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Capítulo VI. Dos Procedimentos Metodológicos à Apresentação dos Dados

VI.2. Procedimentos Metodológicos

Como referido no Capítulo I desta dissertação, realizou-se um estudo de caso pois pretendeu-se compreender em profundidade a problemática do estudo. Para tal, foram entrevistadas mulheres que foram mães pela primeira vez para nos relatarem a sua experiência da gravidez e a perceção dos cuidados de enfermagem ao longo das consultas de saúde materna.

Em relação à elaboração do instrumento de colheita de dados, foi construído um guião que constituiu o suporte para a realização das entrevistas semiestruturadas (anexo 3) e que teve como base o esquema de elaboração de entrevistas de Albano Estrela (1994, p. 343-345). O guião consistiu no indicador das temáticas que se pretendiam estudar, servindo de instrumento orientador ao investigador e capaz de produzir todas as informações adequadas e necessárias. Neste instrumento constaram os objetivos do estudo e as perguntas a serem efetuadas de acordo com as questões de partida.

Desta forma, e com a finalidade de obter a máxima qualidade no instrumento de recolha de informação, utilizámos as regras gerais referentes à elaboração do roteiro apresentadas por Baker (1988, citado por Gil, 1999, p. 123).

Definimos instruções claras para o entrevistador, nomeadamente como iniciar a entrevista, quanto tempo poderá ser despendido, em que locais e circunstâncias poderá ser realizada. Fortin (1999, p. 248) menciona que o entrevistador deve primeiro fixar um encontro e ser pontual, sendo importante escolher um local calmo, privado e agradável para a entrevista. Deve, ainda, criar um clima de confiança no qual a participante se sinta à vontade para responder às questões. Desta forma, ponderamos o gabinete da coordenadora da unidade de saúde familiar como o local privilegiado para a realização da entrevista. Bogdan & Biklen (1994, p. 91) referem que “um ambiente físico bom para estudar é aquele que um mesmo grupo de pessoas utiliza repetidamente” daí o interesse particular deste contexto específico para a investigação. O domicílio da participante adquiriu particular importância na medida em que a mulher e o recém-nascido após o parto, ao se encontrarem num período mais frágil, podiam ter dificuldades nas deslocações à unidade de saúde,

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podendo este facto ser um entrave real a esta investigação (não participação na investigação).

Elaborámos questões precisas de forma a possibilitar que a sua leitura pelo entrevistador e o entendimento pela participante ocorram sem maiores dificuldades. Elaborámos questões para que dispensassem qualquer informação adicional ou que pudessem ser consideradas ameaçadoras. Tivemos em consideração o referido por Foddy (1996, p. 56) que nos diz que “os principais condutores da formulação de perguntas devem ser a brevidade, a simplicidade e o privilégio de referenciais concretos”.

O guião de entrevista foi validado através da realização de um pré-teste como forma de assegurar que o guião é formulado com imparcialidade, clareza e se está elaborado de forma a obter a informação que se pretende. Realizámos o pré-teste a uma mãe pertencente à população mas não da amostra. As restantes entrevistas tiveram por base esse guião.

Para acedermos ao campo de estudo e darmos início à efetivação do mesmo com a recolha dos dados, foi efetuado um pedido de autorização ao Conselho de Ética para a Saúde da Administração Regional de Saúde do Norte, I.P., à Diretora Executiva do Agrupamento de Centros de Saúde Entre Douro e Vouga I (Feira/Arouca) e à Coordenadora da Unidade de Saúde Familiar Terras de Santa Maria. Após terem sido concedidas as autorizações, que estão respetivamente nos anexos 4, 5 e 6, procedemos à recolha dos dados, utilizando o instrumento referido anteriormente.

Assim, num primeiro momento, abordámos as participantes através de um telefonema de forma a estabelecermos o primeiro contacto pessoal, com a finalidade de apresentar o estudo, os objetivos, o motivo da realização da entrevista, a escolha do local e a necessidade de obter autorização para áudio-gravação das entrevistas, bem como a garantia da confidencialidade e do anonimato na transcrição das entrevistas. Num segundo momento, procedemos à realização das entrevistas tendo decorrido com privacidade e sem intercorrências. A duração das entrevistas variou entre 15 a 60 minutos. Durante a realização das entrevistas preocupámo-nos em respeitar as técnicas de comunicação, mantendo uma postura de escuta ativa, dando espaço e tempo para a participante refletir e responder. Acrescentámos sempre que necessário questões pertinentes com a finalidade e esclarecer conceitos ou ideias.

As entrevistas foram gravadas num telemóvel com som digital, de modo a recolhermos, na íntegra, a informação fornecida pelas participantes, viabilizando a sua análise posterior. Efetuámos a gravação após consentimento informado, respeitando todos os princípios éticos e orientadores. Realizámos a audição integral das gravações e efetuámos a transcrição das entrevistas em suporte de papel, com fidelidade do discurso das participantes. Após a transcrição, as participantes foram contactadas e foi-lhes dada a

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possibilidade de reverem a transcrição para que pudessem reformular algum ponto que não tenha sido totalmente esclarecido.

Na transcrição utilizámos algumas convenções como as aspas simples (“”) para os comentários das participantes; os parênteses curvos (()) para transcrições incertas, incluindo a melhor suposição do investigador; os parênteses retos ([]) para os esclarecimentos resultantes da interpretação do investigador; as reticências (…) para registar os momentos de silêncio e pausa; o símbolo (risos) para assinalar os momentos de algum riso.

De forma a facilitar a localização dos dados, as entrevistas foram codificadas com a letra «E» (que corresponde à entrevista) e com um número «1, 2, 3,…» (que corresponde ao número da participante, por ordem cronológica em que ocorreram as entrevistas).

Após a transcrição, realizamos a leitura flutuante das entrevistas na vertical de forma a estruturar as ideias iniciais. Seguidamente, procedemos à leitura exaustiva das entrevistas na horizontal, frase a frase, de maneira a podermos separar os dados em categorias. Optamos por analisar de uma forma sistemática os conteúdos semânticos das entrevistas, de forma a obter unidades de registo que permitissem, de forma indutiva, obter inferências e de forma a fornecer informações sobre as questões e os objetivos da investigação. As unidades de análise consideradas relevantes para o nosso objeto de estudo foram destacadas do restante texto (categorização) para posteriormente serem introduzidas num texto novo (descontextualização).

Relativamente à categorização, e tendo em consideração as questões e os objetivos orientadores do estudo, estabelecemos a priori três dimensões e para cada dimensão algumas categorias (quadro 8). Para algumas categorias consideramos pertinente a divisão em subcategorias, no entanto não sentimos necessidade de fazê-lo em todas as categorias por considerarmos que íamos repartir demasiado o texto correndo o risco de perder informação relevante. Ao longo do processo de codificação, analisamos pormenorizadamente os discursos e fomos comparando as categorias entre si, de forma a detetar possíveis categorias emergentes, assim como, encontrar novas relações entre elas. Optamos por apresentar as unidades de registo num quadrode forma a potenciar o acesso fácil e rápido às dimensões e categorias.

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Quadro 8 – Dimensões, Categorias e Subcategorias da Análise de Conteúdo

DIMENSÕES CATEGORIAS SUBCATEGORIAS

VIVÊNCIA DA GRAVIDEZ Sentimentos/Emoções Associados à Gravidez Sentimentos/Emoções Positivos Sentimentos/Emoções Negativos Experiência da Gravidez GRAVIDEZ E MATERNIDADE COMO MUDANÇA Preparação para a Maternidade Desenvolvimento da Identidade Materna Desejo de Ser Mãe Ligação Materno-Fetal Relacionamento com Pessoas

Significativas na Gravidez Relacionamento com o Cônjuge/Companheiro Relacionamento com a Mãe Apoios Durante a Gravidez Apoio do Cônjuge/Companheiro e Mãe Apoio de Familiares e Amigos

Apoio de Serviços de Saúde na Comunidade

CONSULTA DE

ENFERMAGEM DE SAÚDE

MATERNA

Á Descoberta da Consulta de Enfermagem de Saúde Materna

Atividades Desenvolvidas na Consulta de Enfermagem de Saúde

Materna

Opinião acerca da Consulta de Enfermagem de Saúde Materna

Contributos da Consulta de Enfermagem de Saúde Materna

Relacionamento com o(a) enfermeiro(a)

No processo de categorização tivemos em consideração os critérios de qualidade para a definição de categorias propostos por Bardin (2011, p. 147-148), nomeadamente a exclusividade na qual cada elemento só pode existir numa única categoria; a homogeneidade em que uma categoria só pode funcionar com um registo e com uma dimensão de análise; a pertinência que evidencia que a categoria deve estar adaptada ao material de análise escolhido e a objetividade e a fidelidade que entende que as diferentes partes de um mesmo material, ao qual se aplica a mesma grelha categorial, devem ser codificadas da mesma maneira, mesmo quando submetidas a várias análises.

Os resultados da análise de conteúdo são apresentados no próximo capítulo onde cada categoria é desenvolvida individualmente. Os resultados são analisados e comparados

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com a perspetiva de outros autores, sendo que através da revisão da literatura foi-nos possível ir encontrando sustentabilidade para os dados emergentes.

Tivemos a preocupação em manter a cientificidade, através da credibilidade dos dados colhidos, da validade da análise dos dados e da fidelidade de todo o percurso deste estudo. Relativamente à credibilidade dos dados, e tal como referimos anteriormente, após a transcrição das entrevistas, validamos a interpretação do seu conteúdo com as participantes, para que a transcrição das entrevistas correspondesse à realidade reconhecida pelas próprias participantes. A validade das categorias efetuou-se com recurso a um elemento externo, a orientadora do estudo. Finalmente salientamos a fidelidade do estudo, ao descrevermos pormenorizadamente os passos e procedimentos a que recorremos para realizar o mesmo, ou seja, ao longo do estudo apelamos à constância da aplicação de princípios, nomeadamente, padronização das regras de análise, tratamento e interpretação dos dados. Deste modo, pensamos conseguir apresentar uma transparência e todo o processo, assegurando o seu rigor científico.