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A cidade na contemporaneidade: escolas dos pensamentos da questão urbana, reforma urbana, sustentabilidade e dispersão urbana

1. As “Escolas” no pensamento urbano brasileiro

2.1. A Agenda 21 e as metas do milênio

2.1.1. Agenda 21

A Agenda 21 Global foi resultado da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), realizada em 1992, na cidade do Rio de Janeiro. Foi elaborada a partir de compromisso estabelecido na Carta da Terra (documento oficial da Conferência) como um plano de ação a ser tomado nos níveis global, nacional e local, por organizações das Nações Unidas, governos e grupos locais, nas diversas áreas. A Agenda 21 traduz a tensa relação entre a espécie humana e natureza, na sua pretensão de buscar o equilíbrio por meio do crescimento econômico duradouro, tendo como espinha dorsal o desenvolvimento sustentável.

Essa proposta inovadora de planejamento consensual de quatro seções, quarenta capítulos e mais de 2,5 mil recomendações práticas foi concebida num processo participativo de dois anos de debate. Recebeu contribuição de governos e de instituições da sociedade civil de cento e setenta e nove países, tratando-se de uma ambiciosa tentativa de criação de um

novo paradigma de desenvolvimento (o desenvolvimento sustentável) para o século XXI. Sobre a proposta, Novaes discorre que:

A Agenda 21 não é apenas um documento. Nem é um receituário mágico, com fórmulas para resolver todos os problemas ambientais e sociais. É um processo de participação em que a sociedade, os governos, os setores econômicos e sociais sentam-se à mesa para diagnosticar os problemas, entender os conflitos envolvidos e pactuar formas de resolvê-los, de modo a construir o que tem sido chamado de sustentabilidade ampliada e progressiva (NOVAES, 2003, p. 49).

Portanto, a Agenda 21 Global, mais que um documento, é um processo de planejamento participativo com o objetivo de analisar o presente e o esforço de planejar o futuro, com estabelecimento de metas atingíveis, considerando o compromisso pactuado entre todos os atores, fator que garante a sustentabilidade dos resultados.

A Agenda 21 Global tem como essência o conceito de desenvolvimento sustentável, que é definido por Sachs (2008, p. 15), fundamentado em cinco pilares: sustentabilidade social, ambiental, territorial, econômica e política, acrescidas à sua análise as dimensões: cultural e ecológica. Trata-se de um processo de transformação de orientação do desenvolvimento tecnológico e mudança institucional, que se harmonizam e reforçam o potencial presente e futuro, a fim de atender às necessidades e aspirações humanas, o “duplo imperativo ético de solidariedade sincrônica com a geração atual e de solidariedade diacrônica com as gerações futuras” compelidas a trabalhar em escalas múltiplas de tempo e espaço.

Porém, o conceito usual de desenvolvimento sustentável foi dado pela Comissão Mundial da Organização das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED), em 1987, no documento Our Common Future (Nosso futuro comum), conhecido por Relatório Brundtland, como sendo “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades” (NOSSO FUTURO COMUM, 1991, p. 9).

A Agenda 21 Global, dentre outras sugestões, trata da dimensão ambiental incorporada às políticas setoriais urbanas, atreladas a critérios e indicadores de melhoria da qualidade de vida integrados a projetos de menor custo e impacto socioambiental. Ela demanda um novo modelo produtivo, políticas ambientais efetivas, uma diminuição do consumo, a eliminação da pobreza e a propagação de uma nova consciência de nossa responsabilidade para com a integridade da nossa vivência no ambiente natural, crescentemente transformado pela ação do homem (RIBEIRO, 1998).

Agenda 21 Brasileira foi elaborada dentro dos conceitos da Global, por meio de amplo processo de estudos, consulta e debates, promovidos pela Comissão de Políticas de

Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21 (CPDS), a nível nacional. Foi criado também um colegiado de alto nível, constituído por representantes do governo e da sociedade. Esse processo foi conduzido pelo Ministério do Meio Ambiente.

A Agenda 21 Brasileira definiu vinte e uma ações prioritárias, organizadas em cinco capítulos, com questões referentes a economia, inclusão social, sustentabilidade urbana e rural, recursos naturais estratégicos, governança e ética. A sua importância para os governos locais foi a incorporação de conceitos como descentralização, gestão democrática, participação e parcerias, utilizados como estratégias de sustentabilidade, embora houvesse um desafio a ser suplantado: a tentativa de internalização nas políticas públicas, com abrangência de todos os níveis governamentais.

Nesse sentido, a Agenda 21 Brasileira busca exercer seu importante papel de fomentadora de concepção e execução de uma nova geração de políticas públicas, que objetivam reduzir as desigualdades e discriminações sociais no país. Para isso, conta com o reconhecimento da intervenção estatal como gestor e as suas propostas de melhoria dos componentes do desenvolvimento humano e a cultura da sustentabilidade. Afinal, não pode haver desenvolvimento enquanto houver iniquidades sociais crônicas, nem se as formas de uso dos recursos ambientais no presente comprometerem os níveis de bem-estar das gerações futuras.

Em análise do contexto atual, mesmo propondo a retomada do planejamento estratégico participativo e multissetorial a partir de uma construção coletiva, vinte anos depois de sua criação se contata que a sociedade civil não se aproximou da Agenda 21. A Pesquisa de Informações Básicas Municipais (MUNIC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que foram construídas apenas 1.300 Agendas 21 locais; destas, poucas saíram do papel, no universo de 5.565 municípios do país. Segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA), em mais da metade dos municípios brasileiros sequer foi formado um fórum de discussão – o primeiro passo após a criação da agenda.

Ressalta-se a importância da Agenda 21 enquanto balizadora do desenvolvimento sustentável, mas nestes últimos vinte anos, com o crescimento exponencial da produção e do consumo, ela não tem conseguido conter, por meio das suas ações, o impacto da humanidade sobre o meio ambiente. As emissões continuam subir, a biodiversidade diminui por várias razões, há cada vez mais gente passando fome.

Palmas não elaborou a sua Agenda 21 local. Foram realizadas algumas reuniões, mas o processo foi interrompido, mesmo após, em outubro de 2005, a ministra do Meio Ambiente, na ocasião, Marina Silva, ter assinado um acordo de cooperação com a prefeitura de Palmas,

para a implantação do Programa Agenda 21 na cidade. Na época, chegou a ser realizada uma oficina de capacitação em Palmas sobre os primeiros passos do programa. A prefeitura havia solicitado apoio formal do governo, já que a Agenda 21 deveria ter relação com o processo de elaboração do Plano Diretor Participativo da capital, que pretendia propor ações para articular a expansão do município com a preservação do meio ambiente.

2.1.2. As metas do milênio

A Agenda 21 e os Objetivos e Metas de Desenvolvimento do Milênio são dois instrumentos que se articulam e se complementam para a consecução do desenvolvimento sustentável – ambos aprovados e adotados pela comunidade dos Estados-membros que compõem a Organização das Nações Unidas (ONU). Durante a realização da Cúpula do Milênio, reunião promovida pela ONU, em Nova York, em oito de setembro de 2000, líderes de cento e oitenta e nove países firmaram um pacto. Desse pacto, cujo foco principal era o compromisso de combater a pobreza e a fome no mundo, nasceu o documento chamado Declaração do Milênio, conhecido como Metas de Desenvolvimento do Milênio (MDM). Ficou, assim, estabelecido como prioridade eliminar a extrema pobreza e a fome do mundo até 2015.

A Declaração propôs compromissos concretos que, se cumpridos nos prazos fixados, segundo os indicadores quantitativos que os acompanham, deverão melhorar o destino da humanidade neste século. Essa declaração menciona que os governos "não economizariam esforços para libertar nossos homens, mulheres e crianças das condições desumanas da pobreza extrema", tentando reduzir os níveis de pobreza e promover o bem estar social. Estes projetos são monitorados com base no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), uma medida comparativa que engloba três dimensões: riqueza, educação e expectativa média de vida.

A Cúpula do Milênio aconteceu em momento importante na história da Organização das Nações Unidas (ONU), pois com as reflexões ocorridas em decorrência da sua convocação e preparação, confirmou-se a gravidade da pobreza no mundo e a urgência em promover a visibilidade para esse problema, objetivando maior compromisso dos países no seu combate.

Verifica-se, em análise sobre a Agenda 21 e os Objetivos e Metas de Desenvolvimento do Milênio, uma estreita sintonia em suas prioridades, ao repercutir os temas essenciais para a

sustentabilidade do desenvolvimento: meio ambiente e combate a pobreza, que merecem a transversalidade nas políticas de governo.

Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio são oito: Erradicar a pobreza extrema e a fome; Atingir o ensino básico universal; Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres; Reduzir a mortalidade infantil; Melhorar a saúde materna; Combater o HIV/AIDS, a malária e outras doenças; Garantir a sustentabilidade ambiental; e Estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento. Esses objetivos serão atingidos por meio da realização de ações específicas, para atingir dezoito metas, cujo cumprimento poderá ser acompanhado pelo conjunto de quarenta e oito indicadores, propostos por especialistas de organismos internacionais, tais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.

A última análise feita pelo sistema de monitoramento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) aponta que o Brasil já alcançou quatro das oito metas previstas para concretizar ações e políticas públicas para tornar o mundo mais justo. São elas: Reduzir a fome e a miséria; Oferecer educação básica de qualidade para todos; Igualdade entre sexos e valorização da mulher; e Combate a AIDS, malária e outras doenças.

O Brasil alcançou metas como a redução da população urbana sem acesso a água, porém, em relação à população rural, os níveis de cobertura ainda são muito deficitários. As metas de redução da pobreza extrema e da fome já foram alcançadas e superadas pelo Brasil, que criou metas próprias, mais ousadas do que as da ONU, para esse objetivo específico. Os programas de transferência de renda foram fundamentais no combate à fome e à pobreza extrema (MONITOR TRACK LEARN SUPPORT, 2007).

O governo brasileiro tem atribuído grande importância para a consecução dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM). As autoridades nacionais produziram três relatórios de acompanhamento nacionais (2004, 2005 e 2007), com base em dados oficiais detalhados. Além da medição de indicadores, esses relatórios também incluem uma apresentação das políticas públicas mais relevantes e análises sobre a perspectiva de realização.

Embora os dados do monitoramento mostrem que, na última década, houve melhora nos resultados e o Brasil tenha alcançados alguns dos objetivos, em relação à fome e à pobreza extrema ainda persistem disparidades entre as regiões geográficas, que precisam ser combatidas. São necessárias ações concretas e políticas públicas para a superação destas diferenças regionais. A figura 10 retrata a evolução das oito metas do milênio no Brasil.

Figura 10 - Brasil: evolução das oito metas do milênio (2007) Fonte: Monitor Track Learn Support (2007).