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O ser humano precisa se comunicar com outros seres humanos. Nesse processo de produção dos bens materiais surgem a consciência, o pensamento e a linguagem humana em estreita relação dialética.

Diz Marx (2004):

A consciência é, pois, um produto social e continuará a sê-lo enquanto houver homens. A consciência é, antes de tudo, a consciência do meio sensível imediato e de uma relação limitada com outras pessoas e outras coisas situadas fora do indivíduo que toma consciência; é simultaneamente a consciência da natureza que inicialmente se depara ao homem como uma força francamente estranha, toda-poderosa e inatacável, perante a qual os homens se comportam de uma forma puramente animal e que os atemoriza tanto como aos animais; é, por conseguinte, uma consciência de natureza puramente animal [...]. Por outro lado, a consciência da necessidade de entabular relações com os indivíduos que os cercam marca para o homem a tomada de consciência de que vive efectivamente em sociedade. Este começo é tão animal como a própria vida social nesta fase; trata-se de uma simples consciência gregária e, neste aspecto, o homem distingue-se do carneiro pelo simples facto de a consciência substituir nele o instinto ou de o seu instinto ser um instinto consciente. Esta consciência gregária ou tribal desenvolve-se e aperfeiçoa-se posteriormente devido ao aumento da produtividade, das necessidades e da população, que constitui aqui o factor básico. É deste modo que se desenvolve a divisão do trabalho que primitivamente não passava de divisão de funções no acto sexual e, mais tarde, de uma divisão natural do trabalho consoante os dotes físicos (o vigor corporal, por exemplo), as necessidades, o acaso etc. (MARX, 2004, p.36-37).

A consciência caracteriza o ser humano como sujeito histórico e social, mas não lhe é inata e sim um produto social e, sendo produto social, a consciência é resultado direto da sua ação objetiva na natureza que se realiza em forma de trabalho. O trabalho criou a consciência humana.

A consciência humana se caracteriza por formar novas estruturas psíquicas no ser humano por meio da atividade que ele realiza na natureza. Diríamos que a materialidade é objetivada no ser humano pela sua consciência.

A consciência humana, no início da sua formação ontológica, era muita precária, e só quando os meios e as relações de produção se desenvolveram a consciência começou a desenvolver-se rapidamente. Assim, há uma relação essencial do desenvolvimento da consciência com a atividade material e espiritual humana. Por meio da sua consciência o ser humano interioriza as relações sociais criadas por meio de seu trabalho.

Lembremos que o ser humano assimila e se apropria das produções humanas objetivas e materiais por meio da sua consciência. Porém, a consciência não consegue comunicar, objetivar o que foi assimilado ou apropriado de forma objetiva e material. O produto da consciência se exterioriza por meio da linguagem.

Marx (2004) especifica a linguagem desta forma:

A linguagem é tão velha como a consciência: é a consciência real, prática, que existe também para outros homens e que portanto existe igualmente só para mim e, tal como a consciência, só surge com a necessidade, as exigências dos contactos com os outros homens. [Frase cortada no manuscrito:] a minha consciência é a minha relação com o que me rodeia. Onde existe uma relação, ela existe para mim. O animal não se encontra em relação com coisa alguma, não conhece de facto qualquer relação; para o animal, as relações com os outros não existem enquanto relações. (MARX, 2004, p.36).

A linguagem humana é um produto histórico-social, resultado da sua atividade realizada como trabalho. As relações sociais interiorizadas na consciência humana podem ser exteriorizadas por meio da linguagem. Devemos entender aqui linguagem como forma de exteriorização que o ser humano realiza por meio das constituições particulares do seu corpo, tais como os signos e a palavra oral e escrita, além dos gestos. A linguagem humana se desenvolveu ao longo do processo de formação e desenvolvimento da personalidade do ser humano. Assim, Rubinstein (1963) indica que a primeira forma de linguagem humana, como essência de comunicação, foi a forma sinestésica, entendida como uma ação caracterizada por um som que o sujeito cognoscente emitia para comunicar um sentido ou significado. Assim, o simples “hu, hu, hu”, emissão de um som, lhe serviu ao ser humano para exteriorizar o seu pensamento. À medida que os meios e as relações de produção se intensificavam e se aprimoravam, o pensamento e a linguagem humana se aperfeiçoavam, surgindo outras formas de linguagens.

Linares et.al. (1991) destacam o seguinte:

El lenguaje constituye un sistema de símbolos o de signos de los objetos de la realidad, de sus propiedades y nexos, que representa un instrumento imprescindible del pensamiento humano. Es, […] la realidad inmediata del pensamiento y la envoltura material de la conciencia humana. El lenguaje, de una u otra forma y casi sin excepción, está presente siempre en la actividad pensante humana, por supuesto, no siempre en su forma externa y sonora, sino también a través del lenguaje interno, inaudible. De ahí el enorme papel

desempeñado por el lenguaje en el surgimiento y desarrollo de la conciencia del hombre.

Por eso, más que la aparición de un medio idóneo para la comunicación directa, el surgimiento del lenguaje significó para el hombre la posibilidad de desarrollar el pensamiento lógico-abstracto.30 (LINARES et.al., 1991, p.233).

A linguagem humana, além de possuir a função da comunicação, possui também a função de desenvolver o pensamento humano, até a sua forma mais elevada para operar com conceitos, como forma de realizar uma ação sobre a realidade humana. O surgimento da consciência humana se deve ao desempenho da linguagem, que possibilita ao ser humano dominar a natureza tanto por meio das ferramentas como por meio do pensamento lógico.

A linguagem humana entendida como um sistema de símbolos e signos lhe proporciona ao ser humano a capacidade de comunicar e fazer cognoscível o trabalho humano.

Assim, segundo Linares et al. (1991):

El desarrollo del lenguaje fue requisito indispensable para el paso de la manipulación directa de los objetos a las operaciones con sus imágenes conceptuales y, por lo tanto, para el tránsito manual-concreto de nuestros antepasados simiescos al pensamiento lógico-abstracto del hombre actual. (LINARES et al., 1991, p.234).

Cabe destacar que a única forma do ser humano apropriar-se das múltiplas realizações histórico-sociais só pode concretizar-se pela função da linguagem, porque ela possibilita o desenvolvimento de um pensamento lógico-abstrato, como forma de conhecer e compreender todas essas realizações histórico-sociais que foram produzidas ao longo da história do desenvolvimento humano. Assim, por meio da linguagem o ser humano começa a diferenciar-se do animal porque supera as estruturas puramente biológicas e instintivas. A partir da sua linguagem, o ser humano começa a modificar o seu pensamento e, modificando o seu pensamento, começa a constituir uma realidade histórica e social chamada cultura. Também o pensamento permite ao sujeito o controle de seu próprio comportamento.

Desta forma, Konstantinov (1964) destaca o papel fundamental do pensamento e da linguagem, desta forma:

El pensamiento y el lenguaje, productos del desarrollo social, han influido considerablemente sobre éste. Uno y otro hacen posible que las acciones concuerden en el proceso de trabajo; que se transmita la experiencia productiva y los hábitos adquiridos, se acumulen las conquistas de la técnica y, por último, que las nuevas generaciones asimilen los progresos técnicos de sus antepasados. Gracias al pensamiento y al lenguaje, se ampliaron los límites de la producción y la vida social. (KONSTANTINOV, 1964, p.419- 420)

Os meios e as relações de produção são interiorizados no ser humano, caracterizando novas estruturas no pensamento. Assim, surgem no ser humano várias estruturas de pensamento, tais como: teórico, prático, abstrato, matemático, lógico etc. Por meio do pensamento, o ser humano consegue elaborar técnicas e metodologias de apropriação e objetivação da realidade material. Por meio do pensamento há uma correlação entre os motivos das ações e o objeto, ou seja, o ser humano idealiza o objeto para transformar a matéria tendo em consideração o motivo essencial do porquê está transformando a matéria. Por exemplo, ele idealiza uma mesa com o motivo de satisfazer uma necessidade: para dispor os utensílios na mesa ou para escrever etc. Desta forma, o processo de desenvolvimento do pensamento humano está relacionado de forma dialética com a significação que têm os produtos feitos pelo trabalho humano.

A linguagem humana surge pela necessidade que sente o ser humano em comunicar algo a alguém no processo do trabalho. Diz Engels (1963):

En resumen, los hombres en su proceso de formación llegaron a un punto en que sintieron la necesidad de decirse algo los unos a los otros. La necesidad creó al órgano: la laringe del mono, poco desarrollada, se fue transformando, lenta pero firmemente, mediante modulaciones que producían a su vez modulaciones más perfectas, mientras los órganos bucales aprendían poco a poco a pronunciar un sonido articulado tras otro. (MARX e ENGELS, 1963, p. 297).

A linguagem humana possui uma característica fundamental para a formação e desenvolvimento da própria personalidade humana: o ser humano se caracteriza por ser comunicável. O papel da comunicação é outro ponto indispensável para diferenciar o ser humano das espécies animais. Comunicar é fazer cognoscível os sentidos, os motivos e os significados das ações do pensamento humano por meio das variadas formas de linguagem. O ser humano é humano não só porque cria instrumentos e se relaciona com a natureza (ideias clássicas do racionalismo e idealismo), mas porque comunica, se faz compreensível e inteligível ao outro.

Diz Konstantinov (1964), sobre a importância do ato de comunicar, desta forma:

El pensamiento y el lenguaje expresan lo que los hombres conocen del mundo exterior y de sí mismos, y reflejan, a su vez, los medios cognoscitivos de que disponen en un momento dado. (KONSTANTINOV, 1964, p.212).

O ser humano, quando expressa seu pensamento por meio da linguagem, começa a realizar o processo de comunicação, muito importante para o próprio desenvolvimento do pensamento conceitual. O pensamento do ser humano tem origem independente da linguagem, mas, a partir da aparição da linguagem, o pensamento se organiza e se estrutura de maneira complexa, fator principal da junção entre pensamento e linguagem. Assim, através da aquisição da linguagem o ser humano começa a realizar o processo de análise dos objetos e fenômenos da realidade.

Também, Konstantinov (1964), destaca a função intrínseca da comunicação humana, desta forma:

El pensamiento y el lenguaje se hallan íntimamente unidos, pero de esto no se deduce que sean idénticos entre sí. Se diferencian en que el pensamiento refleja la realidad objetiva, mientras que la palabra es sólo un medio para expresar y fijar las ideas, un instrumento que permite comunicar nuestros pensamientos a otros hombres. Precisamente gracias al lenguaje podemos percibir los pensamientos de los demás. Pero si no hay pensamiento sin palabras, entonces las palabras sin pensamiento, sin lo que éste refleja, no son más que sonidos vacíos. El pensamiento y el lenguaje se relacionan íntimamente entre si y se condicionan el uno al otro. (KONSTANTINOV, 1964, p.208).

O pensamento se exterioriza pela linguagem oral, escrita e gestual. Sem a linguagem não haveria comunicação do pensamento entre o próprio ser humano, porque a linguagem é um instrumento objetivo e claro da comunicação ou exteriorização do pensamento. A linguagem é um método exclusivamente humano, e não instintivo, que se desenvolve no seu processo de evolução histórico e por mediação da própria cultura, que tem sua origem no trabalho humano que ele realiza. A linguagem humana como instrumento comunica ideias, emoções, desejos, formas conceituais, sistemas de símbolos produzidos pelo próprio ser humano como forma de comunicar algo a alguém e como forma de dominar sua própria conduta.

Marx e Engels (1993) consideram a linguagem como a manifestação da vida real e objetiva, da atividade social do ser humano e o produto, por sua vez, dessa atividade

que realiza o próprio ser humano. Concebiam sempre a linguagem como fruto de formação e desenvolvimento histórico-cultural, nunca como fato natural ou algo divino e misterioso.

Marx e Engels (1993), especificamente Engels no seu trabalho “El papel del trabajo en la hominización del mono”, resolveu problemas tão complexos como o problema da relação da linguagem e a sociedade, a origem da linguagem, a relação da linguagem com o pensamento e com a atividade material produtiva, social e o individual na própria linguagem. Assim, Engels (apud Marx e Engels, 1993), concebe a linguagem como produto do trabalho e como fator que, de forma conjunta com a linguagem, influi decisivamente na diferenciação qualitativa do ser humano em relação ao mundo animal. Nesse sentido, a linguagem humana é tão antiga como a consciência prática, real, existente para os outros seres humanos. A linguagem, igual ao que se dá à consciência, tem sua origem a partir da necessidade humana, do imperioso desejo de comunicação intersubjetiva entre os seres humanos. De tal forma que a linguagem e a consciência aparecem desde sua origem como produtos essencialmente histórico- sociais.

No entanto, devemos destacar que como há variedades de instrumentos, de produções e vários tipos de relações sociais que se constituem desde a caracterização do trabalho humano, surge na esfera social uma ferramenta indispensável de comunicação entre os vários povos existentes: o idioma.

Concluímos que a comunicação é um sistema de relações objetivas com a finalidade essencial e existencial que tem o ser humano para fazer cognoscível e compreensível as qualidades objetivas das coisas entre as quais o ser humano desenvolve e forma a sua personalidade. Assim, a comunicação para o ser humano tem uma função essencial em organizar, estruturar e desenvolver sua atividade e o caráter subjetivo da sua personalidade.