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A apuração do fator de agregação de valor na concessão florestal de Jamari

CAPÍTULO V AS EXPECTATIVAS DOS ATORES

5.3 A apuração do fator de agregação de valor na concessão florestal de Jamari

A análise da evolução dos modelos contratuais elaborados no âmbito das concessões florestais federais denota que não há uma padronização da redação e de contabilização da agregação de valor – embora tenham redação semelhante os contratos diferem entre si em certa medida ao conceituar e aplicar o FAV.

Como informado no início deste capítulo, para tal análise comparativa, além do instrumento contratual do caso estudado, assinado em 2008, também foram analisados os textos dos seguintes instrumentos contratuais: Flona de Saracá Taquera, assinado em 2010; Flona de Jacundá, assinado em 2013; Flona de Saracá-Taquera, assinado em 2014; Flona de Crepori, assinado em 2014; Flona de Altamira, assinado em 2015; Flona de Caxiuanã, assinado em 2016; proposta de contrato da Flona de Itaituba, edital de 2017; e Flota de Paru, contrato assinado em 2012, sendo que os anexos que tratam do FAV nos diversos nos contratos de concessão estão apresentados em anexo a este trabalho.

A metodologia de apuração do FAV é apresentada como anexo de todos os contratos, com descrição e apresentação de fórmula para cálculo do indicador de agregação de valor. No caso da concessão florestal da Flona de Jamari, primeira concessão, o contrato apresentou a seguinte redação (SFB, 2008):

Critério: Maior Agregação de valor ao produto ou serviço florestal na região da concessão.

Indicador: grau de processamento local do produto.

Parâmetro: Proporção de agregação de valor à matéria-prima extraída da floresta, considerando a responsabilidade direta o concessionário.

A proporção agregação de valor que é calculada pela razão do faturamento pela venda de produtos madeireiros processados pelo concessionário nos municípios de

abrangência do lote de concessão (Cujubim e Itapuã do Oeste), dividido pelo volume de madeira em tora consumido na produção, multiplicado pela proporção da madeira em tora proveniente da unidade de manejo.

Fator de Agregação de Valor (FAV) =

FPP = Faturamento bruto de produto florestal processado (1 ano fiscal) VMP= volume de matéria prima consumida (1 ano fiscal)

PMP = proporção da matéria prima extraída da floresta processada diretamente pelo concessionário (em%)

VmMT= valor médio pago pela madeira em tora para o poder concedente (calculado anualmente em função do volume explorado e respectivos valores pagos por grupo de espécie).

No caso de consórcio, o cálculo será efetuado considerando as unidades de processamento dos participantes do consórcio e que efetivamente processam os produtos oriundos da concessão florestal.

Exemplo para madeira.

Empresa A tem uma unidade de processamento de madeira faturou em madeira serrada R$ 2 milhões consumindo 10 mil m3 de tora por ano. Ela pagou num

determinado ano uma média de R$ 45,00 por m3 e ela processa 80% da madeira que

sai da concessão florestal.

Fator de Agregação de Valor (FAV) =3,56 (...)

Prazo de Apuração inicial: A avaliação do cumprimento do compromisso será feita a partir do 36º mês de assinatura do contrato. A apuração será anual.

(...)

Meios de Verificação.

Poderão ser utilizados individualmente ou cumulativamente entre outros os seguintes meios de verificação:

- Verificação da documentação de origem florestal;

- Verificação de dados, informações e relatórios do concessionário; - Verificação das notas fiscais de venda dos produtos.

A descrição de tal indicador no contrato apresenta uma lacuna. Há um erro material no contrato, pois embora descreva a fórmula não a apresenta – o que não ocorre nos contratos das demais concessões florestais federais.

Esta falha material não compromete a apuração do FAV, nem a análise que se pretende fazer neste trabalho, pois a fórmula pode ser construída a partir da descrição

contratual. O termo de contrato estabelece que o FAV é a razão do faturamento pela venda de produtos madeireiros processados pela concessionária nos municípios de abrangência do lote de concessão (Cujubim e Itapuã do Oeste), dividido pelo volume de madeira em tora consumido na produção, multiplicado pela proporção da madeira em tora proveniente da unidade de manejo:

𝐹𝐴𝑉 = (𝐹𝑃𝑃 𝑉𝑀𝑃) . (

𝑃𝑀𝑃 𝑉𝑚𝑀𝑇)

A fórmula apresenta quatro variáveis: 1) FPP – faturamento bruto decorrente da venda de produto florestal processado; 2) VMP – volume da matéria prima consumida; 3) PMP – proporção da matéria prima extraída da floresta processada diretamente pela concessionária; 4) VmMT – valor médio pago pela madeira em tora em função do volume explorado.

Assim, o termo de contrato prevê em tal fórmula que o cálculo do FAV leve em conta apenas o processamento dos produtos originários de “madeira em tora” e desde que “processados diretamente pelo concessionário”.

Na medida em que apenas a tora é contabilizada, as demais partes da árvore, todos os materiais lenhosos residuais, não são contabilizados como agregação de valor para fins contratuais. Da mesma forma, também não são contabilizados para o alcance do FAV os produtos florestais não madeireiros. O mesmo se diga da possibilidade de exploração de “serviços de ecoturismo, hospedagem, visitação e observação da natureza e esportes de aventura”, que embora prevista na cláusula 1ª do contrato de concessão florestal também não é contabilizada no cálculo do FAV.

Tal redação implica em um desestímulo à agregação de valor na forma prevista na lei, na medida em que mesmo que a concessionária viabilize o uso e o processamento de tais produtos na região, gerando mais empregos e renda, para fins contratuais não estará agregando valor.

Outra limitação no computo da agregação de valor na região está na necessidade de que os produtos sejam processados na região de Itapuã do Oeste/RO e Cujubim/RO pela própria concessionária, admitida apenas a terceirização. Tal redação contratual desestimula o estabelecimento de parcerias. Caso a concessionária venda suas toras à outras serrarias locais, que processem tais produtos, agregando valor e gerando empregos na região, tal agregação de valor não é levada em conta para a contabilização do FAV.

Na medida em que a redação contratual obriga as concessionárias a atingir tal valor apenas mediante processamento próprio de madeira em tora, a despeito da possibilidade dos módicos descontos previstos nos indicadores “A-6”, “A-7”, “A-8” e “B-4”, não há estímulo via fator de agregação de valor para a utilização do material lenhoso residual, dos produtos não madeireiros e do estabelecimento de parcerias com outras serrarias locais.