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A formação e desenvolvimento das Funções Psíquicas Superiores da criança é realizada, também, por meio dos conhecimentos científicos sistematizados, levando sempre em consideração o próprio desenvolvimento psíquico da criança. Ou seja, levar em consideração a formação do novo na criança não significa atropelar suas etapas de desenvolvimento psíquico, senão oferecer o conhecimento por meio de um sistema do ensino que lhe proporcione superar o pensamento sensitivo-empírico.

A criança de 4 a 6 anos está inserida em um contexto histórico-social cheio de produções automatizadas, tecnológicas, avanços científicos, informações que estão no cotidiano, ou seja, a criança respira tecnologias e informações a cada segundo.

Por isso, uma criança brinca com tablet, com celular, com brinquedos eletrônicos, escuta a “voz” de dinossauros, vê figuras em 3D, interage com outras crianças por meio da tecnologia etc. Atualmente, uma criança começa a pensar muito cedo, desenvolve sua memória muito rapidamente pelas mediações externas. Por isso, esse ambiente externo impacta e modifica as suas Funções Psíquicas Superiores, aumentando-lhe as habilidades de pensamento lógico e desenvolvendo novas formações psíquicas desde muito cedo.

Não podemos pensar que a criança de hoje é igual à criança da época de Vygotski, porque o contexto histórico-social é diferente para ambas as crianças. As ferramentas mediadoras, os signos, as atividades que a criança realiza hoje influenciam no desenvolvimento e na formação de novas Funções Psíquicas Superiores. Por isso, a criança pode desenvolver o pensamento conceitual graças à influência da tecnologia e do avanço da ciência, por meio da mediação do adulto e por meio de atividades intencionais, com sentido e significado profundos para a criança da Educação Infantil.

Por isso, pensando em como contribuir na formação de um pensamento conceitual, muito importante para a criança, devemos diferenciar entre os pressupostos da lógica formal e a lógica dialética.

Assim, Shuare (1987), no prefácio da obra titulada “La Psicología Evolutiva y Pedagógica en la URSS. Antología”, analisa o texto de Davídov, concluindo desta maneira suas apreciações sobre o modelo de método da lógica formal para desenvolver o pensamento da criança:

[…] el análisis del problema no se realiza en un plan pedagógico estrecho, sino que se plantea en un enfoque histórico y psicológico más amplio, desde el punto de vista de las tareas sociales, y para ello parte del resultado final de la enseñanza, o sea del tipo de pensamiento que se forma en los niños durante dichos procesos.

Desde estas posiciones el autor evalúa los principios didácticos fundamentales que dominan hasta ahora en la escuela y muestra su verdadero contenido, oculto tras su carácter “evidente”. El enfoque histórico y psicológico permite poner de manifiesto las principales tareas y finalidades de la escuela tradicional y también fundamenta los requerimientos generales hacia nuevo sistema de educación media general obligatoria. Contraponiendo los principios didácticos tradicionales y los nuevos posibles, V. Davídov plantea la tesis de que la escuela, en la época de la revolución científico- técnica en la sociedad socialista, debe garantizar la formación en los niños de un pensamiento teórico autónomo (y no empírico, como el que forma la escuela tradicional), favorecer el desarrollo de una actitud creativa hacia la realidad. (DAVIDOV, V.; SHUARE, M., 1987, p. 16).

Desta forma, Shuare (1987) destaca a importância de analisar a lógica formal como pressuposto filosófico, epistemológico, lógico, sociológico e pedagógico da escola tradicional que se fundamenta no empirismo para diferenciá-la da lógica dialética que se fundamenta no materialismo histórico-dialético.

Observa-se que os processos de ensino e de aprendizagem que a escola tradicional propõe, os quais se fundamentam na lógica formal (conceitual-empírica), não conseguem responder mais aos objetivos sociais da educação atual da criança

porque seus conteúdos e seu método não desenvolvem as habilidades das Funções Psíquicas Superiores das crianças necessárias à nova sociedade, como “aldeia global” (McLuhan, 1971, 1998). Não negamos a importância que teve a escola tradicional na formação do ser humano para adquirir habilidades e conhecimentos, para ler, escrever e contar, elementos básicos e importantes para que estejam inseridos na sociedade.

No entanto, atualmente, a criança vive e experimenta uma revolução científico- tecnológica e a escola tem o objetivo de formar e desenvolver novas Funções Psíquicas Superiores, por meio da apropriação e assimilação de todas as realizações histórico- sociais do ser humano que há realizado na história do seu desenvolvimento ontogenético.

Nesse sentido, Davydov (1981), destaca a importância de conjugar o ensino com os progressos da ciência e da tecnologia, desta forma:

La solución de este problema tiene diversos aspectos. Así, pues, vienen a destacarse las cuestiones filosófico-sociológicas sobre la naturaleza común del proceso creativo y asimilativo de la cultura humana por los individuos, y sobre el cambio histórico de las formas de dicha asimilación. Luego surge la problemática de la estructura lógica del pensamiento científico actual y de los métodos para su descripción y estudio. El tercer grupo de cuestiones se refiere al aspecto psicológico del problema, y ante todo la relación de las formas genéricas del pensamiento con la actividad intelectual del individuo, a las condiciones y regularidades formativas de la actividad mental de los mismos en consonancia con las posibilidades del pensamiento contemporáneo. Inseparable de todo ello es la faceta pedagógica del asunto, la elaboración de una “tecnología” concreta de la enseñanza que haga realidad una u otra interpretación de la propia naturaleza asimilativa de la cultura social por el hombre individualizado. Sólo en presencia de las

interconexiones de dichos aspectos fundamentales cabe resolver eficaz y

consecuentemente el problema de armonizar el contenido y los métodos de la enseñanza con los adelantos científico-técnicos contemporáneos. (DAVYDOV, 1981, p.5-6)41.

A cada dia da nossa contemporaneidade, a criança experimenta e vivencia os avanços das ciências naturais, sociais e técnicas e não estão fora desta realidade porque estas mudanças são desenvolvidas a ritmos inusitados, sem que haja um limite ou uma fronteira que consiga parar de confrontar-se com o pensamento da própria criança. Esta nova realidade que se vivencia e se experimenta sugere, na atualidade, uma nova maneira de analisar o problema do conhecimento ou desenvolvimento do próprio pensamento da criança. Assim, frente a esta nova realidade para a criança, se faz

necessário, nesta pesquisa de tese, realizar análises dos meios e métodos de conhecimento objetivo da realidade com que se depara a criança. A apropriação e assimilação do conhecimento objetivo e concreto por parte da criança pressupõem uma forma de lógica que seja necessária, como critério essencial para explicar o desenvolvimento do pensamento conceitual da criança neste novo contexto histórico- social, marcado por um progresso científico-técnico, socioeconômico e cultural da sociedade contemporânea sem precedentes.

Para Davydov (1981), o caminho para resolver o problema da conjugação entre o conteúdo e os métodos de ensino com os avanços e desenvolvimentos da ciência e da forma de assimilação pelo ser humano deve ser realizado só por meio das interconexões entre os estudos do plano filosófico, sociológico, lógico, psicológico e pedagógico.

A lógica permite analisar o desenvolvimento do pensamento porque oferece os princípios e métodos para analisar e descrever a estrutura do pensamento humano.

Devemos lembrar que, na Teoria Histórico-Cultural, o pensamento tem essência histórico-social, uma vez que foi resultado das operações que o ser humano realizou por meio do seu trabalho ou atividade ao longo da sua história ontogenética. Também, para essa teoria o pensamento humano evolui graças à sua relação com a linguagem.

Petrovski (1981) afirma esta relação intrínseca, entre pensamento e linguagem, desta forma:

El pensamiento humano, en cualesquiera de sus formas, es imposible sin el lenguaje. Toda idea surge y se desarrolla en indisoluble relación con el lenguaje. Cuanto más profunda y fundamentada sea una u otra idea, tanto más clara y precisa se expresará en palabras, tanto en forma oral como escrita. Y viceversa, cuanto más se perfecciona la formulación verbal de cualquier idea, tanto más clara y comprensible resultará la idea. (PETROVSKI, 1981, p. 411).

Podemos destacar que o pensamento da criança se desenvolve quando começa a desenvolver a sua linguagem ou fala interna ou externa, porque é por meio da linguagem que ela vai adquirindo novas estruturas funcionais psíquicas que lhe permitem elaborar um raciocínio lógico, comunicar-se com os outros e exercer o controle da sua conduta. Nesse sentido, o animal, pela falta do desenvolvimento da linguagem, não consegue dominar a natureza, não elabora raciocínio lógico como forma de generalização da realidade. Desta forma, o animal tem uma relação imediata e perceptiva do objeto, não caracterizando nenhum tipo de conceitualização ou

apropriação e assimilação do mesmo. No entanto, a criança, quando se relaciona com o objeto, começa, claro, com ajuda da mediação do adulto ou outra pessoa com mais conhecimento do que ela, a desenvolver um pensamento conceitual sobre o objeto, capta as suas particularidades e essencialidades, ou seja, pode generalizar o objeto porque pensamento e linguagem se relacionam de forma intrínseca.

Petrovski (1981) caracteriza o pensamento humano desta forma:

El pensamiento es el proceso psíquico socialmente condicionado e indisolublemente relacionado con el lenguaje, dirigido a la búsqueda y descubrimiento de algo sustancialmente nuevo, o sea, es el proceso de reflejo indirecto (mediatizado) y generalizado de la realidad objetiva a través de las operaciones de análisis y síntesis. El pensamiento surge basado en la actividad práctica del conocimiento sensible y rebasa considerablemente sus límites. (PETROVSKI, 1981, p. 407-408).

Por meio do pensamento, como processo psíquico superior, o ser humano consegue apropria-se dessa realidade objetiva que se dá no pensamento humano por meio das operações lógicas de análise e síntese.

É muito importante destacar que o pensamento humano é resultado da sua atividade prática e teórica que ele realiza na sua relação com a natureza e com outras pessoas. Desta maneira, se elimina qualquer forma de afirmação de que o conteúdo do pensamento humano é inato nele. Ninguém nasce com um pensamento formado e pronto para ser usado. Daí a importância de oferecer à criança formas qualitativas de atividades que sejam capazes de desenvolver suas Funções Psíquicas Superiores. Não podemos negar a importância que tem na criança o conhecimento sensível e perceptivo como forma de conhecimento da realidade cotidiana para que ela possa existir no mundo. Porém, não basta a essa criança só essa forma de conhecimento para assimilar e apropriar-se da essencialidade dos objetos e fenômenos da realidade. Isto significa que o conhecimento sensível e perceptivo não consegue perceber a existência no objeto de conexões que possam levar à generalização dialética.

Como já assinalamos, a criança vive e experimenta um mundo em constante e crescente transformação e desenvolvimento e a existência de um modelo de escola tradicional fundamentado na lógica formal não consegue responder aos anseios das novas necessidades presentes na realidade por meio das práticas educativas. Dessa forma, a escola não consegue na medida necessária constituir-se como mediadora dos

conceitos científicos, porque a escola contemporânea está fundamentada nos princípios da lógica formal, ou seja, no pensamento conceitual empírico.

Pérez (1999) destaca esta cultura escolar tradicional:

Um dos aspectos mais relevantes para entender a formação da cultura experiencial de cada indivíduo é a análise de seus processos de construção de significados. São estes significados [...] os responsáveis das formas de atuar, sentir e pensar, enfim, da formação da individualidade peculiar de cada sujeito, com diferente grau de autonomia, competência e eficácia para situar-se e intervir no contexto vital. (PÉREZ GOMEZ, 1999).

A criança, por mediação do adulto e dos instrumentos e signos mediadores, começa a desenvolver o seu pensamento conceitual por meio das aprendizagens efetivas. Assim, o objetivo de uma educação eficaz deve ser o de proporcionar a construção de significados e sentidos no contexto concreto da sua existência, ajudando a criança a desenvolver e formar um pensamento conceitual capaz de interpretar o cotidiano e transcender a sua cotidianidade por meio de intervenções qualitativas.

2.2 A Dialética como Lógica e Teoria do Conhecimento na perspectiva da Teoria