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1.3 Consciência Humana

1.3.1 A antropogênese da consciência humana

Analisar-se-á neste item a antropogênese da consciência humana, levando em consideração a importância da função fisiológica19 da consciência e do cérebro humano. Essa função fisiológica nos indica a base biológica do cérebro humano, que dá as condições para que possa se desenvolver a própria consciência humana ao longo do seu processo de humanização. As estruturas fisiológicas ou biológicas são importantes para o surgimento da consciência humana, no entanto, não são determinantes para a humanização; o desenvolvedor da ontogênese é a sua própria atividade ao longo da história humana, desde o primeiro instante em que o humanoide desceu das árvores e começou a desenvolver a sua história humana.

18 O problema do método e da metodologia aprofundaremos no capítulo 3 desta tese.

19 Para um estudo aprofundado sobre a fisiologia do cérebro humano e o sistema nervoso central no ser

humano consultar obras de:

ENGELS, F. El papel del trabajo en la transformación del mono en hombre. In: Marx & Engels. Obras

Escogidas, tomo II. Ed. Dietz Verlag: Berlín, Alemania, 1952

LURIA, A.R. Las Funciones Corticales Superiores del Hombre. La Habana: Orbe, 1997. PAVLOV. Obras Completas.Tomo III e IV. Ed. Rusa: Moscú, 1947.

POLIAKOV, G.I. Ontogénesis temporal y media de la corteza del cerebro humano. Ed. Instituto del cerebro: Moscú, Rusia, 1937.

VYGOTSKY, L.S & LURIA, A.R. Estudos sobre a história do comportamento: símios, homem

Rubinstein (1967) caracteriza o desenvolvimento da conduta e do psiquismo nos animais mostrando que todos os animais, desde os invertebrados e vertebrados, possuem um sistema nervoso que lhes serve de transmissor sensorial com o mundo externo, porém, sempre esta manifestação sensorial lhes é inata, só serve para que o animal possa se adaptar ao meio natural onde existe. Assim, esta adaptação se deve a três categorias: centralização, cefalização e hierarquização. Estas três categorias não evoluíram nos seres viventes, excluindo ao mono, por isso, não há uma evolução histórica.

Por seu turno, o processo de encefalização, o desenvolvimento do encéfalo, fará a grande diferença na formação e no desenvolvimento do psiquismo humano. A encefalização permitiu ao ser humano desenvolver progressivamente o sistema nervoso central, único em sua espécie. Assim, pelo processo de encefalização o ser humano começa a desenvolver o seu psiquismo, a desenvolver o seu intelecto.

O salto qualitativo fundamental que dará o início do desenvolvimento do psiquismo humano será concretizado e realizado a partir da sua atividade. Assim, o ser humano se diferencia dos outros seres vivos quando vincula as formas biológicas da sua existência às formas históricas como resultados do desenvolvimento histórico-social da sua própria atividade. Neste sentido, neste processo infinito de desenvolvimento ao longo de milhões de anos, surge a Consciência Humana20.

Rubinstein (1967) destaca o desenvolvimento do ser humano desta forma:

La antropología soviética supone, a base de la teoría de la antropogénesis, las razas humanas son biológicamente equivalentes, pues se hallan en un mismo nivel de desarrollo de organización física.

Del hombre del Neanderthal surgieron los hombres de superior desarrollo de la época paleolítica posterior. Los hombres del auriñacense ya poseían todos los rasgos estructurales básicos del hombre actual: frente alta, mentón salido, curvatura de la columna vertebral, etc. El volumen de su cerebro era grande y las partes frontales estaban muy desarrolladas.

La apariencia externa, la naturaleza del hombre, evolucionó con el trabajo social, con la elaboración y empleo de herramientas y con el desarrollo de la sociedad. Dentro del proceso de la actividad productiva social del hombre, gracias a la cual éste cambia la naturaleza que le rodea, transforma también su propia naturaleza, tanto la física como la psíquica21. Se perfecciona la

mano, que se vuelva apta para crear distintas herramientas más finas, como, por ejemplo, el escoplo, con cuya ayuda los artistas del Cro-Magnon crearon los primeros productos de un arte primitivo. Se perfecciona el ojo, que es capaz de deleitarse con los productos del arte. El cerebro experimenta un gran desarrollo. En una palabra: del homo neandertalensis22 surge el homo

20 Grifo nosso.

21 Marx, K. El capital, vol.I, cap. 5, 1. 22 Em itálico no original.

sapiens23, el hombre de los rasgos morfológicos que caracterizan al hombre

de nuestros días. (RUBINSTEIN, 1967, pp. 159-160).

Segundo Rubinstein (1967), não há diferença biológica entre as raças humanas. Esta conclusão da antropologia soviética é muito importante para eliminar qualquer pensamento idealista objetivo ou subjetivo que defende a diferenciação biológica entre os seres humanos. O ser humano procede da mesma base biológica. O que o diferenciará é o social onde está inserido, que de um lugar a outro há muita diferença. Assim, o desenvolvimento das funções psíquicas superiores de um ser humano que vive num ambiente onde o processo de produção dos bens culturais é relativo, terá como consequência o desenvolvimento dessas funções psíquicas de forma relativa, ou seja, é o contexto histórico e social onde está inserido esse ser humano que influenciará rotundamente no desenvolvimento das suas funções psíquicas.

O desenvolvimento da consciência humana não depende da sua forma biológica, senão da forma social onde o ser humano realiza as suas atividades pela mediação de ferramentas, signos e com a interação com outros sujeitos.

Destaca-se que o desenvolvimento da consciência humana se deve a três princípios fundamentais: trabalho social, elaboração e uso de ferramentas e a produção e reprodução da sua atividade. Estes princípios são processos dialéticos e o salto constitui a sua ordem qualitativa.

A consciência humana reflete o mundo objetivo numa imagem subjetiva no próprio ser humano, destacando desta forma que é o material que cria a consciência e não a consciência humana que cria o mundo material.

Assim, Triviños (2009) faz uma interessante reflexão sobre a consciência nestes termos:

A matéria é capaz de reflexo. O reflexo é uma característica geral da matéria, uma propriedade dela. A consciência é um tipo de reflexo, a propriedade mais evoluída de reflexo, peculiar só à matéria altamente organizada. Desta maneira, a consciência não é matéria como pensavam os materialistas vulgares. A consciência é uma propriedade da matéria, a mais altamente organizada que existe na natureza, a do cérebro humano. Essa peculiaridade surgiu como resultado de um longo processo de mudança da matéria. (TRIVIÑOS, 2009, p.62).

A consciência como propriedade da matéria nos indica que a consciência nunca determina a matéria, senão a matéria é que determina a consciência. O ser humano é uma matéria e a consciência é a sua maior propriedade organizativa vinculada ao cérebro humano. A consciência surge quando o ser humano sente a necessidade de transformar a natureza com instrumentos especialmente preparados e de dar respostas para as suas necessidades criadas por meio da consciência. A consciência é a capacidade de fazer inteligível e compreensível o reflexo que emana da própria matéria.