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A Análise de Conteúdo como Técnica de Tratamento da Informação

Capítulo I. Opções e Procedimentos Metodológicos

I.3. Paradigma Qualitativo de Investigação

I.3.4. A Análise de Conteúdo como Técnica de Tratamento da Informação

Dadas as características do estudo e a natureza dos dados obtidos através da entrevista, a técnica de tratamento da informação será a análise de conteúdo. Vala (1986, p. 105) refere que a análise de conteúdo é a técnica privilegiada para tratar o material recolhido [num estudo de caso] pois irá permitir mostrar a importância relativa atribuída pelos sujeitos a temas como a vida familiar, a vida profissional e a vida social.

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Bardin1 (2011, p. 44) refere que a análise de conteúdo é “um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/receção (variáveis inferidas) destas mensagens”. Krippendorf (1980, citado por Vala, 1986, p. 103) vem de encontro ao referido por Bardin (2011) evidenciando que a análise de conteúdo é “uma técnica de investigação que permite fazer inferências, válidas e replicáveis, dos dados para o seu contexto”, podendo, esta técnica, tratar de uma forma metódica e sistemática informações que apresentam um determinado grau de profundidade e complexidade.

De acordo com Van der Maren (1995, citado por Esteves, 2006, p. 107) os dados a utilizar na análise de conteúdo podem ser de origem e natureza diversas: dados invocados pelo investigador, isto é, “traços de fenómenos que existem independentemente da sua ação, como sejam dados de observação direta, notas de campo (…)” e dados suscitados pelo investigador, “como sejam protocolos de entrevistas semidirectivas e não-diretivas, respostas abertas solicitadas em questionários (…)”.

Esteves (2006) explica que os dados contidos no material e julgados pertinentes pelo investigador podem ser agrupados em categorias ou classes. As categorias são criadas através de dois procedimentos:

 “Os procedimentos fechados representam todos os casos em que o analista possui uma lista prévia de categorias apropriada ao objeto de estudo e a usa para classificar os dados que geralmente é fornecida por uma teoria geral que se adota e que é apresentada no quadro teórico conceptual do trabalho” (Esteves, 2006, p. 109).

 Os procedimentos abertos “representam um processo essencialmente indutivo: caminha-se dos dados empíricos para a formulação de uma classificação que se lhes adeque (ibidem, p. 109)”.

Em concordância com Esteves (2006), Campos (2004, p. 614) refere que os critérios de categorização podem ser apriorísticos ou não apriorísticos. Na categorização apriorística, o investigador, pela sua experiência, possui previamente as categorias pré-definidas, enquanto na categorização não apriorística, as categorias emergem do contexto das respostas dos sujeitos do estudo, visão que se aproxima da que foi também defendida por Vala (1986, p. 111) para quem “a construção de um sistema de categorias pode ser feita a

priori ou a posteriori, ou ainda através da combinação destes dois processos.”

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Bardin (2011, p. 145) refere que as categorias são “rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de elementos (unidades de registo) sob um título genérico, agrupando esse efetuado em razão das características comuns destes elementos. Nesta linha de pensamento, Campos (2004, p. 614) refere que as categorias são grandes enunciados que abrangem um número variável de temas de acordo com o grau de intimidade ou proximidade. Acrescenta, ainda, que através da sua análise, exprimem significados importantes que vão de encontro aos objetivos do estudo, criam novos conhecimentos proporcionando uma visão diferente sobre os temas propostos. Já em 1986, Vala considerou que a “categorização, é uma tarefa que realizamos quotidianamente com vista a reduzir a complexidade do meio ambiente, estabilizá-lo, identificá-lo, ordená-lo ou atribuir-lhe sentido” (ibidem, p. 110).

Bardin (2011) distingue diversos tipos de categorias podendo estes estar associados aos procedimentos fechados ou aos procedimentos abertos - análise categorial; análise de avaliação; análise de enunciação; análise de expressão; análise das relações; e análise proposicional do discurso.

A análise categorial é a mais antiga e mais utilizada e “funciona por operações de desmembramento do texto em unidades, em categorias segundo reagrupamentos lógicos” (Bardin, 2011, p. 199). Entre as diferentes formas de categorização, a autora considera a categorização semântica (categorias temáticas), sintática (verbos, adjetivos), léxica (classificação das palavras segundo o seu sentido) e expressiva (categorias que classificam perturbações de um determinado tipo, por exemplo) (ibidem, p. 145-146).

A análise de avaliação “tem por finalidade medir as atitudes do locutor quanto aos objetos de que ele fala” na medida em que considera que a linguagem representa e reflete diretamente aquele que a utiliza (ibidem, p. 201).

A análise de enunciação apoia-se numa “conceção da comunicação como processo e não como dado e funciona desviando-se das estruturas e dos elementos formais” (ibidem, p. 215). Dito de outra maneira, o discurso é percecionado como dinâmico onde é possível pesquisar as condições da produção da palavra e o seu encadeamento de forma a produzir inferências indiretas sobre o seu autor.

A análise de expressão utiliza indicadores de ordem formal, isto é, o plano dos significantes e da sua organização em detrimento dos indicadores semânticos (conteúdo plano dos significados) (ibidem, p. 245).

A análise das relações tem como finalidade “assinalar as presenças simultâneas (co- ocorrências ou relação de a associação) de dois ou mais elementos da mesma unidade de contexto, isto é, num fragmento de mensagem previamente definido” (ibidem, p. 257-258).

A análise proposicional do discurso tem como objetivo “identificar o «universo de referências» dos agentes sociais”, ou seja, pretende compreender como e através de que

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estrutura argumentativa se exprimem as questões e as ações dos agentes (ibidem, p. 233- 234).

No entanto, independentemente da direção da pesquisa, Vala (1986, p. 109) menciona que o investigador deve cumprir as seguintes operações:

 “Delimitação dos objetivos e definição de um quadro de referência teórico orientador da pesquisa;

 Constituição de um corpus;  Definição de categorias;

 Definição de unidades de análise;  Quantificação; e

 Elaboração de procedimentos que permitam assegurar a fidedignidade e validade.”

Verificamos, desta forma, que na análise de conteúdo não existem modelos ideais previamente definidos, o que confirma Silva et al. (2005, p. 75) ao referirem que “a análise de conteúdo não obedece a etapas rígidas, mas sim a uma reconstrução simultânea com as perceções do pesquisador com vias possíveis nem sempre claramente balizadas”. No entanto, o plano da análise de conteúdo deve ser norteado pelos teóricos de referência adotados e pelos objetivos do estudo. Assim, a análise de conteúdo não só exige a maior explicitação de todos os procedimentos utilizados, mas também a participação ativa do investigador.

Bardin (2011) vai de encontro ao referido por Vala (1986) ao mostrar ao longo da sua obra e através dos seus exemplos a dependência da categorização em relação aos objetivos de estudo. A autora acrescenta que para que a análise seja válida as categorias devem obedecer a determinadas regras. Estas devem ser:

 “Homogéneas: poder-se-ia dizer que «não se misturam alhos com bugalhos»;  Exaustivas: esgotar a totalidade do «texto»;

 Exclusivas: um mesmo elemento do conteúdo não pode ser classificado aleatoriamente em duas categorias diferentes;

 Objetivas: codificadores diferentes devem chegar a resultados iguais; e

 Adequadas ou pertinentes, isto é, adaptadas ao conteúdo e ao objetivo (Bardin, 2011, p. 38).”

Para Vala (1986, p. 114-115) uma “análise de conteúdo pressupõe a definição de três tipos de unidades: unidade de registo, unidade de contexto e unidade de enumeração”. Para este autor a unidade de registo “é o segmento determinado de conteúdo que se caracteriza colocando-o numa categoria” e pode ser do tipo formal (inclusão de uma palavra,

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frase, uma personagem) e do tipo semântico (inclusão de um tema, ou seja, unidade de informação, sentido ou de significado). A unidade de contexto é caracterizada pelo mesmo autor como o “segmento mais largo de conteúdo que o analista examina quando caracteriza uma unidade de registo”, enquanto a unidade de enumeração é “a unidade em função da qual se procede à quantificação”.

Para analisar os dados optamos por utilizar a análise de conteúdo proposta por Bardin (2011). Esta autora organiza a análise de conteúdo em torno de três pólos cronológicos: a pré-análise; a exploração do material; e o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação.

A pré-análise consiste na organização dos documentos e divide-se em duas etapas: a leitura flutuante e a escolha dos documentos. Bardin (2011, p. 122) explica que a finalidade da leitura flutuante é conhecer o texto dos documentos, “(…) deixando-se [o investigador] invadir por impressões e orientações.” A este propósito Campos (2004, p. 613) considera que nesta subfase são “empreendidas várias leituras de todo o material coletado, a princípio sem compromisso objetivo de sistematização, mas sim com a finalidade de apreender de uma forma global as ideias principais e os seus significados gerais.”

O segundo pólo cronológico – a exploração do material – consiste “em operações de codificação, decomposição ou enumeração, em função de regras previamente formuladas” enquanto o terceiro diz respeito ao “tratamento dos resultados de maneira a tornarem-se significativos e válidos” (Bardin, 2011, p. 127).

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Capítulo II. Gravidez e Maternidade - Fatores Fisiológicos,