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Capítulo III. Fundamentos Teóricos de Enfermagem

IV.2. Plano Nacional de Saúde 2012-2016

Associada à reforma dos cuidados de saúde primários assiste-se a uma reforma no pensamento sobre saúde. Esta já se iniciou com o Plano Nacional de Saúde 2004-2010 e é reforçada com o Plano Nacional de Saúde 2012-2016. Este define quatro eixos

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estratégicos10: i) cidadania em saúde; ii) equidade e acesso adequado aos cuidados de saúde; iii) qualidade em saúde; e iv) políticas saudáveis.

Relativamente ao eixo Cidadania em Saúde, o cidadão é o centro do serviço nacional de saúde, sendo responsável pela sua própria saúde e da sociedade onde está inserido. Veicula-se a mensagem de que para que o cidadão contribua para a melhoria da saúde individual e coletiva deve ser reforçada:

“a promoção de uma dinâmica contínua de desenvolvimento que integre a produção e partilha de informação e conhecimento (literacia em saúde), numa cultura de proatividade, compromisso e autocontrolo do cidadão (capacitação/participação ativa) para a máxima responsabilidade e autonomia individual e coletiva (empoderamento)” (PNS 2012-2016 – Versão Resumo, p. 37-38).

É no quadro desta orientação que se advoga que os profissionais de saúde devem “incrementar a prestação de cuidados individualizados e personalizados, com a participação do cidadão no processo de decisão terapêutica e considerar e avaliar o contexto socioeconómico e cultural e adequar os cuidados de saúde à realidade do cidadão, família e comunidade” (PNS 2012-2016 – Versão Resumo, p. 39).

No que diz respeito ao eixo Equidade e Acesso aos Cuidados de Saúde a orientação é no sentido de que devem ser feitos esforços para se criarem iguais oportunidades para que todos os cidadãos possam atingir o seu potencial de saúde, fornecendo-lhes os cuidados de saúde necessários no local apropriado e no momento adequado. Recomenda- se, pois, que os profissionais de saúde devem:

“desenvolver e protocolar a articulação de cuidados e investir de forma proactiva na comunicação entre prestadores dentro e entre instituições e serviços; intervir sobre os determinantes associados ao acesso como fator-chave das iniquidades em saúde, promovendo estratégias de melhoria do acesso, adequando os seus serviços, flexibilizando a sua resposta, diversificando as suas práticas, trocando experiências e avaliando o seu desempenho; e promover a confiança do cidadão no seu médico e enfermeiro de família numa relação que promova a proximidade e continuidade de cuidados personalizados, como principais gestores da sua situação de saúde, e

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Eixos estratégicos são perspetivas do âmbito, responsabilidade e competência de cada agente do Sistema de Saúde (cidadão, profissional de saúde, gestor e administrador, representante de grupos de interesses, empresário, decisor político), cuja melhoria exige reconhecer a sua interdependência, reforçando a perspetiva de Sistema de Saúde. Retornam ganhos, melhoram o desempenho e reforçam o alinhamento, a integração e a sustentabilidade do Sistema de Saúde, bem como a capacidade de este se desenvolver como um todo (PNS 2012-2016 – Versão Resumo, p. 26).

90 responsáveis pela mobilidade entre os vários serviços de saúde” (PNS 2012-2016 – Versão Resumo, p. 44).

A Qualidade em Saúde, terceiro eixo estratégico, pode ser definida como a prestação de cuidados de saúde acessíveis e equitativos de acordo com as necessidades do cidadão, com o melhor desempenho possível (recursos humanos e materiais) e que promovam a satisfação do cidadão. Nesta aceção, os profissionais de saúde devem:

“assegurar a procura de uma visão de Qualidade em Saúde, compreendendo a cadeia de valor em saúde em que a atividade se insere, promovendo e assumindo práticas e competências de melhoria contínua; ter uma visão específica sobre a segurança do doente e gestão do risco no próprio ato individual e personalizado, para além de aspetos globais de qualidade; e reforçar a responsabilidade dos profissionais de saúde na promoção da saúde, na prevenção da doença e, sempre que se justifique, na gestão da doença” (PNS 2012-2016 – Versão Resumo, p. 49-50).

O quarto eixo estratégico, relativo à implementação de Políticas Saudáveis implica uma abordagem multissectorial de forma a serem criados ambientes físicos e sociais promotores da saúde, o que exige aos profissionais de saúde:

“estar sensibilizados para a relevância da abordagem e intervenção intersectorial na saúde e para o desenvolvimento de competências que permitam otimizar o trabalho conjunto com profissionais de outros sectores e frequentar formação regular na área de Saúde Pública que inclua a definição de políticas, o planeamento, a implementação, a monitorização, a avaliação e o envolvimento de todos, incluindo os destinatários” (PNS 2012-2016 – Versão Resumo, p. 56).

Para a materialização dos quatro eixos estratégicos são enunciados quatro objetivos para o sistema de saúde: 1) obter ganhos em saúde; 2) promover contextos saudáveis ao longo da vida; 3) reforçar o suporte social e económico na saúde e na doença; e 4) fortalecer a participação de Portugal na saúde global. Destes, apenas abordamos o segundo por se relacionar mais estreitamente com a problemática do estudo.

Em relação à promoção de contextos saudáveis ao longo da vida, o “serviço nacional de saúde assume a responsabilidade de promover, potenciar e preservar a saúde, reconhecendo o potencial individual, ao longo do ciclo de vida, em cada momento e contexto” (PNS 2012-2016, Capítulo 4.2, p. 2). Salienta que a abordagem pelo ciclo de vida permite uma “organização e intervenção integrada que inclui os cuidados primários, hospitalares e continuados integrados, sobre os fatores protetores, de risco e outros, assim

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como sobre os determinantes biológicos, comportamentais, sociais, entre outros, desde o planeamento familiar e nascimento até à morte” (PNS 2012-2016, Capítulo 4.2, p. 3).

Desta forma, são consideradas seis etapas do ciclo de vida: i) nascer com saúde (gravidez e período neonatal); ii) crescer com segurança (pós-natal até aos 9 anos); iii) juventude à procura de um futuro saudável (dos 10 aos 24 anos); iv) uma vida adulta produtiva (dos 25 aos 64 anos de idade); v) um envelhecimento ativo (acima dos 65 anos); e vi) morrer com dignidade. Também neste caso abordamos apenas a primeira por se relacionar com a problemática que investigamos.

A etapa «nascer com saúde» engloba a saúde da grávida desde a conceção até ao puerpério e a saúde do embrião, feto e recém-nascido até aos 28 dias e desenvolve-se no contexto familiar e laboral da grávida. Há evidência para a saúde a longo prazo através de “intervenções a nível de: i) planeamento e acompanhamento da gravidez; ii) preparação para a parentalidade; iii) estilos de vida saudáveis da grávida (incluindo prevenção do consumo de álcool e tabaco); iv) preparação para o parto; v) amamentação; vi) imunização” (PNS 2012-2016, Capítulo 4.2, p. 5).

A reforma dos cuidados de saúde primários e os eixos estratégicos e objetivos do PNS 2012-2016 constituem medidas importantes para a mudança do pensamento sobre saúde. Esta mudança deve ser feita no sentido de colocar o cidadão no centro responsabilizando-o pela sua própria saúde e valorizando a qualidade de vida. Os profissionais de saúde devem perceber que a saúde e doença fazem parte de um mesmo

continuum devendo dar prioridade à promoção dos fatores que permitem uma resposta

favorável à saúde – fatores de saúde. A acessibilidade aos cuidados e a equidade são dois aspetos muito valorizados.

No que diz respeito à vigilância da gravidez, e através da leitura anterior, percebe-se que, em Portugal, se têm vindo a reunir condições apropriadas para um correto acompanhamento da mulher grávida. A meta deste acompanhamento é a promoção de uma gravidez saudável minimizando as complicações associadas a esta fase da vida.

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