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DISTRIBUIÇÃO DAS 50 VISITAS NA CASE SALVADOR

4.4 DA ACEITAÇÃO AO ACOLHIMENTO

4.4.1 A sensibilização para a pesquisa

A proposta sensibilização se inicia, nesta ocasião, na apresentação da proposta educativa e de pesquisa, mas também se faz presente no dia a dia da comunidade, evidenciando a importância das contribuições vindas dos apontamentos e dos olhares daqueles que compreendem como ninguém o espaço, por fazerem parte dele. É imprescindível nesta convivência ter:

[...] sensibilidade para as dinâmicas da comunidade, sensibilidade para ver, sentir a paisagem, mas também enquanto desejo de entendê-la: um entendimento que vem ao longo do tempo, na convivência [...]. A sensibilidade... é um processo de aprendizagem. É na convivência que se constrói esse processo, esse desejo de entender. E as coisas vão se explicando ao longo do tempo, na medida das convivências. Sensibilidade aliada à simplicidade colocam a pessoa em sintonia com a necessidade do outro e mais do que isso, muitas vezes colocam a sua própria necessidade sob avaliação e/ou em compasso de espera. (OLIVEIRA & STOTZ, 2004, p. 8).

A mediação entre pesquisador e funcionários da CASE/SSA se iniciou por meio da apresentação por parte de uma colega que acabara de realizar sua pesquisa no local, e que tinha boas relações naquele ambiente. Com este recurso, foi possível chegar neste espaço com uma prévia indicação, o que significou um aval e um passo importante para ser recebido de maneira mais amigável, embora ainda não fosse uma garantia de ser acolhido pelas pessoas que ali trabalham.

O dia em que este primeiro contato ocorreu foi significativo, pois foi apresentada aos profissionais a proposta de oficina pedagógica, a qual tinha por finalidade, além da coleta de dados para a pesquisa, somar a outras atividades pedagógicas oferecidas no espaço. No mesmo dia, foi apresentada a proposta para dois grupos de profissionais da CASE/SSA: os profissionais da Escola Municipal Carlos Formigle; e a coordenação pedagógica, juntamente com instrutores de arte, educadores de medidas e os socioeducadores.

O primeiro grupo a ser apresentada a proposta foi dos profissionais da Escola Municipal Carlos Formigle. Na ocasião, estavam presentes a diretora da escola, três professoras e um socioeducador. O grupo recebeu muito bem a intenção de trabalho, e afirmaram ser importante para a ação educativa dentro do espaço, e que havia a necessidade de mais práticas que envolvessem a música para os jovens.

No segundo momento, a proposta foi apresentada à coordenação pedagógica, aos instrutores de arte, a dois representantes dos educadores de medidas e ao líder dos socioeducadores. Este grupo era maior que o da escola, e surgiam várias perguntas e provocações por parte deles. O maior questionamento era se a atividade seria realizada com todos os jovens do espaço, o que seria praticamente inviável, enquanto uma pesquisa de mestrado – ter aproximadamente trezentos jovens como sujeitos da pesquisa. Queriam saber de todos os detalhes do trabalho, qual retorno seria dado para o espaço e por quê considerava o samba importante no trabalho educacional dos jovens. Neste momento, percebia que, por parte do grupo, havia um olhar de desconfiança, e notava que uma dúvida passava por aqueles profissionais, pois jamais conseguiria conquistar-lhes a confiança de uma hora para outra, considerando que um relacionamento deve ser estabelecido no dia a dia, construído no contato com o outro, pois:

Conviver é estar junto olhar nos olhos, conversar frente a frente [...] é a arte de se relacionar, dá intensidade à relação, sabor ao fazer e gera afetividade e saber [...]. Conviver se aprende convivendo e para essa convivência há algumas moedas: simpatia, confiança, humildade, sensibilidade, respeito. Flexibilidade em relação aos tempos. (OLIVEIRA & STOTZ, 2004, p.15).

Estabelecer uma relação de confiança, simpatia e respeito com o espaço onde o trabalho foi realizado foi fundamental para conseguir traçar o percurso metodológico e obter êxitos na oficina proposta. Mesmo quando algo não saia como o esperado nas atividades, a própria comunidade da CASE/SSA sempre dava um aporte, indicando caminhos possíveis para traçar outras estratégias. Pois, a partir dos princípios educativos aqui defendidos, assumi a postura de que:

Para a criação de uma educação na perspectiva crítica, progressista, nos obrigamos, por coerência, a engendrar, a estimular, a favorecer, na própria prática educativa, o exercício do direito à participação por parte de quem esteja direta ou indiretamente ligado ao fazer educativo. (FREIRE, 2007, p. 67).

Em linhas gerais, serão identificados os profissionais que atuam em diferentes áreas no programa com o intuito de evidenciar a importância do contato com este coletivo para o processo de sensibilização dentro do espaço e, assim, apresentar como a relação estabelecida pode auxiliar nas oficinas.

Os profissionais que atuam no programa de medidas socioeducativas têm as mais diferentes funções, desde a área da segurança, saúde, assistência social, assistência pedagógica, apoio psicológico, instrutores de arte e outras funções no âmbito administrativo que não mantém, muitas vezes, contato direto com os jovens. Desta forma, entendendo a importância destes profissionais para a construção de um laço de trabalho, que possibilitou toda a ação educativa e investigativa, serão apresentados agora aqueles que foram decisivos para a construção do trabalho: coordenação pedagógica: responsável pela elaboração de projetos foi um dos primeiros contatos que tive dentro do espaço, foram responsáveis pela apresentação dos funcionários da CASE/SSA, desde a gerência até profissionais terceirizados do espaço; instrutores de artes: são responsáveis pela condução de oficinas voltadas para as mais diversas manifestações artísticas, dentre elas: hip hop, artesanato, música, teatro, pintura, capoeira, entre outras; socioeducadores: responsáveis, segundo o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE), por desenvolver tarefas relativas à preservação da integridade física e psicológica de adolescentes e funcionários quanto à atividade pedagógica que é realizada por profissionais específicos, como os instrutores. São eles que têm contato mais direto com os jovens dentro do programa, além de conduzi-los para as visitas, para enfermaria, assistência social e oficinas pedagógicas; educadores de medidas: são profissionais formados em distintas áreas, que atuam em atividades dentro dos alojamentos. O contato com estes profissionais não foi tão intenso e proveitoso como o foi com os instrutores

e os socioeducadores, não por serem menos importantes em suas atividades que os outros, mas, talvez, por não termos tido oportunidade de fazer um trabalho integrado.

Conhecendo um pouco mais sobre os profissionais do programa e sua importância na contribuição das atividades com o samba, parti para a formalização da pesquisa com o Juiz da Vara da Infância e Juventude.