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A Agenda 21 e as metas do milênio: questões urbanas

A cidade na contemporaneidade: escolas dos pensamentos da questão urbana, reforma urbana, sustentabilidade e dispersão urbana

1. As “Escolas” no pensamento urbano brasileiro

2.2. A Agenda 21 e as metas do milênio: questões urbanas

Verifica-se que a Agenda 21 e as metas do milênio estabeleceram princípios para ser cumpridos pelo poder público, nas três esferas de governo, embora, em razão de pressões políticas e econômicas, em regra geral esses compromissos não são observados.

Para este trabalho, destacamos os temas relacionados às questões urbanas com a finalidade de demonstrarmos, nos capítulos posteriores, que os princípios da Agenda 21 e das metas do milênio são comumente ignorados pelo poder público municipal em suas atividades de planejamento e desenvolvimento urbano, na contramão de direção à cidade sustentável.

A urbanização, durante o curso da história brasileira, tem sido associada ao progresso econômico e social, à educação, à saúde, aos serviços sociais, à cultura e à política. O

processo de democratização no país possibilitou avanço no debate sobre as questões urbanas, pela destacada participação e envolvimento da sociedade civil, que resultou em parcerias dos setores público e privado, no planejamento e gestão descentralizada e participativa, que são características importantes de um futuro urbano bem sucedido.

O crescimento das cidades traz mudanças sociais, econômicas e ambientais que ultrapassam os seus limites físicos. Entre os sérios problemas que desafiam os gestores locais, estão os recursos financeiros inadequados, falta de oportunidades de empregos, aumento do contingente de desabrigados, expansão de assentamentos de invasores, aumento da pobreza e da crescente desigualdade entre os ricos e os pobres, aumento da insegurança e dos índices de criminalidade, estoque de imóveis, serviços e infraestrutura inadequados ou em deterioração, falta de equipamentos de saúde e educação, uso impróprio do solo, insegurança de posse, aumento dos congestionamentos de trânsito e da poluição, falta de áreas verdes, fornecimento inadequado de água e esgoto, desenvolvimento urbano desordenado e aumento da vulnerabilidade a desastres.

Nesse contexto, constata-se que grande parte da população urbana mundial vive em condições inadequadas e enfrenta vários problemas, inclusive ambientais, que são aumentados pelo mau planejamento e capacidade de gestão.

A Agenda 21 estabelece que os assentamentos humanos devam ser planejados, desenvolvidos e aprimorados de maneira que considerem integralmente os princípios do desenvolvimento sustentável e todos os seus componentes. Mas, pelo rápido crescimento das cidades, o acesso à terra está se tornando cada vez mais difícil em consequência das demandas potencialmente contraditórias de urbanização, necessidade de espaços verdes, terras agricultáveis e proteção de ecossistemas frágeis.

As terras urbanas adequadas à ocupação são inacessíveis aos pobres, em razão da especulação imobiliária e omissão dos governantes, sendo o principal motivo do deslocamento desta população para a periferia (sem infraestrutura básica). A proximidade de indústrias poluentes, as condições geográficas impróprias e a exposição a desastres naturais fazem com que essas localidades não exerçam atração para o mercado imobiliário. Nessa perspectiva, Fernandes aponta que:

Para evitar o crescimento desordenado, insalubre e não sustentável dos assentamentos humanos, é necessário promover padrões de uso do solo que minimizem as demandas de transporte, reduzam o consumo de energia e protejam os espaços verdes e abertos. Uma densidade urbana apropriada e diretrizes para o uso diversificado do solo são essenciais para o desenvolvimento urbano. (FERNANDES, 2003, Agenda Habitat, não paginado).

Uma das tarefas básicas concretizadas nos princípios da Agenda 21 e das metas do milênio é a busca do equilíbrio com a adoção do princípio da abordagem preventiva entre o desenvolvimento de áreas urbanas, o meio ambiente e o sistema global de assentamentos para a obtenção de um mundo urbanizado sustentável. As ferramentas para a obtenção de um desenvolvimento fisicamente mais equilibrado incluem não só políticas urbanas e regionais específicas e medidas jurídicas, econômicas, financeiras, culturais, entre outras, mas também métodos inovadores de planejamento e projeto de desenvolvimento, revitalização e gestão das cidades.

As cidades brasileiras em rápido crescimento têm se deparado com problemas ambientais gravíssimos. O aumento da dimensão das cidades exige maior atenção dos gestores locais, principalmente para os fatores humanos, que são elementos fundamentais a considerar e ser adequadamente levados em consideração na formulação de políticas abrangentes que atentem para os elos existentes entre as tendências e os fatores demográficos, a utilização dos recursos, a difusão de tecnologias adequadas e o desenvolvimento.

O diagnóstico das agendas em debate reconheceu que o processo de crescimento das cidades, além de estar associado a efeitos destrutivos sobre o meio ambiente físico, não tem conseguido suportar a capacidade da sociedade em atender às necessidades humanas e nem das autoridades locais, que estão sem condições de proporcionar às pessoas os serviços de saúde ambiental necessários. Por isso, as agendas propõem ação coordenada entre todos os planos do governo, prestadores de serviços sanitários, empresas, grupos religiosos, instituições sociais e educacionais e cidadãos.

Nota-se, então, que as implicações ambientais do desenvolvimento urbano devem ser reconhecidas e levadas em consideração de forma integrada, atribuindo-se alta prioridade às necessidades a adequação de moradia dos pobres às áreas urbanizadas nas cidades.

Portanto, as recomendações das agendas estão no sentido de empreender análises de seus processos e políticas de urbanização, com o objetivo de avaliar os impactos ambientais do crescimento e de aplicar abordagens de planejamento e manejo urbano, adequadas às necessidades, disponibilidades de recursos e características das cidades em processo de crescimento.

Entre as abordagens, recomenda-se a concentração em atividades destinadas a facilitar a transição do estilo de vida rural para o estilo de vida urbano, bem como de uma para outra modalidade de assentamento humano. Além disso, indica-se promover o desenvolvimento de atividades econômicas em pequena escala, especialmente a produção de alimentos, para

apoiar a geração local de rendas e a produção de bens e serviços intermediários para as áreas rurais do interior.

Entre as ações propostas, destacam-se: a institucionalização da abordagem participativa do desenvolvimento urbano sustentável, baseada num diálogo permanente entre os atores envolvidos no desenvolvimento urbano; o acesso aos recursos terrestres como um componente essencial dos estilos de vida sustentáveis de baixo impacto sobre o meio ambiente; legislações nacionais que orientem a implementação de políticas públicas ambientalmente saudáveis para o desenvolvimento urbano; mercados de terra eficientes e acessíveis, que atendam às necessidades de desenvolvimento da comunidade; mobilidade urbana com a integração de modais; entre outras.

Municipalizar a Agenda 21 e as metas do milênio é uma tarefa que requer o engajamento coletivo da sociedade. Cabe ao gestor local e à sua equipe técnica incentivar a participação de representantes da sociedade civil, do poder público, das universidades, garantindo, no processo, a presença dos grupos mais vulneráveis. Não é uma tarefa fácil, mas necessária para que haja avanço no debate sobre as questões urbanas.

Como mencionado anteriormente, Palmas não elaborou a sua Agenda 21 local, que deveria ter relação com o processo de elaboração do Plano Diretor Participativo da capital. Esse plano pretendia propor ações para articular a expansão do município com a preservação do meio ambiente, motivo pelo qual não deveria discutir a expansão urbana, que abordaremos na sequência, mas sim, a Agenda 21 local em simbiose com o Plano Diretor. Após esta estruturação e resolvidos os problemas detectados, poderia retornar ao debate expansionista.

2.3. A Constituição Federal, o Estatuto da Cidade e a legislação urbanística e ambiental