais estrangeiro, fazendo com que sejam atingidas também as prescrições referentes à qualidade do adotante, no seu país. A finalidade do dispositivo é claramente a de assegurar ao adotado o reconhecimento da condição de filho do adotante do país para o qual deverá ser levado.” 129

5.4.5.3 Nacionalidade

“A nacionalidade é um vínculo político-jurídico que liga uma pessoa ou um bem (navio ou aeronave) a um Estado. Tal vínculo (de sujeição) torna o nacional súdito do referido Estado. (...) Desse conceito deriva a verificação de que a nacionalidade é matéria, efetivamente, de direito substantivo (público ou constitucional). Por isso, sempre que suscitada tal matéria no âmbito do direito internacional privado (que é composto de regras do chamado sobre-direito), a mesma virá apresentada sob a forma de questão prévia.”130

No sistema brasileiro, adotado não passará a ter automaticamente a mesma nacionalidade do adotante nem adquire cidadania estrangeira. Ele permanecerá com a nacionalidade brasileira reconhecida e assegurada, a não ser que o adotado manifeste expressamente através de um requerimento especial ao serviço de imigração ou na própria justiça especializada o desejo de adquirir a nacionalidade de seus pais adotivos, quando então será declarada a perda da nacionalidade brasileira conforme disposto no inc II do par. 4° do art 12 da CF 88. No entanto, alguns ordenamentos exigem que a criança seja naturalizada como

129 CHAVES, Antônio, Estatuto da Criança e do Adolescente comentado-Comentários jurídicos e sociais, 2ª e.

Coordenador Munir Cury, Antônio Fernando do Amaral e Silva e Emílio García Mendez, São Paulo, Malheiros, 1996, p. 153.

130FONSECA, José Roberto Franco, Reflexos internacionais da nacionalidade, Direito e comércio internacionais,

condição de permanência no país. Neste caso, a alínea b do artigo mencionado reconhecerá subsistir a nacionalidade brasileira. 131

Vera Maria Barreira Jatahy: “No que se refere, portanto, à adoção internacional, a aquisição da cidadania e da nacionalidade depende, exclusivamente, dos mandamentos constitucionais e jurídicos do país de acolhimento, dentro do contexto da organização política do Estado. A manutenção ou modificação da nacionalidade do adotado é efeito que depede do direito público, considerando que a concessão da nacionalidade integra poder discricionário ds Estados.” 132

A Convenção de Haia de 1930, sobre nacionalidade ratificada e promulgada pelo Brasil já regulava esta matéria, conforme disposto em seu art. 17 133

“Se a lei de um Estado admitir a perda da nacionalidade, em conseqüência da adoção, esta perda ficará, entretanto, subordinada à aquisição pelo adotado da nacionalidade do adotante, de acordo com a lei do Estado de que este for nacional, relativa aos efeitos da adoção sobre nacionalidade.”

Esta regra visa proteger o menor da apatrídia. Assim, a perda da nacionalidade originária do adotado só é permitida se houver concomitantemente a aquisição da nacionalidade do Estado do adotante. No entanto, este dispositivo não regula a hipótese de ordenamentos que proíbem a perda da nacionalidade por força da adoção e

O Instituto de Direito Internacional, na sessão de Roma, em 1973 dispôs sobre aquisição pelo adotado da nacionalidade do Estado de acolhida, considerando que a diferença de nacionalidade entre adotado e adotantes pode comprometer a unidade do seio da família adotiva, recomenda que as autoridades competentes em cada Estado estabeleçam regras, procedimentos e práticas que permitam atribuir ao adotado menor, em curto prazo, a nacionalidade dos adotantes”134

No entender de Wilson Donizete Liberatti135, ainda que não seja efeito produzido pela sentença constitutiva de adoção, a aquisição da nacionalidade é um fator importante para a

131 MONACO, Gustavo, Op. Cit. p.116 132 JATAHY, Vera Barreira Jatahy. Op. Cit.853 133 DOLINGER, Jacob Op. cit. p.424

134 LIBERATI, Wilson Donizeti. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. 10ª ed. São Paulo:

Malheiros,2008.p. 212.

vida do adotado. Para Prof. Antônio Chaves136 a desconformidade das nacionalidades entre aqueles que compartilham o mesmo domicílio e possuem o vínculo tão forte decorrente da filiação acaba por traduzir-se em contradição. (acaba aqui. Agora sou eu, hehe) Não se trata de direitos e deveres políticos unicamente (ainda que sua importância seja indiscutível), mas por gerar um contraste entre a homogeneidade da vida privada, na medida em que são parte de uma mesma família e a heterogeneidade da vida política.

De qualquer forma, conforme mencionado anteriormente, a adoção não é um meio de aquisição da cidadania ou nacionalidade, que devem ser adquiridas mediante as formas estabelecidas pela lei do país do adotante, pois se trata de normas de direito público, integrantes do poder discricionário dos Estado.137

São países que conferem ao adotado a nacionalidade do adotante: Suécia, Holanda, Espanha, Suíça, Reino Unido, Itália, França, China, Japão, Bélgica, Irlanda e Polônia. Vedam expressamente a modificação da nacionalidade: Alemanha e Romênia138.