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INQUÉRITO –CPIs TENDO COMO OBJETO QUESTIONAMENTOS À

10.6 ASSISTÊNCIA DE LIQUIDEZ INADEQUADA

Durante muito tempo, o Governo deixou que instituições financeiras mal gerenciadas (Banco Econômico, Banco Nacional e Banco Bamerindus) aumentassem seu campo de atuação no mercado, com a conseqüente injeção de recursos públicos do Banco Central por meio do redesconto e Proer em empréstimos de recursos para instituições insolventes, contrariando as boas regras internacionais de supervisão bancária e os próprios normativos nacionais. Observe-se que a ação ordinária de nº 95.20884-9 contesta um saque a descoberto do Banco Econômico S.A na conta de reservas bancárias no valor, à época, de R$ 2.975.935.704, 62, ou seja, quase 3 bilhões.

Na ação de improbidade administrativa de nº 2003.34.00.039139-7 verifica- se que houve nítido descumprimento da Lei nº 9.447 e demais normativos do Proer ao serem disponibilizados recursos financeiros desse programa, no valor de R$ 1,7 bilhão, à época, para procedimentos de compra de títulos da dívida externa, a serem oferecidos em garantia ao próprio Banco Central, em nome do Bamerindus, na operação de venda de seus ativos, por exigência do Banco HSBC.

Reconhecia-se a existência de uma crise do sistema financeiro nacional, após a edição do Plano Real, tendo sido ela utilizada como a justificativa para se instituisse o Proer - Programa de Estímulo a Reestruturação e ao Fortalecimentos do Sistema Financeiro Nacional, cujo objetivo era de “assegurar a liquidez e solvência no referido sistema e a resguardar os interesses de depositantes e

investidores.”. (art. 1o da Resolução n. 2.208/95). Porém, esse suposto programa de administração de crise, exercendo o Banco Central aqui o papel de doador de última instância, não atendeu aos seus objetivos e pressupostos, pelas razões que seguem.

Apesar de a administração de crise dever ser utilizada somente para os casos de crises temporárias, onde se possa preservar ou reestabelecer de forma rápida a recuperação da instituição financeira e consequentemente a confiança no sistema bancário, nos casos analisados do Proer isso não foi observado pelo Banco Central.

Analisando, pois os quatro pilares nos quais são baseadas a doutrina do Banco Central como doador de último recurso, estudadas no Capítulo 3, verifiquei que a quase totalidade deles foram quebrados pelo Banco Central do Brasil, nos casos concretos aqui verificados em relação aos Bancos Nacional, Econômico, Bamerindus. Indico a seguir a quebra de três dos quatro pilares referidos, nos empréstimos do Proer.

O primeiro pilar diz que o empréstimo deve ser temporário e de curto prazo. Isso não foi verificado no caso dos Bancos Econômico e Nacional, haja vista a concessão e a constante renovação de empréstimos indevidos que lhes foram concedidos pelo Banco Central, sem que essas instituições financeiras atendessem aos requisitos exigidos pelos normativos dessa própria autarquia, fazendo com que a crise crônica que viviam essas instituições financeiras agravasse ainda mais a situação de prejuízo dos cofres públicos. Esses fatos são

questionados na ação popular de nº 95.0019376-0, na ação ordinária de nº 95.00.20884-9, e na ação de improbidade administrativa de nº 96.0020911-1.

O segundo pilar orienta que o Banco Central deve cobrar uma taxa penalisante. Porém, verifica-se que a Ação Popular de n. 95.0019376-0 e a Ação de Improbidade Administrativa de nº 96.0020911-1 supracitadas questionam justamente a concessão de juros subsidiados pelo Proer, e o que é pior, sem a autorização legislativa necessária. O fato é que essa linha foi instituída inicialmente pela Resolução CMN nº 2.208/95, em seu art. 3º, inciso I, e posteriormente veio a ser regulamentada pela Circular BACEN de nº 2.636/95, que estabeleceu o percentual de juro a ser cobrado de 2% a.a., e este foi alterado para variar entre 0,5% a 4% a.a., nos termos da Circular BACEN de nº 2.672/96. Essa fixação de percentual de juro com caráter de subsídio na linha de assistência financeira especial criada no âmbito do Proer, além de ter burlado as normas internacionais, feriu também a legislação nacional, uma vez que a Lei n. 4.595/64 não confere poderes de fixar subsídios nem ao Conselho Monetário Nacional nem ao Banco Central do Brasil.

O terceiro pilar indica que as garantias devem ser boas, e a Ação Judicial de nº 2003.34.00.039140-7 tem por objeto justamente as garantias inidôneas aceitas pelo Banco Central nos empréstimos do Proer ao Banco Econômico.

Destaco também a contrariedade do Banco Central do princípio a ser conjugado com esses pilares da doutrina do LOLR, segundo o qual, a ajuda está adstrita à análise não somente da iliquidez, mas se a quebra da instituição em crise pode causar por contágio a quebra de outras instituições, o chamado risco

sistêmico, pois o que se procura garantir é a restauração da confiança no restabelecimento da credibilidade do banco ou bancos, e não resolver por si só o problema individual daquele banqueiro em crise de liquidez.179

Ora, é notório que no caso do Banco Econômico, não havia risco sistêmico algum a ser resguardado pelo Banco Central do Brasil quando da concessão da linha de assistência especial de Proer a este Banco, sendo este objeto de questionamento do Ministério Público Federal na Ação Judicial de n. 2003.34.00.039140-7 mencionada.

Outro exemplo dessa atuação indevida da autoridade monetária é constatada na ação de nº1998.34.00.06967-5, onde é questiodo o fato de o Bacen, querendo socorrer ao FGC, no pagamento das obrigações deste com o bamerindus quando da decretação de sua intervenção, e uma vez não podendo conceder os recursos diretamente ao fundo, por não ser este instituição financeira, valer-se de interposta pessoa, o próprio bamerindus em intervenção [note-se que à época o Bamerindus estava sendo gerido por prepostos do Bacen, o que tornava fácil tal ajuste], para realizar tal ajuda, através da efetivação do contrato de mútuo com este último, cuja anulação aqui se pede, não pela sua aparência de legalidade (destinação de recursos ao Bamerindus), mas pelo seu desvio de finalidade (destinação de recursos ao FGC).

Deduz-se, então, que o Proer serviu apenas de favorecimento indevido a alguns poucos administradores irresponsáveis de bancos, de favorecimento individual e não ao Sistema Financeiro Nacional como um todo, transformando-se

o objetivo desse Programa, que supostamente era o de colocar o Banco Central como doador de última instância no intuito de assegurar a liquidez e solvência no Sistema Financeiro Nacional e resguardo dos interesses dos depositantes e investidores, numa grande falácia.

Assim, verifico que o Brasil, após a edição do Plano Real não teve uma crise a ser administrada de modo especial. Na verdade, a crise já vinha ocorrendo, e decorria de má administração das instituições financeiras referidas e foi agravada pela omissão do Banco Central no exercício de sua Supervisão Bancária, tanto da prudencial quanto em relação ao estágio de punição das instituições financeiras infratoras das regras aplicáveis ao SFN.

Não havia no caso dos Bancos Econômico, Banco Nacional e Banco Bamerindus, nenhuma crise que afetasse o Sistema Financeiro como um todo gerada por qualquer atuação da autoridade monetária, e sim advinda de má administração das diretorias dessas instituições financeiras. A vontade política de se concederem empréstimos indevidos pelo Banco Central a essas instituições financeiras era tão grande que eles foram efetuados sem que elas atendessem aos requisitos legais estabelecidos pela própria Resolução que regulamentou tais operações, conforme encontra-se constatado e questionado nas ações judiciais acima mencionadas ajuizadas em face dessas instituições.

Na opinião do Deputado Federal Gustavo Fruet, Presidente da CPI do Proer, em entrevista para o presente estudo, o Proer não atendeu aos objetivos a que se propôs, havendo erros por parte do Banco Central prévios e na aplicação de referido programa. Não acredita o Deputado que tenha havido ingerência política