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3.2 Princípios do Método Microgenético da Teoria Histórico-Cultural

3.2.4 Análise de unidades ao invés de elementos

Vygotski (1993) avalia a questão da análise em elementos e da análise em unidades quando trata sobre o problema e o método de pesquisa na Psicologia da sua época. Assim, debruça-se sobre duas categorias: pensamento e linguagem. Para o autor, o problema principal dessas duas categorias se dá no plano da relação entre elas, no entanto, o problema do pensamento e da linguagem sempre foi estudado ao longo da ciência empírica e idealista, de modo que o que tange à relação existente entre eles sempre foi um tema pouco explorado. Houve várias tentativas idealistas ou mecanicistas para encontrar essa relação, mas nunca obteve-se uma resolução porque o método e a metodologia não davam conta de encontrar esse nexo essencial.

Vygotski (1993) expressa esta tentativa de solucionar o problema do pensamento e da linguagem desta forma:

Si intentamos formular en pocas palabras los resultados del estudio sobre el problema del pensamiento y el lenguaje en la historia de la psicología científica, podemos decir que las distintas aproximaciones han oscilado siempre y repetidamente entre dos polos extremos: entre la identificación, completa fusión del pensamiento y la palabra, y la total y absoluta ruptura y

separación metafísica. (VYGOTSKI, 1993, p.16).

Ambos os polos extremos se fundamentavam no aspecto biológico, que seria o eixo comum existente entre os dois polos. Os partidários do polo da identificação afirmam que pensamento e linguagem coincidem, são iguais em toda sua manifestação

exterior e, se coincidem, não há por que ser analisado. Já os partidários da ruptura e da separação enfatizam que são elementos diferentes e que, se há uma relação entre eles, é só uma pura relação mecânica que igualmente não motiva a sua análise.

Vygotski (1993) propõe que o problema da identificação externa ou ruptura entre pensamento e linguagem tem como causa o tipo de análise que se usa, ou seja, que o tipo de método está fundamentando essa forma de análise. Assim, expressa que:

Conviene distinguir dos clases de análisis utilizados en psicología. La investigación de cualquier entidad psíquica presupone obligatoriamente un análisis. Este análisis puede adoptar dos formas básicamente diferentes; una de ella es la responsable del fracaso de todos los intentos de resolver este problema; mientras la otra es el único punto de partida acertado para acercarnos, aunque sólo sea el primer paso, hacia su correcta resolución (VYGOTSKI, 1993, p. 17).

Na sua análise, Vygotski (1993) consegue distinguir que há dois tipos de análise e que uma é responsável pelo fracasso de resolver o problema entre pensamento e linguagem, enquanto a outra se posiciona como saída para tal problemática. Assim, o problema se dá no tipo de método que se utiliza para analisar a essência do pensamento e da linguagem. Se o problema é o método, então devemos destacar a sua fundamentação teórica, porque cada método se fundamenta numa teoria.

Vygotski (1993) assinala que há dois tipos de análise: por elementos e por unidades. Vejamos o que diz sobre a análise por elementos:

El primer procedimiento de análisis psicológico se puede denominar de descomposición de conjuntos psíquicos complejos en sus elementos. Cabe compararlo con el análisis químico del agua por descomposición en hidrogeno y oxigeno. Lo esencial de este tipo de análisis consiste en que obtiene, como resultado, productos de naturaleza distinta a la del conjunto analizado, elementos privados de las propiedades inherentes al conjunto pero dotados de otras nuevas e insospechadas en aquél. Al investigador que en su deseo de resolver el problema del pensamiento y el lenguaje lo descompone en uno y otro, le sucede exactamente lo mismo. (VYGOTSKI, 1993, p. 18).

Vygotski (1993) caracteriza a análise por desmembrar ou descompor os conjuntos psíquicos complexos em seus próprios elementos constitutivos e em partes essenciais que compõem os objetos e fenômenos da realidade. Este desmembramento dos conjuntos psíquicos leva em consideração as características essenciais, no entanto, não chegam a ser a célula essencial que explica todos os conjuntos dos objetos e dos

fenômenos. Assim, no caso do problema do pensamento e da linguagem, esta análise só faz desmembramento destas categorias em suas constituições externas; elaborando uma conexão mecânica externa entre: “elementos para recomponer, siguiendo procedimientos meramente especulativos, las propiedades desaparecidas durante todo el proceso de análisis, pero pendientes de explicación” (Vygotski, 1993, p.18). Desta forma, esta análise por elementos, exclusivamente para “a psicología que buscando las propiedades significativas del pensamiento linguístico inherentes a él precisamente como conjunto, lo descompone en elementos, buscará después en vano las características de la unidad propias del conjunto” (Vygotski, 1993, p.18).

Vygotski (1993) considera “como un método de conocimiento, en cierto modo, opuesto al verdadero análisis”, esta forma empírica de realizar a descomposição dos conjuntos dos objetos e fenômenos em seus elementos. Para Vygotski (1993), aplicar esta forma de analisar especificamente na Psicologia se mostra uma contradição:

De hecho, en psicología esta forma de análisis resulta contradictoria; en lugar de explicar las propiedades concretas y específicas del conjunto objeto de estudio, le imprime una orientación más general, que aclara tan sólo aquello que se refiere al lenguaje y al pensamiento como universalidades abstractas, dejando al margen la posibilidad de aprehender las regularidades concretas que nos interesan. Es más, el uso no planificado de este tipo de análisis psicológico da lugar a profundos errores, ya que ignora la naturaleza unitaria e integral del proceso que se estudia y sustituye las relaciones internas de cohesión por relaciones mecánicas externas entre dos procesos heterogéneos y extraños el uno al otro (VYGOTSKI, 1993, p. 18-19).

Para Vygotski (1993), analisar os objetos e fenômenos da realidade em seus elementos constitui-se contraditório porque, no lugar de buscar as especificidades concretas destas categorias, apresenta uma generalização abstrata, irreal, não existente e que não consegue apreender essas ações concretas e reais que se dão em suas essências. Também para Vygotski (1993) esta forma de análise em elementos se caracteriza pela falta de planejamento metodológico e, por isso, gera grandes erros metodológicos para captar a unidade e integralidade do processo. Logo, esta análise busca chegar à essência dos objetos e fenômenos substituindo as relações internas que unifica por meio de relações mecânicas externas. Assim, por meio desta análise, pensamento e linguagem são separados em duas partes e, depois, há uma intenção de unificá-los por meio de uma conexão associativa mecânica e externa, desconfigurando totalmente pensamento e linguagem.

Para Vygotski (1993), esta análise em elementos aplicada na Psicologia infantil, especificamente na área da linguagem infantil, provoca grandes prejuízos para compreender o desenvolvimento do pensamento e da linguagem:

También en psicología, el desarrollo del lenguaje infantil se ha estudiado descomponiéndolo en el desarrollo de sus aspectos sonoros y fonéticos y el de su aspecto semántico. Por un lado, la historia de la fonética infantil, estudiada en todos sus detalles, ha sido absolutamente incapaz,de explicar, aunque sólo sea del modo más elemental, los fenómenos que describe. Por otro, el estudio del significado de la palabra en la infancia ha conducido a los investigadores a la historia autónoma e independiente del pensamiento infantil, sin relación con la historia de la fonética de su lenguaje (VYGOTSKI, 1993, p. 19).

A linguagem infantil, por meio da análise em elementos, sempre se caracterizou em desmembrar a linguagem infantil em seus elementos externos, como seus aspectos sonoros, fonéticos e semânticos para apreender a essência dela. Não obstante, esta forma de analisar a linguagem infantil não consegue mostrar o essencial que compõe cada elemento e como se relaciona internamente.

Frente a esta forma de análise, Vygotski (1993) propõe a análise em unidades:

Creemos que sustituir este tipo de análisis por otro muy diferente es un paso decisivo y crítico para la teoría del pensamiento y el lenguaje. Tendría que ser análisis que segmentase el complicado conjunto en unidades. Por unidad entendemos el resultado del análisis que, a diferencia de los elementos, goza de todas las propiedades fundamentales características del conjunto y constituye una parte viva e indivisible de la totalidad (VYGOTSKI, 1993, p.19).

Para Vygotski (1993), esta análise em unidades se caracteriza por incluir todas as propriedades fundamentais dos objetos e dos fenômenos da realidade, fazendo uma generalização concreta e mostrando a sua verdadeira essência, a sua célula viva que comunica e se relaciona com o todo, sem perder suas especificidades individuais no coletivo. Assim, por meio desta análise em unidades se apreende essa célula integradora e se constitui uma parte viva, indivisível dessa totalidade. Vygotski (1993) exemplifica esta análise em unidades, quando trata sobre a fórmula da água, e diz:

No es la fórmula química del agua, sino el estudio de las moléculas y del movimiento molecular lo que constituye la clave de la explicación de las propiedades definitorias del agua. Así, la célula viva, que conserva todas las

propiedades fundamentales de la vida, definitorias de los organismos vivos, es la verdadera unidad de análisis biológico (VYGOTSKI, 1993, p. 20).

Por meio da análise em unidades é possível descobrir que a célula que leva à essência da unidade na sua totalidade da água não constitui sua fórmula química, senão a sua molécula, essa sim a essência que une a todos na totalidade.

Por analogia, Vygotski (1993) vai concluir que a célula que leva em si a essência de unidade e sua totalidade entre pensamento e linguagem seria o significado, que é o aspecto interno da palavra. Enfatiza, ainda, a importância deste descobrimento de análise em unidades para solucionar o problema entre pensamento e linguagem:

De la palabra hemos conocido siempre sólo su aspecto externo, el dirigido a los demás. Su otro aspecto, el interno, su significado, es desconocido como la cara oculta de la luna, ha permanecido y permanece sin estudiar. No obstante, es ahí precisamente donde se oculta la posibilidad de resolver las cuestiones que nos interesan sobre las relaciones entre el pensamiento y el lenguaje, porque es en el significado de la palabra donde reside la clave de la unidad que denominamos pensamiento lingüístico (VYGOTSKI, 1993, p. 20).

Por meio desta análise em unidades, fundamentada na lógica dialética, é possível descobrir a essência que unifica pensamento e linguagem na sua totalidade. Essa célula viva é o significado, que leva em si todas as determinações históricas do desenvolvimento da humanidade. O significado, como unidade e nexo na totalidade, é o que reflexa a realidade na consciência de forma qualitativa, diferente da análise em seus elementos.

Assim, Vygotski (1991) destaca a importância de realizar a análise em unidades e não em elementos, por meio desta fundamentação:

[...] a análise pela decomposição em elementos não é de fato uma verdadeira análise, aplicável à resolução de problemas concretos em qualquer tipo de fenômeno. Interpretando estas últimas como os produtos da análise que, diferentemente dos elementos, constituem os componentes primários, não com relação à generalidade do fenômeno a estudar, mas somente com relação às suas características e propriedades concretas. Essas unidades, diferentemente dos elementos, não perdem as propriedades inerentes ao todo que devem ser objeto de explicação, senão que encerram em sua forma mais simples e primária essas propriedades do todo que tem motivado a análise (VYGOTSKI, 1991, p. 288).

A análise em unidades permite conhecer dados que aclaram a verdadeira essência dos objetos e dos fenômenos da realidade, também permite estudar o

desenvolvimento, seu funcionamento e sua própria estrutura da unidade dialética. Assim, esta análise em unidades é fundamental para realizar a ascensão do abstrato ao concreto.

3.3 Os procedimentos metodológicos da pesquisa bibliográfica na perspectiva