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Culturas com cultura estratégias de desenvolvimento

As cidades são, cada vez mais, encaradas como essenciais para promover a qualidade de vida, a cidadania e a competitividade. A cultura, sendo um fator de visibilidade e atratividade das cidades, tem vindo a assumir um importante papel impulsionador e de suporte dos modelos de organização social e dos processos de requalificação da vida dos cidadãos.

Desde o início do século XXI que a importância da criatividade é reconhecida pelos vários atores da sociedade. Novos conceitos como cidades criativas106 ou indústrias criativas107 têm ganho popularidade e influência, incorporando-se tanto no discurso e prioridades políticas como no discurso académico. Cada vez mais têm sido desenvolvidas iniciativas sustentadas na ideia de criatividade com o intuito de promover o crescimento e a revitalização das cidades (no âmbito, por exemplo, de estratégias de desenvolvimento local ou de operações de requalificação urbana).

As novas políticas e estruturas de desenvolvimento económico de um número crescente de países demostram a importância que atribuem às indústrias criativas, as quais se encontram no núcleo das estratégias de desenvolvimento regional em cidades como Berlim, Milão, Helsínquia, Frankfurt, Lyon e Roterdão. Para além destas cidades, existem outros exemplos concretos de cidades criativas de sucesso, dos quais enumeramos alguns, designadamente: i) Viena de Áustria (em que as indústrias criativas constituem já o terceiro fator mais promissor de crescimento); ii) Edimburgo (o Festival de Edimburgo contribui com cerca de 200 milhões de euros para a economia escocesa e emprega 2.900 pessoas a tempo inteiro); e iii) Nordrhein-Westfalen (região alemã na qual as receitas da indústria cultural em 1999 constituíram 3,6% das receitas totais da região) (INOVA/CULTDIGEST,2008). Similarmente, no Reino Unido são já várias as cidades criativas, com destaque para Londres, onde as indústrias criativas contribuem anualmente para 7,3% do PIB do país e empregam 2 milhões de pessoas (DCMS, 2008).

Desde cedo que a União Europeia demonstrou preocupação na valorização da riqueza e diversidade das culturas europeias. Em 1985, em Atenas, foi lançada a

106 Conceito desenvolvido mais à frente 107 Conceito desenvolvido mais à frente

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iniciativa “Capital Europeia da Cultura” (designada por “Cidade Europeia da Cultura” até 1999).

Esta iniciativa tem por objetivo a promoção cultural de uma cidade europeia, por um período de um ano, proporcionando um conhecimento mútuo entre os cidadãos da União Europeia. No âmbito desta iniciativa, as cidades europeias utilizam a cultura, e mais concretamente a arquitetura, como um instrumento decisivo da sua regeneração. A iniciativa foi ganhando cada vez mais notoriedade108, e hoje é uma das manifestações artístico-culturais mais importantes da Europa. Portugal fez parte deste programa em 1994 - Lisboa, em 2001 – Porto e em 2012 – Guimarães.

Paralelamente, a UNESCO criou a “Rede de Cidades Criativas”, em 2004, que une as cidades que trabalham conjuntamente em prol de uma missão comum para a diversidade cultural e o desenvolvimento urbano sustentável. Esta rede tem como propósito a comunicação entre cidades criativas, para que possam partilhar conhecimentos, saber fazer, experiências, diretivas e tecnologia. As cidades podem solicitar a admissibilidade a esta rede e aderir ao Programa, assegurando assim a possibilidade de desenvolver o seu papel como um centro de excelência criativa, apoiando, simultaneamente, outras cidades, especialmente as pertencentes a países em desenvolvimento, a cultivar a sua própria economia criativa109 (UNESCO, 2011).

O empreendedorismo cultural e criativo tornou-se uma filosofia de liderança organizacional para o século XXI. A União Europeia salientou 110:

1. O contributo da cultura para um crescimento inteligente. As indústrias criativas são uma importante fonte de emprego potencial. Na última década, a taxa global de emprego nas Indústrias Criativas triplicou em comparação com o crescimento do emprego no conjunto da economia da UE. As Indústrias Criativas são também um catalisador da criatividade e da inovação não tecnológica em toda a economia, produzindo serviços e bens de alta qualidade e competitivos. Por fim, através das suas

108 O estudo “European Cities and Capitals of Culture”, de 2004, revela que o programa “Capital Europeia da Cultura” provoca um impacto muito positivo em termos de desenvolvimento cultural e turístico, de repercussões nos meios de comunicação social e de tomada de consciência pelos habitantes da importância da sua cidade.

109 Termo utilizado pelo autor John Howkins, no livro “The Creative Economy – How People Make Money from Ideas” de 2001. Segundo Howkins, a economia criativa, é o negócio das ideias – o meio através do qual novas ideias e invenções são comercializadas e vendidas, consistindo em todos os atos criativos em que o trabalho intelectual cria valor económico. Disponível em:

http://www.creativeeconomy.com.

110 Jornal Oficial da União Europeia, Conclusões do Conselho sobre o contributo da cultura para a

implementação da Estratégia Europa 2020, (2011/C 175/01). Edição em língua portuguesa, C 175/1 de 15.6.2011.

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ligações relevantes com a educação, a cultura pode contribuir eficazmente para a formação de uma mão-de-obra qualificada e adaptável, complementando assim o desempenho económico.

2. O contributo da cultura para um crescimento sustentável. A cultura pode contribuir para o crescimento sustentável através do fomento de uma mobilidade mais ecológica e da utilização de tecnologias de ponta sustentáveis, incluindo a digitalização que garante a disponibilidade em linha de conteúdos culturais. Os artistas e o sector cultural como um todo podem desempenhar um papel crucial na mudança de atitudes das pessoas em relação ao ambiente.

3. O contributo da cultura para um crescimento inclusivo. A cultura pode contribuir para um crescimento inclusivo através da promoção do diálogo intercultural no pleno respeito pela diversidade cultural. As atividades e os programas culturais podem fortalecer a coesão social e o desenvolvimento comunitário, bem como capacitar os indivíduos ou toda uma comunidade para a plena participação na vida social, cultural e económica.

Ignorando a diversidade cultural, as estratégias de desenvolvimento arriscam-se a perpetuar ou agravar os malefícios que deveriam normalmente evitar ou solucionar.

Torna-se, portanto, essencial ter em conta os fatores sociais e o contexto cultural, assim como a participação da comunidade na preparação e execução dos projetos económicos.

Após a elaboração, pelo UNDP111, em 1990, do Modelo de Desenvolvimento Humano, passou-se a atribuir maior importância à integração da dimensão cultural na reflexão e nos projetos de desenvolvimento, dando assim maior atenção às “redes de significado” criadas pelos indivíduos, ao contexto cultural no qual vivem as comunidades e os grupos, às hierarquias sociais que existem a nível local, aos modos de vida e às formas locais de comunicação e de expressão(UNDP, 1990).

O reconhecimento da diversidade cultural, como porta para uma sociedade multicultural112 com base na interculturalidade113, acrescenta uma dimensão crucial às

111 UNDP – United Nations Development Programme, traduzido, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)

112 Pertencente ou relativo a várias culturas simultaneamente ou constituído por vários grupos culturais distintos. Disponível no Dicionário da Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico. Porto Editora, 2003- 2015. Acesso online: http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/multicultural

113 A interculturalidade passa pois pelo desafio lançado pela globalização e suas implicações étnicas e culturais. Identidade, homogeneidade e diversidade são os eixos definidores da interculturalidade, que tem na educação e suas instituições e agentes os meios de desenvolvimento (…) A interculturalidade pressupõe a educação democrática, a transnacionalidade da mesma e a superação dos hermetismos sociais

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estratégias que consideram a sustentabilidade como elemento que facilita a integração dos pilares económico, social e ambiental do desenvolvimento. Nesse sentido, a diversidade cultural pode ser considerada como dimensão transversal-chave do desenvolvimento sustentável.

Diversidade Cultural