• Nenhum resultado encontrado

INQUÉRITO –CPIs TENDO COMO OBJETO QUESTIONAMENTOS À

10.1 A APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DE BASILÉIA NO BRASIL

Nos termos já relatados, o Comitê de Basiléia foi constituído em 1974, e os 25 Princípios definidos por ele para orientações de supervisão bancária foram editados em 1977 e publicados em 1978.

No ano 2000, o Brasil recebeu uma missão composta de integrantes do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional, que, segundo informações divulgadas pelo Banco Central do Brasil, reconheceu os esforços desenvolvidos para a completa implementação de todos os princípios.172

Conforme já indicado no Capítulo 8, no Brasil, várias normas entre Resoluções do Conselho Monetário Nacional (CMN) e Circulares do Banco Central, foram editadas a fim de o país atender a algumas recomendações do Comitê.

Assim, apesar do Brasil carecer de regulamentação sobre algumas orientações do Comitê173, conclui-se que, em termos de regulação, o Brasil atende à maioria das recomendações do Comitê de Basiléia.

172

Banco Central do Brasil. Relatório da administração, 2000, p. 45

173

"Das sete grandes áreas, a primeira, que trata das pré-condições para uma supervisão bancária efetiva, é a que requer maior aprimoramento, principalmente em relação ao arcabouço legal. Seis itens compõem essas pré-condições e estão expostos no primeiro princípio. Desses seis itens, quatro estão plenamente atendidos, quais sejam: a agência responsável pela supervisão, no caso, o Banco Central do Brasil (Bacen), tem responsabilidades e objetivos claramente delineados, uma vez que as atribuições do Bacen estão claramente definidas na Lei no 4595, de 1964 e suas atualizações; há um arcabouço legal que contém provisões relacionadas à autorização para funcionamento e supervisão continuada dos bancos; a agência supervisora tem poder para forçar as instituições financeiras a se adequarem à regulamentação, de forma a se manterem seguras e robustas às alterações do ambiente macroeconômico; as informações são compartilhadas entre os supervisores para maior eficácia da fiscalização, sem prejuízo do sigilo bancário.

Entretanto, duas pré-condições extremamente importantes enumeradas no primeiro princípio não são plenamente atendidas. A primeira refere-se à necessidade de a agência reguladora ser independente e ter

Na verdade, constata-se que o grande problema da regulação do Brasil para a atividade bancária é a não-aplicação adequada das normas vigentes pelas instituições financeiras e pelo próprio Banco Central, não exercendo este último também, como autoridade supervisora, o papel adequado na cobrança do atendimento dessas normas pelos bancos.

Em relação aos consumidores dos serviços bancários, apesar do esforço do Conselho Monetário Nacional e do Banco Central do Brasil na edição das Resoluções n. 2.878 e 2.892, ambas de 2001, a fim de adequar a regulação bancária nacional aos padrões internacionais, incluindo questões relativas à proteção aos clientes e aos usuários dos serviços financeiros, verifica-se que na prática as instituições financeiras não se esforçam para fazer valer essas normas, sinalizando o Banco Central que a questão de defesa do consumidor bancário não é tarefa sua, e sim de outros órgãos, como detectado, por exemplo, no caso da Recomendação do Ministério Público Federal para que o Banco Central determinasse às instituições financeiras que restituíssem aos clientes lesados os prejuízos decorrentes do descumprimento dos gestores dos fundos de investimento da marcação a mercado, objeto do Inquérito Civil Público nº Procedimento Administrativo nº 08106.000883/99-95.

Exemplo claro dessa inércia do Banco Central na promoção do cumprimento da legislação dos bancos para proteção dos consumidores é a relativa aos fundos

recursos adequados para a sua operação. A segunda refere-se à proteção legal dos supervisores. ". (Respostas encaminhadas pelo Senador Romero Jucá efetuadas pela assessoria do Senador Federal, por e-mail, em 03.12.04).

de investimento, é aquele constatado no objeto das ações civis públicas de improbidade administrativa de nºs Ações Civis Públicas cumuladas com Ação de Improbidade Administrativa- Processos de nºs 2002.34.00.033093-0 (CEF), 2002.34.00.033092-7 (BB), 2002.34.00.033095-8 (ITAÙ) e 2002.34.00.033094-4 (BRADESCO), pois, apesar da edição de regras, tais como, as Circulares de n. 2.451/1997 e 2.486 de 1998, citadas, visando a dar maior transparência na gestão dos fundos, carteiras e clubes de investimento, o Banco Central faz vistas grossas na cobrança do cumprimento dos normativos pelos gestores de fundos de investimentos administrados por instituições financeiras, a exemplo do caso da “marcação a mercado”, objeto dessas ações. A impressão que se tem é que essas normas foram editadas apenas pela pressão internacional exercida pelo FMI e o Banco Mundial sobre o Brasil, dentre outros agentes internacionais, mas que na prática não há a menor intenção de cumpri-las, ficando tal cumprimento ao talante de cada instituição financeira, sem o exercício pela autoridade monetária de uma supervisão bancária eficaz.

Outra questão importante, que essa atitude omissiva do Banco Central em relação ao consumidor bancário estimula, é a falta de competitividade entre as instituições financeiras em relação às taxas de juros, permanecendo estas em níveis altamente elevados, fazendo com que os bancos tenham lucro excessivo em detrimento da socialização do crédito e do investimento na indústria e no comércio.

Exemplo ilustrativo da contradição existente da teoria para a prática em matéria de supervisão bancária do Banco Central no Brasil, revela-se na análise dos normativos internos relativos à repressão e prevenção da “Lavagem de

dinheiro”, consubstanciando-se também em uma das causas de combate definidas pelo supracitado Comitê. Apesar da edição de normas no Brasil, verifica-se no cotejo das mesmas com ação judicial que tem por objeto o chamado “Caso Banestado”, ação civil de improbidade administrativa de nº 2003.34.00.042032-2, a evidente omissão da autoridade monetária com a ausência de controles de ativos no mercado de câmbio, o que ensejou várias práticas criminosas, inclusive a lavagem de dinheiro.

O Deputado Federal Gustavo Fruet, Presidente da CPI do Proer, em entrevista para o presente estudo, afirmou que o Banco Central não cumpre os Princípios de Basiléia. Em especial considerou a verificação disso no decorrer dessa CPI, onde se constatou que o Brasil permitia que as instituições financeiras trabalhassem alavancadas num índice bem maior daquele indicado por esse Comitê. Porém, na opinião deste parlamentar, o Brasil não deve submeter-se a princípios desses "foruns internacionais", “não meramente por um discurso nacionalista”, não, mas por considerar que as economias dos países signatários desse Comitê são tão distintas da economia do nosso país e, sendo assim, o Brasil levaria desvantagem em relação a outros países de economias mais fortalecidas. Segundo ele, essas economias já se encontram atualmente bem informadas sobre o que ocorre no Brasil, conhecendo a nossa economia sem mesmo haver um controle mais formal em relação ao nosso país.

Na opinião do Senador Gilberto Mestrinho de Medeiros Raposo, membro da CPI dos Bancos, em entrevista para o presente estudo, em 20.10.04, o Banco Central não cumpre ortodoxamente os Princípios de Basiléia. Isso em decorrência da grande vinculação que possui essa autarquia com o mando do presidente da

República, num espírito centralista. Acha ele que o Banco Central do Brasil deveria fazê-lo a fim de melhorar a fiscalização no país. Medida a ser acrescida também a fim de ser atingir essa melhoria seria o fortalecimento estrutural e maior número de servidores com a qualificação técnica necessária.

Já o Deputado Paes Landim acredita que os Princípios da Basiléia são seguidos pelo Banco Central. Considera que na votação de Projetos de Lei na Câmara, diversas vezes presenciou a preocupação de se seguirem os limites estabelecidos por diversos princípios desse Comitê.

10.2 AUSÊNCIA DE ATUALIZAÇÃO DA REGULAMENTAÇÃO