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A APRENDIZAGEM SOCIAL A PARTIR DA RODA DE SAMBA

5 CANTOS E BATUQUES: ESQUENTANDO OS TAMBORINS

5.5 A APRENDIZAGEM SOCIAL A PARTIR DA RODA DE SAMBA

O objetivo, neste momento, é relatar o trabalho desenvolvido a partir da concepção de grupo e família no processo educacional dos jovens, tendo como referencial o entendimento de grupo que advêm do universo do samba, ou, melhor dizendo, da roda de samba.

Nas atividades práticas, em que era tocado o pandeiro, o tamborim, o atabaque, o repique, o ganzá e o surdo, se buscou uma unidade na execução destes instrumentos musicais, apresentando a importância de cada um dentro de uma roda de samba, com o intuito de evidenciar para o grupo que a união dos sons, a partir do toque instrumental produzido por cada jovem, dá a construção de um som coletivo que é rico em sua melodia.

Como na roda de samba, falando, neste momento, de estética musical, o que mais vale é o conjunto de sons de todos os instrumentos, do que, propriamente, a individualidade de cada um. Mas, mesmo assim, considera-se que existem momentos em que cada sambista ou tocador executa um solo em seu instrumento, o que ocasiona não um gesto individualista, mas, sim, um momento de demonstrar sua particularidade e potencialidade ao tocar o seu pandeiro, tamborim ou surdo, entre outros instrumentos.

Figura 8 - Cantando e tocando samba, realizada na 5° atividade. Fonte: Acervo próprio.

Assim, toda a concepção de grupo, família e coletivo que se dá a partir da musicalidade na roda de samba foi desenvolvida, também, fora da conotação musical e trazida para o cotidiano dos jovens dentro da CASE/SSA, para que pudessem levar estes conhecimentos para além dos muros e grades que limitam sua liberdade.

Este procedimento estava dando resultados, pois a cada atividade podia-se notar a importância de trabalhar a concepção de coletivo, até mesmo porque eles já apareceram com a fala de família e de grupo, sempre relacionando-as aos moradores do alojamento “inicial de S” do qual fazem parte dentro da CASE/SSA. O sentido de grupo posto, por eles, era com relação às rivalidades existentes entre os alojamentos, onde cada espaço tem o seu “grupo” ou “família”, com o intuito único de fortalecê-los para possíveis brigas entre os alojamentos distintos.

Então, esta não era a concepção de família que seria utilizada, visando a segregar ainda mais os jovens que estão na mesma condição de internos, o objetivo foi provar a eles que esta união pode ser maior, para que, assim, possam lutar pelos seus interesses como cidadão de direitos dentro do PMSE, e, por conseguinte, fora dos muros da unidade. A partir deste problema existente dentro da CASE/SSA foi direcionada a atividade sobre união, grupo e família, para as questões das rivalidades entre os jovens de alojamentos distintos, isso apenas para os sujeitos selecionados para esta pesquisa.

Uma grande inquietação pessoal foi notar que muitas vezes estes jovens lutam e brigam entre si como se fossem inimigos mortais, eles formam grupos, ou adentram em grupos já estabelecidos, buscando proteger ou fortalecer seu coletivo, para que, assim, consigam seus objetivos por meio da imposição da força. Esta aceitação significa, além de conquistar seus objetivos pela violência, também uma estratégia de estarem protegidos ao

buscarem a aceitação de determinados grupos dentro da unidade. É muito comum ouvir comentários entre os jovens, principalmente aqueles com os quais convivi durante a oficina, a respeito da união em torno de determinadas questões como: “Temos que estar juntos, aí um ajuda o outro.”.

Quando este tipo de comentário aparecia, buscava entender este “temos que estar juntos, aí um ajuda o outro”, eu sempre os questionava dizendo: “ajudar para que?”, e eles respondiam: “caso o outro alojamento quiser brigar temos que nos defender, aí um tem que ajudar o outro.”. A ajuda a qual o grupo fazia referência era na briga entre seus pares dentro da unidade, portanto, foi inevitável trazer para o debate uma questão que está presente entre os jovens marginalizados que é a luta entre os desiguais. Como pode ser identificada na fala abaixo do rapper Mano Brown:

Os playboys tão se amando, no dinheiro, na arma, no carro, na internet, nois tamu ai chorando um dando murro na cara do outro e reclamando ai, certo. A vida é uma guerra mano, quem já morou em um barraco de pau e chão batido sabe o que eu estou falando [...]. A vida é guerra, tem que se armar certo mano, não falo só de arma não, arma também, tem que se armar. Ficar chorando, reclamando, esperando o que o outro faz, sem futuro certo [...]. É isso aí (Mano Brown - Racionais MC’s) (grifo nosso).29

Quando o cantor faz alusão aos “playboys”, ele retrata, a partir de uma análise feita de sua obra, que os “playboys”, em geral, fazem parte de uma elite opressora, que tem como objetivo muitas vezes criar uma imagem social construída e forjada apresentando geralmente a população marginalizada como inimigos uns dos outros, que é um fator importante para a perpetuação de uma ordem social e econômica que os favoreça.

Nota-se aí oprimidos lutando contra os próprios oprimidos, Assim sendo, a divisão destes jovens ou de uma massa popular se faz necessária para que a classe opressora ou elite dominadora não corra o risco que a classe oprimida desperte o sentido de união e coletivo, que são elementos imprescindíveis à ação libertadora, anunciada por Freire (2005). Neste mesmo sentido, Bauman (2003) afirma que “Quando os pobres brigam entre si, os ricos têm todas as razões para se alegrar.” (p.95). Ou seja, para a elite, a incapacidade ou a falta de vontade de ação comum de um coletivo contribui para a liberdade a favor de suas ações de domínio.

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Fala do cantor Mano Brown, integrante do grupo de rap “Racionais MC’s”, registrada em uma apresentação especial com o ex-grupo de rap “509 E”. Disponível em: <http://www.4shared.com/mp3/_TozdO0_/racionais_mcs_e_509_e_-_saudad.html>. Acesso em: 26 maio 2011.

Quando o rapper Mano Brown desabafa “temos que nos armar” estão subtendidas várias formas e alternativas de realizar uma batalha, na vida que “é uma guerra”, como ele coloca. Este “se armar” que Brown fala é um caminho que se dá com a instrumentalização dos indivíduos desenvolvendo suas habilidades escolares, acadêmicas e comunicativas, e também habilidades a partir do potencial de cada um, para que possam ter condições de romper com a “ordem” social injusta, que permanentemente se nutre da morte, do desalento, da miséria e da violência entre os pares, como alerta Freire (2005), e presente, também, na fala de Mano Brown: “tão se amando no dinheiro, na arma, no carro, na internet, e nóis tamu aí chorando dando murro um na cara do outro.”.

É, portanto, neste instante, que propus uma prática educativa que buscou construir ações dentro do grupo e do coletivo para que a raiva e indignação destes jovens pudessem ser potencializadas de outras formas, tendo outro olhar para seus possíveis inimigos e canalizando-as em outra direção.

Na atividade prática em diversos momentos alguns jovens tinham dificuldades de execução instrumental, principalmente quando era executado o “breque” no samba, momento este em que ocorre uma pausa sonora de todos os instrumentos. Nesta parada pode-se manter o silêncio, ou ser interposta uma fala, assim como no samba de breque,30 ou ainda um dos “tocadores” pode executar um solo em seu instrumento. Este sempre era um momento de debate no grupo, pois algumas vezes o solista saía do ritmo e os outros reclamavam. Assim, sempre que isso acontecia na roda de samba era dito que todos faziam parte de um grupo e tinham que se ajudar mutuamente, sempre exemplificando com questões do cotidiano. Assim, como define Moura (2004) sobre os valores habituais, “Na roda prevalecem padrões inventados e vivenciados pelo grupo, como uma realidade dinâmica que cultua e atualiza esses valores com criatividade e improviso, sempre que isso lhe parece conveniente.” (p.45).

Este “tocar” foi tomando proporções que inicialmente não eram imaginadas, quando iniciado o batuque do pandeiro, tamborim, surdo, ganzá, atabaque, cuíca, repique, chocalho, os acordes do cavaquinho e o vocalista soltando sua voz ecoava um som por todo o ambiente. Diante disso, sempre nos momentos das atividades apareciam visitantes, que ora eram profissionais do setor pedagógico ora alguns educadores, como também os instrutores de arte, todos para assistirem a atividade e os jovens cantando, tocando e acima de tudo se divertindo.

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Samba de breque “é constituído de paradas súbitas, nas quais, no meio do samba, o cantor encaixa comentários falados, geralmente de caráter humorístico.” (SANTOS, 2003, p.29).

Em uma destas visitas compareceram três moças, uma da coordenação pedagógica e duas do Núcleo de Atenção ao Colaborador (NAC), por sinal eram mulheres bonitas e naquele universo masculino os internos, por razões obvias, quando vêem alguma mulher ficam inquietos. No momento que elas entraram na sala os jovens haviam acabado de parar de tocar, e conversava-se sobre o que haviam tocado. Foi observado, então que Atabaque, Vocalista e principalmente Pandeiro ficaram ansiosos querendo tocar de imediato seus instrumentos. Esta postura ocorreu em outros dois momentos distintos, e ficou perceptível o quanto era importante para eles mostrarem o que estavam fazendo para outras pessoas.

A confirmação de que o grupo ficava empolgado com a presença das pessoas, se fazendo notar por outra perspectiva, ficou bem clara na 7° oficina quando o instrutor de teatro entrou na sala, e, em seguida ao ouvir os jovens tocando afirmou: “Poxa, estão tocando bem heim, vou convidar vocês para tocarem em um churrasco lá em casa”. Isso bastou para aumentar a autoestima do grupo, e o que surpreendeu foi quando Pandeiro, justamente aquele jovem dito com um dos mais problemáticos, propôs a formação de um grupo de samba dentro da CASE/SSA. Imediatamente os outros jovens reforçaram a proposta do colega.

É importante ressaltar que não se havia pensado nesta possibilidade, o que fez com que fossem percorridos outros caminhos durante o processo investigativo, desenvolvendo outro aspecto que não foi pensado inicialmente, que é a busca de visibilidade pelo aspecto positivo, ou seja, buscando agora se fazerem vistos pelo processo artístico e criativo em meio ao samba.

Após a sugestão de Pandeiro, que imediatamente empolgou o restante dos jovens, começou a se pensar possibilidades da formação de um grupo musical de samba, explorando seu aspecto educacional em torno do entendimento de grupo e coletivo. Assim, mais um questionamento foi feito para que fosse externado o entendimento deles a respeito da concepção de grupo: Quando se fala em grupo, o que vem na cabeça de vocês?

Eles foram bem econômicos nas palavras, respondendo bem objetivamente: união/samba/diversão/alegria/humildade.

As palavras acima mencionadas fazem alusão a grupos relacionados diretamente com o samba, no entanto, as características apresentadas podem ser facilmente trazidas para o cotidiano destes jovens, porque o significado de união, alegria, diversão e humildade, além de estarem presentes no universo desta manifestação, podem ser presentes nas relações estabelecidas fora do universo do samba. Neste sentido, ao estudar o samba de roda do Recôncavo Baiano, Daniela Maria Amoroso (2009, p.119) o caracteriza:

Como um ritual de caráter festivo, no qual a experiência e a expressão se encontram. É na roda que acontece a sensação estética do samba e é na vida, no antes, no durante e no depois do samba, que o dinâmico processo reflexivo continua impulsionado pela experiência da alteridade.

Alteridade que reporta a ser capaz de entender o outro em sua dignidade, seus direitos e sua diferença, pois “é a capacidade humana que permite conhecer o outro por meio de si próprio. Não se sente o que existe completamente fora de si. Sem forma não há relação, sem cotidiano não há extraordinário e sem coletivo não há pessoa.” (BIÂO, 1996, p.15). Se não há alteridade nas relações pessoais e sociais, os conflitos tendem a ser mais presentes.

Este entendimento de alteridade foi um facilitador no decorrer da atividade, pois pode impulsionar a o debate em torno do respeito ao outro por suas particularidades, mesmo estando dentro de um coletivo. Diante disso, foi trazido outro recurso, a literatura denominada “marginal” por contar as histórias reais vividas por jovens da periferia, podendo acender nos jovens o debate, e, assim, entendê-los um pouco mais em suas particularidades.

Neste momento, foi lido ao grupo um trecho do livro “Capão pecado”,31 em que ocorre o diálogo entre dois jovens moradores do mesmo bairro, e do mesmo grupo de amigos, dizendo o que cada membro do grupo tem de habilidades, que poderia ser um fator que contribuísse na busca de alternativas de vida. Segue abaixo a fala de um dos jovens:

Então se liga, os playbas têm mais oportunidade, mas na minha opinião, acho que temos que vencê-los com nossa criatividade, tá ligado? Temos que destruir os filhos-da-puta com o que agente tem de melhor, o nosso dom, mano. O Duda e o Devair pintam pra caralho, o Alaor e o Alce fazem um rap cabuloso, o Amaral e o Panetone jogam uma bola do caramba. Você Matcherros, desenha até umas horas, mas tão aí tudo vacilando, cês tem que se aplicá. Uns tentam, outros desistem fácil demais, e o que tá acontecendo é que o tempo passa, ta ligado? e ninguém sai dessa porra. [...] e o futuro fica mais pra frente bem mais pra frente daqui. (SILVA, R., 2005b. p. 93).

Após uma breve apresentação do livro, contando em linhas gerais do que se trata a história, foi feita a leitura do trecho acima, ao seu término ouve curiosidade por parte dos jovens, em especial Repique, querendo saber mais sobre a vida dos personagens, pois havia se identificado com a linguagem do livro, como também seu enredo, indo ao encontro do que

31

O livro “Capão pecado” foi escrito por Reginaldo Ferreira da Silva, mais conhecido como Ferréz, que é um romancista, contista e poeta, intulando sua obra como “Ficção da realidade”, ligado à corrente considerada “literatura marginal” por ser desenvolvida na periferia das grandes cidades e tratar de temas relacionados a este universo. Seu livro retrada o lado sul da região paulistana, Capão Redondo, que para muitos é esquecida do poder público, falando do cotidiano dos jovens daquele lugar.

afirma o próprio autor: “Capão é um livro de mano para mano. É acido e violento. É um grito.” (SILVA, R., 2005b).

Assim, evidencia-se que a construção de processos educativos - que envolvem elementos do mundo dos educandos, os quais podem facilitar o incentivo ao estudo, ao conhecimento e à leitura - pode ser significativa, pois pertence ao mundo e à existência daqueles aos quais a prática educativa é dirigida. Assim, o grupo pode expor o “dom” que cada um tem e utilizá-lo posteriormente como uma alternativa em suas vidas. Foi feito então o seguinte questionamento: No livro foi apresentado o “dom” de cada jovem, a partir disso falem quais os seus “dons” ou seu “dom”?

REPIQUE Jogar bola e ser cozinheiro TAMBORIM Médico geral

SURDO Nadar e tocar percussão VOCALISTA Cantor e jogar capoeira

PANDEIRO Jogar futebol / Capoeira/ Lutar boxe GANZÁ Vendedor

ATABAQUE Artes marciais Quadro 6 – Qual é o seu dom?

Fonte: O autor.

Cada um pode apresentar o que, em seu entendimento, faz de melhor; os esportes foram quase unanimidade, a luta, o futebol, a capoeira e a natação. Três jovens apresentaram seu “dom” identificando-o a partir da profissão que pretendem seguir. Quando tamborim afirma, pela segunda vez em dois momentos distintos, que seu “dom” é ser médico, ressalta que quando pequeno cuidou de um passarinho com a perna machucada, e ele melhorou, assim, sua mãe disse que ele poderia ser um médico, pois tinha habilidades para isso, afirmou o jovem. Ganzá, ao afirmar que seu “dom” é trabalhar com vendas, pois gosta de vender as coisas, também aparece uma recorrência, sendo que em outro momento ele afirma que seu sonho é ser dono de mercado.

O que mais chamou a atenção foi quando Repique, além de dizer que sua habilidade é “jogar bola”, afirmou que gosta de cozinhar e pretende ser um bom cozinheiro de restaurante. Ele é um dos alunos mais assíduos na oficina de padaria, isso ficou identificado quando em nossa primeira apresentação com o grupo ele deu preferência à atividade da padaria, pois, segundo ele, estava aprendendo algo novo na confeitaria e não queria perder. O jovem fez questão de avisar que não iria participar da apresentação dando suas justificativas a

partir de sua prioridade. Esta atitude demonstra que este jovem buscou se agarrar às oportunidades de aperfeiçoamento profissional oferecidas pela CASE/SSA, como uma alternativa para sua mudança e seguir o seu objetivo profissional fora dos muros em que se encontra.

Como pode ser visto, também, no quadro abaixo. Logo em seguida, busquei questioná-los da seguinte forma: Qual é a primeira coisa que vão fazer ao sairem da CASE/SSA e “cair no mundão”?

REPIQUE Fazer um curso de culinária

TAMBORIM Ajudar a família / Terminar os estudos

SURDO Terminar os estudos

VOCALISTA Ir à igreja

PANDEIRO Terminar os estudos

GANZÁ Ficar próximo da família / Estudar

ATABAQUE Ir à Igreja

Quadro 7 – O que irá fazer quando sair da CASE/SSA? Fonte: O autor.

Os estudos foram o principal caminho apontado pelos jovens, seguidos de ir à igreja. O objetivo de terminar os estudos, que havia sido apontado no quadro sobre os sonhos, e também das dificuldades para poder realizá-lo, surge novamente sendo apontado como uma das principais metas.

Levando em conta todos os conteúdos desenvolvidos sobre o samba até o momento, e a forma com que o grupo está participando das atividades, não somente na parte prática de instrumentos, mas também opinando, debatendo e discutindo, foi feito um momento de reflexão em torno da condição em que estão, de jovens e internos do PMSE e suas perspectivas de futuro como apontadas acima. Este momento demonstrou uma função social da roda de samba: “Através do meio de comunicação eu me informo, me divirto, vivo em grupo e reforço a minha afinidade com esse grupo. Na roda de samba, numa analogia, a função principal é cantar e dançar um tipo específico de música.” (MOURA, 2004, p.53). Segue reforçando seu pensamento que nesta função principal também residem doses consideráveis de informação, através das melodias e dos versos do samba.

Portanto, devido à estrutura da roda de samba, os debates foram relevantes, produtivos e bem descontraídos, em que todos participaram num clima que foi sendo

construído com cantorias e com as conversas sobre a formação do grupo de samba. Foi neste momento que se edificou e comprovou que a ideia da aproximação do samba com a educação tem a importância, não apenas pelo aspecto histórico, mas, também por sua própria estrutura social e cultural. Pois ele não é só “linguagem musical, mas também como conteúdo e concepção de mundo de uma população que historicamente vem sendo marcada pela marginalização.” (SOUZA, 2007, p.147).

A questão desenvolvida neste tópico - sobre a concepção de grupo e família diante do princípio de união e ajuda mútua entre os pares, buscando, ao mesmo tempo, compreender a individualidade de cada um - criou possibilidades para refletirmos em grupo sobre os problemas encontrados na rivalidade entre grupos marginalizados que lutam entre si muitas vezes por motivos banais. A ideia principal foi tirar uma visão pejorativa de que os grupos de jovens geralmente nas mesmas condições socioeconômicas tem que viver de confrontos e enfrentamento no campo da violência na luta por território ou espaço. Urge conceber que a partir das diversidades ideológicas e com a perspectiva de união entre os pares podem alcançar objetivos comuns a todos e com isso melhorar a situação em que se encontram.

Assim, depois de ouvi-los a respeito de suas potencialidades, ou melhor, a partir do “dom” de cada um deles, e sobre as expectativas ao saírem da CASE/SSA, iniciou-se a discussão sobre a formação do grupo, proposta pelos próprios jovens, com a intenção de demonstrar o quanto eles podem se fortalecer caminhando com objetivos comuns.