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A Agenda 21 Local e a Campanha de Cidades e Vilas Sustentáveis

“Compreendemos que o atual modo de vida urbano, (…) nos responsabiliza maioritariamente pelos numerosos problemas ambientais com os quais a humanidade se confronta. Este facto é extremamente relevante, pois 80% da população europeia vive nas zonas urbanas.”

Carta das Cidades Europeias para a Sustentabilidade Aalborg, Dinamarca, 27 de Maio de 1994

No que diz respeito à sustentabilidade local, já um ano antes da Cimeira da Terra, a Comissão Europeia tinha criado o Grupo de Peritos de Ambiente Urbano, cujo trabalho viria a dar origem à primeira fase da Campanha Europeia de Cidades e Vilas Sustentáveis.

Esta Campanha teve como propósito, para além da divulgação dos princípios e objetivos da sustentabilidade local, tal como foram explicitados e divulgados a partir da Cimeira da Terra no Rio de Janeiro (CNUAD, 1992), o recrutamento de novos adeptos

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(signatários) entre as diversas entidades e instituições com responsabilidade na administração local, de forma a estimular iniciativas como Agenda 21 Local.

A Agenda 21 posiciona a importância de cada País e o compromisso na reflexão sobre a forma pela qual todos os sectores da sociedade orientam as soluções para os problemas sócio ambientais e os seus objetivos de desenvolvimento.

Efetivamente constitui-se na mais abrangente tentativa, já realizada, de orientar para um novo padrão de desenvolvimento do século XXI, cujo alicerce é a sinergia da sustentabilidade ambiental, social e económica. Mais do que um documento, a Agenda 21 é um processo de planeamento participativo que diagnostica e analisa a situação do País, dos Municípios e das Localidades, para em seguida, planear a Sustentabilidade Local. Constitui assim um processo técnico e político que pretende envolver toda a comunidade (instituições, grupos de interesse e cidadãos) na definição das estratégias de qualificação e desenvolvimento local.

Em termos das iniciativas, a Agenda 21 não deixa dúvidas. As autoridades locais, em especial os líderes eleitos pela população, têm o compromisso e a responsabilidade de cooperar e facilitar o processo de implementação da Sustentabilidade a todas as escalas.

As cidades e os municípios da União Europeia enfrentam atualmente desafios importantes, num quadro de crise económica e de alterações climatéricas. Para dar resposta a estes desafios, é crucial utilizar uma abordagem integrada que assegure um desenvolvimento urbano sustentável.

O momento chave desta primeira fase da campanha deu-se em Maio de 1994, na Primeira Conferência das Cidades e Vilas Sustentáveis (Conferência de Aalborg). Aqui foi aprovada a “Carta de Aalborg” (AAVV, 1994) que estabeleceu valores básicos e opções estratégicas para o desenvolvimento sustentável nas áreas urbanas e definiu a necessidade de uma campanha que divulgasse, publicitasse e apoiasse a aplicação das políticas de sustentabilidade local, estabelecendo um modelo de seis etapas para implementar a A21L.45

Foram muitos os municípios europeus que aderiram a Aalborg, para o que muito contribuíram as sucessivas conferências realizadas na Europa, no âmbito da campanha.

A Segunda Conferência Europeia das Cidades e Vilas Sustentáveis realizou-se em Lisboa, em 1996, e teve como objetivo declarado contribuir para passar “da Carta à

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Acão”. Com o patrocínio da Comissão Europeia cerca de 1.000 representantes de autoridades locais e regionais aprovaram o que se veio a chamar Plano de Acão de Lisboa: da Carta à Acão. Plano que incidia sobre as melhores formas de iniciar e conduzir os processos da A21L e de aplicar os princípios estabelecidos na “Carta de

Aalborg”.46

Sempre com o intuito de renovar esforços e partilhar experiências, quatro anos depois, em 2000, Hannover foi o palco da Terceira Conferência onde se apelou a um maior empenhamento dos municípios na agenda política tanto europeia como global, a uma maior dinamização dos processos participativos e à integração das políticas ambientais, e sociais à escala municipal.47

No décimo aniversário da Carta de Aalborg, a cidade dinamarquesa voltou a ser escolhida para sede da IV Conferência Europeia de Cidades e Vilas Sustentáveis mas, desta vez, sem o apoio financeiro da Comissão Europeia. Apesar disso, Prudêncio Perera (antigo Diretor da Direção Geral de Ambiente da Comissão Europeia) afirma que existe, por parte da Comissão, a vontade de procurar soluções alternativas para apoiar os esforços da sustentabilidade local, não deixando, ainda assim, de sublinhar a responsabilidade, particularmente importante, dos municípios e das autoridades locais nos esforços para viabilizar a Campanha Europeia de Cidades e Vilas Sustentáveis (SCHMIDT, L., NAVE, J. & GUERRA, J., 2004).

A Conferência que ficou conhecida por Aalborg + 10 procurou responder, de acordo com os seus promotores, à necessidade de consolidar os “Compromissos de

Aalborg” com o auto estabelecimento de metas concretas e prazos definidos para as

implementar e apresentar à Campanha Europeia de Cidades e Vilas Sustentáveis desenvolvida, agora, sem o financiamento garantido da União Europeia, mas a partir de um Comité Diretivo que agrega as mais importantes redes de sustentabilidade europeias (e.g., Climate Alliance, Energie-Cités; ICLEI, CEMR, ACR+, Medcities…), alguns municípios que individualmente patrocinam o processo (e.g., Aalborg, Barcelona Hannover, Malmo) e, ainda, a Associação Italiana para A Agenda 21 Local.48

O apelo para o reforço dos “Compromissos de Aalborg” (sobretudo a sua efetiva implementação em ações práticas no terreno) intensifica-se em 2007 com o “Espírito de

Sevilha", documento resultante da conferência realizada na cidade espanhola.

46 Disponível em: http://www.sustainablecities.eu/events/lisbon-1996/ 47 Disponível em: http://www.sustainablecities.eu/events/hannover-2000/ 48 Disponível em: http://ec.europa.eu/environment/urban/aalborg.htm

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Afirmando a transversalidade necessária ao processo de promoção da sustentabilidade, sublinhou-se aqui a necessidade de implicar as comunidades locais, cujas práticas, experiências e mudanças alcançadas se repercutem diretamente na situação global.49

Os representantes dos governos locais presentes (mais de 1.500) comprometeram-se, assim, a trazer os “Compromissos de Aalborg” para a rua, nomeadamente através i) da adaptação de políticas e ações para responder aos desafios da sustentabilidade; ii) da avaliação dos progressos já alcançados através da definição de indicadores; ou ainda iii) da promoção do envolvimento e acompanhamento regular dos processos pelos cidadãos, disponibilizando informação sobre os resultados.50

Em Maio de 2010 realizou-se, o maior evento de sustentabilidade local da Europa, a VI Conferência de Cidades e Vilas Sustentáveis em Dunquerque, França. Aqui teve lugar o primeiro grande momento de avaliação da implementação dos

“Compromissos de Aalborg”, com a realização da primeira análise global de

monitorização prevista no ciclo da sustentabilidade. Explorou-se como o desenvolvimento sustentável pode ajudar os governos locais a enfrentar os atuais desafios económicos, sociais e climáticos e como ele pode continuar a ser implementado no atual contexto de crise. Foi identificada a necessidade de um maior reconhecimento do papel das autoridades locais e regionais na transformação das economias europeias em economias inteligentes, sustentáveis e mais eficientes na utilização dos recursos e na instigação dos níveis de empregabilidade.51

Três anos depois de Dunquerque, tem lugar em Genebra a VII Conferência de Cidades e Vilas Sustentáveis, que ficou marcada pelo lançamento da Plataforma Cidades Sustentáveis Europeias, onde se reúnem uma série de temas e iniciativas ligadas à sustentabilidade urbana e que incentiva a colaboração internacional e local. Um dos pensamentos chave que se sobressaiu nesta conferência questiona:

“Com os processos políticos mundiais a não conseguirem colocar o mundo no caminho para a sustentabilidade, e com as esperanças cada vez mais depositadas nos atores locais e regionais, como é que numa altura em que as cidades enfrentam a austeridade presente na Europa, poderão elas ter condições para investir na transição para uma economia mais verde?”52

49 Disponível em: http://www.sustainablecities.eu/events/sevilla-2007/ 50 Disponível em: http://www.sustainablecities.eu/events/sevilla-2007/ 51 Disponível em: http://www.sustainablecities.eu/events/dunkerque-2010/ 52 Disponível em: http://www.sustainablecities.eu/events/geneva-2013/

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Wolfgang Teubner (Director Regional da ICLEI53 Europa) defende que “a ideia

de que os problemas sociais e ambientais têm de ser postos em espera até à resolução da crise económica, falha no reconhecimento de que existe uma ligação entre ambos. Há um enorme potencial de benefícios económicos através de um investimento inteligente, por exemplo, na melhoria da performance energética dos edifícios, melhor gestão dos recursos hídricos e na adaptação das cidades ao impacto das alterações climáticas. A produção local de energias renováveis e alimentos não só reduz a pegada ecológica como acrescenta valor à economia local. Em vez de investir dinheiro nas energias fósseis, as cidades que ganham controlo da sua produção energética beneficiam a nível económico, ao mesmo tempo que criam postos de trabalho verdes para os seus cidadãos.”54

Neste enquadramento que pressupõe uma adesão voluntária, o número de municípios aderentes revelou-se crescente. Registe-se, porém, a diversidade nas formas e nas intensidades de adesão entre os vários países e as várias regiões da Europa.55

Tendo começado com apenas 80 signatários em 1994, alcançando em Fevereiro de 2009, entre os 27 países da União Europeia, 2673 signatários da Carta de Alborg.56